Lily cambaleou para trás, enquanto o demônio se erguia para fora do corpo, Rebeca bufou empurrando o Potter para trás.

— essas coisas existem? -James sussurrou, os olhos brilhantes

— claro, assim como humanos existem...

— mas...

— acho bom você usar essa espada

James suspirou erguendo a lâmina mais uma vez, Rebeca ergueu a arma pronta para atirar, quando ela olhou diretamente para a besta, seus olhos brilharam, ela ergueu a mão para James, fazendo-o baixar a espada, ela deu um passo a frente, como que impressionada com o bicho

— Rebeca? Tudo bem? -Lily perguntou mais atrás, quase dando para o corredor.

Rebeca nada respondeu, apenas dava passos vagarosos até a criatura. Lily olhou para os lado em desespero, quando o cabelo escuro despontou no começo do corredor, ela conteve a vontade de gritar seu nome com um pedido de socorro. Lily o encarou apavorada, ele lhe lançou um olhar confuso e adiantou seus passos. O irmão do meio chegou a porta e espiou por cima do braço da irmã, ele engoliu em seco assim que viu o bicho, ele era horrendo, e mesmo assim Rebeca caminhava até o mesmo.

— Rebeca? -James murmurou dando também um passo a frente

— esta tudo bem? Vocês não estão vendo? -Ela respondeu, a voz metálica, James ergueu uma sobrancelha

Alvo sem mais delongas adentrou a sala, passou quase que voando pelos irmãos, e parou a frente de Rebeca, encarado o bicho tão perto que era possível enxergar os detalhes da pele feia, os ossos dobradiços por debaixo de um fino tecido de pele branca meio acinzentada. Rebeca tinha os olhos vazios, como os de Rose, sem vida. Alvo sem hesitar puxou a adaga em direção ao demônio, ele arqueou, pronto para pular em cima do moreno. O Potter de olhos verdes girou a adaga entre os dedos, e a mesma reluziu, como se faíscas percorressem sua lâmina. Ele impulsionou a mão para baixo, o bicho pulou em cima do mesmo, quando ele ergueu a ponta da lâmina, acertando em cheio seu peito. Ele soltou um grito, esganiçado, Alvo puxou a adaga para cima, rasgando do seu peito até sua garganta, o líquido pegajoso escorreu do bicho, ele lançou um ultimo olhar para cima e tombou para trás, para se transformar em apenas uma poça.

Rebeca cambaleou para trás e James a segurou. Alvo ofegou e enxugou o suor no rosto com a manga. Lily enfim gritou

— mas que merda é essa? - a ruivinha reclamou, a voz completa de terror

— eu não sei... -Alvo sibilou se voltando para os outros, os irmãos lhe encararam surpresos

— como é que você...? -James começou confuso

— eu não sei- ele repetiu olhando para a adaga- vocês estavam parados olhando para aquela coisa, e eu...

Alvo olhou para o nada, depois voltou seu olhar para o braço, fitando o mesmo, devolveu a adaga ao cinto e ergueu o braço, observando o símbolo brilhante ali

— Rebeca... Como assim magia? -ele olhou diretamente para a morena que tentava se recompor

***

Rose empurrou outro pedaço de madeira que impedia a passagem, eram como túneis subterrâneos, todos esperando por uma invasão, e Rose não estava afim de encontrar mais alguém ali dentro, ainda mais algum inimigo

— como funciona isso tudo? -Rose murmurou pela primeira vez desde que começaram a caminhar

— essa casa é cheia de segredos, Adrian tem os dele, eu tenho os meus- Lia passou a frente da ruiva, suspirando

— o que Adrian anda aprotando?

— oh Rose, por que não ficou distante? Por que não desistiu disso assim que teve oportunidade? -Lia lamentou, a voz melancólica, como se recordasse de coisa péssimas

— não posso deixar Anne, não ainda

— Adrian matou Anne, você sabe disso?

— sei, ela passou muito tempo em minha mente lembra?

