Em Busca de um Futuro Melhor escrita por Lyttaly


Capítulo 28
27


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura o/



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(Como se faz para recomeçar?)

Silêncio.

Por instantes apenas havia silêncio. Os repórteres se calaram, os curiosos prenderam a respiração, os policiais aguardaram uma ordem.

No andar de cima da casa Célia hesitou, Kali olhou para Rafael com medo e ele se sentiu mais uma vez impotente.

O choque inicial passou e eles ouviram o som da porta do andar de baixo ser arrombada e passos subindo a escada. Célia tentou correr, mas estava sem saída. Ela foi encurralada no corredor e algemada. Em seguida alguns policiais entraram no quarto e desamarraram Kali e Rafael que se abraçaram aliviados.

— Felipe! – Ouviram alguém gritar no andar de baixo.

Kali rapidamente se soltou de Rafael correndo em direção à porta do quarto. Um sentimento de angústia lhe tomou conta e sentia o coração apertar. Dois policiais que estavam na porta barraram sua passagem deixando-a ainda mais desesperada.

— Por favor, me deixa passar! Eu preciso passar.

Kali começou a chorar e os dois policiais se entreolharam em dúvida.

— Deixem minha irmã passar, por favor! – Rafael disse, tentando ajudar. –Nós conhecemos o Detetive Felipe e queremos vê-lo.

Os policiais mais uma vez se entreolharam, desta vez, preocupados.

— O que aconteceu com o Felipe? – Kali perguntou entre soluços.

Os policiais apenas abriram caminho para que eles passassem e Kali correu em direção às escadas. Quando chegou ao hall viu Victor desacordado algemado a uma maca e sendo levado para fora da casa. Havia vários policiais dentro da casa. Alguns deles estavam agrupados na entrada da cozinha e entre eles, no chão, Kali conseguiu reconhecer Felipe desacordado.

— Felipe! – Ela gritou correndo em sua direção, porém mais uma vez foi barrada por policiais. – Felipe! – Ela gritou mais uma vez.

— Deixem-na passar. – Uma voz grave que Kali não reconheceu falou e os policiais acataram a ordem. Era o Major Liandre.

Kali chegou perto de Felipe e viu sangue em sua roupa. Havia também um ferimento em sua têmpora esquerda. Ela se ajoelhou ao seu lado,  abraçando-o.

— Felipe, acorda. – Kali falou próximo ao seu ouvido. – Por favor, acorda. Não faz isso comigo. – Ela percebeu que Felipe ainda respirava, mas não ficou menos desesperada por sua falta de resposta. – Felipe! – Sua voz saía embargada pelo choro e ela o apertava ainda mais no abraço. – Não faz isso comigo. Acorda, por favor!

— Você tá me machucando. – A voz de Felipe soou baixa.

— Felipe! – Kali ignorou o que ele disse. A felicidade que sentiu foi tão grande que só conseguiu sorrir e beijar o rosto de Felipe desajeitadamente enquanto ainda o abraçava.

Depois de algum tempo Kali se deu conta da situação.

— Idiota! – Ela começou a bater em Felipe. – Por que me assustou assim?!

— Ai… – Felipe reclamou sentindo o ombro doer. – Eu tô baleado… dá um desconto.

Kali voltou a abraçá-lo, dessa vez com mais cuidado, voltando a chorar com o rosto escondido no peito de Felipe. Um choro de alívio tanto por Felipe estar bem quanto por se dar conta de que dali em diante sua vida seria diferente. Não sabia como as coisas aconteceriam exatamente, mas sabia que estava finalmente livre.

— Você está bem? – Felipe perguntou e Kali apenas afirmou com a cabeça. – Olha pra mim? – Felipe pediu.

Kali o olhou vendo seus olhos cheios de lágrimas. Felipe encostou seus lábios aos dela, selando-os em um beijo casto por alguns instantes e deixando que as lágrimas que estava segurando escorressem de seus olhos. Ele estava aliviado por vê-la bem e finalmente livre. Nunca ficara tão feliz em toda sua vida.

— Você não sabe o quanto estou feliz. – Felipe disse, quando se separaram, enquanto acariciava o rosto de Kali.

Ouviram alguém tossir e finalmente se deram conta que estavam rodeados de pessoas todos os olhando curiosos. A tosse viera do Major Liandre que agora segurava o riso. Kali soltou Felipe, sentindo o rosto queimar e levantou-se rapidamente passando por todos. Esbarrou em Rafael que estava ao pé da escada e que a segurou para que ela não caísse.

