O demônio acorrentado escrita por Kethy


Capítulo 1
Por que está tudo dando errado?


Notas iniciais do capítulo

Hey! Como vão? Bem, eu também obrigado, quem respondeu que não vai bem, meus pêsames.
Bem, espero que gostem, essa fic é presente de aniversario da Iza! Não foi atrasado u.u, tá, foi um pouquinho.
Espero que gostem, bjs.



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Edric saiu de casa com raiva, Summer o seguiu abanando a cauda, enquanto o garoto corria para o bosque. A mãe gritou para que ele voltasse, mas foi ignorada, conversariam quando o garoto voltasse. Que seria lá pelo cair da noite, por que mesmo irritado ele sabia que o bosque durante noite era perigoso. O porquê de ele fugir da mãe? Bem, ela estava lhe dando uma péssima noticia, ele já desconfiava, é claro, mas agora tinha certeza absoluta. O pai lhe abandonara por outra mulher. E isso era inadmissível. E como se tudo isso não bastasse, também era seu aniversário, e dessa vez, seu pai o não o levaria a cidade para um passeio junto de Summer e de sua mãe, não, seria o pior dia de todos.

Edric tinha 11 anos, e estava fazendo 12 naquele dia, mas logo no café da manhã, enquanto aprontava a mochila para o passeio que tanto esperava sua mãe lhe chamou e, disse que seu pai não viria. Logo começou a explicar, mas o garoto já não lhe dava ouvidos, apenas saiu pela porta da cozinha com Summer ao seu lado e a mochila nos ombros. No momento ele só podia pensar em fugir, assim como seu pai. Mas se lembrou do rosto da mãe, ela lhe parecia bem triste e os olhos dela estavam vermelhos, provavelmente estava chorando. No entanto, não voltaria tão cedo para casa, não mesmo.

- Por que está tudo dando errado? – perguntou para si mesmo ao diminuir a velocidade.

Já estava dentro do bosque e mais adiante as árvores ficavam mais densas e ficava bem mais escuro, mas o garoto sabia muito bem aonde ia, havia trilhas quase invisíveis que só ele parecia utilizar. Summer seguia um pouco a frente de Edric, ele era um pastor alemão, tinha três anos, e mesmo que originalmente fosse um presente para sua mãe, era mais amigo de Edric que dela.

- Por que outra mulher? Nossa família não é o suficiente para ele? – indagou Edric agora falando com Summer que parou e olhou para trás melancólico até o moreno lhe acariciar a cabeça. – Não é sua culpa, ele quem lhe comprou afinal de contas. Vamos para a casa hoje.

Com isso, ele queria dizer a casa na árvore parcialmente destruída que ele havia encontrado no bosque, deu uma pequena reformada e agora ia para lá com Summer. Após caminhar por algum tempo, avistou os trilhos e sorriu por saber que estava chegando. Havia uma vala muito grande e era meio difícil passar por ela a pé, mas graças aos trilhos abandonados, Edric podia cruzá-la sem dificuldades. Os trilhos davam até uma mina abandonada há muito tempo. Mas era bem comum aquilo por ali. Summer sempre ficava receoso com aqueles trilhos, afinal, não pareciam nada seguros, mas seguia Edric. Dez minutos depois, chegaram a casa na árvore.

Edric subiu pelas escadas de cordas que havia feito, quando chegou ao topo, foi até a outra corda que puxaria o elevador improvisado para Summer, que já sabia que subiria por ali, então quando Edric começou a puxar o cachorro já estava ali. Na opinião do garoto ele estava ficando mais pesado. Summer subiu na casa e logo foi para dentro, cães não são muito fãs de altura. O garoto entrou em seguida, fechando a porta que batia na sua cintura. Summer se deitou em sua almofada e apenas ficou observando o dono, este se sentou a mesa incrivelmente pequena e começou a tamborilar os dedos na madeira. Havia livros na mesa, assim como caixas e mais caixas nas prateleiras com as coisas do garoto, como brinquedos, biscoitos, tintas e tudo mais que um garoto possa precisar. A casa não tinha mais que 6m², mas aquilo era o suficiente para Edric. Deitou a cabeça sobre os braços e ficou ali, por muito tempo, apenas olhando para a parede. Bufou, seria tedioso. Ficou por várias horas ali, fazendo nada de interessante.

