Mahal não desampara um filho de Durin escrita por Vindalf


Capítulo 1
O problema


Notas iniciais do capítulo

Essa fic se situa depois de "Uma surpresa para Kíli", no universo iniciado em Jornada para Erebor.



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— Oi, meu amor.

Anna beijou o marido assim que chegou da forja. Ela e Bilbo faziam o jantar no fim do dia, e Darin estava brincando lá fora. Desde que Kíli e Dwalin tinham voltado a Erebor, o menino sentia falta dos primos, mostrando-se ansioso. Aquilo preocupava Anna, pois em breve eles se mudariam para a casa nova e seria uma nova separação, desta vez de Bilbo e de Bag End.

Thorin estranhou a ausência do filho, pois Darin sempre o esperava na porta de casa:

— Darin está no quintal?

Anna respondeu:

— Oh, ele está brincando aí na frente. Pensei que estivesse com ele.

— Não, não vi.

Bilbo ajudou:

— Então ele deve estar aí dentro. Darin!

— Darin!

Nenhuma resposta. Anna sentiu seu coração se acelerar e correu para fora. Ela gritou, na rua:

— Darin! Dariin!

Thorin foi atrás dela, e Anna virou-se para ele, angustiada:

— Thorin, ele não responde!

O pai sugeriu:

— Será que ele resolveu ir até a forja?

— Ai meu Deus — afligiu-se Anna. — Thorin, eu vou até lá.

Ele decidiu:

— Não, eu vou até lá, só para garantir. Procure ficar calma. Lembre-se que ele adorava brincar de esconder com Dwalin. Ele pode estar brincando.

— Sim, sim...! — Anna já tinha lágrimas nos olhos. Thorin a abraçou.

— Fique calma, ghivashel. Nosso inùdoy logo estará conosco.

Anna viu seu marido sair correndo pela estradinha afora, cabelos ao vento, o sol começando a se pôr. Bilbo veio até ela:

— Não o acharam?

— Não — disse Anna, tentando esconder as lágrimas. — Vamos ver se ele está brincando de se esconder lá dentro.

— Sim, sim — disse Bilbo, abraçando-a. — Ele pode estar se escondendo.

Anna continuava nervosa quando voltou para dentro da casa. Procurou pelo menino nos quartos, na sala, na cozinha, até no escritório de Bilbo — nada.

— Ele não está na casa!... — desesperou-se Anna, tentando conter o pranto. — Oh, meu filhinho...!

— Procure ficar calma, Anna — pediu Bilbo. — Ele poderia ter ido para a casa de algum amiguinho? Uma das crianças?

Anna inspirou fundo, lembrando-se:

— Ele veio comigo e então ele entrou, mas eu-

"Amad?"

Anna se interrompeu, olhando em volta:

— Darin? Darin, é você? Ouviu, Bilbo?

Bilbo respondeu:

— Não ouço nada.

"Amad!"

— Ele está me chamando, na minha cabeça — insistiu Anna. — Darin! Onde você está, filhinho?

"Amad! Estou aqui!"

Anna ficou admirada por ver como Darin se expressava bem em pensamento, pois ainda estava aprendendo a falar. Logo ela foi inundada por uma tranquilidade estranha, e ela se deixou levar por essa energia para saber o que dizer a seguir:

— Darin, meu amor, venha jantar. Você deve estar com fome.

"Amad, estou com medo... Tudo ficou diferente!"

— Não precisa ter medo, meu filho. Deixe-me ir buscá-lo. Onde você está?

"Aqui, amad! Aqui no quartinho".

Mas antes mesmo que Anna se perguntasse o que é o quartinho, sua mente lhe mostrou a resposta.

— É a adega — ela disse. — No porão.

Bilbo ficou admirado:

— Porão? Mas... Ei!

Anna saiu correndo escada abaixo. Algo não soava bem em Darin, e um pressentimento a atingiu em cheio. Sua energia a guiou para dentro do porão, uma luz dourada a levando para um canto mal-iluminado. Ela criou uma bola de luz para iluminar o caminho. Indagou:

— Darin? Você está aqui, meu filho?

Um clarão dourado respondeu, e a voz de Darin em sua cabeça soou aflita:

"Amad!"

A bola de fogo iluminou um animalzinho no chão. Era um filhotinho de lobo muito felpudo, que abanava o rabo para Anna.

"Amad! Amad!"

Ela se agachou, incrédula.

— Oh, Darin!...

