O demônio acorrentado escrita por Kethy


Capítulo 2
Você quem é alto demais!


Notas iniciais do capítulo

Hey, gostaram do primeiro? Que bom, por que esse cap é ainda maior! Espero que gostem minhas flores!



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Edric chegou em casa tarde, na casa de seus pais, talvez só de sua mãe e dele de agora em diante. Evelyn, sua mãe, dormia no sofá. O rosto estava marcado pelas lágrimas, Edric se sentiu mal por ela, mas logo depois sentiu raiva do pai. Como ele tinha a coragem de fazer isso? Sua mãe chorar? Isso era mais que crueldade.

Ele foi até o quarto e pegou um cobertor, a cobrindo em seguida, ela apenas se remexeu um pouco. Na cozinha seu jantar estava dentro do forno, aproveitou que a mãe estava dormindo e jogou o que não gostava fora. Após colocar ração para Summer, tomou banho e também deu Summer para tirar a lama, depois foi para cama, onde Summer já se encontrava dormindo no chão. Ficou pensando em Mephisto, e se tudo aquilo havia sido coisa da sua cabeça, mas parecia ter sido real.

Será que deveria contar a sua mãe? Ou para Samuel? Talvez fosse melhor não, a mãe não gostaria de saber que o filho anda pelo bosque conversando com demônios. E Samuel provavelmente não ia voltar ao bosque se descobrisse sobre o suposto ser maligno vivendo ali, ou seria preso ali? Bem, Edric achou melhor guardar o segredo só para si, no dia seguinte o visitaria novamente. Sentia um pouco de pena, mas ele provavelmente era mesmo uma pessoa ruim e merecia o que estavam fazendo com ele. Talvez, mas não por tantos anos, e aquele brilho das correntes quando ele se mexia, era tudo estranho e fascinante. Veio-lhe a mente o corpo dele, afinal, este estava nu até suas roupas lhe foram tiradas. Não prestara muita atenção naquilo por que os chifres e dentes eram muito mais interessantes. Mas talvez levasse um pano para cobri-lo, caso ele estivesse com frio. Ele preferia estar morto.

Depois de um tempo caiu no sono.

Na manhã seguinte, ele ainda dormia, Evelyn fora até seu quarto para ter certeza de eu o filho estava ali. Seu pescoço doía por causa do sofá duro, os olhos estavam inchados, aquilo lhe dava raiva. Como ele fora capaz de trocá-los por aquela mulher, e religiosa como era não teve nenhum pudor a ficar com um homem ainda não divorciado. Foi para a cozinha e começou a preparar um café para acordar melhor, talvez Edric ainda estivesse com raiva e não quisesse falar com ela. Por isso fez panquecas, ele gostava muito, então pelo menos iria parar para comer. Após terminar ficou esperando o filho levantar, e como de costume, ele veio. Os cabelos castanhos desgrenhados, o rosto meio pálido e ainda cansado. Ela sorriu e logo que ele sentou-se a mesa e ela o serviu, ele sorriu para logo começar a devorar.

– Obrigado, mãe. – disse Edric depois de comer, a mãe sorriu e sentou-se a mesa. – Papai não vai voltar nunca mais?

Evelyn foi pega de surpresa.

– Ah, bem, ele vira te visitar, mas não vai voltar para ficar. – disse ela não querendo olhar para o filho. – Mas eu ainda estou aqui, nunca irei te deixar tudo bem? – Edric apenas sorriu fraco e depois olhou pela janela. – Que tal se nós fizermos um bolo hoje para comemorar seu aniversário? Podemos ir para a casa de Samuel o que acha?

– Seria divertido. – disse Edric, mas logo se lembrou de Mephisto, e de que dissera que iria vê-lo. – Então vou me aprontar!

– Ah, não, querido. Eu estava pensando em ir mais à tarde. – disse ela a segurar a mão de Edric que já se levantava, Summer começou a lamber a perna do garoto, com certeza estava faminto outra vez.

