Ode ao Futuro escrita por Eduardo Druver


Capítulo 7
O fim, e o que vem depois...


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo.



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"Ah, não!" era tudo o que eu podia fazer, a sensação de estar errado, o peso na consciência e o medo:

– Lucas, não se preocupa, eu vou proteger o Eduardo. - dizia Fred ao telefone.

– MAS VOCÊ É MONGO, FREDERICH! Lembra da ultima vez que tentou proteger ele? - perguntei.

(...)

– VOCÊ LEMBRA? - continuei.

– E o que tem aquilo?

– ORGULHOSO DE MERDA, IGNORANTE, BURRO!

Enquanto isso, a água subia cada vez mais rápido, com uma vassoura que estava ali Fred tentou conter a água, varrendo-a; era um esforço inútil.

– Fred, não vai dar em nada. - confirmava Ellis o que já era óbvio. Foi quando repentinamente Frederich caiu no chão e parou de responder. Eduardo, pensativo com a declaração de que seria protegido, logo estranhou e o chamou:

– Fred...?

Frederich não respondia. Ellis se aproximou e puxou o corpo e notou a pele pálida; vamos pensar um pouco: uma pessoa de roupas leves e finas durante a noite de uma cidade gelada e molhado, o que poderia estar acontecendo com Frederich?

– Hipotermia... - concluiu Ellis ao observá-lo. - Precisamos esquentá-lo se quisermos que ele sobreviva. - Eduardo olhava para os lados em busca de alternativas, logo fechou os olhos e disse:

– Deixa, isso não é nada...

– Como assim, não é nada?! - perguntou indignada. - Ele vai morrer!

– Esse daí sempre foi um bloco de gelo, ele fica melhor assim.

– Hã?! Não é hora pra isso, Eduardo! Vocês se beijaram agora há pouco! Vai me dizer que ainda se odeiam? É uma pessoa aqui, um ser humano!

– Nem calor humano funcionaria aqui, estamos encharcados. Para de tentar... - choramingou, calando Ellis.

No telefone, eu ainda falava e ficava nervoso com a ausência de respostas, até que Eduardo o pegou e começou a falar:

– Alô?

– Eduardo? Finalmente! Por que ninguém me respondia?

– Ele está morrendo, Lucas, a água está subindo mais e mais e... - riu fraco. - Também não acho que eu vá durar muito, foi muita coisa pra minha cabeça, sabe? - Em silêncio pude ouvir os gritos de "Eduardo" vindo de Ellis. Eduardo prosseguiu com a fala: - São muitos anos vivendo uma mentira, e uma alegria forçada... Como o Fred me disse: Eu te usei como curativo, desculpe, Lucas.

– ... Já mandamos um resgate até vocês, rastreamos a ligação. - respondi.

– Eu não te amo, Lucas.

– Por favor, sobreviva. Se você sobreviver, eu te conto a verdade.

"A verdade" é algo muito vago, mas o beijo de Fred previsava de algumas explicações.

Certa vez li uma das conversas finais deles em que o Fred tentou o destruir e afastá-lo para protegê-lo:

"Eu nunca te amei, você destruiu algo tão lindo entre a gente com esse teu jeito! Você faz mal para todos em sua volta! Eu tenho nojo de você! Olha o que você me fez sentir! Olha o que você me fez fazer!" Ele dizia. Ele não sabe mesmo proteger alguém...

– Que verdade...?

– Fique vivo e te conto. - respondi desligando. Assim que desliguei, Klaus me perguntou:

– Quem é Donnie? - e logo após um trovão que parecia estar quebrando o céu ecoou.

– Eu tenho medo de trovão, pode me dar um abraço?

– Que desculpa esfarrapada pra eu te agarrar.

– Agarra logo!

– Ta preocupado, né? Dá pra perceber que você vai revelar alguma coisa que não deveria.

– Eu to com frio, Klaus...

– Ai, tudo bem, vem cá... - respondeu aproximando-se carinhosamente e abraçando-me calorosamente, abracei-o junto e apertei com força.

– Klaus.

– Hm?

– Não me solta.

– Não vou te soltar nunca mais...

– Obrigado...

[...]

A água não parava de subir, Ellis agarrada ao corpo, ainda vivo, de Frederich junta de de Eduardo, acuados numa parede, todos já estavam dentro da água.

– Droga, maldito garçom! Essas pessoas ficam tão cegas por tanta besteira! Agora estamos aqui em perigo por isso!

– O resgate deve estar chegando, paciência, Ellis...

– Eu estou paciente! Apenas tenho ódio de quem tem essas frescuras com quem é gay! Olha o estado do Frederich por culpa dessa gentinha!

Eduardo apenas a encarou por uns instantes e disse:

– Você é incrível... Considera tanto pessoas que nem conhece direito... Sabia que eu achava que você tinha interesse em mim?

– Con... Ven... Cido... - disse Fred com dificuldade.

