Em Busca de um Futuro Melhor escrita por Lyttaly


Capítulo 13
12


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas o/
Capítulo novo, espero que gostem. Vamos conhecer um pouco do Felipe nesse capitulo então partiu ler?
Boa leitura o/
Ps.: prestem atenção às pistas que estou dando e façam suas teorias ;)



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(Às vezes é difícil saber em quem confiar…)

O intervalo acabou e Rafael e Kali voltaram para suas salas. Kali estava angustiada pensando em como se livraria dos próximos dois horários, ambos de Educação Física. Ela não queria sentir mais dor. Já bastava o fato de esconder de Rafael o quanto estava mal, ter que esconder isso de toda uma turma que já a olhava estranho era demais.

“Eu posso, em último caso, fingir um desmaio. Assim ele terá que me livrar… talvez. ” – Pensou.

O professor já estava na sala quando ela chegou. Ele esperou que todos os alunos chegassem, fez a chamada e os levou para a quadra da escola. A quadra era grande, tinha uma arquibancada de cada lado e um cômodo grande na lateral onde ficavam os vestiários. Kali esperou que os outros alunos fossem para o vestiário e foi falar com o professor.

— P-professor Sérgio, o senhor poderia me liberar das aulas de hoje?

— De novo, senhorita Kali? – o professor a olhou desconfiado – Qual sua desculpa desta vez?

— Nã-não é desculpa, é verdade. – Kali queria parecer segura do que dizia, mas falhava miseravelmente. – E-eu estou com dor no pé porque me machuquei ontem.

— A senhorita sempre vem com uma história diferente. Vai perder o ano se continuar assim. Se se machucou vá ao médico e me traga um atestado. Assim saberei que está falando a verdade.

— Eu… – Kali não podia ir a um médico. Se fizesse isso e Célia descobrisse provavelmente não sobreviveria para mostrar o atestado ao professor. Mas agora ela pensava na possibilidade de perder um ano na escola. Ela não podia, esse tempo era precioso demais. Ela e seu irmão estudavam para que seu futuro fosse melhor, fosse diferente e ela não queria nem podia adiar esse futuro.

— Ela está falando a verdade, professor Sérgio. – Kali até tinha esquecido da existência de Felipe e, de repente, o menino apareceu para defendê-la. – Eu estava com ela quando ela pisou em falso num degrau ontem e quase caiu.

— E porque ela não foi ao médico, então? – O professor ainda estava desconfiado.

— Ela morre de medo de médicos! – Felipe riu e o professor olhou para a menina que confirmou a história balançando a cabeça em afirmação.

— Eu te libero por hoje porque conseguiu um álibi, mas da próxima vez traga um atestado, entendeu?

— Sim… – Kali respondeu e foi para a arquibancada respirando aliviada.

Um pouco depois, Felipe sentou-se ao seu lado.

— Vem comigo.

— Pra onde? – Kali se surpreendeu.

— Eu disse ao professor que te levaria pra enfermaria e se não sairmos daqui ele vai desconfiar da nossa história.

Kali entendeu, mas sentiu receio de sair de lá com Felipe. O menino a havia ajudado, mas ainda não confiava nele. Olhou para o professor, vendo que ele os olhava, provavelmente para tentar os desmascarar. Ela não tinha escolha. Ou saía dali ou teria que participar das aulas e essa segunda opção lhe pareceu mais assustadora.

Felipe se levantou, vendo nos olhos da menina que ela havia se decidido e Kali o seguiu em silêncio. Percebeu quando o menino saiu da rota para a enfermaria.

— Nós não vamos pra enfermaria?

— Com certeza você não pode ir pra lá, certo?

De fato, teria muito a explicar se fosse para a enfermaria. Teria que inventar mais mentiras para explicar os hematomas e as dores que sentia.

— Pra onde vamos?

— Pro pátio atrás do refeitório. Ninguém vai nos incomodar lá.

Kali pensou se o fato de ninguém os incomodar era bom ou ruim. Não queria dar explicações a nenhum curioso, mas também não queria ficar sozinha com alguém que ela não conhecia. Porém, ela queria saber por que, mais uma vez, Felipe a ajudou.