– Não posso ir à tarde, vamos agora e voltamos após o almoço mãe. – disse Edric, queria ir ver Samuel e também queria comemorar seu aniversário, mas também queria muito ir ver Mephisto. Ela pensou em perguntar por que o filho não podia ir a tarde, mas ele foi mais rápido. – Vamos, lave o rosto, ele está vermelho.

Edric saiu com Summer logo atrás dele, Evelyn sentiu ainda mais raiva por ter chorado o dia todo por um homem tão ruim. Logo foi para o quarto se aprontar e depois arrumar uma cesta para o bolo de aniversário. Lembrou-se de perguntar o porquê de Edric não querer ir à tarde, mas não queria que ele se irritasse com ela, afinal, ele não estava em sua melhor época. Então apenas saíram juntos com Summer os seguindo, afinal, a casa de Samuel não era longe.

Quem atendeu a porta foi a mãe de Samuel, Rose. Evelyn havia telefonado para ela para avisar da visita, e ela ficou super feliz, já que seu marido estava viajando e as coisas estavam calmas até demais. Ela era loira e tinha bochechas salientes, olhos escuros e um sorriso doce, usava um vestido rodado vermelho, enquanto Evelyn usava um azul. Logo Samuel apareceu, ele era bem mais alto que Edric, mas isso o moreno compensava em personalidade. A primeira coisa que ele notou foi o novo corte de cabelo de Samuel, e logo deu uma risada, estava ridículo, pois franja estava curta demais. Edric lhe bagunçou os cabelos loiros, tendo de ficar na ponta dos pés para isso, Samuel riu e o moreno lhe acompanhou.

– Feliz aniversário. – disse Samuel e eles se abraçaram ainda rindo. – Está ficando velho? Pois achei um fio branco.

– Cale a boca, o seu vai ficar branco ainda mais rápido. – disse ele e suas mães foram para a cozinha. – Então, o que faremos?

– Não vamos ao bosque! – disse Samuel já prevendo o que o moreno pensava por trás daquele sorriso. – Meu pai me deu um balde de soldadinhos, podemos brincar.

– Ah, isso parece legal também. – disse Edric e tirou o casaco o deixando no sofá, os dois subiram para o segundo andar. – Aposto que vou vencer.

– Vai nessa tampinha. – disse Samuel e começou a rir.

– O que? Você que é muito alto idiota. – disse Edric e depois sorriu assim como Samuel.

No último outono, Samuel ainda tinha a altura de Edric, mas depois começou a crescer muito, e aquilo era legal para os dois, afinal, uma hora isso iria acontecer com o moreno. Samuel colocou os óculos quando entrou no quarto e logo depois pegou o balde debaixo da cama. Ficaram brincando até Evelyn lhes chamar. Foi uma manhã divertida, comemoraram o aniversário de Edric ali, como bons amigos. Mas só voltaram para casa às duas da tarde, então, Evelyn nem teve tempo antes de ver o filho correr para o bosque com Summer atrás de si. Perguntava-se o que ele tanto gostava ali. Rose lhe dissera que eles tinham uma casa na árvore, mas nada tão especial que fizesse o filho correr assim, talvez um animal ferido que ele estivesse cuidando. Ela sorriu com esse pensamento, bem, era sua melhor resposta.

Em mais ou menos uma hora, Edric chegou à caverna de Mephisto, lhe trouxera o sanduíche e um cobertor. Foi a mesma coisa, o vulto ao longe e assim que Edric fez barulho as bolas de fogo se acenderam, e isso o assustou mais que da ultima vez. Mephisto lhe encarava com os olhos vermelho brilhantes, e o sorriso de tubarão.

– Você quem faz isso? – indagou Edric se referindo as bolas de fogo. Mephisto assentiu. – É bem legal, isso, elas queimam?

– Claro que queimam, é fogo. Fogo queima. – disse Mephisto franzindo o cenho.

– Sei que fogo queima, só pensei que talvez não fosse fogo de verdade. – disse Edric, não era burro assim. – Lhe trouxe o sanduíche e um cobertor. – disse Edric colocando a mochila em uma pedra e começando a revirá-la. – Pois você não usa nenhuma roupa e...

