Unconditionally escrita por Jéssica Belantoni


Capítulo 6
Bolinha?




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Duas semanas depois do ocorrido e David estranhamente parecia normal. No velório da Vovó eu estava em prantos enquanto os braços de David encontravam se cercando meu corpo abafando meu choro em seu peito, Annelise deve ter ficado incomodada com a cena, mas eu nem pude encará-la já que David era a única pessoa que poderia acalmar meu coração, o que me causou atenção foi o fato de David não derramar uma lagrima, nem ao menos parecia estar triste e permaneceu assim no decorrer da semana, tentei puxar assunto com ele, mas ele se recusava a me dirigir a palavra até mesmo na faculdade ele me ignorou de todas as formas possíveis, tive um súbito susto quando ele me chamou no canto da biblioteca para me entregar as chaves da loja e pedir para que eu alimentasse a bolinha todos os dias.

Era uma tortura entrar na loja sem o bom dia da vovó e mesmo assim eu tive que ficar sozinha com as lembranças que me faziam sofrer. Enquanto eu me perdia em minhas memorias percebi um vulto a minha esquerda no balcão.

—David. —chamei ao ver David parado em frente as anotações da vovó com suas pupilas dilatadas. —Eu sinto muito, eu sei o que você está passando David.

—Você não sabe. —Respondeu ele sarcasticamente.

—Claro que sei afinal...

—Eu não quero saber Ana pare de querer me agradar a todo instante isso me irrita até mesmo nesse momento você quer tirar vantagem.

As palavras de David me revoltaram, eu o amava, mas jamais aproveitaria seu coração magoado para poder entrar.

—Se pensa assim de mim isso me dá nojo. —Respondi em alto e bom som.

Me surpreendi o momento em que a mão direita de David puxou meu punho esquerdo enquanto sua mão esquerda apertava a ligação de meu pescoço e meu rosto me deixando nas pontas dos pés sendo pressionada a parede fria. Agora David me encarava com seus olhos azuis cheio de fúria.

—Você é uma idiota. —Resmungou ele antes de me soltar e sair da loja.

—Eu sei! —Respondi pra mim mesma quando senti as lagrimas escorrerem.

Sobre tanta pressão emocional eu jamais conseguiria permanecer na loja, antes que meus pensamentos se transformassem em tortura tranquei tudo e segui até minha casa.

Como todos os dias usei o beco para ir embora, meu coração havia sido rasgado mais uma vez, enquanto as lagrimas rolavam a baixo meus pés responderam em correr, eu queria vomitar tanta tristeza era muita coisa para meu pobre coração ferido, só percebi que meus olhos estavam fechados quando tropecei sendo arremessada ao chão violentamente ralando minhas mãos, braços e pernas.

—Que porra Ana, você é mesmo uma idiota! —Gritei sem me importar se haviam pessoas no local.

—Além de idiota é louca! —Aproximou se alguém.

—Como você pode cruzar tanto o meu caminho Marcos. —Respondi tentando me levantar.

Marcos gentilmente me colocou te pé olhando toda a agressão que meu corpo havia sofrido.

—Você está bem? —Perguntou me ele.

—Sim, agora suma da minha frente eu odeio você lembra?

—Qual é Ana por que tanto ódio?

—Como se você não soubesse.

—Pelo menos eu não te faço chorar. —Respondeu ele limpando a lagrima presa a minha face.

Meu reflexo foi mais rápido que Marcos minha mão o impediu de segurar meu rosto, não imaginava que ele seguraria minha mão e me forçaria um beijo, eu jamais imaginaria algo assim.

Assim que Marcos me soltou minha mão novamente lhe presenteou o rosto.

—Me desculpe Ana.

—Vai pro inferno Marcos! —Gritei me soltando de qualquer traço de pele de Marcos.

Novamente eu estava correndo contando cada segundo até que minha mão ferida encostou no trinco de minha porta.