— a história é simples, ou nem tanto... Ele ficou tão cego pelo "amor" doente dele, que a matou, querendo ela só para si

— James matou Alex... -Rose sussurrou incomodada, Lia a encarou surpresa

— James? Como?

— nos estávamos naquela casa... A casa onde tudo começou, Alex quase me matou, ainda me recordava de algumas coisas, deixei James invisível, e ele, graças aos céus, me salvou

— por que estavam naquela casa?

— Clarie- Rose suspirou profundamente

— Clarie! Não acredito, não acredito- Lia bufou resmungando

— eu não acredito que ela fez isso conosco, ela tem que estar do nosso lado de alguma forma

— Rose, pense comigo, Adrian quer desfazer a burrada, porque ele é burro demais, ele quer Anne de volta, em seu corpo, e para isso, precisa matar você, se Clarie estiver do lado dele...

— não! Ela tem que estar do nosso lado, eu fiz outro ritual, não foi exatamente...

— o que aconteceu dessa vez?

— uma ligação, não pude fazer coisas demais com James ali perto

— porque ele se importa - Lia respondeu fitando a ruiva intencionalmente

— ele ama Clarie... É tudo muito complexo

— será que tenho que te torturar até aprender?

— o que aconteceu com você? -Rose olhou para ela surpresa com suas palavras

— eu sobrevivi, isso que aconteceu

— encontramos Rebeca, Alex a vigiava

— Rebeca vai fazer de tudo para salvar você, eu temo até onde ela vai

— Molly está com câncer, e não posso ajudar- Rose baixou a cabeça - Eu estou confusa da vida, pode não parecer de primeira... Mamãe e papai estão viajando

— é muita novidade, calma

— e Clarie, Clarie está nos ajudando

— Rose, pare de achar que todos são bonzinhos, pois ninguém é, todo mundo pode trair.

— eu tenho certeza! Por que ela me indicaria o lugar para o ritual? Por que não estaria no pé de James por estar comigo... digo, conosco?

— ela está no seu pé por isso, não importa a vingança que esteja aprontando, ela ainda o ama, e você está fazendo papel de idiota nessa história toda

— não estou não

— Adrian não quer você, quer Anne, mas eu, Rebeca, Molly, Roxy, Lily, Al, Jay, Scorp, queremos você

— mas eu não sei...

— trate de mandar Anne pra o lugar de onde quer que ela tenha vindo, esse corpo te pertence, seu coração te pertence, e você não tem mais dez anos, Rosália -Lia encerrou

A jovem de cabelos incomuns digitou uma senha em um pequeno teclado na parede de pedra escura, a parede chiou, como que sendo arrancada do chão, e revelou uma sala pequena, uma sala pequena e coberta de monitores, tinha mais uma porta adiante, e uma escada, talvez para outros túneis. Rose observou Lia se aproximar dos monitores, câmeras, ela podia ver cada movimento da casa, por isso havia a salvado

— eu acho que temos intrusos conhecidos aqui- Lia cantarolou observando o andar de cima, Rose observou prendendo a respiração

— Rebeca...

***

— guardiões são um povo antigo, mas isso é uma longa história...

"Guardiões são guerreiros, que tem poderes, certos que para lutar contra o mal, como os poderes foram se perdendo de acordo com a humanidade aqui na terra, nos restaram símbolos, e esses símbolos, infelizmente, também foram sumindo, mas é a natureza de cada guardião se lembrar deles, se Você é um filho de Guardian, então seus pais, ou seu pai ou sua mãe, são guardiões, Rose é, então creio que isso venha dos Weasley, por tanto, algum dos seus irmãos também é um. Você simplesmente nasce assim, é seu sangue, sua origem. Nos viemos para a terra em fuga, por isso todos estão escondidos."