– Minha nudez lhe incomoda? – indagou Mephisto testando o garoto mais uma vez. Este ficou vermelho e parou o que estava fazendo, sem olhar para o demônio é claro. Umedeceu os lábios.

– Bem, um pouco, não costumo ver outras pessoas nuas. – respondeu Edric tirando o cobertor.

– Mas eu não sou uma pessoa, Edric. – disse o demônio ao inclinar a cabeça para o lado tentando ver melhor o garoto.

– Mas seu corpo é como o de uma pessoa, é bem parecido com o de uma pessoa. – disse o garoto andando até o demônio pela água, receoso, é claro. – E você não fica envergonhado de ficar nu na frente dos outros? – indagou se abaixando e cobrindo com o cobertor do ventre para baixo do demônio, se levantou e os olhares se encontraram.

– Não sinto vergonha alguma. – disse Mephisto olhando para Edric que suspirou e se virou indo para perto de sua mochila outra vez. – Mas lhe agradeço pelo gesto. – claro que agradecer daquele jeito feria o orgulho do demônio, mas aquela poderia ser a criança que o libertaria, então, seduzi-lo com palavras era o que ele poderia fazer.

Edric apenas ficou em silêncio por alguns segundos.

– Lhe trouxe também o sanduíche como prometi. – disse Edric o pegando no fundo da mochila, estava meio amassado.

– Ah, isso é comida humana certo? – indagou o demônio e Edric deu de ombros, era? Provavelmente sim. – Esqueci de mencionar, não é isso que eu posso comer Edric, provavelmente me faria mal.

– Ah, então o que você pode comer? Também trouxe frutas, posso trazer amanhã algo que você goste. – disse Edric guardando novamente o sanduíche. – Legumes? Não, duvido muito que alguém goste disso...

– O que eu gosto de comer você ainda não pode me dar Edric. – disse Mephisto e o garoto o olhou confuso. – Mas não tem problema, apenas sua companhia me é suficiente.

– Duvido muito viu? – disse Edric ao sentar-se em uma pedra, o demônio riu.

– Por que duvida? Posso ser um demônio, mas não minto sem motivo. – rebateu Mephisto fazendo o garoto sorrir, aquilo sim era uma mentira. – Mas vejo que continua a duvidar de mim, tudo bem, não ligo.

– Mentiroso! Não tente me enganar, e também trouxe um livro sobre demônios. – disse Edric e pegou o pequeno volume na mochila. A capa era bem antiga, estava na estante do pai, mas o moreno duvidava de que um dia houvesse sido usado. – Tem seu nome nele sabia?

– Hum, se eu dissesse que me sinto desconfortável com esse livro, você o guardaria de volta? – indagou Mephisto, provavelmente, o garoto daria no pé se lesse algo assim. – Você ainda é... – pensou melhor antes de dizer criança, isso poderia aborrecer o garoto. – Ainda é jovem demais para ler esse tipo de coisa.

– Por quê? – perguntou o garoto.

– Tudo o que quiser saber sobre mim, não vai encontrar em um livro feito pelas pessoas que me prenderam aqui. – disse o demônio calmamente fazendo Edric se sentir mal. – Se quer saber algo, pode me perguntar. Sei mais que eles, com certeza.

– É, você tem razão, esse livro fala mal de vocês demônios. – disse Edric o colocando de volta na mochila, as imagens dele eram assustadoras, o havia encontrado há muito tempo, mas nunca tivera real interesse. – Desculpe.

Mephisto nada disse e o silêncio pairou por alguns segundo.

– Pensei que você não viria realmente. – comentou o demônio fazendo o garoto olhar para ele.

– Por que pensou isso? – indagou.

– Por que ninguém nunca voltou. – respondeu com um olhar triste. – Eu quero sair daqui, ver o mundo lá fora mais uma vez. Mas todos que passaram por aqui, eles disseram que eu merecia tudo isso, exceto você, é claro.