– Nem prestes a morrer você larga do meu pé, né? Como se sente?

– Shh... Não force, fique calado, Fred. - ponderou. - E, Dudu, eu tinha sim interesse em você. Eu fiquei desapontada, admito, mas isso é algo que aprendi a lidar há muito tempo... Meu irmão também é gay.

– Então é por isso...

– Quando essas coisas surgem na família, requer uma abordagem nova de convivência, é difícil quando parece que aquela pessoa que a gente conhece não é o que achávamos que era, mas no final ainda continua sendo a mesma pessoa que sempre amamos... Todo esse ódio que os outros têm é tão infundado...

– Você fala muito.

– Besta!

O clima até parecia ter melhorado, parecia que tudo ia dar certo, que o resgate chegaria rápido... Era para chegar.

[Algum canto ainda mais alagado de Böderwald.]

Dittrich subia no barco motorizado usado para resgate junto de Felipp:

– Esse ano encheu muito rápido, que medo...

– Qual o local? - perguntou Felippe olhando para um mapa?

– Relaxe, eu cuido disso, parece que sua irmã está lá...

– Quem? A Ellis?! E ainda pede pra relaxar?!

– Como que tu vai resgatar alguém se estiver nervoso? Honre teu emprego, salve tua irmã!

– Foi de propósito?

– Não.

– Foi sim, foi só pra me dar uma lição de moral.

– E se for? - perguntou Dittrich com ar de desafiador enquanto desamarrava o barco.

– Se tiver sido, então foi a mais pura verdade, obrigado.

Em poucos instantes o motor foi ligado e e eles partiram, daí em diante as coisas só deram errado; as luzes da cidade foram cortadas para evitar curtos-circuitos, iam se apagando rapidamente a cada poste, a cada casa, até a total escuridão engolir o barco que navegava a 80 por hora:

– Dittrich! Liga o farol! - gritou Felippe.

– ELE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO! - respondia insistindo em ligar o farol de xénon que ficava em frente do barco, com certo desespero. - DESLIGA O MOTOR RÁPIDO!

Felippe rapidamente puxou a alavanca, desligando o motor, mas o barco não parou:

– Por que não está parando??

– Droga, é o impulso, estávamos muito rápidos! - explicou Dittrich preocupado.

De repente um alto som, um impacto doloroso, ambos foram lançados na água gelada que estava na altura da coxa; o barco havia colidido num poste. Felippe levantou-se e chamou:

– Dittrich...?

Mas não havia resposta, procurou pelo barco seguindo os destroços que boiavam na água, encontrou uma lanterna - que funcionava mesmo na água - e a ligou, assim encontrou três coisas: Um bote salva-vida inflável, o motor do barco intacto, e Dittrich com a cabeça esmagada e grudada no poste.

[...]

– Lucas, não consigo contactar o pessoal do resgate... - avisou-me Klaus.

– Como não?

– Não é que não estejam atendendo, é como se estivesse desligado ou fora de área.

– Isso não pode estar acontecendo... - andei até um canto e agachei com as mãos na cabeça, já não aguentava mais esse suspense todo.

– Lucas...? - Klaus parecia preocupado.

– Ligue para o - Fui interrompido por um apagão e o reacender das luzes. - O que foi isso?

– Houve um apagão e os geradores foram ativados... Acho que deve ter sido isso, eles provavelmente devem ter...

– Puta merda... PUTA MERDA!

Corri para a porta, estava trancada, joguei coisas nela, chutei-a, Klaus me agarrou e me empurrou na parede enquanto eu gritava, assustando a todos:

– Me solta, Klaus!

– Ei, se acalma.

– Me solta!!

Não tive tempo para reagir, quando me dei conta ele havia tapado meus olhos com a mão e estava beijando minha boca. Klaus... Por que? Foi como com o Eduardo, eu não quis reagir, não quis reclamar, não quis mais gritar. Quando me soltou, tirei o celular do bolso, já calmo, e liguei para o Eduardo.

[...]

Frederich já não respondia mais aos chamados, Eduardo já não sentia os pés e estava sonolento, Ellis não estava melhor que eles, mas ela dificilmente perderia a consciência.

– Ta demorando, né...? - perguntou Eduardo.

Estavam Ellis e Eduardo sentados com Fred no colo dos dois, agarradinhos, a água já estava na altura do peito deles, os dentes não paravam de tremer, Ellis tentava proteger o celular, mas já estava cansada de deixar o braço estendido. Foi quando ele tocou:

– ...Alô? Lucas...?

– Coloca no ouvido do Eduardo.

– Ta bom... - aproximou o celular na orelha de Eduardo, que despertou e perguntou:

– Lucas, é você? Por que ta demorando tanto, Lucas? O Fred... Ele está morrendo...

– Donnie fez Fred prometer a ele e a si mesmo que se afastaria de você!

– Do que você ta falando...?

– O Fred tinha desabafado comigo sobre isso na época, eu prometi que manteria em segredo, não queríamos acabar com a amizade tua e do Donnie.