— parece história pra criança dormir... -Al franziu o cenho

— sei disso, mas é verdade, se não me engano, Potter é uma família antiga também, deve ter alguma relação com guardiões

— então você sabe que é um, por que desenha essas coisas?- James perguntou receoso

— se tiver efeito, sim- Rebeca piscou instantaneamente e suspirou - você já desenhou, não foi? Eu sabia que você era um

— eu desenhei pela manhã, mostrei a Clarie... ela pareceu não...

— claro que ela não gostou, ela conhece o símbolo, aquela idiota- Rebeca resmungou arrumando as vestes

— só pra te lembrar que ela é minha namorada, sabe?

— Sei, Sei muito bem -Rebeca sorriu azeda e bufou- nossa, como sinto falta daquela ruiva, só vive sumindo agora

Alvo riu baixinho e Lily fitou os irmãos com curiosidade, Rebeca olhou para a mais jovem com divertimento

— vocês podem fazer isso ai, e eu não? - a ruivinha pareceu indignada

— não tem como saber, você nunca tentou?

— não, não sou de desenhar

— pelo menos sabe lutar, vamos logo- Rebeca girou os olhos e saiu a frente dos três pelo corredor- Alvo, onde você estava?

— limpando a casa- Alvo respondeu debochado e ela lhe lançou um olhar mortal- estava meio que perdido sabe, já que os três saíram em trupe e eu fiquei sozinho lá fora

— ah, tadinho de você- Rebeca fez beicinho e gargalhou da careta do amigo

— vá a merda- ele rebateu rindo

— parem de se amar na nossa frente, Lily ainda está aqui- James falou tampando os olhos da irmã

— quem não deveria ver é você, querido- Lily bateu no mais velho e sorriu

— você está ganhando força, pirralha - ele massageou o braço onde ela havia batido

O corredor era um tanto estreito, as paredes em um verde negro se destacavam, várias e várias saídas e entradas, a casa daquele ponto parecia em si ser grande.

Lily praguejou mentalmente, guardando uma nota na mente para se lembrar de nunca mais se meter em confusões. Como que alguém estivesse lendo sua mente, o irmão mais velho desapareceu. Rebeca olhou para eles desesperada, Alvo bufou alto.

— temos mais um perdido- Lily franziu o cenho e eles assentiram

***

Rose sentiu o momento em que foi arrancada do lugar, as palavras da amiga flutuaram na mente, não terminadas. Rose piscou instintivamente e engoliu o grito. A sala era grande, a lâmina redonda brilhava mais a frente, apoiada aos trilhos que levavam a duas cadeiras, Rose seguiu o olhar pelos outros trilhos, encontrando olhos verdes que ela conhecia exatamente, Clarie. A lâmina parecia afiada, e pronta para correr pelos trilhos, mas parecia que ela só poderia matar uma pessoa em uma única rota.

Era como um jogo, uma grande lâmina circular ia atingir uma das duas que estavam sentadas ali.

— eu pensei que você tinha nos traído... -Rose começou olhando para a amiga

— eu também pensei- Clarie murmurou com os olhos baixos

— então o que estamos fazendo aqui? - a ruiva tentou se inclinar, sem muito sucesso, as cordas a seguraram firmemente

— se eu soubesse... -ela suspirou pesarosa

— já deveriam saber, pelo visto passaram muito tempo sendo burrinhas- a voz ecoou pela sala, as duas olharam para cima

— tudo bem, o que você vai fazer dessa vez? -Rose cerrou os dentes

— eu? Eu não vou fazer nada, vou apenas assistir- ele zombou

Rose franziu o cenho sem entender

— não, não, por favor, não- Clarie murmurou olhando fixamente para frente

Rose seguiu o olhar apavorado, ela encarava o jovem por trás da lâmina, Rose enxergou claramente a parede invisível, um vidro separava ele das duas na sala, segurou o ar nos pulmões, Ela observou com atenção o plano, ela morreria...