Edric sentiu o rosto corar, ele fora o único a voltar? Os outros deviam ser religiosos, sim, provavelmente. Ou só temessem ele, será que temiam libertá-lo e ele fazer algo de ruim de novo? Talvez não, ele voltaria ao inferno para se recuperar, provavelmente. Depois voltaria a obedecer seu mestre, certo? Edric sentiu certa vontade de perguntar, sobre isso, mas não parecia apropriado, era o tipo de pergunta que você faz para um adulto em uma festa e acaba levando um beliscão da mãe. Então apenas continuou olhando para Mephisto por um tempo, os olhos vermelhos pareciam brilhar um pouco mais fracos, talvez pelo esforço de manter as bolas de fogo? Isso exigia esforço?

– O que houve Edric? – indagou o demônio quebrando o silêncio. – Seu humor parece melhor do que ontem, foi ontem certo? Que você veio?

– Foi sim ontem, como pode não se lembrar? – indagou ele franzindo o cenho, fora há tão pouco tempo.

– Faz tanto tempo que estou aqui que fica difícil ter uma noção de quanto tempo se passou, então, presumi que fosse ontem, já que você disse “até amanhã”, quando deixou a caverna. – disse Mephisto docemente, tentaria fazer o garoto se sentir mal por ele, afinal, ele já se sentia. – Mas como foi mesmo ontem, você não parecia bem. Então, o que houve?

– Ah, ontem foi meu aniversário. – disse ele um pouco acanhado, o demônio havia percebido seu mau humor, ficou com um pouquinho de raiva.

– Aniversário? O dia de seu nome? Crescendo? Isso é bom não? – disse o demônio sorrindo, mas depois o sorriso sumiu. – Não entendo, por que estava de mau humor no dia de seu nome?

Edric desviou os olhos, não queria encarar Mephisto, ele acharia aquilo infantil não? O problema era que não adiantava tentar esconder dele, mas não era um assunto do qual Edric gostava de falar, na verdade, detestava. Suspirou, o demônio tinha o dia todo afinal.

– Meu pai, nos largou, a mim e a minha mãe. Ele vai se casar com outra mulher, e ela não chega aos pés de minha mãe. – disse Edric parecendo ter cinco anos de idade e se odiando por isso. – E no meu aniversário, meu pai sempre nos levava para um passeio na cidade, geralmente íamos ao cinema. E ontem, ele preferiu ficar com a nova mulher a vir me ver.

Mephisto achou aquilo normal, é claro que um homem prefere a companhia de uma mulher que a de uma criança. Mas era melhor não falar para Edric, ele ficaria bravo, mais ainda. Então apenas assentiu com a cabeça para que ele continuasse.

– Mas hoje fui com minha mãe a casa de meu amigo, Samuel. E minha mãe e a dele fizeram um bolo para comemorar meu aniversário. – disse Edric ficando um pouco melhor. – Por isso, cheguei um pouco tarde em casa, e só agora pude vir ver você.

–Bem, feliz dia do seu nome. – disse Mephisto sorrindo. – Infelizmente, não posso presentear-lhe como estou agora, quem sabe um dia.

– Não precisa presentear-me. – disse Edric corando, pelo fato de um demônio querer lhe dar um presente e por pensar em que tipo de presente receberia de um demônio. – Sério, esqueça isso.

– Tudo bem, se assim deseja. – disse Mephisto sorrindo.

– Está doendo muito? – perguntou Edric, e aquela pergunta merecia um beliscão de mãe.

– Ah, sim, dói sempre. – respondeu ao suspirar, demoraria muito para que o garoto o libertasse? – As correntes estão muito apertadas.

Edric se levantou e chegou perto das correntes, mas sem coragem o suficiente para tocá-las, o que era bom, pois elas lhe queimariam, afinal, séculos e séculos de sangue de demônio, ódio, rancor e magia negra estavam ali, impregnado a elas. Mas, para libertar Mephisto, ele teria de libertá-lo das correntes com as próprias mãos, senão, nada adiantaria. Mas seria mais doloroso para o demônio, provavelmente. Mas, se fosse por amor, as correntes seriam facilmente quebradas pelas mãos de um garoto inocente. O demônio não ligava para o garoto, caso ele se machucasse, só queria de volta sua liberdade, a todo custo.