Em minha casa eu podia respirar e deixar que as lagrimas continuassem, eu podia gritar ninguém me ouviria, tentando abafar o som de meus próprios gritos entrei debaixo da agua quente que caia de meu chuveiro fiquei lá sentada no chão deixando a agua levar embora toda minha angustia.

Depois de acordar de um cochilo levantei assustada com o horário, eu tinha que ir a faculdade, eu tinha que me acertar com David, afinal eu melhor do que ninguém sabia a dor de estar sozinha.

Cheguei na faculdade eufórica encontrando Karina no corredor.

—Com quem estava se pegando para estar com o uniforme todo amassado? —Perguntou Karina verificando minhas vestimentas sem passar.

—Estava na biblioteca pegando nosso professor. —Brinquei piscando para Karina que entendeu minha brincadeira.

A brincadeira que eu havia feito em segundos tornaram se sem graça quando percebi as duas meninas que me atacaram bem ao meu lado entrando na sala com seus olhos a me fuzilar.

—Agora ferrou de vez! —Assustei me.

—O que foi? —Perguntou Marcos beijando o rosto de Karina.

—Nada! —Respondi irritada me lembrando do que aconteceu durante a tarde.

Entrei em minha sala aguardando a presença de David mas ela não chegou, nos intervalos de cada aula eu o procurava desesperadamente, meu coração parecia estar se derretendo de preocupação.

—A senhora poderia me informar onde posso encontrar o professor David? —Perguntei quase em um grito quando vi a grandiosa diretora.

—Ele não veio hoje, parece que não se sente bem e preferiu ficar em casa. —Respondeu à velha.

Estremeci ao pensar que só veria David na manhã seguinte se ele aparecesse na loja o que eu realmente duvidava, tive que correr ao banheiro quando senti a magoa tomar meu coração mais uma vez.

—Por que a vadia está chorando? —Perguntou uma das meninas que me atacou no outro dia.

—Ela deve ter levado um fora do professor! —Cutucou a outra menina.

Pela primeira vez eu realmente estava com medo das garotas, tentei sair rapidamente mas fui imobilizada pela garota mais alta me jogando ao chão.

—Você acha que ninguém percebeu sua loucura atrás dele? —Perguntou a garota enquanto acertava o canto de minha boca.

—Eu não sei do que você está falando. —Gritei empurrando a garota com os pés.

A garota enraivecida começou a me acertar com chutes extremamente fortes, pensei que ali seria meu fim se Karina não entrasse no banheiro e saísse correndo chamar ajuda.

As garotas me deixaram sozinha no chão enquanto corriam se esconder, Karina e Marcos chegaram rapidamente, Marcos sem pensar duas vezes me tomou em seus braços me levando até a enfermaria.

—Ele sabe o que elas estão fazendo com você? Ele sabe que é tudo culpa dele? —Perguntou Marcos irritado enquanto Karina limpava meus ferimentos.

—Precisamos comunicar a direção Ana. —Disse Karina enquanto me olhava entristecida.

—Eu não posso, isso vai complicar tudo para ele.

—Ana as meninas não vão parar. —Reclamou Karina.

—Eu não ligo, contanto que ele fique bem.

—Ele te faz chorar, as garotas te batem e ele não faz nada. —Reclamou Marcos.

—E o que você tem com isso? —Respondi me levantando irritada—Eu não quero nenhum dos dois se metendo na minha vida.

Eu não esperei que Marcos gritasse comigo caminhei até minha sala arrumei minhas coisas na mochila e me retirei da faculdade.

Todo meu corpo estava machucado causando uma dor aguda em cada passo, em meio a dor percebi que havia esquecido de alimentar a bolinha. Bolinha era a gatinha amada da vovó era tão mimada quanto David e parecia estar mais triste do que ele. Meu coração ordenou minhas pernas a me guiarem até a loja dando meia volta em meu caminho entrei no beco mais uma vez nem percebi o momento em que o céu desabou, mais uma vez eu estava me molhando, apressei o passo até chegar na porta da loja, com dificuldade encontrei as chaves em minha bolsa.