Chegaram ao espaço atrás do refeitório. Era um lugar gramado, porém descuidado, com flores secas e algumas plantas que ninguém sabia por que estavam naquele lugar escondido. Também havia uma pequena árvore em um canto e um jarro grande que era usado de cinzeiro e lixo por alguns alunos. Um muro delimitava o fim do jardim. Kali se sentou na sombra não tão grande da árvore e Felipe se sentou ao lado esquerdo dela, não tão perto para não a assustar. Ficaram alguns minutos em silêncio.

— Por que… está me ajudando? – Kali quebrou o silêncio. Queria saber por que aquele garoto que mal conhecia estava ajudando-a de novo. Achava estranho. Ninguém daquela escola havia lhe dirigido a palavra, nem se interessado por ela. Sentia que era invisível, não só na escola, mas também para o resto do mundo. Então a forma como Felipe agia a intrigava.

Felipe tirou o braço direito de dentro da blusa de frio que usava e se aproximou de Kali mostrando uma cicatriz em seu braço. Kali se surpreendeu com a aproximação repentina, mas olhou para a cicatriz que parecia de um corte profundo. Tinha um tamanho pequeno, mas Kali sentiu seu braço doer como se aquele corte tivesse sido feito nela. Ela sabia a dor que um corte como aquele poderia causar. Ela segurou seu braço e abaixou a cabeça pensando o que teria acontecido com Felipe. Sentiu ser algo doloroso para ele e preferiu não perguntar nada sobre aquilo assim como não gostaria que alguém lhe perguntasse o que se passava em sua casa. Kali se encolheu abraçando os joelhos e escondendo a cabeça entre eles. Não sabia descrever o que estava sentindo.

— Eu perdi meu pai muito cedo. Minha mãe ficou com depressão e morreu logo depois. – Felipe respirou fundo antes de continuar. – Meu irmão era 15 anos mais velho que eu e ficou com minha guarda. Ele tinha 19 anos na época. – Colocou a blusa de volta. – Ele era muito carinhoso no início. Tenho uma vaga lembrança dele brincando comigo e sorrindo… – Felipe deu uma risada triste. – Tudo isso agora parece que foi um sonho apenas. – Kali levantou a cabeça olhando para Felipe que olhava para o chão. Lembrou-se da conversa que teve com Rafael quando disse que seus pais pareciam agora nunca terem existido. – Não sei exatamente quando ou por que, mas de repente meu irmão começou a mudar. Ele ficou agressivo. Eu… – Felipe fez uma pausa sentindo a garganta apertar. Era a primeira vez que falava daquilo de forma direta para alguém. – Eu lembro de um dia que ele chegou em casa pisando firme. Ele tava nervoso. Muito nervoso… Eu nunca tinha visto alguém daquele jeito. Seus olhos estavam vermelhos, ele suava muito e cheirava a algo que na época eu não sabia o que era, mas hoje sei que era cerveja, cigarro e maconha. Ele estava fora de si, era outra pessoa. A partir dali nada foi igual era antes. Ele passou a chegar cada vez mais estressado em casa. Ele começou a vender as coisas da casa, provavelmente pra comprar drogas. Eu era muito novo pra entender o que estava acontecendo. O cheiro da casa mudou, ficou enjoativo. Era um pesadelo viver ali. Eu queria meu irmão de volta, mas ele não falava mais comigo. Só quando queria alguma coisa ou quando estava me xingando sem motivo. – Foi a vez de Felipe segurar seu braço e encolher-se. – Um dia ele chegou muito bêbado em casa. Começou a andar de um lado a outro procurando alguma coisa. Eu fiquei escondido debaixo da minha cama, com muito medo dele…. De repente ele entrou no meu quarto como um furacão abrindo as gavetas da cômoda e jogando as roupas no chão. Depois ele olhou pra debaixo da cama e me viu lá encolhido, chorando o mais silenciosamente que eu conseguia. Ele me puxou com muita violência de lá e me jogou contra a parede. Eu bati as costas e caí no chão chorando muito e com muita dor. – Kali viu uma lágrima solitária descer pelo rosto de Felipe. – Ele tinha uma garrafa de cerveja na mão. Tomou o que ainda tinha na garrafa de uma vez. Depois ele me perguntou: “Onde está?” E eu apenas continuei chorando no chão encolhido. “Onde está?” Ele perguntou mais uma vez, mais irritado do que a primeira vez, mas eu não sabia o que ele queria. Ele ficou mais irritado ainda e jogou a garrafa contra a parede atrás de mim. Ela quebrou e eu fiquei coberto de cacos de vidro. Ele chegou perto de mim e me segurou pelo colarinho da blusa me forçando a levantar. Eu olhei pra ele apavorado e o rosto que eu vi nunca mais esqueci. Não sei quem era aquela pessoa que meu irmão havia se transformado. – Felipe engoliu em seco lembrando da cena. – Ele continuou me olhando com fúria e me jogou no chão com violência. Um caco de vidro maior entrou no meu braço e eu dei um grito de dor, uma dor que eu nunca havia sentido. Ele se aproximou de mim e eu me encolhi e fechei os olhos com medo do que ele faria… Mas ele não fez nada. Eu abri os olhos e ele estava chorando, me olhando confuso. Aquele era o olhar do meu irmão… Ele me pegou no colo e ficou repetindo “Me perdoa… Me perdoa…”. A dor que eu estava sentindo no corpo era muito grande e eu desmaiei. Quando acordei estava no hospital com um braço enfaixado e o outro ligado ao soro. Meu irmão estava sentado em uma cadeira do lado da cama. Quando ele me viu começou a chorar e pedir perdão de novo. Ele estava com os olhos inchados e com olheiras e parecia muito mais velho do que era. Ele me prometeu que mudaria, que não faria aquilo de novo, mas… Ele continuou usando drogas e passou a me agredir com frequência. Esta cicatriz no braço é apenas a primeira de muitas.