– Parecem velhas e fracas, mas elas brilham quando você se mexe não é? – indagou o garoto dando a volta pelo corpo do demônio.

– É só um lembrete, provavelmente, um lembrete dizendo que não me libertarei sem ajuda. – disse Mephisto abanando a cauda por não ver Edric e prendendo a atenção do garoto que agora estava atrás de si, aquilo era interessante. – O que faz aí atrás?

– Ah, nada, só queria ver melhor. – disse o garoto inocentemente, mas aquilo foi uma frase com duplo sentido para o demônio. – Você tem uma cauda, isso é muito legal.

Mephisto queria rir da inocência alheia. Edric observava as costas escondidas pelos cabelos, ele parecia ter algo desenhado na pele, mas o garoto não teria coragem de puxar os cabelos para ver melhor o desenho. Enquanto espremia os olhos para ver melhor o desenho, a cauda de Mephisto lhe tocou o tornozelo, o fazendo levar um susto e cair.

– Edric, você está bem? – indagou Mephisto ao perceber que o garoto caiu.

– Não me assuste assim! – disse o garoto se levantando, agora estava todo molhado. – Essa água é gelada.

– É, eu sei. Perdão, mas como o assustei? Estou parado aqui. – disse Mephisto.

O garoto olhou para a cauda que continuava a ir de um lado para o outro, era involuntário? Estranho. Se levantou e disse : - Esquece.

– Por que seus dentes são assim? – indagou o garoto ao dar a volta e ir sentar-se novamente. Aquele pergunta também merecia um beliscão da mãe, mas ele não se importava.

– Por que eles não seriam assim? – rebateu Mephisto sorrindo e irritando o garoto. – Acho que é o mesmo que perguntar o porquê de seus olhos serem azuis, ou de sua pele ser branca. É por que você nasceu assim, e eu também.

– Desculpe se o ofendi. – na verdade, ele não se arrependia nem um pouco. – Mas eles dão medo.

– Acho que é por isso que são assim, para dar medo. – falou o demônio e sorriu. – Mas você não parece com medo, nem um pouco.

– Não estou com medo, só disse que eles dão um pouco de medo. – disse o garoto e abraçou a si mesmo, a água estava fria e agora ele estava tremendo, por causa do ar frio que cruzava a caverna. – Que coisa.

– Sinto muito, está com frio? Seu corpo é fraco contra o frio não é? – o cobertor nas pernas de Mephisto ainda estava seco, afinal Edric o colocara alto. – Pegue o cobertor, tire também as roupas.

Edric olhou para ele abismado, como assim? Além de pedir para ficar nu, queria que Edric também ficasse, por que diabos esse demônio não tinha pudor nenhum?

– Se não for fazer isso, vá para casa se esquentar, não quero que adoeça e morra. – disse o demônio agora com a voz séria e autoritária, que irritou um pouco Edric, que mais parecia uma criança mimada. – Você pode morrer de frio sabia?

– Eu sei! – disse o garoto irritado e começou a abrir a camisa a tirando, pegou o cobertor aos pés de Mephisto e se cobriu com ele. – Pronto, feliz?

– Muito. – disse o demônio sorrindo.

– Não tem vergonha nenhuma... – disse Edric baixo, mas Mephisto ouviu do mesmo jeito.

– Não sei por que eu deveria ter. – comentou ele chamando a atenção do garoto. – Lá no inferno, vergonha, é a ultima coisa que passa pela cabeça de um demônio, só queremos sair de lá o mais rápido possível. – falou como se lembrasse bem. – Mas a maioria está presa lá, e ficará até o fim dos tempos.

– Mas você está na terra não é? – indagou o garoto enrolando-se mais, estava frio mesmo, de repente duas das bolas de fogo se aproximaram dele. – Obrigado...