Saiu da casa e sentou na varanda, olhando para os troncos das árvores, grossos e velhos. De vez em quando era possível ver passarinhos de varias espécies transitar por entre as árvores, aquilo relaxava Edric. Pensou que talvez ficasse ali o dia todo, e na hora do almoço fosse até a casa de Samuel, para não ter de ver sua mãe. E também, quando o ano escolar começasse, não poderia mais visitar tanto aquela casa e Summer ficaria sozinho a maior parte do dia. Suspirou, Samuel tinha medo de entrar no bosque sozinho, então Edric teria de buscá-lo se quisesse alguma companhia. Mas estava com receio de que Samuel visse seu mau humor e começasse a lhe encher de perguntas, sim, aquilo seria algo chato. E irritante.

Conhecia Samuel desde os cinco anos de idade, bem, há mais tempo, pois suas mães eram amigas há muito mais tempo e engravidaram mais ou menos na mesma época. No entanto, apenas com cinco anos ele e Samuel se tornaram amigos mesmo. Talvez sua mãe já tenha ligado para a mãe de Samuel para perguntar se Edric estava lá, isso fez o moreno sorrir em satisfação, não ia ser tão cedo assim. Enquanto pensava nas possibilidades, um pequeno animal cruzou vagarosamente por ali, era uma raposa, os pelos eram de uma cor viva, mas não se destacariam muito se ela estivesse perto de um arbusto de outono. As orelhas eram pontudas e altas com a ponta preta, ela encarava o vazio enquanto as orelhas se mexiam, aquilo era fascinante.

Edric já vira algumas antes perto de casa, mas elas fugiam assim que notavam sua presença, que era bem visível pelo visto. Elas eram muito rápidas e pareciam voar quando saltavam pelo muro baixo que ficava aos arredores do quintal. Mas era a primeira vez que Edric via uma sem que esta fugisse assim que o notasse, afinal, de onde estava ela não poderia vê-lo se não olhasse diretamente, então era apenas uma questão de permanecer em silêncio enquanto a observava. Algo fez barulho no alto de uma árvore fazendo com que a raposa olhasse para cima por um instante e, em seguida desaparecesse rapidamente na floresta. Summer se deitou ao lado de Edric com a cabeça encostando-se à perna o garoto.

- Por que ela tinha de aparecer? Estava tudo perfeito, se não fosse por ela, nós ainda teríamos meu pai aqui. – disse ele e como estava fora da presença da mãe de permitiu começar a chorar. – É tudo culpa dela.

Summer lhe lambeu as costas da mão deixando ela cheia de saliva de cachorro, por um momento foi nojento, mas em seguida reconfortante. O moreno abraçou o cachorro e chorou um pouco mais, até ouvir seu estomago roncar, e percebeu que estava tão irritado que perdera o café da manhã. Adentrou novamente a casa sendo seguido por Summer, pegou um pote na prateleira, havia biscoitos ali, como costumava passar algumas tardes ali com Samuel, os deixava ali para caso fossem necessários. Mas quando o período escolar voltasse, teria de tirá-los, pois não teria tempo para visitar a casa, talvez nos fins de semana, mas Samuel não viria. E não era tão divertido assim sem ele.

Depois de comer alguns biscoitos e os dividir com Summer, ficou mais algum tempo sentado no chão, vendo o tempo passar. Edric decidiu escalar um pouco a árvore. Como era densa e robusta, seria fácil. Perguntava-se quem teria construído a casa na árvore e depois a abandonado. Talvez o seu avô, que não é flor que se cheire, ou a pessoa que morava em sua casa antes, a árvore havia crescido, afinal, alguns galhos já invadiam a casa e Edric teve de apará-los. Mas seria legal se a pessoa que a construiu um dia viesse visitá-la, talvez para se lembrar dos dias que passara ali, talvez com um amigo também. Edric parou na altura que ele considerava “bem alta, mas não muito arriscada, mesmo que ela fosse sim arriscada”, mas que dali ele conseguisse ver o Vale Baixo, onde havia algumas fazendas. Animais parecendo algumas formigas e casas parecendo brinquedos para meninas, uma ótima vista, principalmente quando o sol se punha bem atrás das montanhas.

Summer choramingava lá embaixo chamando a atenção de Edric, este sorriu dizendo: - Já vou, já vou.

