A Orquestra escrita por Winston


Capítulo 21
Um filme ruim




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/590639/chapter/21

Assim que passara de contar os dias para contar as horas mal podia se conter, tanto que estava até mesmo Alba um pouco desesperada com toda aquela situação. Paola teve que ajudá-la a arrumar as coisas na mala, já que outra vez estava fazendo pouca coisa ocupar muito espaço e a outra parecia ter muito mais jeito com aquelas coisas de mala.

– Desse jeito você não vai conseguir fazer caber nada aqui dentro, Maria! – gritava ela a cada dois minutos, vendo que a ruiva jogava roupas e mais roupas sem dobrar para dentro da mala aberta.

– Querida, vá se arrumar que nós terminamos aqui. – tranquilizava Alba, passando a mão levemente pelos cabelos de Maria, com um sorriso que era difícil negar qualquer coisa.

Por fim, pela insistência das duas, Maria entrou no banheiro com sua roupa preparada enquanto elas conseguiam finalmente um pouco de paz para terminar de arrumar a mala da garota animada. A verdade era que tinham se oferecido para ajudar porque repararam no desespero que Maria emanava sempre que falava de sua viagem de volta pra casa, mas não esperavam que tivessem que praticamente amarrá-la para que ficasse quieta dentro daquele quarto não tão grande para três pessoas. Era quase de se agradecer que Albert estivesse apenas se oferecido para levá-la até o aeroporto, com ele ali dentro seria ainda mais tumultuado, adicionando que com pouco ele poderia ajudar.

Finalmente, depois de tentativas eternas de fechar a mala e pesar para ver se tinha o peso suficiente para o avião, encontraram com Albert no lobby do hotel. Ele soprava os cabelos do rosto enquanto esperava que as três descessem, e assim que as viu com uma dificuldade eterna para carregar a mala maior de Maria, correu para ajudá-las.

– Mas o que você colocou aqui dentro? – ele fez uma cara estranha para Maria, antes de virar-se e encarar as outras duas.

– Tudo que ela tinha e mais um pouco, nunca vi quatro presentes ocuparem tanto espaço. – Paola arregalou os olhos ao responder.

– Oh, não seja exagerada. – Alba tentou amenizar a situação, mas a expressão no rosto dela denunciava que também tinha se espantado com a quantidade de coisas que Maria tinha.

– Isso mesmo, Alba. São só as coisas que eu trouxe e mais os presentes, mas pode deixar que eu arrasto essa, leva essa daqui, Albert. – entregou a bolsa de mão para ele, enquanto agradecia pela outra mala ter rodinhas.

Alba e Paola não a acompanhariam até o aeroporto porque as malas já estavam ocupando quase todo o pequeno carro de Albert, mas isso não impediu que Maria pulasse nas duas para dar um abraço tão apertado quanto podia, fazendo Alba prometer que não se esqueceria de responder suas mensagens. Paola se demorou no abraço, sussurrando um “obrigada” no ouvido de Maria. Ela demorou a entender do que se tratava, mas assim que uma luz se acendeu em sua cabeça, sorriu para a amiga e moveu a cabeça dizendo que não tinha feito nada. E era verdade, quem tivera a iniciativa de conversar com ela fora Albert, mesmo que ela quase o tivesse empurrado para fora do sofá naquele dia.

Deu vários beijos nas duas garotas antes de acenar de despedida e entrar no carro junto a Albert, que já dava a partida.

– Alguém vai estar te esperando lá? – perguntou ele, puxando assunto sobre o som alto da rádio.

– Vai sim. – respondeu rapidamente, antes de soltar um suspiro. – Não vejo a hora de chegar logo, essa viagem vai ser eterna. – escorregou no banco do carona, resmungando.

– Pra quem não queria passar pelo interrogatório dos namorados você tá bem animada.

Albert riu baixo, lembrando-se de quando ela reclamara eternamente do que teria que fazer assim que chegasse em casa. Recebeu apenas outro resmungo e uma careta, mas pelo menos depois disso a conversa não parou até que chegaram ao aeroporto. Maria contava coisas alheias de seu país de origem e Albert ouvia tudo com muito interesse, adicionando algumas curiosidades sobre a Alemanha que ela não conhecia. Mal perceberam que estavam chegando em meio a conversa animada, mas a realidade bateu quando começaram a tirar as malas de dentro do porta malas e do banco de trás do carro.