— Por que não  contou pra ninguém? – Kali perguntou depois de Felipe dar uma pausa.

— Eu acho que eu tinha alguma esperança dele voltar a ser meu irmão mais velho protetor…

— Quantos anos você tinha?

— Oito na primeira vez que ele me agrediu.

— Sinto muito… – Kali foi sincera. Entendia o que ele tinha passado.

— Um dia dois policiais bateram na porta da minha casa. Eles vieram me dar a notícia de que meu irmão havia sido baleado e morto. As investigações concluíram que ele foi executado por dívidas com traficantes. Eu não senti nada. Não fiquei triste nem feliz. Eu entrei em um estado de choque que eu não sei se um dia vou sair…

Kali percebeu que Felipe ainda sofria com aquilo. Aquele garoto sorridente que conheceu parecia nunca ter vivido nada de ruim em sua vida. Engano. Ele era apenas um bom ator.

— Por que me contou tudo isso?

— Em parte pra desabafar, em parte pra ganhar sua confiança e em parte pra que você soubesse que eu entendo pelo que você está passando.

Kali arregalou os olhos.

— Co-como as-assim?

— Quando eu vi como você e seu irmão agiam e como você se segurava pra não mostrar que estava machucada, eu lembrei de como eu agia. Tive certeza que você e seu irmão sofriam como eu sofri. "Eu não descubro nada que não tenha me dado as pistas certas", lembra? – Felipe sorriu amigável. Kali o olhava com confusão e receio no olhar. – Eu não vou contar pra ninguém, se é o que está pensando. Eu só quero que você saiba que eu estou aqui pra ajudar se quiser. Seja pra ser um ombro amigo, alguém pra desabafar ou quando quiser que eu dê uma surra em quem faz isso com você.

Kali não sabia o que dizer. Sentiu que Felipe estava sendo sincero, mas ele ainda era um desconhecido. Não sabia até que ponto podia confiar nele.

— Eu não sei quais os seus motivos pra não denunciar o que fazem com você, mas se um dia quiser fazer isso conte comigo.

Felipe sorriu sincero e Kali sentiu que podia confiar nele.

 


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam da história do Felipe? Perceberam alguma coisa?
Se você leu até aqui #obrigada^^



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