Mas ao descer um pouco, seu suéter prendeu em um pequeno galho, mas era de se esperar, afinal, o suéter ficava grande demais nele. Fora presente de seu pai, e só usava por que pensou que iriam sair juntos. Logo teve vontade de jogá-lo fora, mas não o faria, pois poderia se tornar uma de suas lembranças do pai. Enquanto tentava soltar o suéter percebeu algo de incomum ali, nunca havia parado na metade do caminho até o topo, para observar, então não havia visto aquela trilha. Era estranho, ela parecia bem antiga, mas ele não se lembrava dela ali antes. Encarou-a por uns instantes até decidir descer, colocou Summer de volta no pequeno elevador improvisado e em seguida o baixou, descendo logo em seguida.

- O que acha de uma aventura Summer? – indagou o garoto acariciando atrás das orelhas do cachorro, que latiu feliz. – Então vamos!

Edric começou a se dirigir a trilha que ele jamais vira por ali, e como sempre, Summer ia a frente farejando o caminho, às vezes parava e apenas escutava. Edric fazia o mesmo. À medida que caminhavam, Edric fazia com que a trilha ficasse mais visível para si, assim, não se perderia. Após meio hora caminhando ele começou a ficar cansado, pegou um pouco de água na mochila e tomou um pouco. Talvez aquela trilha parasse na estrada, era difícil saber, ou apenas era uma rota de caçadores. Bem, aquilo não parecia dar a lugar algum, estava quase desistindo quando Summer deu um passo em falso e caiu na ladeira que acompanhava a trilha por vezes. Quando este chegou ao final uivou de dor, Edric saiu da trilha e desceu a ladeira.

Summer estava bem, apenas rolou um pouco e agora estava cheio de lama, e havia mordido a própria língua, então sangrava um pouco. Edric ficou aliviado, e logo se levantou tirando a poeira do short, não quis mexer muito em Summer por causa da quantidade de lama, ele tomaria um banho mais tarde. Olhou para cima, seria difícil subir, mesmo que não fosse tão longe, era íngreme. Suspirou e olhou em volta, nunca fora tão longe pelo bosque, não naquela direção. Foi quando avistou um pequeno riacho que adentrava uma caverna, parecia raso e havia bastantes pedras. Edric pegou o canivete e marcou a árvore, para que soubesse por onde subir para pegar a trilha novamente, afinal, ali não havia nenhuma.

Prosseguiu até o riacho com Summer em seu encalço, o pobre já estava com vontade de ir embora, pois aquela caverna possuía um cheiro ruim. Não que ela fedesse, os humanos nunca perceberiam, mas os cães sim, e havia algo de errado com ela que Summer não estava com vontade nenhuma de descobrir o que era. Bem, ignorando os pensamentos de Summer, Edric foi pulando de pedra em pedra para entrar na caverna, o que era imprudente, ele dizia a si mesmo. Mas algo parecia o atrair ali dentro, como se o chamasse sem palavras ou gestos, ele apenas sentia que deveria entrar.

Summer até pensou em segui-lo, como sempre, mas ele não era muito fã de água, então não, apenas sentou-se a margem e observou Edric abaixando as orelhas e choramingando baixo. O moreno olhou para trás e sorriu, e Summer abanou a cauda, pelo menos Edric não havia esquecido ele.

- Fique aí, eu já volto, tudo bem? – disse Edric olhando novamente para a entrada da caverna, Summer choramingou ao ver o dono sumir caverna adentro. Summer começou a andar de um lado para o outro, inquieto, aquilo não estava nada bem. – Não faça barulho Summer. – mas isso não adiantou, ele choramingou ainda mais.

Dentro da caverna era bem o que Edric costumava ver em livros, estalactites e estalagmites, ou seja, estava bem mais difícil pular de pedra em pedra, mas ele não queria molhar os tênis, ou receberia uma bronca da mãe. O som de gotas pingando na água era constante e deixava, por incrível que pareça, a caverna ainda mais silenciosa. Olhava para cima procurando por morcegos, mas ainda estava perto da entrada, então provavelmente não encontraria. Se perguntava se a caverna era muito extensa, como ela fazia uma pequena curva, não dava para saber exatamente, pois não via o fim. Não havia notado até então, mas as paredes eram arranhadas e desgastadas, geralmente não era assim, pelo menos, não nos livro.