Faltava pouco para que a garota começasse a pular de alegria por estar voltando, mas se conteve enquanto passava pelo check-in, porque não queria chamar a atenção em meio aquela quantidade de pessoas sérias e com cara de negócios. Quando finalmente terminou tudo o que precisava já estava quase na hora de entrar no local onde Albert não poderia passar, e por isso deu um abraço apertado nele, balançando o pobre coitado de um lado para o outro.

– Vamos cair no chão desse jeito. – reclamou ele, sempre pouco divertido.

– Deixa de ser chato, vou ficar o maior tempão sem te encher o saco, aproveite. – disse ela, ao soltar do abraço, com um sorriso.

– Pode deixar que vou aproveitar, e você aproveite suas férias. – replicou, enfiando as mãos nos bolsos ao sorrir de volta para ela.

– E você as suas!

A essa altura já tinha dado outro abraço nele e dois beijos nas bochechas, saindo feliz e pulante na direção do local onde uma fila se formava para passarem para realmente dentro do aeroporto. Acenou algumas vezes para Albert enquanto estava na fila, visto que ele esperava a que ela sumisse lá para dentro para então finalmente sair do aeroporto e voltar para o hotel. Ele também voltaria para casa naquelas férias, assim como todos os outros, Maria apenas fora a primeira e mais desesperada a comprar a passagem.

O resto da viagem fora quase a mesma coisa da viagem de ida até a Alemanha. Ficou em silencio a maior parte do tempo, ouvindo música, remexendo um livro que Alba tinha emprestado para que lesse durante a viagem e horas e mais horas de ficar sentada no banco do avião. A diferença era que dessa vez não chorava de tristeza. Claro que sentiria falta dos três enquanto estavam longe, mas tinha em mente que os veria outra vez logo menos e a alegria de poder ver seus pais e amigos outra vez era grande o suficiente para que abafasse a tristeza da despedida.

Acabou sendo uma daquelas pessoas desesperadas que se levantam até antes mesmo do avião estar totalmente parado, o que não era aconselhado e muito menos seguro. Mas pela graça divina suas malas foram uma das primeiras a saírem pela esteira, e quase rui ao ver como finalmente podia voltar a falar em sua língua materna, agradecendo animadamente à mulher que a ajudara a colocar as malas no carrinho.

Mas foi apenas quando finalmente passou pelas portas automáticas para o lado de fora do desembarque que perdeu a compostura e saiu correndo com o carrinho e tudo na direção de Gabriel, que a esperava do outro lado da fita vermelha que separava os que chegavam dos que já estavam ali. Jogou-se contra o garoto assim que o tinha perto o suficiente e não se encontrava no caminho de ninguém, abraçando-o tão forte pelo pescoço que o pobre coitado até teria pedido que diminuísse o aperto, se não estivesse fazendo o mesmo com ela.

– Que saudade dessa sua cara feia! – Maria conseguiu dizer ao finalmente soltar Gabriel.

– Falou a maravilhosa, como foi a viagem? – ele perguntou, já se colocando atrás do carrinho de malas para começar a arrastá-lo para fora.

– Foi boa, mas looooonga. Pareceu durar mais que a viagem de ida, to tão cansada. – sua voz denunciava o tanto que estava cansada, e quase levou um susto ao dar de cara com o sol na sua face ao sair do aeroporto.

– Pois aguente essa sua canseira, porque já fiz seu itinerário hoje. – começou Gabriel, olhando de canto de olho para ela. – Um resto de dia super cansativo de desfazer as malas, comer um delicioso jantar de sabor pizza da pizzaria e assistir um filme muito ruim que me disseram que causa muitas risadas.

– Mal posso esperar, parece promissor. – ela foi junto na brincadeira, não conseguindo sumir com o sorriso que estava quase pregado em seus lábios. – Que horas são agora? – não tinha arrumado seu relógio de pulso e estava mais perdida que tudo.