O lobinho correu até ela, e ela o pôs nos braços, uma onda de alívio percorrendo seu corpo ao sentir seu filho junto de si.

— Oh, meu filhinho...

— Por Eru...! — exclamou Bilbo. — Esse é...

Anna assentiu, apertando o filhote contra seu peito, sentindo o coração do bichinho disparado. Aquele era seu filho, que provavelmente passara por sua primeira troca de peles — e pelo jeito que ele estava assustado, tinha sido tudo involuntário. Anna não parava de acarinhar o animalzinho, dizendo:

— Está tudo bem agora, meu filho. Mamãe está aqui. Não precisa ficar assustado.

Anna sentiu o terror de Darin se dissipando à medida que ela o acariciava. Mas ela indagou:

— Darin, meu querido, você consegue voltar? Voltar a ser como antes?

O lobinho ganiu. "Não sei voltar."

— Basta querer, meu amor. É só você querer.

"Mas eu não consigo... E tô com muita fome, mamãe."

Anna suspirou. Era verdade: a transformação exigia muita energia, ainda mais da primeira vez. Darin deveria estar faminto. Aquilo estava cada vez mais complicado.

— Então vamos comer primeiro. Que tal um leitinho?

"Tenho fome."

— Pronto, já vamos jantar. Vamos à cozinha. — Anna deixou que ele se enroscasse em seu pescoço. — Quem sabe até lá eu consiga explicar isso a seu pai quando ele voltar.

Bilbo observou:

— Ele não vai demorar, porque já está escuro.

Na cozinha, Anna pôs o lobinho-Darin em cima da mesa e colocou um pratinho com leite e ervas para ele. O animalzinho a encarou.

"É diferente."

— Eu sei que é diferente, meu amor. Mas vai dar tudo certo. Você vai ver.

"Bibo não fala comigo."

Anna explicou:

— Bilbo não consegue ouvir você.

O lobinho pôs-se a lamber o leite, dentro do qual Anna pusera ervas calmantes. Ele estava quase no fim quando de repente ergueu a cabeça, abanou o rabinho e deu um latido fino.

"Adad! Adad voltou!"

Anna disse:

— Ele achou que você tinha se perdido e foi procurá-lo. Tome seu leite todo.

Ele continuou latindo. "Adad! Adad!"

E quando Thorin entrou na cozinha, ele viu Anna erguendo a voz com um animalzinho:

— Darin!

O lobinho parou de latir, mas abanava o rabo, língua de fora, olhos vidrados em Thorin. Anna suspirou e disse:

— Boa noite, marido. Achamos nosso filho, mas ele está um pouco diferente.

Thorin arregalou os olhos, e o filhotinho pôs-se a pular para cima e para baixo, latindo de alegria. O pai chegou perto da mesa, abismado, e foi a deixa para o bichinho se jogar em cima dele. Num reflexo, Thorin o capturou nos braços.

"Veja só, adad! Eu estou diferente!"

Anna lembrou:

— Darin, seu pai não consegue ouvi-lo quando você está diferente.

Thorin o afagou, indagando:

— Você pode ouvi-lo?

— Na minha cabeça — explicou Anna. — Como se fosse um pensamento.

— E você pode mudá-lo de volta?

— Não posso. Ele tem que fazer isso por si mesmo. Mas ele não sabe como fazer, por isso ficou assustado.

Bilbo comentou:

— Isso foi inesperado.

Anna indagou a Darin:

— Filhinho, você quer mais leite? Ainda está com fome?

Ainda enroscado no pai, o lobinho respondeu, já se entregando ao sono: "Não, mamãe. Estou cansado."

— Nesse caso, mocinho — disse Anna, pondo-o no seu colo — , dê boa-noite a papai e Bilbo. Está na hora de ir para cama.

"Tá bom, mamãe. Boa noite, adad. Boa noite, Bilbo."

Como se tivesse ouvido o menino, Thorin respondeu:

— Boa noite, filho.

Anna ninou-o em seu colo, cantarolando enquanto sua mente freneticamente voava nas possibilidades. Agora que seu filho estava calmo, era hora de tentar se acalmar ela mesma para tranquilizar seu marido. Assim que Darin adormeceu, ela o pôs na cama e correu à cozinha.

Bilbo e Thorin tomavam sopa. Anna assentiu:

— Ótimo, já estão jantando. Não temos tempo a perder.

— Como ele está? — quis saber Thorin. — E o que aconteceu?

Anna respondeu:

— Achei melhor colocar umas ervas calmantes para ele dormir. Darin ficou muito assustado porque ele se transformou de repente, sem saber como.

