The Selection ♚ Interativa escrita por Ella Lancaster


Capítulo 2
♚Capítulo Um




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O navio atracou na costa de Illéa às nove da noite. Era um navio grande, de madeira clássica e com velas amareladas, romântico para escritores, assustador para os sensatos. O capitão ordenou que a âncora fosse jogada ao mar com um simples Argh, (ou pelo menos era o que parecia àqueles que observavam do Porto). O rapaz estava sentado no convés com uma garrafa de vinho aberta ao seu lado e a cara de quem estava emocionalmente devastado. Ou que vinha bebendo por horas. Ou ambos. Olheiras pesadas carregavam os olhos verdes, o cabelo castanho estava bagunçado e a blusa de linho ele sequer havia procurado encontrar o lugar onde os botões se encaixavam.

Darren Schreave. Sim. Ele era Darren Schreave. Darren, Darren, Darren… Por algum motivo, seu próprio nome soava estranho aos seus ouvidos. Talvez fosse o álcool. Talvez, talvez, talvez…

“Rapaz!”, o Capitão ralhou, arrancando-o de seus pensamentos. “Chegamos em terra firme”.

Darren levantou a mão deliberadamente, ainda segurando a garrafa de vinho, e derramou parte de seu conteúdo nas tábuas do chão.

“E há terra mole?”, riu, girando a garrafa nas mãos, “Uh, acho que não… Ou há? Vidro, tecnicamente… O segundo estado do vidro…”, o Capitão Saylor viu o príncipe bambear para o lado antes de beber mais uma dose, “Qual é o segundo estado do vinho?”, Darren riu de si mesmo, “Oh, estávamos falando do vidro. Vidro… o quê? O que sobre vidros?”. A situação seria cômica para Saylor se aquele não fosse o príncipe, e não fosse ele que levaria a culpa por sua embriaguez. “Oh, fuck it. Falar sobre vinhos, porque vinhos são os melhores. Você sabia que inventaram o vinho doce?”, molhou os lábios, olhando para o líquido com a seriedade de quem jogava xadrez. “Lamentável. Vinho doce é vinho diluído com açúcar, e vinho diluído com açúcar é suco de uva. Como vai com seu suco de uva, capitão?”.

Seu monólogo sobre vinho continuou por mais alguns minutos antes do Capitão o levantar da borda do navio e apoiá-lo até a cama.

“Acho melhor vermos o seu pai amanhã”, murmurou para Darren, que tinha as pernas bambas de sono, “Ele decerto não iria gostar de vê-lo assim”.

Dentro do humanamente-possível-em-casos-de-embriaguez, o príncipe gargalhou.

O, Captain, My Captain…”, Saylor virou-se para o ele, antes de perceber que, ao contrário do que demonstrava no convés, tudo que tinha nos olhos era tristeza e melancolia profundas, “Acho que ele ficaria feliz em não me ver”, e após o breve momento que os dois compartilharam, Darren soltou-se do marinheiro e estendeu os braços para cima, causando desequilíbrio imediato. “Ahoy!”, gritou animadamente antes de bater com a cara no chão.

Darren acreditou que lhe dava mais enjoo pisar uma vez em Illéa do que um mês no navio sacolejante, de um lado para o outro…

Ou talvez a culpa fosse a de uma noite inteira, se afogando no vinho.

“Vossa Alteza!” viu uma mulher chamar. Talvez estivesse distante, mas a voz soou em sua cabeça como se houvessem mil amplificadores.

“Não grite”, sussurrou, semicerrando os olhos para vê-la através da luz. Estranhamente, aquele rosto lhe pareceu loucamente familiar. “Ma?”, ele franziu o cenho e cobriu o sol com as mãos para enxergá-la direito sem que sua dor de cabeça piorasse. “Ma!”.

“Meu rapaz…”, a mulher, rechonchuda pela idade, abriu seus braços acolhedores e deixou com que o príncipe pulasse nele como fazia quando era uma criança, “Oh, meu Deus! Você cresceu tanto! Está um homem lindo, olhe só para ele, Trandell”, virou a cara de Darren para um homem que descia com suas malas do navio, “Mas está magro demais… Quando foi a última vez que comeu?! Ah, isso não importa realmente, venha aqui, venha aqui…!”.