– Ainda não sei do que você ta falando...

– Eu to tentando dizer que tudo...

"Aqueles dois se odeiam."

– ...Mas tudo entre vocês de ruim... - continuei.

"Olha o que você me fez fazer!"

– ...Foi para te proteger!

[Proteger?]

Eduardo ficou calado, eu também calei-me.

– Lucas... Aconteceu alguma coisa, né? "Sobreviva que eu te conto", mas eu ainda...

– Sim, aconteceu alguma coisa, acho que o resgate...

– Tudo bem, eu entendi.

– Eu te amo, Eduardo.

– Amo você também, Lucas...

– Não vai dizer mais nada? - perguntei.

– Não sei o que dizer...

– Você e esse teu jeito chatinho de ser.

– Uma vez me perguntou se era para sempre... Eu disse para parar de se preocupar, até me pediu em namoro, mas...

– Não se preocupe, eu sempre soube, eu só queria ser amado por alguém. Não se preocupe, eu já terminei.

– Obrigado, Lucas...

Eduardo segurou o braço de Ellis com o celular para debaixo da água, pela cara dele dava pra entender o recado. Nem consegui explicar direito, mas também não precisava. Ele encostou a cabeça na cabeça de Fred e não disse mais nada.

Os minutos passavam cada vez mais rápido, a água já alcançava o pescoço e eles já quase inconsciente. Antes da escuridão tomar conta completamente da visão deles, ao longe, uma luz surgia com um alto barulho.

De repente, não mais que de repente, um bote inflável com um motor inflável e uma pessoa segurando uma lanterna: Felippe havia encontrado-os. Entretanto, eles não entendiam o que estava vindo, tampouco Ellis que sequer reconheceu o irmão, apenas dormiram.

E então nada mais viram.

E os dias passaram, as coisas mudaram, e mudaram.

5 dias depois...

Eduardo acordava aos poucos numa cama de hospital, ao seu lado estavam Ellis e Felippe:

– Finalmente acordou, Dudu. - disse carinhosanente Ellis segurando-o pela mão.

– Nós fomos salvos...? - perguntou ainda com o olhar perdido, mas já havia entendido que estava vivo e hospitalizado.

– Sim, só faltava você acordar.

– Onde está o Lucas e o Fred?

Sobre isso ela hesitou a falar a respeito:

– Tudo bem, já entendi, o Fred morreu, certo? - disse se sentando na cama.

– O médico disse que quando acordasse poderia ir para casa, vamos cuidar de você por alguns dias, tudo bem? Ah, esse do teu lado é meu irmão, Felippe.

– Oi, Dudu! - cumprimentou.

– Oi, Lippe... Cadê o Lucas, não me responderam!

– Ele pediu pra não falar nada e te levar pra casa. - respondeu Lippe.

– Está tudo bem mesmo, Eduardo? - perguntou Ellis.

– Sobre o Fred? Não, mas, por favor, não me faça falar sobre...

– Desculpe, vamos para casa.

Ellis e Felippe o levarão até sua casa, Eduardo estava de cadeira de rodas, lá ele não encontrou ninguém, nem mesmo o husky; Ellis o disse para ir até o quarto dele. Lá havia uma carta e um celular.

"Se estiver lendo essa carta, é porque já estou do outro lado do mundo com meu namorado, sinto muito mas eu matei o cachorro, para mim ele era nossa aliança, não podia manter aquilo.

E, acho que já soube o que aconteceu com o Fred e eu sinceramente não sei como consolar por palavras, eu-"

Nem sequer terminou de ler, amassou e jogou fora, pegou o celular e mandou uma mensagem para Donnie, que estava online:

EDUARDO: Donnie

DONNIE: Dudu! Saudades, o que foi?

EDUARDO: Alguma vez já tentou me proteger?

DONNIE: Já, muito, quando falam de você ou qualquer outra coisa. Pq?

EDUARDO: Só pra saber mesmo

DONNIE: Desculpa se não tiver protegido

EDUARDO: Não, assim ta ótimo...

DONNIE: Te amo, gato...

Eduardo, obrigado por tudo.

Você sempre construiu sua vida e viu tudo acabar e recomeçar, está acostumado? Provavelmente não. Talvez você não consiga mais chorar, talvez não consiga superar isso por muito tempo assim como não havia superado o Fred.

Mas, Eduardo, a vida é cíclica.

Basta fazer um ode ao futuro...

FIM


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Notas finais do capítulo

Obs.: Eduardo e Felippe começam a namorar com o tempo.
Donnie nunca descobriu que Eduardo sabia do que ele tinha feito.
Ellis continuou solteirona e morando com seu irmão e Eduardo.
Lucas nunca mais voltou a falar com Eduardo.

Obrigado por acompanharem esta história, me apressei pra por muita coisa em um capitulo final, espero que tenha agradado aos leitores.
Aguardem futuras fics.



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