Quando a caverna começou a escurecer, Edric sentiu calor, mesmo que fosse outono do lado de fora e uma caverna não retese calor. Continuou andando e há alguns passos de onde estava, havia um vulto, parecia uma pessoa ajoelhada na água. Os braços estavam levantados fazendo um arco triangular acima da cabeça, e algo parecia prendê-los, como correntes finas. Aquilo era estranho, Edric queria ver mais e quando deu um passo a frente escorregou caindo na água, o vulto levantou a cabeça e bolas de fogo se ascenderam. Elas faziam o caminho de Edric até o ser acorrentado ser visíveis. Bem, de algo o garoto tinha certeza, não era uma pessoa.

Os cabelos eram longo demais, arrastavam-se no chão, e tinham uma tonalidade azulada e cinzenta, eram lisos e bonitos. Os olhos eram estreitos e chamativos, não só pelo fato de serem vermelhos e brilhantes, tinham certa força. Chifres desciam em espiral começando bem acima das orelhas que também não eram como a de pessoas normais, eram pontudas e com brincos estranhos. A pele era incrivelmente pálida, mas quem não ficaria preso em uma caverna por sabe se lá quanto tempo. Ele não usava uma camisa, nem mesmo uma calça, estava nu e seus músculos pareciam doer por causa da posição desconfortável, mas Edric tentou ignorar a nudez. Foi aí que Edric viu a cauda negra se movimentar vagarosamente atrás dele, parecia muito com um homem, até suas partes intimas eram como as de um homem.

Os dois se encararam por vários segundos, Edric estava atordoado, e com medo. Os lábios do homem ajoelhado se entreabriram e Edric pode ver os dentes, pareciam dentes de tubarão, e isso fez o garoto se levantar e dar um passo para trás. E como se o homem estivesse preocupado ele se mexeu um pouco como se inclinasse o corpo para frente, assustando um pouco mais o garoto. E as correntes finas brilharam em azul e o homem gemeu de dor mostrando ainda mais as presas, apertando os olhos com força, mas ficou imóvel até que as correntes se apagassem. Edric olhou para as bolas de fogo e depois para o homem que ainda o olhava como se estivesse fascinado. O garoto era mais curioso do que corajoso.

- O que você é? – perguntou com a voz mais vacilante do que ele gostaria que fosse. O homem inclinou a cabeça para o lado bem de leve como se não entendesse o que o garoto havia dito. – Eu perguntei o quê você é.

- Eu ouvi. – respondeu o homem em uma voz melodiosa e profunda, como se não a usasse há muito. Aquilo calou Edric por alguns segundos.

- Então... Por que não respondeu? – perguntou franzindo o cenho para o homem, este sorriu de leve mostrando as presas.

- Por que ainda não compreendia sua língua. – disse o homem e o garoto ficou mais confuso ainda. – Acho que, você me chamaria de demônio, se é nisso que você acredita.

Aquela palavra ficou ressoando na cabeça de Edric, então era assim que era um demônio? E não aqueles animais, bem, ligeiramente animalescos monstros assustadores dos livros? Eles se pareciam com as pessoas, e tinham algumas peculiaridades. Mas, ele ainda parecia muito assustador, mesmo tão belo como era.

- Demônio, quer dizer que você veio do inferno? – indagou Edric ao se aproximar um pouco passar por uma das bolas de fogo que decidiu ignorar, pois queria saber mais sobre o demônio.

- Sim. Já estive lá, algumas vezes, mas eu trabalhava para meu mestre na terra entre os humanos. – disse ele com a voz parecendo melhorar. Não sorriu dessa vez. Edric pensou em que tipo de trabalho ele servia o tal mestre, que ele especulava ser o rei do inferno. – Infelizmente, demônios não são poderosos fora do inferno, por isso eu ia até lá, me recuperar.

Aquela frase fazia sentido, para um demônio, até porque o inferno não parecia um lugar de descanso para que alguém se recuperasse. Pensou em como o demônio se recuperava, talvez ouvindo o grito das almas, ou bêbedo lava quente, coisas assim.