– Talvez eu preferisse não estar, não preso, é claro. – disse o demônio e deu uma olhada em volta. – Pode não parecer, mas o inferno é melhor para os demônios que a terra, claro que preferimos estar aqui que lá. Mas, se eu estivesse livre, poderia transitar entres os dois. E lá, dificilmente eu estaria preso, exilado, mas não preso.

– Entendo, pouco, pois nunca fiquei preso. – disse Edric e um estava começando a ficar mais quente. – Me conte uma historia sua? Já viveu por muito tempo não é? Deve ter alguma historia interessante. Meu pai tinha varias.

– Talvez, quer dizer coisas que vivi? Não acho que o que vivi até agora seja algo para se compartilhar. – disse Mephisto ao suspirar, mas Edric apenas fez que não com a cabeça em sinal de desaprovação. – O que foi agora? Não tenho nenhuma historia criança.

Edric fingiu estar incrédulo, e depois riu.

– Primeiramente, doze não é criança. – afirmou o garoto fazendo o demônio sorrir. – E também, você disse que fazia as pessoas se apaixonarem por você, com certeza tem alguma historia legal aí. Vai, conta aí, uma garota difícil que você não conseguiu fazer apaixonar se por você.

– Receio dizer que, todas se apaixonaram por mim, sem exceção. – falou fazendo o garoto rir e logo soltar um “A HÁ”- O que foi isso agora?

– Você disse antes que uma garota pediu proteção contra você, por isso está preso. – disse Edric e um uivo de Summer foi escutado e ignorado. – E por isso o “A HÁ”.

– Edric, querido, ela pediu sim a proteção contra mim, e por esse motivo estou passando o resto de minha vida preso aqui em dor eterna, mas ela sim, se apaixonou por mim perdidamente. – contou ele ao garoto que perdeu o sorriso. – Meu consolo em alguns momentos é saber que ela foi nomeada meretriz de satã, e morta. Provavelmente foi para o inferno, onde é o lugar dela.

Edric sentiu medo, não só pelas palavras dele, mas também pelo aumento de tamanho das bolas de fogo perto de si. Aquilo era estranho, e o ódio que o demônio parecia sentir pela moça o assustava um pouco, não queria ser ela quando ele fosse solto. Se bem que, se ela já está no inferno, isso talvez não seja tão ruim. Mais uivos de Summer foram ouvidos e as bolas de fogo voltaram ao normal, Edric olhou por cima do ombro, mas não dava para ver nada, obviamente.

– Eu, acho melhor ir para casa. – disse em um tom triste e meio temeroso. – Amanhã talvez eu possa vir outra vez. – claro que Mephisto notou o medo crescer no garoto, e aquele talvez o assustou, não poderia perder o garoto. – Bem...

– Desculpe Edric, assustei você não foi? – indagou ele e o menino arregalou os olhos, como ele percebeu? Perguntou a si mesmo. – Eu não gosto de revelar minha natureza demoníaca a você, mas, preso assim, nada me resta a não ser sentir ódio.

– Está tudo bem. – disse Edric após alguns segundo de silêncio, ele se levantou e foi até o demônio bem devagar. – Eu sei que é estranho, mas, posso tocar em você?

Mephisto naquele momento lembrou-se de todos os homens com quem se deitara, nenhum deles jamais pedira aquilo, eles eram sempre uns bêbados ou homens ricos que queriam a companhia de um belo rapaz. Eram sempre tão nojentos, o pior para Mephisto era ter de fingir gostar daqueles porcos em pele humana, eram todos homens horríveis que ardiam no inferno por seus pecados. Mas, nunca teve interesse em crianças, a maioria ou era esperta demais, ou era burra demais. No entanto, era a primeira vez que ouvia isso, alguém lhe pedindo algo inocente e estranho. Talvez fosse por sua forma, estranha aos olhos de uma criança, ou a fascinação.

O demônio apenas assentiu com a cabeça, Edric se aproximou mais e a mão pequena apareceu pelo cobertor. Primeiro ele tocou o chifre de Mephisto, que mal sentiu aquilo, depois as orelhas, e viu os olhos azuis do garoto analisando os brincos que usava. A mão dele lhe tocou o rosto e então o garoto se afastou. Com uma expressão estranha, como se não entendesse algo.