Rafael assistiu curioso a toda a cena feita por Kali e Felipe. Não imaginava que os dois tinham ficado tão próximos assim.

— Você vai me explicar isso depois. – Rafael disse para Kali que agora escondia o rosto em seu peito, envergonhada. Ela apenas afirmou sem olhar para ele. Não queria que ele tivesse descoberto assim sua relação com Felipe. – Ei… – Rafael segurou seu queixo fazendo-a levantar o rosto para olhá-lo. – Estamos livres!

Os dois se sentaram na escada, se abraçaram e começaram a chorar. Choravam tudo o que seguraram nos últimos anos. Choravam de alívio e de felicidade por finalmente sentirem que suas vidas iam mudar dali para frente.

Mas ainda não poderiam descansar. Não demorou muito e um policial chegou perto deles para fazer-lhes perguntas sobre o ocorrido. Rafael respondia a maioria das perguntas enquanto Kali se encolhia cada vez mais, desejando que aquele interrogatório terminasse logo. Odiava ter que ficar revivendo acontecimentos tão recentes e difíceis. Mas como Rafael ficou desacordado por alguns minutos ela foi obrigada a responder algumas das perguntas.

— Já é o suficiente por hoje, agente Alvez.

— Sim, Major Liandre. – O policial bateu continência, saindo logo em seguida de perto dos irmãos.

— Desculpa o incômodo. – O Major se dirigiu aos meninos. – Eu sei que estão cansados, mas precisávamos do seu depoimento prévio para adiantar algumas coisas. Mas vocês ainda vão precisar depor na delegacia, infelizmente. – Os dois continuaram em silêncio, então o Major continuou a falar. – Vocês vão para o hospital agora e depois serão liberados.

— Hospital? – Kali perguntou preocupada.

— Isso é mesmo necessário, senhor? – Rafael perguntou. – Nós só temos alguns arranhões.

— É necessário sim, sinto muito. – Respondeu o Major. – Vocês farão exames que poderão ser usados como provas no inquérito e, consequentemente, vão nos ajudar a condenar Victor e Célia.

— Mas será que a Kali precisa passar por isso? – Rafael tentou argumentar. – Se examinarem só a mim terão provas o suficiente, não?

— Sinto muito, Rafael, mas a Kali precisa passar pelos exames. Pensem que todo o sofrimento de vocês vai acabar logo. Que isso é apenas um pequeno processo para que isso aconteça, sim? – Rafael suspirou, descontente. – Eu sei que para você é difícil, Kali, mas logo isso vai acabar. Agora falta pouco.

A atenção deles foi roubada quando uma maca entrou na casa para levar Felipe para a ambulância. Antes que os paramédicos saíssem da casa o Major os parou.

— Quando você vai aprender a seguir ordens, Felipe? – Liandre perguntou-lhe.

— Não deu pra me segurar dessa vez, Gustavo. Mas deu tudo certo no fim, não é?

— Como tudo certo se você está baleado, Felipe?! – O major se alterou.

— Foi de raspão, chefe. – Felipe argumentou dando um sorriso divertido.

— Isso terá consequências, fique sabendo, garoto. Podem levá-lo.

— Para onde vão levar o Felipe? – Kali perguntou depois que os paramédicos levaram Felipe para fora da casa.

— Para o mesmo hospital que vocês. – O major respondeu.

— Será que eu vou poder falar com ele? – Kali queria esclarecer algumas coisas com Felipe, como o porquê de ele parecer conhecer o Major Liandre.

— Provavelmente conseguirá falar com ele logo. O tiro que ele tomou foi de raspão.

— Tem certeza que ele vai ficar bem? – Rafael perguntou.

— Vai sim. – Liandre sorriu para tranquilizar os dois. – Aquele garoto é forte e já passou por coisa pior que isso. Agora é hora de vocês irem para o hospital. Quanto antes vocês forem, mais cedo sairão de lá. Vamos.

Os dois levantaram do degrau em que estavam sentados e seguiram Liandre para fora da casa. Assim que saíram foram cercados por jornalistas e cegados momentaneamente pelos flashs das câmeras.

— Vocês podem nos dizer o que estão sentindo agora? – Uma mulher que parecia querer fazer Kali engolir o microfone que ela segurava perguntou.

— Qual o seu parentesco com o sequestrador? – Um homem perguntou.

— Você foi abusada pelo sequestrador? – Outra repórter perguntou.

Kali e Rafael foram espremidos no meio dos policiais que chegaram para tentar afastar os repórteres e abrir caminho para que eles chegassem à ambulância.

