Ela podia sentir o peso por dentro, esmagando cada parte de sua alma, era como se fosse arrancada, quebrando cada parte de si, esvaziando, para ser preenchida por outra alma, ela podia sentir, e além de levar sua alma, levaria seu coração.

Seus olhos agora enxergavam aquela realidade alternativa, tinha algo errado ali, não estava escuro, reluzia, como em um corredor, e então ela começou a cair, cair, não sentiu o impacto, sentiu os olhos arderem, lembranças, ela podia ver lembranças, mas por que aquele universo a levava para suas lembranças?

6 αทσs

Rose escorregou da cama, com os olhos apavorados, pegou no braço da boneca e a arrastou pelo chão, saindo porta a fora na ponta dos pés, tentando andar o mais rápido que podia pelo corredor. A lua se demonstrava na janela, ela não teve coragem de olhar para fora, empurrou a porta branca, com uma grande letra A na porta.

Ela correu até a cama do primo, deixou a boneca de lado e começou a empurrá-lo, balançando o garoto, ele não se mexia, sempre tivera um sono pesado, Rose fungou, e agora?

Ela abraçou Mary, os olhos atentos a todo o local, ela não podia ir para o quarto do tio Harry, tinha vergonha demais para acordar os tios, e a pequena Lily também acordaria, só lhe restava o primo mais velho...

Rose correu para o quarto no final do corredor, ela empurrou a porta fazendo barulho ao arrastá-la, apertou Mary contra si e fechou a porta fechando os olhos com força, ela soltou um suspiro de alívio e correu para perto da cama do primo, Rose começou a balançar o garoto, ele resmungou baixinho, Rose sorriu

— James, James, Jimmy, Jay- ela começou a chamar.

O menino abriu os olhos semicerrados e fungou, coçou os olhos e a encarou, Rose ainda tinha os olhos arregalados

— o que foi? -Ele resmungou com a voz baixa

— tive um pesadelo- ela murmurou inclinando a cabeça para um lado

— e o que você quer que eu faça? Não sei fazer pesadelos acabarem -ele não estava gostando nada de ser acordado no meio da noite

— posso ficar aqui? -ela perguntou corando levemente

James a encarou por alguns segundos, ele parecia estar decidindo se a mandava embora ou não, então o moreno bocejou e se arrastou para trás, levantando o edredom. Rose sorriu radiante e subiu na cama, um braço, depois a perna, depois o resto, ela engatinhou por cima do primo o obrigando a se afastar da parede, a ruiva deitou junto a parede e puxou o edredom. James observou seu trajeto franzindo o cenho, ele resmungou alguma coisa e se virou para o outro lado, a ruiva torceu o nariz, colocou Mary no seu lado da parede e encostou a cabeça nas costas do primo. Ele quase se virou confuso, mas percebeu que a pequena já estava caindo no sono. Ele sorriu em silêncio. E assim os pequeninos dormiram.

[...]

Lily franziu o cenho, tentando raciocinar algo, enquanto Scorpius se voltou para a parede, onde uma brecha em linha fina, reluzia, como se levasse ao lado de fora, ele tocou a brecha, e percebeu o fio brilhante ali, não levava ao lado de fora, o fio, quase ilusionista, refletia. Ele tocou, parecia lã, porém antes que pudesse dizer algo, o chão tremeu sob seus pés, a luz atravessou o teto, pelo mesmo cano que levava a pedra, em segundos, a pedra começou a despencar, a casa começava a ser destruída, o teto desabava sobre suas cabeças, derrubando os andares de cima, e indo de encontro ao último andar, onde uma pedra enorme invadia.

— Scorpius! -Lily gritou arregalando os olhos

[...]

Rose arregalou os olhos, sendo fisgada de seu universo, ela abriu a boca buscando ar, suas próprias mãos comprimiam seu pescoço, com tal força que poderia mata-la. James olhou ao redor alertado, o chão tremia, e o teto gemia em reclamação, a casa parecia estar sendo destruída.

O jovem olhou para a prima, que de algum jeito, tentava se matar, ele estava pronto para correr, quando o chão mais uma vez vibrou, o derrubando, ele ergueu os olhos para a ruiva, ela havia parado, estava lá, com o olhar vazio, ela suspirou e então tombou para o lado, desmaiando. Ele usou o apoio dos cotovelos para se arrastar até a menina, as marcas no chão eram cobertas por pedaços do teto, a madeira começava a despencar.

James se esforçou para ficar de joelhos e pegou a prima no colo, com muita cautela, ele bufou ao levantar bruscamente, com tudo desabando, pra onde iria?

Ele enxergou através da poeira, uma Lily afobada no pé da escada, e um Scorpius assustado logo atrás.

— James, a pedra! -Lily gritou, apontando para o outro extremo da sala, no teto, onde uma rocha enorme, começava a desprender do local.

James respirou fundo e cambaleou, saiu correndo em disparada, tentando segurar Rose, a pequena e frágil Rose, por um momento no meio da correria ele a encarou, como podia? Ela não podia estar assim, tão frágil, tão indefesa, enquanto tentava pensar em algo, os olhos azuis da ruiva se abriram, logo tudo se tornou um clarão.

Lily abriu um olho, depois o outro, com medo do que veria, mas ali estava ela de novo, ajoelhada ao lado da prima, e todos os outros ao redor da mesma, Lily soltou a respiração e olhou ao redor incrédula?

— O que aconteceu? - Roxy quebrou o silêncio olhando para as paredes da cozinha da vó, como se fosse a primeira vez

— Ah meu Deus! - Lily murmurou procurando algum arranhão no braço.

Todos se entreolharam e respiraram fundo, Rose desceu da cadeira, sentando ali no chão, perto das duas primas

— estava tudo...

— e ainda está - Rebeca falou mais atrás, logo os olhares se voltaram para ela.

Rose não pensou duas vezes antes de se erguer cambaleante e correr até a amiga, ela a agarrou em um abraço desesperado, Rose tinha os olhos azuis arregalados de terror, ofegando sem parar, ela começou a chorar

— como você está aqui?!

— Alvo, acho que ele tem muito mais do que esperávamos - Rebeca respondeu brincalhona, sorriu com todo carinho

— eu não acredito- Rose sussurrou

— melhor não pensar muito, acho que temos uma hospedeira intrusa, entre nós- Rebeca afastou Rose para encarar seus olhos

— alguém me explica como viemos parar aqui? - James se pronunciou massageando o cotovelo, que há alguns minutos estava arranhado, ele so podia sentir o fantasma da dor

— você - Rebeca respondeu simplesmente e ele franziu o cenho

— que poder hein, Jay? Além das mulheres ainda ta pegando uns parana... -Alvo parou assim que Roxy bateu em sua cabeça, ele a olhou indignado

— como assim?

— não escute seu irmão, ele deve ter batido a cabeça em algum destroço- Roxy sorriu forçadamente para Alvo que deu de ombros

— muito bem, eu estava em uma casa, desabando, e agora estou... onde estou? -Scorpius perguntou confuso

— na casa da vovó, acabamos de festejar o ano novo- Rebeca falou suspirando

— Acabamos? Tipo, nós? - James piscou freneticamente

— claro, você não lembra? Foi até Rebeca que reclamou dos canapés - Lily assentiu lentamente

Ela agia como se aquilo realmente tivesse acontecido, de alguma maneira, aquilo era real na cabeça de Lily.

— não reclamou, não - Ele falou como se fosse óbvio

— então quem foi?

— Clarie- Rose e James responderam em uníssono, eles se encararam

— é claro que se lembram! Estavam mexendo com o que não devia! -Rebeca olhou assassinamente para a ruiva

— Eu... Precisei - Rose tentou se desculpar

— como eu nos trouxe de volta?

— você me trouxe de volta, eu estava, indo para lá... Ela precisava entrar, mas algo maior me puxou e o meu universo se fundiu... -Rose tentou explicar se enrolando

— existem universos?

— se existe magia deve te... Ai! -Alvo reclamou lançando um olhar atravessado para Roxy que amarrou a cara

— é magia sim, Al- Rebeca revirou os olhos

— Eu tive... Lembranças, de quando era pequena- Rose falou olhando com certa curiosidade pra Rebeca

— foi sobre qual lembrança? -A morena perguntou, as bochechas de Rose viraram dois tomates

— quando eu dormi no quarto do James, porque tive um daqueles pesadelos- ela falou baixinho, os pés pareciam tão interessantes.

Alvo abriu a boca indignado e Roxy riu alto, sendo acompanhada de Lily e Scorpius, Rebeca ergueu uma sobrancelha e James franziu o cenho, tentando se lembrar daquele fato

— eu não lembro - Alvo falou, sua voz debochada

— eu lembro, como...

— se fosse ontem - Rose completou tremendo da cabeça aos pés

A porta da cozinha foi aberta e Hermione adentrou, sorrindo calorosamente, Rose a olhou alertada, tentou relaxar todos os músculos

— Rose, querida, você está bem? - Hermione perguntou- pensei que aquele camarão tinha te deixado morrendo de dor de barriga

— anh? -Lily perguntou confusa

— não, ela está bem, tia Hermione, so uma cólica, coisa normal- Rebeca sorriu falsamente

— é, foi só... Cólica- Rose respondeu confusa, Hermione sorriu com carinho.

A ruiva lançou um olhar para Rebeca, a amiga sorriu de volta, Rose quase riu, se atrapalhou nos pés, mas correu para abraçar a mãe. Ela quase chorou nos braços de sua mãe, o que quer que estivesse acontecendo dentro dela, eles a protegeriam, até mesmo daquela que começava a arrancar sua alma.