Era pleno domingo atarde e eu tentava inutilmente estudar em meu quarto, mas a cada tentativa falha de tentar entender alguma coisa da matéria, vinha-me em mente a cena de Mike no quarto de hospital e de seu suposto pai, estava curiosa e ansiosa para saber mais sobre seu passado e isso só me dava mais dor de cabeça, cogitei varias vezes em perguntar a meu pai sobre o paciente daquele quarto.

Mas primeiro não me lembrava, nem ao certo o numero do quarto a essa altura do campeonato e segundo, o que diria a ele? Hey dad, vi um garoto do colégio que eu detesto dentro de um quarto do hospital, junto com um suposto homem que talvez seja seu pai, que a boatos que ele fugiu para outra cidade com uma prostituta, será que você poderia me informar quem é aquele homem e o que ele tem?

Desde ontem eu pensava em como encararia Mike com os mesmos olhos depois de sábado, ainda mais sabendo que a chance de ele ter me visto ontem quando fugi da enfermeira.

Isso tudo era um saco! Não queria ficar pensando naquilo, mas a cena de Mike junto ao homem misterioso não saia da minha cabeça, e isso era frustrante já que no momento a única coisa que queria era estudar para o teste.

Sentei em minha cama e bufei esfregando os olhos, mal tinha me mudado e tudo já estava uma bagunça, nem gostaria de imaginar como tudo vai estar quando fizer um mês que estou aqui.

Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta que estava entreaberta, levantei o tronco de modo que conseguia ver perfeitamente minha mãe com metade do corpo para dentro do quarto, a mesma me estendia um sorriso que era uma mistura de alegria e malicia.

— Nicholas está lá em baixo no telefone, quer falar com você. — Avisou minha mãe encostando a cabeça na porta, de modo que a deixava ate fofa e em seus olhos tinha certo brilho.

Sabia exatamente o que minha mãe tinha em mente, não era muitos garotos que ligavam pra mim, muito menos no telefone aqui de casa. Certamente ela já imaginava que eu e Nicholas tínhamos algo. O que me fazia lembrar que Nicholas não sabia meu n° de celular.

Levantei-me rapidamente da cama sai do quarto antes que minha mãe insinuasse algo, corri ate seu quarto onde avia outro telefone que fazia linha direta com o de baixo, o peguei e o pus entre a orelha e o ombro suspirando fundo antes de dizer algo.

— Hey.

— Hey, Maby é o Nicholas.

— Ah, oi Nicholas. Como vai? — Perguntei pondo uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, como se o mesmo estivesse ali me vendo.

— Bem, atrapalho?

— Não, eu estava entediada em meu quarto, sem fazer nada. — Isso era uma mentira, mas Nicholas não precisava saber que eu tentava inutilmente estudar enquanto pensava no namorado de sua ex-namorada paranoica.

— Que bom, digo-o... Não é, que bom que você estava entediada é... Que bom que não atrapalho. — Disse atrapalhado me fazendo rir ao mesmo tempo em que escutava uma risada nervosa do outro lado da linha. — Queria saber se você tem planos para hoje anoite?

— Não. Por quê? — Perguntei arqueando as sobrancelhas, me sentindo meio estupida com o ato, já que o mesmo não podia ver.

— Eu, Max, Alexander, Lara, Eva e mais dois amigos nossos vamos sair hoje anoite, sabe nada de mais só comer em uma lanchonete, tomar um sorvete depois e ate dar uma volta no parque. Ai, eu pensei em chamar você já que não deve conhecer quase nada da cidade e pra se divertir um pouco, fazer amizade e expandir seus horizontes. Que tal?

— Eu adoraria ir com vocês. — Falei sorrindo.

— Eu também adoraria se você viesse. Não a problema com seus pais, certo? Tudo bem se você sair? — Perguntou receoso.

— Por mim tudo bem. — Falou a voz da minha mãe no telefone, e minhas bochechas pegaram fogo ao constatar que todo esse tempo minha mãe escutara a conversa no andar de baixo. My God, que vergonha!

— Mãe desliga o telefone. — Falei envergonhada.

— Que isso filha? Só gostaria de deixar bem claro a Nicholas que não problema em vocês dois saírem juntos. — Falou com voz inocente.

— Mãe. — Adverti.

— Tá, eu já estou saindo. — Falou, e depois de alguns segundos de silencio constatei que a mesma tinha desligado.

— Desculpe pela minha mãe Nicholas, ela às vezes é meio enxerida.

— Tudo bem. — Falou soltando outra risada nervosa, mas essa sem sombra de duvidas estava menos nervosa que a outra. — Mas, já que seus pais não vão se incomodar, passo para te pegar as oito.

— Ok. Ate mais tarde Nick. — Falei usando seu habitual apelido, e o escutei dar uma pequena risadinha do outro lado.

— Até mais tarde Maby. — Falou desligando logo em seguida.

E eu teria “tecnicamente” um encontro com Nicholas Thompson, não pude evitar sentir um frio na barriga e sentir meu coração aumentar suas batidas constantes. Em algum momento divaguei meus pensamentos para os olhos castanhos esverdeados de Nicholas, me lembrando de sua intensidade e de como gostava de observa-los e seus cabelos que aparentavam ser tão macios me fazendo ter vontade de toca-los e ficarem horas e horas com as mãos entre seus fios castanhos.

Sem sombra de duvidas entre mim e Nicholas havia uma química, não como a que tinha por Mike, não. O que sentia por Nicholas era algo serio, algo semelhante ao que sentia junto a Mark, aquele conforto que lembrava o lar, ao contrario de Mike, que já tinha reparado aquela altura do campeonato que o loiro não saia de minha mente, mas mesmo que tivéssemos alguma coisa, primeiro: ele tem uma namorada, mesmo que não se importe muito com ela ao ponto de trai-la, segundo: Mike é um galinha manipulador, a única química que temos é uma atração que não passa disso, e tenho certeza que após alguns beijos essa atração iria embora para ambos, mas mesmo assim não estava disposto a beija Mike, ele me tirava do serio a certo ponto que tinha vontades loucas de surra-lo e esmaga-lo com minhas próprias mãos, ou qualquer coisa do tipo que tirasse aquele sorrisinho metido a besta de sua cara.

Alguns segundos depois de voltar para terra percebi que ainda tinha o telefone em mãos perto da orelha direita e podia escutar perfeitamente minha respiração e a de outra pessoa na linha mesmo eu Nicholas tenha desligado. Pus o telefone no gancho e sai rapidamente do quarto de minha mãe irritada e envergonhada.

— Mãeee! Não acredito que você escutou minha conversa com Nick! — Gritei da escada, frustrada, andando em direção a meu quarto teria algumas horas ate Nicholas chegar.

✖✖✖

Tenho que disser que os minutos que eu passei procurando uma roupa ideal para sair com Nicholas e seus amigos, foram os minutos mais agoniantes de minha vida. Experimentei grande parte de minhas roupas que nem eram tantas comparadas as de Amy, até que optei entre uma calça jeans vermelha – que estava jogada no fundo do guarda-roupa e nem sabia ao certo a ultima vez que usara –, uma blusa jeans de botões e um bar de botas de cor caramelo.

O que tornou tudo isso difícil foi eu querer passar uma boa impressão para Nicholas e os outros, quando estava na Austrália era só por um short e uma blusa cavada e você literalmente já estava ate elegante demais, e só facilitava meus amigos me conhecerem bem ao ponto de nem ligarem para o que eu vestiria. Aqui é diferente! Essas pessoas me conheciam, mas não tão bem assim e isso me fazia querer ter uma vontade louca de lhes dar uma boa impressão para que gostem de mim, mesmo que isso fosse um pouco – ou muito – idiota.

Além do mais, não ajudou em nada Amy e minha mãe dando palpites em tudo que eu vestia. Enquanto minha mãe queria que eu vestisse um vestido e saísse de casa parecendo uma versão da Barbie em tamanho real, Amy queria que eu parecesse mais “feminina”, que na língua da minha irmã queria dizer: se vista como eu, de preferencia, uma copia exata. E mesmo não tendo nada contra o estilo “delicada e romântica” de minha irmã, eu preferia mil vezes minhas roupas debochadas e masculinas, bem, era assim que Amy as chamava.

E depois de mais de meia hora procurando uma roupa, encontrei uma combinação perfeita que me lembrava de alguma roupa que vi em uma das revistas de moda de Amy. Quando tinha acabado de escolher minha roupa já eram mais de 18 horas, fui para o banheiro e aproveitei para lavar meus cabelos.

Aqui estou eu agora, terminando de passar o batom cor pêssego em meus lábios. Faltavam apenas alguns minutos para as oito e parecia que havia mil e uma borboletas em meu estomago e estavam prestes a sair.

Olhei no espelho tendo certeza que nem o batom nem o resto da maquiagem estavam borrados, guardei o batom, junto com o lápis de olho e o rímel no nécessaire e sentei e minha cama cruzando as pernas enquanto mexia no celular. Estava conversando com Chris pelo chat de uma de minhas redes sociais desde as 19h23min e ele estava me dando total apoio no suposto encontro com Nicholas.

Mande uma foto do Look, cat — Fora a ultima mensagem que ele me mandara há alguns segundos atrás, não pude evitar sorrir.

Andei ate o quarto de Amy abrindo a porta delicadamente e pondo somente a cabeça para dentro do quarto, ao me certificar que Amy estava no banho fui ate seu espelho de corpo inteiro que ficava ao lado do guarda-roupa e tirei uma foto simples de minha roupa mandando-a para Chris.

Assim não girl, faça uma pose e tire esse celular da cara, nem deu para ver seu rosto. — Respondeu poucos minutos depois, me fazendo arquear uma sobrancelha em direção ao celular.

Ainda de frente para o espelho tirei outra foto mais dessa vez fazendo uma pose assim como Chris pedira, pondo uma mão entre os cabelos enquanto a outra segurava o celular, minha perna esquerda estava meio dobrada deixando meu peso na direita e eu fazia um mínimo biquinho com os lábios enquanto os olhos estavam focados na tela do celular. Ao tirar a foto mandei-a direto para Chris que novamente responde rápido.

Você realmente está uma cat, Miau-Miau. — E dessa vez eu realmente cai na gargalhada fazendo ate um pouco de barulho, já que Amy saiu do banheiro enrolada em uma toalha me lançando um olhar mortal, que me vez girar sobre os calcanhares e sair rapidamente daquele quarto.

Já em meu quarto estava prestes a responder Chris, quando uma nova janela do chat se abriu, mostrando que uma conversa minha com Nicholas tinha se iniciado, ele tinha me mandado uma mensagem dizendo que estava na porta de casa me esperando dentro do carro, respondi rapidamente com um ‘ok’ pegando em seguida o dinheiro que minha mão me dera para comprar algo de comer e o pondo dentro do bolso da calça em seguida pus no mesmo bolso meu celular.

Desci as escadas avistando meus pais vendo o jornal, enquanto Belga esfregava suas costas constantemente no tapete da sala.

— Mãe, pai, eu já estou indo. Nicholas esta me esperando lá fora. — Avisei indo em direção à porta. Meus pais viraram a cabeça em minha direção, desviando a atenção do jornal e minha mãe me lançou um sorriso encorajador enquanto meu pai fechou novamente a cara.

Lembro-me que quando meu pai chegou do hospital e minha mãe lhe contara que sairia com o garoto, ele ficou totalmente alterado e não me permitiria sair com qualquer moleque, o mesmo só se acalmou quando minha mãe lhe contara que sairia com Nicholas, e só me deixou sair se eu lhe assegurasse que estaria em casa 22h30min.

— Se esse garoto fizer algo que você não aprove filha, ligue na hora que eu irei lhe buscar. E se não estiver casa ate as dez e meia eu irei ligar pra você para saber onde você está. — Falou de modo autoritário.

— Okay pai, pode ficar tranquilo. — Falei sorrindo e sai de casa caminhando ate a BMW X1 de Nicholas que ele tanto me falara na noite que jantara em minha casa.

Abri a porta do passageiro me sentado e acomodando na mesma antes de dar atenção para o motorista que me estendeu um sorriso quando nossos olhos se cruzaram, e eu bobamente o correspondi.

— Você está lindo. — Elogiou e senti minhas bochechas esquentarem um pouco me fazendo dar um sorriso tímido.

— Obrigado, você também está lindo. — Falei reparado em sua blusa preta colada, deixando seus músculos totalmente marcados e em sua calça jeans de tintura preta.

Nicholas se aproximou de mim minimamente que foi o suficiente para eu travar no lugar de modo que não conseguia desviar meu olhar do seu, ele se aproximou mais e eu jurava que ele estava prestes a me beijar se não tivesse desviado o caminho e ido para minha bochecha não muito longe de meus lábios, onde deu um beijo de leve voltando logo para seu lugar e nessa hora eu devo ter petrificado, pois o mesmo me olhou depois com um olhar que analisava ate minha alma, me fazendo dar um sorriso envergonhado. Desviei minimamente seu olhar do meu para por o cinto, e quando dei por mi já estávamos indo a encontro de seus amigos.