Depois de alguns minutos eles conseguiram entrar no veículo que logo teve as portas fechadas, abafando o som das pessoas do lado de fora. Kali, assustada com a situação e nervosa pela indiscrição dos repórteres, começou a chorar. Rafael a abraçou esperando que ela se acalmasse, mas isso não aconteceu. Enquanto a ambulância tentava abrir caminho no mar de pessoas que se juntavam na rua os repórteres começaram a bater no veículo pedindo que eles lhes concedessem uma entrevista. A situação deixou Kali ainda mais alterada, fazendo com que a menina começasse a perder o controle mais uma vez. Antes que isso acontecesse um paramédico dentro da ambulância lhe aplicou uma injeção calmante e a menina aos poucos adormeceu.

— Quando eu penso que vai ficar tudo bem algo acontece pra nos derrubar de novo. – Rafael suspirou.

Finalmente a ambulância conseguiu passar pelas pessoas e seguir para o hospital. Quando chegaram ao hospital já haviam mais repórteres na entrada, obrigando o motorista a entrar pela porta dos fundos do hospital para despistá-los.

Ficaram algumas horas ali para fazer os exames. Quando finalmente foram liberados já era de manhã. Estavam cansados, mas Kali fez questão de visitar Felipe antes de ir embora.

— Como você está? – Ela perguntou quando entrou no quarto onde Felipe estava e sentou-se na cadeira ao lado da cama dele.

— Estou bem e você?

— Só estou cansada. – Kali segurou a mão de Felipe. – Será que você vai ficar muito tempo aqui?

— Acho que não. O tiro pegou de raspão. Já passei por coisa pior, acredite.

— Tipo o quê?

— Eu já levei um tiro na barriga. Achei que fosse morrer.

— Afinal de contas o que você faz? – Kali perguntou. – Civis não levam tiro.

— Eu sou detetive da polícia federal. Eu estava na equipe de investigação de um caso de tráfico de drogas internacional e Victor era um dos suspeitos a ser investigado.

— Victor era investigado por tráfico internacional de drogas? – Kali ficou perplexa. – E esse cara tava dentro da minha casa, meu Deus!

— Ele era apenas um subordinado, mas sim, ele está envolvido. Já foi expedido um mandato em nome dele então assim que ele receber alta será preso. Agora vocês estão livres.

— A Célia sabia disso?

— Parece que ela não estava envolvida diretamente, mas ela é cúmplice.

— Mas cumplicidade dá cadeia? Ela pode ser presa?

— Perante a lei é como se ela tivesse cometido o crime. Ela também pode ser condenada.

— Entendi. – Kali parou um pouco para pensar. – Espera! – Ela falou de repente soltando a mão de Felipe e levantando-se. – Você é detetive da polícia federal?!

— Agora que caiu a ficha? – Felipe riu.

— Isso é sério?

— Sim.

— Isso explica muita coisa! Então era por isso que você sempre aparecia quando eu precisava.

— Tinha algumas escutas na sua casa.

— Então vocês ouviam o que acontecia lá? – Kali abaixou a cabeça, preocupada. – Desde quando vocês ouviam?

— Já tem dois meses que as escutas foram instaladas.

— Dois meses? – Kali fez as contas e constatou que os investigadores estavam cientes das duas últimas surras que levou. – Vocês escutaram quando a Célia… – Kali não conseguiu terminar de falar.

— Escutamos. Infelizmente não pudemos fazer nada pra te ajudar.

Kali voltou a sentar-se tentando processar as informações.

— Aquele dia que você me fez aquele curativo…

— Eu sabia o que tinha acontecido sim. Desculpa não ter te contado antes. A investigação precisava ser mantida em sigilo.

— Eu entendo.

— As gravações poderão ser usadas para acusar Célia e Victor de agressão e os exames que você fez também são para isso.

— Ela não vai ser presa por isso. – Kali afirmou. – Ninguém é preso por agressão.

— Mas ela vai ser condenada mesmo assim. Mesmo que ela não fique presa por isso, vai ficar registrado. Ela vai pagar por isso, Kali. – Felipe segurou a mão da menina, fazendo-a olhá-lo nos olhos. – Se depender de mim ela vai pagar por isso.

— Obrigada. Por tudo. Você quase morreu por nós hoje, Felipe.

— Eu não morro tão fácil. Você não vai se livrar de mim tão cedo, tá me entendendo?

— Espero que não. – Kali sorriu e o beijou.


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Notas finais do capítulo

Se você leu até aqui #obrigada^^



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