– Umas cinco, eu acho. Entra aí. – Gabriel apontou para o carro, enquanto dava um jeito de colocar as malas no porta-malas, parecendo ter certa dificuldade em levantar o peso pesado que era a mala de Maria.

Gabriel teria conversado durante todo o longo trajeto do aeroporto até o apartamento em que Maria e Joana moravam, mas ao ver que a melhor amiga sem querer caía no sono no banco do carona, abaixou o volume do rádio e continuou a curta viagem em silêncio. Sabia que passar tantas horas em aeroportos e aviões era algo cansativo e extremamente chato, não iria dar um de chato naquele momento. Só se atreveu a acordar a garota quando já estava na frente do prédio, levando as malas enquanto ela se arrastava em direção ao elevador e logo depois até a porta do apartamento.

– Senti falta dessa arrumação de Joana, onde ela está? – perguntou assim que pisou em casa e viu que estava vazia.

– Plantão, ela tentou mudar o dia, mas não conseguiu.

Enquanto respondia, Gabriel colocava as malas de Maria dentro do quarto. A parte de desfazer as malas tinha sido uma piada, os dois sabiam que não era normal desfazer as malas logo no dia em que se chega de viagem, mesmo que as roupas que se tenham no guarda roupa para trocar depois de um banho lento e quente fossem apenas pijamas. Maria se enfiou em um deles assim que saiu do banheiro, que soltava mais vapor do que o necessário, enquanto Gabriel já tinha aberto o sofá cama da sala e ajeitava um filme na televisão.

– Vai querer pizza de que? – perguntou ele, jogando dois travesseiros no sofá-cama, junto com uma quantidade exorbitante de cobertas.

– Calabresa, ou frango com catupiri, pode escolher. – estava mais pra lá do que pra cá, tanto que se jogou no sofá e se enrolou na primeira coberta que viu pela frente.

– Ótimo, porque já pedi a vegetariana. – nem precisou olhar para Maria para saber que ela expressava raiva no olhar, mas a olhou mesmo assim, rindo. – Até parece que eu ia pedir isso, sua calabresa já deve estar chegando.

Poucos minutos depois, no momento em que o filme deixava o menu aparecer na tela, ele tinha mesmo alugado um filme na locadora, o interfone tocou anunciando a pizza. Logo estavam os dois jogados no sofá-cama, com a garrafa de refrigerante no chão e um pedaço enorme de pizza nas mãos.

– O nome faz parecer que o filme seja legal. – comentou Maria, com a boca cheia de pizza.

– Espero que seja só o nome, rodei aquela locadora inteira procurando um filme ruim divertido. – resmungou, olhando para a televisão enquanto os trailers passavam.

O filme acabou sendo mesmo engraçado e ruim ao mesmo tempo, mas Maria pouco aproveitou dele, dormindo depois de meia hora de filme. Ou seja, mal pegou as partes em que os dois provavelmente apontariam e ririam da face dos atores por terem sido colocados naquela situação para gravar um filme ruim daqueles. Só notou mesmo que tinha caído no sono quando abriu os olhos de repente, assustada pela repentina escuridão.

Percebeu, depois do susto inicial, que não estava assim na total escuridão, a tela de menu do filme ainda estava ligada e ao olhar para seu lado viu que tinha um Gabriel encolhido como um caracol virado de costas para ela. Maria riu ao vê-lo daquele jeito, mas antes que pudesse pensar em se jogar nele para acordá-lo, levantou do sofá-cama e caminhou até a cozinha, bebendo um grande gole de água antes de voltar para a sala.

Andou até a televisão e a apagou, ainda meio dormida e soltando um grande bocejo ao rastejar até o espaço vazio no sofá, puxando as cobertas antes de jogar um de seus braços ao redor de um Gabriel ainda todo encolhido. Esmagou-o um pouco com a intenção de apenas ser chata, mas apenas recebeu um resmungo dormido e logo tinha o braço do garoto sobre o seu, que o abraçava. Não conseguiu segurar o sorriso, ajeitando-se naquela posição mesmo para voltar a dormir. Estava de volta em casa, finalmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Orquestra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.