Darren deixou-se levar pelos abraços e beijos da Ama de Leite, que apertava suas bochechas como se tentasse arrancar um pedaço. Ela comentou sobre como seu cabelo estava grande e que precisava comer desesperadamente mais, portanto, o levaria para a cozinha assim que possível. E enquanto ela balbuciava quaisquer fofocas do reino, Darren apenas lutava contra a luz infernal do Sol e tentava fazer com que mulher que tanto amava lhe desse espaço para responder as perguntas vorazes que ela despejava em cima dele.

“A senhora ainda… Trabalha no castelo?”, ele perguntou quando ela deu uma pausa para respirar.

“Oh, claro, claro…” Marize secou as mãos no lenço, Darren demorou para notar que seus olhos estavam cheios de lágrimas.

“M-mas… Por quê?”, ele segurou as mãos da ama nas suas, “Ele-ele…”, rapidamente, ele parou de falar. Deuses! Anos de reclusa e era só pisar em Illéa e ouvir falar de seu pai que sentia as letras ficarem presas na garganta, como se recusassem a sair normalmente.

“Não se preocupe, querido”, tratou de tranquilizá-lo, “Ele precisou de mim para tomar conta de Arthur e Anthony quase assim que você se foi”.

Darren sempre soube que Arthur e Anthony existiam, para sua infelicidade. Sempre os mencionavam nas cartas ou pelo jornal, mas em seu exílio, tinha medo de que eles realmente existissem. Com o tempo, deixou de desejar o que eles tinham, afinal, eles tinham seu pai, e quem tinha seu pai era um bastardo desafortunado pelo resto da vida. Agora, no entanto, sentiu pela primeira vez em anos, aquela sensação vertiginosa que subia pelo peito ao ouvir Marize falar sobre eles: inveja. Ciúmes. Raiva. Eles a tinham. Ela os criara… Ele era apenas um menino rejeitado novamente, aquele que o pai abandonou e a mãe morreu para não ficar perto. Um fracasso.

Sacudiu a cabeça até se livrar daqueles pensamentos que o levavam para baixo de vez em quando. Não podia voltar lá novamente.

“M-m-m-m-m-mas”, engoliu a saliva, tremendo. Era o pai. Sempre era o pai que fazia com que se sentisse uma criança assustada novamente.

Marize pressionou os lábios numa linha reta e guiou Darren até o cavalo que lhe esperava.

O castelo ainda estava exatamente como ele se lembrava; as paredes de pedra, gélidas e mortas, capazes de transmitir um sussurro da Ala Norte à Ala Sul. Não era confortável, Darren pontuou, e nem emitia a sensação de estar em casa novamente. E para ser bastante sincero, ele sequer gostava de estar ali. Era quase como passar a noite sem seus pais na casa de um parente distante, exceto que o problema do príncipe era justamente o pai estar ali.

Mas o castelo estava vazio. Inesperadamente vazio. Criados não eram vistos perambulando pelos corredores e sequer os guardas estavam em seus postos, vigilantes. E também não havia sinal algum de Richard Schreave, fazendo com que Darren se permitisse soltar um suspiro aliviado. Virou-se para Marize.

“Onde estão todos?”, as malas pesavam nas mãos do príncipe, assim como seus olhos, e tudo que mais desejava era encontrar algum quarto confortável naqueles infindáveis corredores onde pudesse descansar.

“Você não sabe?”, a Ama segurou o ombro dele com firmeza. “Hoje é a coroação de Arthur”.

Darren deu um pulo, incréculo e em choque.

“Como?! A carta dizia especificamente que a coroação é amanhã, dia vinte e cinco”.

“... Hoje é dia vinte e cinco, querido”, Ma agora tinha o tom preocupado, franzindo o cenho e se perguntando se tudo estava bem com seu garotinho.

“Não, hoje é-” consultou seu relógio de pulso, “Dia vinte e cinco. Mas que diabos?! Eu perdi um dia todo?”.

“O Capitão Saylor disse que vocês ancoraram ontem, mas que não desembarcaram de imediato. Você não se lembra, honey?”.

Puxando sua memória encoberta pela recente embriaguez, ele realmente se lembrou de estar no navio na noite passada, parados, com a breve presença de Saylor, aclamando que seria mais sensatos se desembarcassem pela manhã. Não! Darren sentia o mundo girar só ao pensar que deveria ter feito seu discurso mais cedo, antes de se embebedar. Não tinha nada para impedir a coroação de Arthur.