Assim que entrei na loja retirei meus sapatos e minhas meias molhadas, coloquei minha mochila ao lado da porta e entrei na casa da vovó, bolinha estava lá parecia me esperar esse tempo todo faminta, coloquei o sache com sua ração quando senti vontade de olhar o quarto da vovó. Subi a escada lentamente, meu coração sufocava em imaginar que não encontraria vovó me chamando para entrar, mas meus olhos se espantaram ao ver que havia alguém sentado em sua cama, a luz fraca iluminava os cabelos dourados e as tatuagens nos braços despidos.

David estava ali debruçado em suas próprias pernas, ele nem havia percebido minha presença, caminhei até sua frente onde me ajoelhei e toquei suas mãos, ele me olhou mas não estava surpreso parecia me esperar, desabei ao ver a tristeza em seus olhos, pela primeira vez eu pude ver o quanto David estava arrasado pela perda de sua Avó.

Minha garganta estava travada, eu não conseguir soltar uma só palavra se eu tentasse as lagrimas sairiam junto, meu corpo se encaixou em meio as pernas de David enquanto meus braços lhe envolvia em um abraço quase fraternal, ele estava tão grudado em minha pele que eu podia sentir a mesma fragrância amadeirada misturada a um cheiro de vodca e cigarros, seu cabelo estava um pouco húmido e seu corpo gelado e eu podia sentir leves tremores sacudir seus músculos, pensei que ficaríamos apenas nisso mas um tremor grande estremeceu David em seguida senti gotas quentes molhar meu ombro, entrei em choque quando ouvi David gritar, seu grito mostrou toda a dor que estava latejando em seu peito, ele desabou, seus braços pareciam querer nos fundir ele estava em prantos. Quando se acalmou se afastou um pouco para poder me encarar, aquele era o David que eu conhecia, pude ver em seus lindos olhos azuis como ele precisava daquilo.

Meu temor havia passado assim que David me entregou seu sorriso perfeito, eu me apaixonei mais uma vez. David segurou meu rosto entre suas mãos senti meu rosto queimar a medida que seu rosto se aproximava, tentei não olhar para seus lábios o que se tornou mais fácil quando seus olhos brilharam com a pouca luz que havia no quarto, seus lábios entraram em contato com os meus depois de dias sem se aproximarem, sua língua delicada mostrou a minha qual o ritmo de sua dança, estávamos eufóricos. David me surpreendeu levantando meu corpo sobre a cama, seus beijos já estavam em meu pescoço quando minha consciência decidiu falar.

—Você é— Resmunguei enquanto David me olhava de cima.

—Não sou mais. —Respondeu ele sorrindo.

Fiquei sem palavras ao que David havia me dito, talvez ele tivesse entendido errado, tive a certeza que não quando ele retirou algo de seu bolso e colocou em minha mão esquerda, lá estava a aliança dourada que já não pertencia mais a Annelise.

—Agora sou somente seu e você apenas minha. —Disse David tornando a me beijar.

Eu não afastei as mãos de David quando elas começaram a desabotoar minha camisa do uniforme, muito menos quando nossas peles começaram a se tocar. Senti o momento em que meu rosto queimou quando ele estava pronto para prosseguir, eu não consegui segurar o gemido de dor o que causou um susto em David.

—Não me diga que você...

—Sim! —Respondi constrangida.

—Desculpe. —Pediu David se afastando.

—Não! —Respondi enquanto cruzava minhas pernas em sua cintura forçando a se aproximar— Se for com você David então está perfeito.

Tudo realmente aconteceu como em meus sonhos, David respeitou meus limites para algo novo, tomou cuidado para que eu não sofresse e a dor na verdade não era ele que me causava, por conta da escuridão não reparou quão machucado meu corpo estava. No momento em que me esqueci de qualquer dor nossos movimentos se tornaram intensos, eu jamais havia escutado sons tão doces de seus lábios causados pelo meu corpo, e em mim não poderia ser diferente eu não conseguia abafar som algum e ele nem me permitia isso, algo estranho estava começando em mim, meu corpo estava se retorcendo e ele forçou me a olhar para ele enquanto acontecia, assim que terminei ele estremeceu e derrubou seu corpo sobre o meu.