Bilbo indagou:

— Tem certeza que não consegue... fazê-lo voltar ao normal?

— Não é assim que funciona. Ele é que tem que fazer isso sozinho. E é só o que eu sei. — Anna ainda estava angustiada. — Mas ele é novinho demais para mexer com essa mágica tão poderosa. Temo pela saúde dele.

Thorin também estava nervoso:

— Mas então como ele vai voltar ao normal?

Anna garantiu:

— Talvez ele acorde de novo como nosso menino, pois estará calmo e descansado, talvez não. O que me preocupa é que isso aconteça de novo e ele seja visto. Ele pode ser discriminado ou até confundido com um animal de verdade — e caçado.

Bilbo exclamou:

— Oh, não, por Eru!

Thorin comentou:

— Deveríamos saber que essa era uma possibilidade, mas... confesso que foi uma surpresa.

— Oh, meu amor, eu também não imaginava que algo assim fosse se apresentar tão cedo. Darin precisa de nós, mas não sei se posso ajudá-lo. Talvez eu deva pedir ajuda.

— Mas quem pode? Beorn?

— Lord Elrond deve ser capaz de ajudar.

— Acha mesmo?

— Ou ele ou a Lady Galadriel — disse Anna. — Não posso esperar até Gandalf resolver aparecer. Pretendo sair agora mesmo para Rivendell. Com sorte, chegamos lá de manhã. O que acha, marido?

— Não me agrada sair no meio da noite, mas não tenho ideia melhor.

Bilbo quis saber:

— Do que vão precisar?

— Penso em levar Darin num canguru ou uma caixinha ou cestinha. Thorin segura a caixa durante a viagem. Irei como águia, o mais rápido que puder.

Thorin ajudou:

— Vamos precisar de cobertores, casacos para a viagem.

— E uma muda de roupas para quando Darin voltar a ser humano.

— E que tal uma comidinha? — indagou Bilbo, mostrando as prioridades de um hobbit. — Pode ser bom.

— Melhor irmos o quanto antes — disse Anna, aflita. — Bilbo, por favor, avise que Darin ficou doente e fomos levá-lo a Rivendell.

Thorin observou:

Ghivasha, se vai voar a noite toda, deve se alimentar bem.

— Não tenho fome, Thorin.

— Anna, não poderei cuidar de vocês dois, se algo acontecer.

— Thorin tem razão — reforçou Bilbo. — Os dois precisam estar bem: Darin precisa de vocês.

Foi no meio da noite que eles decolaram, Thorin levando o lobinho enrolado num cobertor dentro de uma cesta. Anna imprimiu o máximo de velocidade que pôde às asas, enquanto o marido se ocupava em deixar Darin e ele mesmo aquecidos.

Após horas de voo, o sol começou a despontar no céu quando eles se aproximaram de Rivendell. Rapidamente Anna notou que suas asas não conseguiriam caber no vale estreito de Imladris. Ela avisou:

— Vou ter que descer. Thorin, segure-se.

Com o máximo de suavidade, Anna desceu o mais próximo que pôde da entrada oculta do vale — a mesma onde ela se jogara na frente de um warg para salvar Thorin.

Foi estranho voltar àquele lugar após tantos anos. Em silêncio, passaram pelos penhascos e fendas de rocha, descendo pelo caminho estreito até chegarem ao platô de onde viram as lindas edificações de Rivendell, além do rio. Mesmo angustiada pela situação, Anna sentiu uma emoção ao chegar ao vale. Darin ainda dormia na cestinha que ela carregava.

— Você está bem, ghivasha?

A pergunta de Thorin a pegou de surpresa. Ela confessou:

— Estou apavorada, Thorin. Nosso filho... — Ela o encarou, lágrimas nos olhos. — Nosso filhinho...

— Vai ficar tudo bem — Thorin a abraçou. — Seus parentes vão nos ajudar. Darin ficará ótimo.

Ela assentiu, querendo desesperadamente acreditar nas palavras dele.

Finalmente chegaram ao pátio circular, onde o sol se insinuava no começo da manhã. Anna beijou o filho adormecido, e, ao erguer a cabeça, viu movimento num dos prédios acima. Acenou, gritando em Sindarin:

— [Ajude-nos!]

Em minutos, dois elfos acudiram correndo, descendo as escadas com as longas vestes tremulando. Anna fez uma saudação e explicou:

— Eu sou Erulissë, e vim aqui numa grave emergência. Lord Elrond ou Lady Arwen se encontram?

Um dos elfos explicou:

— A Lady Arwen está em Lothlórien. Por favor, deixe-me levá-la com seu consorte a Lord Elrond.

Seguiram o elfo escada acima, e logo Anna topou com um rosto conhecido: Authiel, a elfa que a ajudara a cuidar de Darin em Rivendell.

— Authiel!...

— Milady, o que houve?

— Precisamos da orientação e sabedoria de Lord Elrond neste momento delicado. Meu marido, Thorin, nos acompanha.

Ela o saudou rapidamente, antes de indagar:

— E o pequeno?

— Precisa de nós — respondeu Anna, aflita.

Chegaram a um salão, onde Authiel os alojou, dizendo:

— Esperem aqui. Meu lord Elrond virá em seguida.

Pareceu uma eternidade até finalmente o Senhor de Imladris aparecer diante deles. Anna tremia, nervosa, ansiosa, e à beira do colapso ao saudá-lo:

— Meu lord, vê-lo é um bálsamo para meu coração angustiado.

Ele tinha o semblante fechado.

— Erulissë, Thorin: o que houve?

— Viemos o mais rápido que podemos — disse Thorin. — É nosso filho.

Anna desembrulhou o cobertorzinho e revelou a pequena forma enrodilhada em si mesma, dormindo dentro da cestinha. Elrond inspirou fortemente antes de indagar:

— Quando isso aconteceu?

— Ontem à noite — respondeu Thorin. — Pensamos que ele tivesse se perdido, mas ele só estava escondido.

Anna acrescentou, aflita:

— Ele estava tão confuso e assustado!... Eu lhe dei ervas calmantes, mas ele deve acordar em breve.

O elfo assentiu, dizendo:

— Se viajaram a noite toda, devem estar famintos. Vou mandar trazer refeição para todos.

A comida chegou, mas Darin continuava adormecido. Lindir veio até eles, e Anna se alegrou em vê-lo, apesar do cansaço e da angústia. Só após comerem, Elrond indagou:

— Como se sentem?

— Melhor, meu lord, obrigada — disse Anna. — E agora vejo que Darin não vai acordar tão cedo. Ele dorme não só por efeito das ervas que ingeriu: seu corpo precisa se recuperar da transformação e sua mágica também necessita de ajustes. Ele ainda deve dormir um tempo.

Elrond sorriu e apontou:

— Vejo que agora sua agitação se acalmou: voltou a ter contato com sua natureza e pôde perceber a situação. Erulissë, sabe da importância de descanso e alimentação correta. Por isso, gostaria de prescrever a todos um descanso restaurador. Aposentos já foram preparados. A você, Erulissë, deixei pronta uma poção capaz de restaurar a conexão com seu filho. A Thorin Oakenshield, recomendei um preparado para ajudar a restauração de seu equilíbrio.

Thorin ficou perturbado. Era difícil para ele permanecer tão passivo e inativo quando sua família precisava de ajuda. Anna pareceu sentir a angústia do marido.

— Está tudo bem, meu amor. Foi para isso que viemos — disse ela. — Vai dar tudo certo.

— Erulissë tem razão. Estão fazendo isso por Darin. Lindir os levará a seus aposentos.

Thorin assentiu, dizendo:

— Obrigado, Elrond.

— Descansem, meus amigos. Eu os verei mais tarde.

Lindir os encaminhou ao aposento, garantindo que se precisassem de qualquer coisa, era só pedir. Assim que ele saiu, Anna levou Darin ao bercinho preparado para ele. Depositou o animalzinho, sussurrando:

— Meu filhinho...

Thorin a abraçou, dizendo:

— Venha, ghivashel, venha tomar seu remédio e descansar.

Ao se ver sozinha com Thorin, Anna deixou cair lágrimas que ela não sabia dizer se eram de alívio ou conforto. Ele a abraçou e esperou que se acalmasse.

— Está melhor?

— Não muito, mas estou melhor a seu lado. Você também deve tomar um remédio, Thorin.

— Deixe-me primeiro cuidar de você, minha vida — pediu Thorin. — Deite-se aqui e eu trago sua poção.

Ele a fez beber o líquido e ajudou-a a deitar-se. Anna pediu:

— Cante para mim sua música, Thorin. Por favor.

Abraçado a ela, deitado com Anna nos braços, Thorin cantou a mesma música de quando se conheceram: a canção do seu exílio, a canção da Montanha Solitária. Só assim ela pôde adormecer, sob efeito da poção de Lord Elrond.


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