- Qual seu nome? – perguntou o demônio e Edric franziu o cenho, seria seguro dizer seu nome para um demônio? Afinal, eles não tinham uma boa fama ali, e se estava preso devia ter um bom motivo. – Não se preocupe, só quero saber seu nome para que eu possa chamá-lo por ele, não tenho nenhuma outra intenção.

Edric pensou em mentir, mas sendo um demônio ele talvez percebesse que era uma mentira e ficasse bravo com Edric, o que seria bem pior. Uma coisa era um demônio querer lhe chamar pelo nome, outra um demônio bravo por você ter mentido para ele. Meio hesitante o garoto respondeu.

- Edric. – repetiu o demônio como se quisesse provar a palavra. – É um belo nome.

- E qual o seu nome? – perguntou o garoto e sua voz não vacilou, o demônio sorriu.

- Que bom que perguntou. – disse o demônio. – Mephisto, é um prazer conhecê-lo Edric. – disse e o garoto pareceu desconfortável.

Era um nome interessante, o moreno poderia jurar que já o ouvira antes. E era bem provável que sim. O garoto queria chegar mais perto, para vê-lo melhor, mas estava muito receoso.

- Pode se aproximar, eu não posso fazer nada a você preso aqui. – disse Mephisto ao sorrir, que por incrível que pareça, demonstrou um pouco de confiança. Tanto que Edric deu mais três passos. – Não precisa me temer.

- Por que você está preso? – indagou Edric ao sentar-se me uma pedra mais perto da parede em um claro e evidente: “Prefiro não me aproximar”. – Não parece uma posição confortável.

O demônio sorriu mais ainda.

- Ah, não é nem um pouco confortável, mesmo sendo imortal eu sinto dor, e isso machuca tanto que eu preferia estar morto. – disse ele e o garoto pareceu comover-se, mas ele franziu o cenho mais uma vez, tinha mais curiosidade que pena. – Respondendo a sua pergunta Edric, estou aqui por que sou um demônio.

- Como assim? – perguntou o garoto, fazia um pouco de sentido, mas ele estava preso por ser o que ele é?

- Vou lhe contar uma historia que explicara, tudo bem? – o garoto assentiu. - Há centenas de anos, aqui não era uma aldeia, e as pessoas viviam com medo de tudo. – começou o demônio a contar. – Elas se assustavam com qualquer coisa, eu visitava a aldeia atrás de jovens, garotos e garotas. – viu a expressão de Edric e acrescentou apressadamente. – Não tanto quanto você, é claro. Eu fazia com que eles se apaixonassem por mim, para que eles cometessem, como você os chama, pecados. – o garoto franziu o cenho, isso não era nada bom. – Então eles seriam condenados ao sofrimento eterno, mas era difícil fazer isso, afinal, eles temiam tudo. Mas com o passar dos anos...

- Espere um pouco... Por que garotas se apaixonariam por alguém como você se elas tinham tanto medo, sem querer ofender, mas você tem chifres. – disse Edric logo pensando que as garotas deveriam ser muito burras.

- Bem, livre, eu tenho poderes de demônio. Poderia me disfarçar de qualquer coisa, até ter a sua aparência Edric. – disse Mephisto e o garoto fez um O com a boca. – Bem, continuando. O tempo passou e uma nova religião surgiu e falavam de nós, demônios e criaturas enviadas para fazer mal aos humanos, bem, eles até que tinham razão. – disse o demônio dando uma risada, mas isso fez com que balançasse o corpo e as correntes brilharam em azul novamente o fazendo gemer, Edric se levantou querendo ajudar, mas sem coragem para se aproximar do demônio, mas logo o brilho se apagou. – Eu estou bem, mas, obrigado por se preocupar.

- Eu não estava preocupado, só... Parecia doer muito. – disse Edric desviando o olhar, voltou a se sentar.

- Bem, obrigado, mesmo assim, há muito tempo não vejo um humano gentil. – disse Mephisto apenas para ver a reação de Edric, este corou e desviou os olhos novamente. – Depois que vieram as pessoas que diziam serem enviadas por Deus, as pessoas começaram a ser mais cautelosas. Mulheres eram mortas por supostamente serem bruxas, feiticeiras, meretrizes de satã e coisas assim. – Edric franziu o cenho, não fazia idéia do que poderia ser uma meretriz de satã. – Então, eu também tive de ser cauteloso, para que não me incriminassem, por mais que eu fosse um criminoso. Porem, um dia, uma garota que eu fiz se apaixonar por mim suspeitou, e jogou em mim água benta, e assim queimou minha pele.