— olá, garoto, finalmente esse jogo vai começar- eles podiam sentir o sorriso daquela pessoa de longe

— o que você está fazendo? -James sussurrou olhando atentamente para a lâmina

— deixa eu explicar, uma dessas garotas irá morrer, e adivinha quem vai escolher? -a voz era repleta de deboche, Rose sentiu nojo sabendo a quem pertencia aquela voz

— eu não vou escolher entre as duas -James respondeu como se fosse óbvio

— ah, vai sim, ou todo mundo aqui dentro morre- ele cantarolou- está vendo a alavanca? Puxe para o lado escolhido

James ofegou fitando as duas meninas, Clarie instantaneamente começou a chorar, como se fosse ela a estar a caminho da morte, Rose entreolhou para os dois

— você sabe o que fazer, James -Rose sibilou, o gosto amargo das suas próprias palavras

— eu não vou... -ele começou, mas se interrompeu, sabendo o que vinha em seguida

— você vai escolher ela, não vai? -Clarie perguntou o encarando

— eu não posso...

— então termine logo com isso- Rose quase gritou, fechando os olhos e se encolhendo

— não vou matar você, Rose, nem você, Clarie, eu jamais poderia matar nenhuma das duas- ele murmurou quase inaudível, a cabeça latejando

— por favor, termine logo com isso- Rose pediu baixinho, Clarie soluçou alto enquanto via a mão do namorado se aproximar da alavanca

— eu não posso fazer isso... -ele repetiu, como se precisasse acreditar em suas próprias palavras

— eu sempre amei todos vocês, mesmo que tenha me sacrificado por Anne por todos esses anos... E me enganei ao pensar que as coisas seriam as mesmas, vocês cresceram, eu acabei ficando para trás, então está na hora de seguirem, Anne finalmente...

— Anne não será liberta- Clarie a cortou- não assim

— e como...?

— amor, quantas vezes já lhe falaram isso? Tudo o que falta neste bendito homem é amor, e Anne precisa de amor, um tipo de amor que só uma pessoa pode te oferecer- Clarie explicou fervorosamente

— se não era Scorpius... então quem... -Rose olhou para a jovem entendendo tudo, seus olhos se arregalavam a medida que as peças se encaixavam

— você não quer dizer que... -James falou com certa indignação na voz

— você tentou me manter longe disso! Esse tempo todo! -Rose olhou para ela alarmada

— eu o amo, não foi por você que o mantive longe, foi por proteção, eu o amo demais, Rose- Clarie rosnou, os olhos da ruiva faiscaram

— você não pode tirar isso de mim, não é assim -Rose sussurrou, o azul do olhar enchendo de lágrimas- eu esperei a vida toda por algo que estava bem do meu lado

— não vai rolar, não vou deixar que você o tire de mim- Clarie esbravejou

— tic toc, o relógio passando e vocês sem fazerem nada, acho bom o jovem agir logo, ou eu terei o prazer de fazer esse lugar voar pelos ares- a voz zombou de novo

James olhou para as duas meninas, o coração despedaçado, partido em ruínas, ele segurou com firmeza na alavanca

— apague a memória dele quando isso acabar, por favor- Rose pediu com a voz embargada, às lágrimas começaram a rolar

—Com prazer - a voz ecoou sarcastica

Ele apontou a ponta afiada da alavanca para seu braço, segurando firme para que ela não se movesse, mexendo o braço ele conseguiu livremente começar a rasgar a pele, em traços, para lá e para cá, o rosto se contorcendo de dor e a carne viva surgindo aos poucos.

— o que está fazendo, garoto? -a voz surgiu, agora completamente indignada

— estou escolhendo quem eu amo- James respondeu

As duas garotas olharam horrorizadas para o símbolo que pingava sangue no braço dele, então tudo se tornou um borrão, a lâmina pareceu distante, os pensamentos se dissiparam, cada parte do corpo esticando, deslocando, repuxando. A imagem focou, o jardim da Toca.

Alvo piscou repentinamente sem entender nada, Rose observou que justo duas pessoas não estavam ali

— vocês precisam parar de nos teletransportar no tempo, do nada- Alvo reclamou estalando a língua, Rebeca riu e encarou a ruiva

— ela o roubou de mim...