“Onde?”, se apressou para Marize.

“Onde o que, menino?”.

“A coroação”.

Adrenalina fervia em suas veias. Talvez ele possuísse dentro de si uma estranha excitação por coisas difíceis, por coisas que pareciam impossíveis. Quanto mais difícil é, mais feliz eu fico, lembrou-se da antiga frase e companheira das horas horríveis.

“Na Abadia de St. Étienne, oras”, a mulher apressou seus passos atrás de Darren, catando as malas que ele ia deixando pelo caminho, “Você sabe, aquela em que foi batizado… Mas o que está pensando em fazer, senhorzinho? Não vou deixar que se meta em encrencas novamente --acabou de chegar!”.

“Bem, e Arthur acabou de sair”, piscou para a Ama, “Naná, acho que hoje vamos destruír um império”.

Ele se apressou pelos corredores com passadas longas.

Ele não olhou para trás. A Abadia de St. Étienne era uma construção magnífica que se estendia acima de uma cordilheira esverdeada. Aquelas paredes tinham milhares de anos, e ainda assim brilhavam, o estilo barroco ficando evidente conforme a aproximação acontecia. Darren só estivera lá duas vezes, e nas duas era demasiadamente criança para se lembrar. Com clareza. Não se lembrava do batizado, pois era novo demais, mas se lembrava de quando Marize, sua Naná, o levou lá para se despedir da mãe.

Elinor Tempest Schreave teve uma morte nada agradável; faleceu no jardim, grávida, com metade do corpo curvado para trás do balanço de madeira que tanto amava. Ela havia caído e sua coluna havia quebrado, disseram os médicos ao rei Richard, e que tal situação já era previsível, desde que fora descoberta com uma síndrome na qual seus ossos não eram tão resistentes quanto a maioria. Disseram também que ela teve alguns momentos de intensa agonia antes de falecer e que tiveram de retirar Darren de seu útero às pressas.

Mas, dessa vez, ele não queria titubear ao passar pelo túmulo da mãe nem de seus outros grandes antepassados. Queria ser tão grande quanto eles.

Ao atravessar o corredor espelhado, já podia escutar as declarações de Arthur para coroação e seu peito quase deu um salto. Darren estava decidido, planejava aquilo desde os treze anos de idade. Queria também sufocar o pai com suas próprias mãos, mas decidira se guardar para um momento mais particular.

E eu juro…” o rapaz continuava a falar quando o verdadeiro herdeiro de Illéa quase arrebentou as portas gigantescas das dobradiças. Todo o salão caiu num silêncio profundo inicialmente, mas logo murmúrios correram em disparada.

A primeira coisa que viu foi um menino loiro, alto, segurando objetos cerimoniais de ouro nas mãos. O que lhe espantou foi o fato dele não aparentar ser cinco anos mais novo do que Darren, mas talvez fosse a expressão demasiadamente orgulhosa e imponente que o pai também exibia. O pai. Virou-se para a direita, seus olhos se encontrando por alguns segundos com o de Richard. Ele não soube quem era aquele rapaz insolente que arruinara a coroação de seu amado filho.

“Bom dia”, Darren se apressou, “Bom dia”. Correu para os degraus onde Arthur antes estava. Todos estavam perplexos demais para chamar a guarda. “Ele está sentado no meu trono”.

Mas isso é um absurdo!” escutou uma voz feminina, “Como ousa cometer traição contra o seu rei?!”.

“Shh. Deixe-me continuar”, o príncipe olhou para Richard, “Sou o herdeiro deste trono, filho do Rei Richard e da falecida rainha Elinor Tempest de Illéa, Darren Tempest Schreave, e eu reclamo minha coroa”.

“Sobre qual autoridade?”, escutou a voz indesejada do pai soar conforme ele se aproximava. Desta vez, não se encolheu quando o rei deu-lhe um puxão no braço, quase afundando os dedos em seus ossos.

“Com esta:”, sorriu, “Eu convoco a Seleção”.

A surpresa na cara de seu pai foi impagável.


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Notas finais do capítulo

Preencham essa ficha e me enviem pelos comentários, por favor. Em caso de perda da ficha completa, sempre poderei recorrer a esta aqui':
Nome:
Idade:
Manias do seu personagem:
Aparência (descrição e foto):
Características psicológicas marcantes:

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo