Infame escrita por Apiolho


Capítulo 27
Capítulo 27 - A calmaria e o furacão


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos leitores! *-*

Demorei muito? Espero que não, pretendo também terminar o capítulo 28 e postar domingo (19 de fevereiro), todavia a certeza não é total! Trouxe uma surpresa com um capítulo bem maior do que o previsto, tendo outra também.

Quero muito agradecer a Gaby Uchiha e Alethea por comentarem no anterior. Realmente significa demais para mim e me motivou demais para continuar a fic e cumprir o meu objetivo.

Obrigada a Aciolyn por favoritar e Gabriela Rajaram por acompanhar. Deu uma cor a mais na minha fic, e com certeza é uma honra saber que mais pessoas resolveram dar crédito a seguir a história Infame.

P.S: CAPÍTULO FEITO NA VISÃO DO JOSHUA, IA FAZER TUDO POR PARTE DA AMIE, TODAVIA ACHEI QUE IA FICAR BEM MELHOR SE FOSSE ELE NARRANDO.

Espero que gostem, pois faço para vocês.



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Capítulo vinte e sete

A calmaria e o furacão

“Sorrisos disfarçados, risadas bobas, conversas loucas e gosto de álcool. Pessoas descoladas, músicas estranhas, arrepio na pele e brisas na madrugada fria. Essa sou eu e a minha velha sensação, deliciosa, de já ter vivido este momento outras vezes”

(Jacqueline Chagas)

 

Ganhamos a partida e agora estamos na final das regionais.

Essa sensação eu tive em alguns momentos da minha vida, aquela da qual parece ser útil para alguém. Como se estivesse fazendo algo bom no mundo. Foi assim que me senti quando encontrei Amie e a vi retirar cada pano que a cobria, sendo revestido de frieza e maldade, algo como chegar ao topo do monte Everest após pensar em desistir por estar ainda no começo da escalada. Na verdade apenas ela achava que me aterrorizava, contudo sempre soube que no fundo tinha um bom coração.

Um toque no ombro tirou-me dos devaneios. Valerie Howers.

— Sinto muito pelo que viu, fui muito desrespeitoso contigo. — sussurrei, olhando-a de uma forma que passasse segurança e honestidade.

Encontrávamos no estacionamento do colégio, encostados em um carro qualquer, já tinha tomado banho e fugir desse assunto era inadmissível. Tinha mostrado uma intimidade com a ex amiga era inconcebível, muito menos quando estava saindo com outra pessoa.

— Que tal irmos na sorveteria e conversamos sobre isso lá? Quem sabe posso te perdoar. — venerava comida, convidando-me para pagar em troca de fazermos as pazes, assim como a evil queen, fazendo-me rir pela pouca semelhança que compartilhavam entre si.

Seu jeito era tranquilo, fofo e esperava ansiosamente pela resposta. Mostrava interesse, pesava suas palavras e seus sentimentos eram transmitidos desde seus olhos até seu semblante. Chamava-a sem segredo de calmaria por tudo que representava.

— Claro. — aceitei seu pedido, sorrindo em seguida.

Ainda tinha dezessete anos, por conta disso estava proibido de dirigir, mesmo que a nossa cultura seja um pouco americanizada o país ainda era o Brasil. Andamos até o local mais próximo, duas quadras de onde estudávamos, e entramos de mãos dadas. Eu que tomei a iniciativa, apesar de que para que tivéssemos a nossa primeira conserva sobre relacionamento, beijo e encontro fosse dela.

Lembro-me ainda do pé na bunda que dei nela quando se declarou para mim no banheiro, a sua ousadia no começo e tristeza ao terminarmos a breve conversa, porém algo dentro do meu ser sabia que me recordava desse momento por ter descoberto a Young naquele lugar depois. Sentia-me tão confuso.

— Preciso que seja verdadeiro comigo. — comentou na fila, que era pequena por conta de ainda ser inverno. O sol aparecia alguns dias, no entanto hoje resolveu sumir, devendo estar arrependido por ter desassistido o jogo belíssimo dessa tarde.

— Sempre fui. — a forma como falei entregava-me, entretanto estava indeciso, e jamais poderia falar isso para ela.

Coloquei de chocolate com menta, branco, coco e de morango no pote, apenas decorando com calda de caramelo e amendoim. Em contrapartida a parceira caprichou, botando além dos que citei o de pedacinho do céu, chiclete e floresta negra, além das variedades de bala, mousse, cereja, confeitos e canudos de waffle que se misturavam ao gelado. E quando sentamos atacamos o doce, porém teria de retornar o que encontrava-se inacabado.

— Ela continua sendo muito importante para ti. — porém, assim como em outras vezes, quebrou a tensão do ambiente. Uma colher cheia entrou em sua boca, e mais uma vez, terceira, até eu ter a coragem de me explicar. Deveria ser autêntico se quisesse ter algo mais sério.

— Sim, talvez uma das únicas amizades verdadeiras que tive. — declarei.

— Pare de tentar me proteger, jamais teria medo de ser magoada como deve estar pensando. Você a amava muito, todos sabem disso, e compreendo o quão difícil deve ser esquecê-la. Por acaso não disse que ia te ajudar nisso? — era tão madura que me surpreendia, no entanto seu corpo e semblante mostrava o contrário do que dizia. Estava sim com receio, talvez de me perder. Realmente pensava bastante antes de falar.

— É contigo que estou agora, a garota por quem tenho mais consideração. Por isso queria saber se me perdoa pelo que fiz. — sinto-me ainda muito confuso.

— Estamos nessa mesa, lado a lado, demos a mão na porta, contudo nunca me tocou desde que chegamos. E dei várias chances. — suspirou com o silêncio, aproveitando mais do seu sorvete que quase se derretia. — O que eu contei neste momento significa algo para ti? — continuou ao engolir uma bala de gelatina.

A todo o momento eu tive vontade e peguei na Amie, mesmo que deveria estar irritado pela humilhação que passei. Porém sabia que apesar de estarmos longe os nossos olharem sempre esbarravam um com outro, demonstrando tantos sentimentos e palavras nunca ditas por entre eles. Sendo que aquele dia na piscina foi tão estranho que me deixa transtornado até hoje, por lembrar de sua boca colada a minha, o corpo tão próximo e as palavras sussurradas enquanto me abraçava. Eu sou o pior! 

— Nada, deixe de achar que odeio sua companhia. Quando estou comendo jamais penso nisso. — só o que consegui dizer. Se eu a acariciasse seria dizer que era culpado, por isso fiquei inerte. Tolo.

— Então se te pedisse em namoro, aceitaria? — disse isso quando estava mastigando, deixando-me surpreso ao ponto de quase por tudo para fora. Havia dúvidas do que responder, se estava me testando, mas seu rosto vermelho pela decepção me fez entender que poderia estar falando sério.

Recusava-me em retribuir com “sim” sabendo que faltava muito para me entregar por inteiro a ela. A demora em responde-la, o silêncio enquanto olhava para a parede, a fez levantar-se rápido demais, deixando o sorvete inacabado e um pouco de dinheiro na mesa, para depois passar por mim e dirigir-se a porta sem se despedir. Deixa-la sozinha foi a opção final, não era do meu feitio essa reação. Contudo o seu gesto impulsivo e pergunta imprevisível foi o estopim para crer que pouco a conhecia. Então ficamos eu e seu pote esquecidos.

Uma hora. Esse foi o tempo para que me mandasse uma mensagem perguntando se poderia ir a festa comigo, desculpando-se pela cena de hoje e que o caso da Amie era dispensável. Porém se deixasse de ver seus olhos, sua expressão, nervoso permaneceria.

— Vamos nos divertir, eu sei disso, Josh. — sussurrou em meu ouvido quando a encontrei na frente de casa, o primo no volante, e dei um beijo longo. Resolvi ficar atrás, já que no banco do passageiro estava a namorada dele.

Recebi aquele sorriso meigo e enorme de sua parte, o mais lindo entre todos, as bochechas vermelhas, que não encontravam-se assim por conta do frio apenas, e seu toque delicado foi o bastante para me tranquilizar. Meneei com a cabeça e novamente toquei a boca com a sua, sentindo-a tremelicar.

Sua pele bronzeada, o cabelo castanho escuro que davam um contraste com os olhos da mesma cor. A roupa era colada, batendo quase no joelho, de cor branca e com um decote, emolduravam e valorizavam seu lindo corpo. E era toda minha essa noite. Mas por que parecia que sempre faltava algo?

Damos as mãos ao nos aproximarmos do clube da escola, a festa era na quadra do colégio, e caminhávamos com lentidão até a entrada. Ficamos um tempo parados para que terminassem de bater a foto, já que era a estrela da partida, enquanto recebíamos palmas por parte de alguns presentes. Percebi, mais ao longe, que a Young pouco se mexia para me parabenizar. Entretanto estava ali, pela primeira vez desde que comecei a jogar futebol, e isso era gratificante.

— Quero dançar contigo. — comentei quando nos largaram, levando-a até o meio, bem onde estava o resto do time. Percebi que o pessoal do basquete, vôlei, atletismo e de outros esportes também se juntaram a nós.

Uma música agitada tocava, combinando com o jeito da pessoa que antes passava o intervalo ao meu lado. Já as poucas músicas lentas, até um sertanejo, fazia-me recordar o intimo da Valerie. E eu nunca conseguia decidir qual mexia mais comigo.

Estava rodeado por colegas, que sempre tentavam arranjar uma chance para conversar comigo, sendo que algumas tentavam a todo custo me tirar dali e tentar me beijar ou fazer algo a mais comigo. Às vezes tentava me desvencilhar deles para aproveitar com a minha quase namorada, se tivesse aceitado seu pedido desesperado.

— Vou pegar bebida. — sim, enganam-se por pensar que era uma comemoração comportada. Tinham líquidos alcoólicos para todos os gostos, desde caipirinha a tequila. Concordei sem pronunciar nada, vendo-a se afastar até a barraca mais próxima.

Sem a Howers disfarçar tornou-se impossível, flagrando-me a procura do tal alguém que foi pivô de uma briga na sorveteria. Vi-a com um sorriso, grande para o seu feitio, enquanto dançava com a Anabelle. Até Charlotte e Jordan estavam entretidos com as duas, que exageravam nos movimentos ao som de algum pop internacional que desconhecia. Parecia tão diferente, radiante, linda como nunca e alegre, todavia ainda parecia aquela tempestade de antes quando chegava perto de mim, esbravejava ao se irritar comigo e jamais matutaria antes de abrir a boca.

E todo aquele ambiente me dava tanta vontade de ir até eles. 

— Acho que você deveria parar de olhar para lá e procurar sua namorada, está demorando demais para quem só ia comprar uma garrafa qualquer. Se estivesse no seu lugar estaria preocupado, pois pode estar te colocando chifres agora. — George, o ex da Ross, e que jamais continuássemos amigos, me avisava. Éramos do futebol, e mesmo que a nossa intimidade inexistisse nesse momento, a nossa sintonia era enorme no campo.

— Nem tem noção no quanto tenho vontade de dar um soco nessa sua cara de pau. Confio nela, ao contrário se eu estivesse com a Lindsay, porém tenho coisa mais essencial a fazer do que perder tempo contigo. — tenho de acha-la, pode ter desmaiado.

Esbarrei na evil queen do colégio no caminho, nossos olhos se encontraram e ficaram um bom tempo conectados um ao outro, todavia tive de desviar para encontrar a acompanhante. E então a observei conversando com uma garota, sendo que ao se aproximar a realidade que descobri me fez quase cair para trás. Valentina estava nessa escola, na quadra, e justo na festa para comemorar por ter vencido.

— Joshua, essa é a Tina, minha prima. E esse é o meu namorado. — mentiu ao me apresentar, fazendo a outra sorrir amarelo por perceber que era eu de certeza. O susto que tivemos ao nos encontrarmos depois de anos foi nítida, tanto que a Val nos fitou com desconfiança.

— Nina. — disse finalmente, tentando parecer confiante e que superei os acontecimentos do passado. Se a chamava assim era porque recusava lembrar de seu nome completo, que tanto me pedia para apelida-la dessa maneira. Eu convivia com sua dor, porém parecia nunca ser o bastante. Que agora seu jeito mais alegre e divertido do ensino fundamental era quase inexistente, porque demonstrava a timidez e desconforto perto de quem tanto machucou.

— Vocês se conhecem? — desentendia a situação.

— Faz tempo, entretanto digo que sim. Ainda morava na Alemanha na época, por isso recordar-se dele é difícil. — explicou por mim. A Howers era um ano mais nova que a gente, por isso também se morasse aqui seria raro esbarrar-nos em alguma instituição, também jamais tive conhecimento de que morou em outro país.

— Desculpe, no entanto vou ter que roubá-la, posso? — questionei, porém sem esperar que negasse. Precisava falar, esclarecer tudo, fora a intuição de um mal pressentimento sobre isso.

— Eu que acabei atrapalhando vocês. Então quem sabe até um outro dia, Deboni. — fez isso de proposito, de ir até onde estudo, sabendo que a festa era para o nosso time. Veio para trazer a discórdia, não obstante dei a volta por cima, nem chorei ou fiquei calado em sua presença.

Olhei para cima, estufando o peito e abraçando-a pelo ombro, afastando-se da minha carrasca sem fitar para trás. Precisava demonstrar que era superior. Tratei de cobrir o temor da nossa conversa, apesar da tremedeira no corpo ser evidente. Saímos do local para que o som impedisse a clareza da situação.

— Está nervoso por qual motivo? — o biquinho fofo que ela fez, provando estar preocupada, deixou-me enlouquecido ao ponto de dar um selinho demorado. Igualmente era uma forma de adiar. Enlaçou as mãos em meu pescoço, mirando-me com o intuito de confortar-me.

— Já namorei a sua prima. — fui direto, vendo-a abrir a boca pela surpresa.

Peguei o copo grande, de uma mistura de morango com vodca, e beberiquei um gole significativo. O teor alcoólico era maior do que a fruta, nem leite condensado tinha. Isso em nada me fez parar de tomar, pois era uma forma de amenizar o clima.

— Tudo bem, é passado. — demorou para agir, o que significava que a confissão a abalou ao ponto de pronunciar poucas palavras. E detestava que fosse assim, preferia que se soltasse sem se importar com minha reação. Pouco sabia se era por conviver tanto com a papagaio da Amy, ou se era eu que gostava mais desse tipo de relação.

— Nada está legal pelo jeito, vejo em sua cara. Quem terminou foi ela, me humilhou, usou e jogou fora. Sofri nas mãos dela, nem sabe o quanto. Ver que estando perto de ti posso esbarrar mais com a Valentina não me deixa ficar tranquilo. — fui covarde dizendo isso, todavia a indecisão é ligada a bobagem nesse caso.

Assisti-a soluçando, abaixando a cabeça enquanto apertava a camisa ao encostar onde meu peitoral se encontrava, e lágrimas saindo de seus olhos. A calmaria tinha seus momentos de explosão também. O liquido passava por minha língua e molhava a garganta, sedenta pela ansiedade.

— Desculpe-me, juro que ignorei esse fato. Deveria reconhecer que era você aquele Joshua, ao menos pedido uma foto sua antes de me apaixonar. — quando me fitou tive de acalentá-la, todavia se abaixou e encostou-se a parede ao soltar-se como se eu fosse um monstro ou tivesse doença contagiosa. — Mas temos culpa por um erro seu? — quando continuou tive de me apoiar no mesmo lugar que ela, todavia mais a esquerda. Dali poderia ver o que ocorria dentro da quadra, como uma certa pessoa dançando sem se cansar, cabelo bagunçado de tanto que o mexia. Era inebriante, viciante e contagiante demais o quanto se divertia.

— Engano meu? — repeti, dessa vez fitando em sua direção para que não me distraísse com o que ocorria na festa. O tom de voz que usei foi sério e descrente.

— Sim, que só se importava com o futebol e não a dava atenção. Quem fez os outros de brinquedo não foi minha prima como diz. E com certeza nem foi você que teve de ouvi-la chorar quando me ligava, dizendo tudo o que fazia e o seu desespero. — o tom calmo era diferente de sua expressão. Virou a imagem da raiva.

— Por acaso te contou que ficou com um cara enquanto os observava? Que nem sequer foi me visitar quando estava no hospital? — tentei a convencer, quem sabe tinha volta. Só que seu semblante ficou inerte, demonstrando que nunca poderia fazê-la mudar de ideia.

Pegou a taça, ainda cheia de bebida, e jogou no chão. Talvez irritada por continuar tomando enquanto encontrava-se tão alterada, ou era alguma reação do que sentia.

— Pare de se fazer de vítima! — berrou.

— Ela te envenenou. Porém jamais adiantará me explicar, você já escolheu seu lado e acho que nunca confiou o bastante em mim para ouvir uma versão diferente. Quando estiver preparada podemos conversar, mas nesse instante eu também desejo um tempo. — declarei, pegando-a pela mão para que a levantasse, todavia bateu nela para afastar e fez isso sozinha. Sempre medindo suas palavras, querendo agradar, eu nunca precisei disso e prometi esperar mais um pouco para que se sentisse confortável perto da minha pessoa. Só que nunca ia imaginar que isso ocorreria. A raiva fora transmitida para mim também, por tudo que falou, ao ponto de desistir dela e a vontade de nunca mais desejar vê-la era enorme.

— Por acaso ainda acha que tem volta? Acabar é a única solução. Adeus. — chorava muito ao dizer essas últimas palavras, entrando na festa sem nem me esperar pronunciar algo. Quem sabe me despedir, pois achava que a nossa história ainda não tinha acabado, mesmo que fosse como amigos ou colegas.

O ânimo para continuar a dançar acabou por saber que a Nina ainda estava no baile, apesar da vontade de aproveitar o tempo que me restasse perto de todos. Caminhei até o carro do meu primo, que estava comigo para caso precisasse ir com a minha quase namorada, como faz praticamente todas as vezes para me irritar com essa brincadeira de transar em lugares estranhos.

“Vamos nos divertir, eu sei disso”. Infelizmente estava bem errada nessa colocação. Quando a peguei em sua casa, vendo-a sorrir para mim, pensei que íamos ficar juntos, pensando seriamente sobre o seu pedido de namoro. Mas um termino do que nem começou foi a última opção para essa noite. A calmaria estava indo, será que agora vinha o temível furacão?

“Vem para fora da quadra, precisamos conversar.” — Joshua.

Não mandei para a Val, mas sim para a minha antiga parceira de recreio por conta de uma chantagem, que me acalentou com suas brigas e me tirou do tédio que era viver com falsos amigos. Charlotte também, todavia jamais me causava nem um terço do que experimentava vivendo ao lado da outra.

“Se for algo ruim te mato, porque essa sua mensagem foi o bastante para me fazer sofrer até te encontrar.” — Amie.

Fiquei aguardando dentro do veículo, que estava de frente para a trilha, que tem um jardim belíssimo e um assento no meio dele, com piso de madeiro e uns pilares e tenda o cobrindo, colocando o som alto para tocar e o banco para trás. Talvez desse jeito o baque que recebi hoje fosse menor com a sensação de estar em alguma cama qualquer, mesmo que não parecesse idêntico.

Três toques na janela e sabia que era ela. Encontrava-se com um colete de pelos, um cropped preto, a na altura do joelho, uma maquiagem clara, mas com sombra, e o batom de cor vermelha. Os olhos azuis pareciam mais vivos ao me fitar por entre o vidro revestido de película, cabelos castanhos claros com uma trança na parte da frente, sendo tampada pelas mechas, davam um ar mais meigo. Eu sei que é estranho detalhar tanto uma aparência sendo um homem desligado, todavia estava tão bela que queria recordar cada parte dela. Até porque tinha me obedecido e vindo até mim, sendo que antes essa situação era rara.

— Está esperando mais alguém? — sussurrou com satisfação, gostando de brincar com a situação, surgindo na parte do passageiro como se tivesse lançado alguma magia. O sorriso fraco, tentando decifrar o que ia dizer. A distração era tanta que meus ouvidos ignoraram o episódio em que abriu a porta, analisando-a até depois de desaparecer.

— Só você. — respondi com sinceridade, estarmos sozinhos apenas aconteceu naquele dia da piscina, porém foi tão intenso que nem pareceu real. Toda a provocação e tensão entre nós era o que me deixava confuso, mesmo com a Valerie ao meu lado. Entre a calmaria e o furacão.

— Quer falar sobre o quê? — notei sua curiosidade. Encostei os pés no painel do carro ao ajustar a cadeira para frente.

— Vi a ex na festa. — tive coragem o suficiente para confessar.

— Esqueceu-se sobre eu ter pedido para não me dar notícias péssimas essa noite? — o jeito que comentou deu-me a entender que se preocupava comigo, o que de certa maneira me confortou. Fitou-me ao endireitar o corpo no encosto, entretanto continuava a se mexer vez ou outra. Ri de seu jeito, por perceber que com toda a certeza era o meu furacão.

— Tem alguma mensagem minha com esse teor? — provoquei, lançando um sorriso torto em sua direção.

— Quem cala consente. — disse ao mostrar a língua.

— E estando desse jeito acharei que quer beijo. — retruquei usando de suas armas, notando que logo fechou a boca. A sua expressão suavizou, seguindo-a ao cerrar os olhos, suspirando enquanto aproveitava o silêncio que se formava.

— Encontrou justo aquela garota que terminou contigo depois de trair? Uma loira, até bonita, contudo que não gostei desde o instante que vi sua foto? — mudou de assunto, talvez para não precisar tocar naquele assunto da piscina.

— A prima da Valerie. — arremessei a bomba.

— O que vai fazer agora, podendo esbarrar com as duas a todo momento? — a sua curiosidade era presente em seu tom, apesar do semblante não modificar tanto.

— Isso jamais irá acontecer. — seria horrível esconder o que acabou de ocorrer. — Nós terminamos. — completei o raciocínio, observando-a vacilar um pouco e virar para o lado, sentando-se entre as pernas.

Vacilou na tentativa de me tocar, colocando as mãos em seu colo. Era como se tivesse algo para me contar ou questionar, no entanto era impossível por algum motivo desconhecido. Tirei o cinto, apesar de estar com o carro parado, e retirei-me do local. Passei por entre o veículo pela frente, a preocupação estampada no rosto, abrindo a porta para ela e estendendo meus braços para que pegasse. Aceitou de bom grado e caminhamos juntos até o banco de madeira, revestido de pilares e decorações magnificas, presentados por um jardim florido e a lua cheia, e sentamo-nos sem hesitar.

— Por que me chamou aqui? O que quer comigo? Não acho que resolveu dar uma de bom samaritano e perdoar o que fiz. — o tom duro e desconfiado, pouco se importando se ia me ferir com suas palavras. Sua essência continuava mesmo intacta. Peguei em sua mão e a acariciei, tendo como reação seu afastamento.

— Desde aquele dia na piscina fiquei mais indeciso ainda, e pensei sobre o dia da sala do rádio. Ninguém poderia prever que ia me declarar, nem você, fiz aquilo por ter me pressionado. E, bem, você apenas respondeu de imediato por ser impulsiva. — o resto nem precisava ser dito para compreender que havia a desculpado pelo seu vacilo. Novamente arrisquei uma aproximação, sentindo sua pele de sede entre meus dedos, tateando os cabelos lisos e cheirosos. Estava demasiado doido por deixar-me ser tomado pela tempestade.

Não posso dizer que percebi algo a mais por ela antes daquele dia que contou que tinha botado a lista no mural, porque minha reação as suas investidas de que admitisse meu amor pela Nina fez-me dizer aquilo em defesa. Em contrapartida nos outros dias eu não parava de olhar em sua direção, analisar os movimentos e manias, fora o fato de repassar todos os passos daquele instante e pensar nela.

Valerie me procurou nesse tempo, oferecendo seu ombro, abraço e beijos, do qual aceitei sem vacilar. Contudo a bagunça em minha mente se tornou mais forte quando a Amy apareceu em um momento que não esperava. Fiquei entre me entregar ao furacão, ou continuar com a calmaria. Já sobre o sentimento, a história era diferente.

— Não sei se posso mais te deixar me tocar estando tão desorientado. — sussurrou, levantando e se posicionando na parte de trás do assento. A tensão era visível mesmo que não a fitasse, já que se estava naquele local era porque precisava desviar do meu olhar perante o seu.

— Mas eu fiz aquilo no campo por saudade, confusão, carinho, por ter ganhado o jogo, tantas emoções misturadas que quando notei já tinha acontecido. Desculpe se não gostou. — disse sem me mover para tentar não desrespeitar sua opção de se afastar.

— Fazia-me falta também, mas é outra coisa que de verdade me incomoda. Se está em dúvida por achar que também ama outra que chegou depois, é porque jamais gostou de mim. — só sentia a respiração por perto, pesada. Se eu contasse que não estava nervoso igualmente, seria a pior mentira de todas.

— Então o que eu sinto por ti é forte. — revidei, sem vacilar em minhas palavras, podendo a mirar quando virei para a direção onde estava. Ela não desviou, nem parecia sem graça por isso, apenas permitia que eu seguisse em frente. — Estava começando a gostar da Valerie, de sua companhia, todavia não chegava nem perto do que é ao seu lado. Percebi que a confusão se divide em duas partes, ficar contigo ou com ela e descobrir se ainda amo a Nina ou você. O que me diz agora ao saber disso? — completei finalmente, vendo-a parar no banco, bem próxima a mim.

Seu rosto ficava cada vez mais junto ao meu, as palpebras fechadas. Não me canso de dizer que é linda, sua boca, nariz, cabelo e corpo, tanto que poderia fazer uma loucura. Mais do que já fazia. Se fosse me beijar nem hesitaria, deixaria acontecer naturalmente. Aquela sensação tão conhecida por mim naquele dia da piscina envolveu-me de novo, sem pressa, sendo apenas um selinho demorado. E apesar de não ter sido rápido, terminou de uma maneira abrupta. Vingou-se na mesma moeda.

— Eu não quero uma relação assim. — explicou o motivo de ter parado. — Jamais quis sair com alguém ou ter namorado, e pelo jeito meu pensamento não mudará por bastante tempo. — e foi com essa frase em forma de charada que me largou desamparado.

Semelhante a Howers na sorveteria saiu sem dar satisfação, desaparecendo na escuridão, nem olhava para trás ou esperava a minha resposta. A coluna reta e mirada firme para a frente, que para tantos parecia ser uma postura de uma pessoa exibida, só me fez admirá-la mais. Como um bom pisciano apenas entendi sua mensagem um pouco depois, porém foi o suficiente para me deixar esperançoso. Irei surpreendê-la quando me decidir, por isso pode se preparando, Amie Young.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo narrado por Joshua Deboni? Acharam muito longo? E do término com a Valerie? Do encontro com a ex (Valentina)? E da conversa com Amie Young? Quero muito saber o que pensaram sobre o capítulo, já que estando na reta final quero entender suas dúvidas, opiniões, quais cenas gostaram e desejam que tenha.

A gif não é minha. Se tiver algum erro podem me avisar, aceitarei com prazer, até porque ainda tenho muito a melhorar.

Um comentário na reta final é mesmo importante, seja uma critica, se tem algo que ainda não entenderam, algum furo, opinião, detalhes. Estou aqui para ler e tentar melhorar ao máximo, são de muita ajuda e me motivam bastante. E que tal uma recomendação que nem as queridas da Melodia Enlouquecida, Nuvem e Maze Queen? Seria um presente belissimo e uma motivação e tanto para continuar e terminar a fic nesse mês. Uma honra para essa autora! *-*

Beijos e até a próxima.



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