“Ela foi até a igreja e pediu aos padres que a protegesse de mim, bem, como eu não tinha mais forças por estar no mundo mortal fui preso, tentaram me matar, mas só conseguiam me infligir dor, pois em alguns dias minhas feridas se fechavam novamente. Então, depois de tanto sofrimento, decidiram me selar na caverna, mas o selo não era forte o suficiente para me prender, e todo ano alguém tinha de vir reforçar o selo. E quando pararam de vir, o selo se transformou nessas correntes, que me mantém preso e sofrendo. Meu mestre não pode me ajudar, nem mesmo meus irmãos podem, onde estou é protegido contra demônios, estou preso aqui para sempre.”

- Isso é muito ruim, por que eles apenas não te mandaram novamente para o inferno? Ou lhe fizesse dormir, lhe machucar é pecado também não é mesmo? Bem, eu acho que é, não sei. – disse Edric um pouco indignado com a crueldade das pessoas religiosas. Pensou na nova esposa do pai, ela era muito religiosa, será que ela era tão ruim assim? – Eu não acho que você deva sofrer tanto, mesmo sendo um demônio e tenha feito coisas ruins.

- Você acha mesmo Edric? – perguntou ele nem acreditando na ingenuidade da criança. – Eu sou mal, sou um demônio.

- É, sim, pode até ser um demônio, mas isso não faz de você uma pessoa ruim. – disse Edric cruzando os braços. Bem, ele não era uma pessoa. – Bem, não que você seja uma pessoa, mas você foi mal por que seu mestre te mandou ser. Ele faria algo de ruim com você se o desobedecesse não é mesmo?

- Bem, sim, provavelmente faria. – disse o demônio um pouco confuso, nunca nem passara por sua cabeça desobedecer seu mestre.

- Acho um pouco injusto que você tenha de sofrer, pessoas religiosas deviam ser boas para com todos não? – disse Edric, aquilo soava certo, mas ao mesmo tempo errado, afinal ele é um demônio e deve ter sido muito ruim para as pessoas. – Sinto muito que esteja preso.

- Você é bem legal Edric. – disse Mephisto e sorriu docemente, fazendo o garoto corar. Summer latiu do lado de fora da caverna. – O que... tem algo com você?

- Ah, este é Summer, meu cachorro, ele deve estar preocupado. – disse Edric olhando por cima do ombro. – Acho melhor eu ir para casa, estou com fome... – falou mais para si mesmo do que para Mephisto.

- Também estou. – disse o demônio e o garoto voltou a lhe olhar. – É melhor mesmo que você vá para casa, antes que escureça e você se perca no bosque, seria ruim não é?

- É, seria, acho que já vou indo, Mephisto. – disse o garoto se e o demônio sorriu. Edric mordeu o lábio inferior indeciso. – Eu poderia voltar amanhã? Posso lhe trazer algo para comer também...

- Oh, sério? Faria isso por mim? – perguntou o demônio surpreso, de todas as pessoas que ele conheceu em sua estadia, essa era a primeira que não se amedrontara e fugira para bem longe. – Eu ficaria feliz, muito.

- Então está combinado, virei amanhã para ver você e lhe trarei um sanduíche enorme! – disse o garoto puxando as mangas largas do suéter que lhe cobriam as mãos. – Pode não ser muito em comparação ao que você sofreu até agora, mas eu quero te ajudar.

- Muito obrigado Edric. – disse Mephisto para o garoto agora acanhado. – Vou esperar por você, afinal, sequer posso sair daqui.

- É, não pode, vou indo, até amanhã Mephisto. – disse o garoto e depois voltou pelas pedras para a entrada da caverna. As bolas de fogo se apagaram uma por uma, até Mephisto ficar no escuro outra vez.

- Será você a criança destinada a me tirar dessa prisão? – perguntou o demônio, mas Edric já não podia ouvir, ele sorriu para si mesmo e fechou os olhos. – Até amanhã, huh?

[...]


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Notas finais do capítulo

E ai? É agora que o apedrejamento começa? Bem, obrigada por ler até aqui. Espero que tenham gostado, e se tem alguma opinião ou se acha que alguma coisa poderia melhorar, bem, me diga.



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