Ode ao Futuro escrita por Eduardo Druver


Capítulo 5
Melancolia.


Notas iniciais do capítulo

Ta acabando, pessoal...



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8 de Outubro, 18h07 da noite.

Elior havia pedido que fosse de terno para o jantar, sinceramente, Eduardo não esperava algo tão requintado da atendente, e eu tenho de admitir que tenho certos ciúmes. Por que uma pessoa bancaria um terno e um jantar assim? Ela mostrava interesse nele antes de saber que era gay. Neste horário eu ainda estava no trabalho, Eduardo e Frederich estavam na cozinha, beliscando algumas coisas.

– Ela não vai ligar nunca?! - reclamava olhando para o celular.

– Foi feito de Trouxa, Eduardo? - zombou Frederich aos risos.

– Cala a boca, não pedi tua opinião.

– Mas falou em voz alta, retardado.

Eduardo não respondeu, colocou o celular no bolso e começou a andar pela casa.

[...]

Eu trabalho no Instituto de climatologia de Böderwald, e hoje a previsão do tempo não era nada boa.

–Calor...? - perguntei.

Meu colega de trabalho, Klaus, que faz as pesquisas e previsões comigo, apareceu logo atrás de mim e confirmou:

– Sim, é um fenômeno raro por aqui mas acontece, massas de ar quente começam vindo aos poucos e em seguida invadem de vez. Reparou que o gelo anda diminuindo?

–Que interessante...

– Não, não é.

– Vocês não gostam de calor, não é? - riu.

– Não é isso, sempre que esse calor chega, a neve derrete rapidamente e junto vem as tempestades... Então basicamente-

– Böderwald irá inundar. - interrompi assustado.

– Exatamente, por isso a empresa nos obriga a ficar aqui até a frente quente passar.

– Quer dizer que não irei para casa hoje?!

[...]

O celular tocava no bolso do Eduardo que logo atendeu:

– Ellior?

– Ellis, me chama de Ellis. - corrigiu. - Está pronto?

– Estou sim, achei que não ligaria mais!

– Que é isso, nunca deixaria alguém na mão! Pega uma caneta, vou te passar o endereço.

Enquanto Eduardo anotava com ela na linha de chamada, eu estava impossibilitado de ligar para ele e avisar:

– Droga, o celular do Dudu está ocupado!

– É o teu noivo? - perguntou Klaus.

– Hã? Como sabe que sou gay? - perguntei.

– Tem um jeito muito fácil de descobrir se alguém é viado, é só você BUCETA! - quando falou "buceta", Klaus gritou muito alto, como se estivesse assustado e me assustou também, no susto caí para trás e ele segurou-me com cadeira e tudo.

– O que foi isso?! - perguntei.

– Pra se assustar com buceta, só viado mesmo! - ele respondeu com a cara mais boba do mundo. Eu ri de um jeito descontrolado na mesma hora, todo mundo começou a olhar para nós sem entender nada.

– Que bosta, Klaus! - eu disse ainda rindo. - Só você pra me fazer rir nessa situação!

– Obrigado, eu acho.

Eu pude notar uma coisa que me amedrontou justamente por ter agradado-me: Klaus é completamente diferente do Eduardo. Em seguida perguntei novamente:

– Mas, sério, como sabia disso?

– Não sei se reparou, mas eu sou seu vizinho, dá pra ouvir quando vocês estão transando. - respondeu, deixando-me sem jeito. - Esse Eduardo é potente, né?

– M-meu vizinho?! Me desculpe, eu ainda não conheço a vizinhança, e desculpa pelo barulho também, e-

– Lucas, relaxa, eu acho até excitante. É mais próximo que consigo fazer sendo solteiro, você tem sorte. - interrompeu-me.

Sem saber o que dizer, apenas fiz um convite:

– Quer jantar lá em casa hoje?

– Hoje não dá, lembra?

– Ah, é mesmo...

– Nosso dever é alertar a população para irem todos para um abrigo agora mesmo, temos algumas horas antes de começar a tempestade.

– Tudo bem, tudo bem, vamos trabalhar então. - respondi.

Eu havia esquecido completamente de avisar ao Eduardo e Frederich.

[...]

Chegando, num restaurante francês cheio de pompa exibindo suas cinco estrelas, Eduardo entrou completamente desconcertado e abalado com a estrutura do local; logo que entrou, olhando para cima e para todas as outras direções procurando por Ellis, é atendido por um garçom ancião de cabelos brancos:

– Boa noite, em que posso ajudar?

– Ah, eu estou procurando uma pessoa... - respondeu ainda que procurando; eis que de trás do garçom, Ellis surge a passos lentos e o sorriso doce de praxe, a mesma estava impecável num vestido preto e num cabelo de deixar até homossexuais de pênis ereto.