David levantou se e foi até o banheiro onde escutei o chuveiro ligar em seguida ele voltou me tomou em seus braços, me levando até o chuveiro, assim que me colocou em pé debaixo da agua que caia sobre meu corpo me envergonhei pela maneira em que ele me olhava.

—Ai! —Resmunguei no momento em que David tocou minhas costelas com os olhos arregalados.

—O que houve com você? —Perguntou David passando o dedo sobre meu lábio machucado— Você está toda machucada e esses ralados olha as suas mãos.

—Minha mão e meus joelhos estão ralados porque cai na rua.

—E os hematomas?

—Não foi nada, nem está doendo.

—Ana eu odeio mentiras. As meninas te bateram de novo não foi?

—Eu estou bem. David não estrague um momento como esse.

David parecia ter ouvido meu apelo se calou e apenas me abraçou.

—Tome vista algo meu já que seu uniforme está ensopado. —Disse David me jogando algumas roupas enquanto eu me secava com sua toalha.

—Eu posso usar minhas roupas mesmo até eu chegar em casa. —Respondi na inocência.

—Você mora sozinha não mora?

—Moro! —Estranhei a pergunta.

—Tem algum animal?

—Também não!

—Então você não precisa ir embora. —Respondeu ele sorrindo enquanto se aproximava.

—Não está acostumado a dormir sozinho? —Ataquei sem perceber.

—Não se trata de minha vida até agora Ana se trata de nós a partir de agora.

As palavras de David pareciam penetrar em meu coração, era quase um sonho estar ali com a pessoa que eu mais amava, termos feito amor e agora ser convidada a passar a noite em seu peito por que se tratava de um futuro nós.

—Ainda não podemos assumir nada em frente as pessoas, antes que Annelise assine os papeis, mas depois eu vou me afastar do colégio e poderemos viver em paz.

—Eu não quero que se afaste. —Respondi.

—Se isso for evitar de te deixar toda machucada desse jeito faço isso amanhã mesmo.

—Não é culpa sua.

—Pelo menos me deixe cuidar de você. —Pediu ele se levantando.

Enquanto David foi ao banheiro novamente vesti sua cueca boxer e uma camiseta de moletom que ele havia jogado para mim. David voltou com uma caixinha branca que eu já conhecia, era perfeito demais ver David andando apenas de boxer branca pelo quarto.

David limpou meus ferimentos um por um e por mais cuidadoso que ele fosse eu me remexia toda quando a ardência dos remédios começava.

—Pare quieta criança chorona. —Alertou ele sorrindo como bobo enquanto checava minha testa— Me desculpe por isso— Disse ele beijando minha cicatriz.

—Eu gosto dela. Sempre que a vejo me lembro o quanto foi bom poder ser defendida por você, cada vez que a toco percebo que aquilo foi real e que eu não estava sonhando.

—Aquele dia eu percebi que você não era só um capitulo e que voltaríamos a nos encontrar, eu soube o momento em que te vi me observar pela vitrine que tínhamos um lance, nunca pensei que você me beijaria e quando aconteceu eu tive certeza que teríamos a história toda.

—Você sabia que eu estava te seguindo. —Assustei me.

—Jamais perderia sua imagem de meus olhos, eu te vi antes mesmo de descer do carro, eu deixei os livros no beco com esperança que você pegaria meu telefone e me ligaria.

—Você planejou tudo isso.

—Tudo não. E sobre hoje cedo me perdoe eu estava muito nervoso.

—Eu sei e só entendi isso mais tarde, você não estava na faculdade.

—E por que você veio aqui a essa hora?

—Esqueci de alimentar a Bolinha. —Respondi aproximando meu rosto para beijá-lo.

David estava tão feliz quanto eu, foi cheirando meu cabelo e me tocando novamente que fomos para o segundo round antes que eu adormecesse em seu peito.


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