– Sua pele é quente como a de uma pessoa normal, e macia demais. – disse o moreno ao encarar os olhos vermelhos. – Ela é bonita também, mas como pode?

– Desculpe, mesmo mais velho, não sei dizer. – Mephisto sorriu deixando Edric um pouco desconfortável. – Conte-me mais sobre você Edric.

Além de desconfortável, agora o garoto estava desconfiado, por que ele perguntava tantas coisas sobre a vida dele? Depois de alguns segundos de silêncio, Edric concluiu que talvez o demônio estivesse tentando passar o tempo, afinal, aquela caverna parecia entediante. Muito entediante mesmo. Edric voltou a sentar-se na pedra e pensou um pouco, sobre o que poderia falar sobre si mesmo, esse tipo de pergunta o fazia esquecer até o próprio nome.

– Qual o nome de ama? – indagou Mephisto e Edric franziu o cenho. – Ah, digo, a sua mãe. Ainda preciso pegar o jeito das coisas não é?

– Sim, precisa. – Edric riu um pouco e aquilo foi música para o demônio, fazer uma pessoa rir era sinal de intimidade, mas não que seduzir aquele garoto fosse lhe dar trabalho. – O nome dela é Evelyn, mas não a coloque em sua lista de pessoas para namorar, mesmo que ela esteja solteira agora.

– Nem passou pela minha cabeça, estou interessado em outra pessoa no momento. – disse o demônio negando com a cabeça.

– Hum, acredito. – aquilo não era bem uma verdade, não dava para acreditar em coisas que um demônio fala. E como ele podia estar interessado em alguém se apenas Edric sabia de sua existência? Ele era esquisito também, aos olhos do garoto. – Meu pai se chamava Edgar, e dizer que não pareço com ele, não gosto quando dizem isso.

– Por que não? – perguntou Mephisto mesmo que seu desinteresse fosse alto, quantas milhares de historias já não ouvira? Longas e entediantes, em toda sua vida, jamais uma delas lhe interessou.

– Eu não sei, parecia que estavam dizendo que ele não era meu pai de verdade. – disse o garoto se irritando com a memória. – Sei que não era o que elas estavam dizendo, mas parecia muito.

– Entendo, entendo bem. – é claro que era mentira, nunca teve pai ou mãe, e nem queria ter para falar a verdade. – Mas não acho eu deveria se preocupar com isso, provavelmente seu pai também não gosto quando as pessoas dizem isso.

Os olhos do garotos brilharam.

– Você acha? Bem, é possível que ele ache que as pessoas estão dizendo que não somos pai e filho. – disse Edric e bocejou, estava cansado, brincou muito com Samuel e quando chegou em casa, se trocou depressa, para depois correr pelo bosque até a caverna. – Ah, eu também tenho um cachorro, o Summer. – Cães geralmente podiam ver a aura demoníaca perto dos demônios, então, a maioria ou fugia ou os atacava. Summer esperava Edric na entrada da caverna, Mephisto podia sentir sua presença.

– Ah, não me dou muito bem com cães. – disse Mephisto e depois inclinou a cabeça um pouco para o lado. – Não deveria ir para casa? Sua mãe deve estar um pouco preocupada.

Edric pareceu ficar triste.

– Quer que eu vá embora? – indagou com a voz baixa.

– Não foi o que eu quis dizer, mas seria ruim se você se perdesse a noite, ou se sua mãe o proibisse de voltar para cá por chegar tarde. – rebateu Mephisto como um típico irmão mais velho. – Afinal, quero poder ver-te outra vez Edric.

Os dois ficaram em silêncio se olhando, o que era estranho, mas muito legal. Edric sempre quis poder ficar olhando bem para alguém, mas sua mãe dizia que era falta de educação, por isso não o fazia. E também, olhar para Mephisto era fantástico, pois ele era fantástico. Os olhos principalmente.