– Com licença?

– Oh, pois não? Em que devo a honra? - perguntou o garçom.

– Ele está comigo, pode deixar que eu assumo daqui, ta bom? - respondeu gentilmente.

– Pois bem.

Assim que o garçom saiu, Eduardo murmurou encarando-a com grande espanto:

– Ellis?!

– Sim, fofo, vamos.

– Como assim? Que lugar é esse? - perguntava enquanto a seguia até a mesa.

– É um restaurante, que pergunta é essa?

– Mas, ele não é um pouco caro demais?!

– Nada acima do que posso pagar.

– Você é rica?!

– Tipo isso...

Ambos chegaram na mesa e sentaram-se, Eduardo foi o primeiro a falar:

– Você é rica e trabalha como atendente de retiro para adoção de animais? Como assim?!

– Eu sou a filha do dono do retiro, recebemos muito patrocínio para as filiais manterem os cães, e como a de Böderwald nunca sobra cachorro, então o dinheiro todo é praticamente nosso, entendeu?

– Caramba, parece um ótimo negócio!

– Até que é, sabe? Mas enfim, me fala sobre você, como vai o noivado?

– Sobre isso, vai difícil, meu ex tá morando com a gente e isso meio que quebrou o clima.

– Sério? - posicionou-se interessada. - Por que?

– Tipo, ele mora com o tio dele e eles brigam mais que gato e rato. Daí eles tiveram mais uma briga e ele fugiu de casa pra ficar uns tempos com meu noivo, só que ele não sabia que estávamos juntos e deu no que deu...

– Parece engraçado, o ex, o noivo e o amigo. Deve ser um triângulo legal. Mas como exatamente isso atrapalha o noivado?

– Eu e meu ex brigamos muito e consequentemente eu brigo com meu noivo que briga com nós dois...

– Acho que entendi...

– E também, a presença dele me incomoda... A melancolia do gelo desta cidade, a nostalgia do passado, a saudade, entende?

Ellis notou uma mudança na semblante de Eduardo, havia algo incomodando-o e ficou curiosa:

– Dudu, como vocês terminaram?

– Ah... Bem... Ele se afastou de repente, e me evitou de todas as formas, eu não entendia o motivo. Só que ele voltava, dizia que estava fraquejando e sumia da minha vista novamente, até que na última vez ele foi embora com um: "Eu te amo, cara", aquilo me doeu tanto...

– Você disse que vocês brigam muito, né? Você odeia ele?

– Tanto! Eu odeio tanto! - esbravejou batendo na mesa com os olhos úmidos. - Eu não entendo ele!

Ellis via que o estado emocional de Eduardo estava piorando, decidiu mudar de assunto, mas antes lhe disse uma coisa que no fundo ele já sabia:

– Sabe, acho que todo esse seu ódio é uma maneira que tu achou para sofrer menos, é uma forma de amor e você ama ele, Dudu.

Estagnado, foi como Eduardo ficou. Para ele, Frederich era como um irmão, seu melhor amigo, e não era só isso: ele o salvou do desespero da solidão. Quando ele foi embora, Eduardo não perdeu só um namorado, perdeu também o seu chão, seu ar.

E caiu.

O garçom vai até a mesa e pergunta:

– O que vão pedir?

E antes que Ellis pedisse algo, Eduardo respondeu:

– Uma garrafa de vodka.

– Não vai comer nada? - perguntou Ellis.

– Não, belisquei uns aperitivos em casa.

– Desculpe...

– Tudo bem, você não avisou o horário que vinha, só fiquei muito ansioso.

– Não por isso, é pelo o que eu disse...

– Ah, tudo bem.

[...]

Ao som dos trovões ao longe, com a lareira acesa, Frederich bebia uma taça de vinho, solitário num canto da casa. Quando o telefone toca:

– Alô?

– Fred? Ta em casa?

– Estou, por que? Vai demorar para chegar?

– Não vou chegar hoje, cadê o Eduardo? Liguei agora e o celular dele estava descarregado.

– Ele foi jantar fora, o que está havendo? Ta me assustando com esse seu tom de voz...

Com um grito que ecoou como uma sequência de trovões, eu ordenei em desespero:

– ELE ESTÁ EM PERIGO! SALVE ELE, POR FAVOR!

Sem pensar, nem perguntar, Frederich olhou para a mesa e lá estava o papel onde Eduardo havia anotado o endereço.

– Como se eu fosse... - respondeu desligando.

Frederich saiu de roupão com pijama por baixo, correndo na neve sob o céu escuro e nublado, correu muito.

Correu sem pensar, quase voou.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: "Por favor, acabou..." será lançado dia 12 de março.
Faltam 02 capítulos.