– O que foi? Quer um beijo antes de ir? – indagou Mephisto brincando, é claro, costumava dizer isso quando deixava garotas difíceis de enganar na porta de casa, pois elas sempre pareciam muito indecisas quanto a entrar em casa ou ficar ali, olhando para o demônio. Mas com Edric foi diferente.

– O que? Como assim beijo? – indagou franzindo o cenho para logo entender. – Que loucura, não faça esse tipo de pergunta estranha, somos dois homens.

– Não, você é apenas um garoto. – disse Mephisto e riu, Edric pareceu ofendido. – Foi apenas uma piada, desculpe se não gostou.

– Você é meio educado, para um demônio. – disse Edric ao cruzar os braços, as bochechas estavam vermelhas por conta da pergunta anterior.

– Depois de séculos preso, eu aprendi a ser educado. – disse Mephisto, e seu orgulho estava sendo destroçado também, mas era necessário, mesmo com uma criança. – Agora, vá para casa, e venha me ver outro dia tudo bem? Gosto de sua companhia.

Edric sentiu-se feliz, pois sabia que demônios não apreciavam a companhia de ninguém. Mas depois pensou em que fora um demônio que o dissera, e eles não eram boa companhia. Pois naquela mesma manhã a mãe de Samuel dissera que os dois tinham um demônio no corpo, mas foi por que eles quebraram seu abajur novo. Claro que, não foi intenção deles quebrá-lo, mas acidentes acontecem. Porém logo deixou isso pra lá.

– Eu vou tentar vir amanhã, talvez esteja tarde mesmo. – disse Edric, talvez o demônio estivesse certo, não só pelo ar de superioridade, que mesmo preso de joelhos por correntes mágicas, ele conseguia exalar. – Em uma semana talvez eu só possa vir no fim de semana, e agora que meu pai foi embora eu preciso ficar com minha mãe, para ela não ficar sozinha.

– Entendo, tudo bem, só quero que volte. – disse o demônio frustrado, então não seria tão fácil assim seduzir aquele garoto, crianças ignorantes, pensava Mephisto. Mas tinha certeza de que com um beijo seu o garoto esqueceria o mundo inteiro. – Pode prometer-me, de que irá voltar para me ver.

– Ah... – isso era algo que Edric faria sem sequer prometer, mas com Mephisto lhe pedindo, a coisa toda parecia bem mais séria, e o problema parecia bem maior. – Eu vou vir amanhã então...

Foi ruim ouvir aquilo, talvez fosse demais pedir aquilo para o garoto, talvez estivesse enferrujado na arte da sedução. Ou o garoto era muito indeciso com os próprios sentimentos. E mais mil outras possibilidades que poderiam se passar pela cabeça de um demônio acorrentado em uma caverna que estava tentando enganar um garoto para que o libertasse. E, dentro de todas elas, nunca que Edric pudesse já estar apaixonado, mas com medo de prometer e não cumprir, mas mesmo que essa possibilidade não tenha passado pela cabeça dele, você está redondamente enganado se pensa que essa era a resposta correta. Então, caro leitor, ponha a cabeça para funcionar e escolha uma, caso seja ela, ganhará um beijo de Mephisto também.

– Tudo bem, eu estarei esperando aqui. – disse o demônio a sorrir. – Se já for noite, espero que durma bem, Edric.

– Ah, obrigado. – disse o garoto sem jeito ao recolher a camisa do chão, afinal, depois q caiu pelo susto da cauda de Mephisto e se encharcado completamente, a água abaixou e agora era possível pisar sem se molhar. – Então, até amanhã Mephisto.

– Sim, até. – o demônio respondeu ao sorrir enquanto o garoto corria para fora da caverna. – Ainda falta muito?

[...]


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Notas finais do capítulo

Gente! leram até aqui? Não belivo!
Bem, obrigada por ler e gente, não é piada do Nyah, comentários deixam nós os autores, muito feliz, mesmo que seja algo simples. ENtão, comentem e me façam sorrir, chorar, pentear o cabela, saber, bem, obrigada outra vez, bjs até.