A Orquestra escrita por Winston


Capítulo 20
Nostalgia decisiva




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Ainda estava dentro do banheiro, escovando os cabelos, quando ouviu alguém batendo na porta de seu quarto com tanto desespero que a obrigou a largar a escova e ir até a porta.

– Maria, abre que eu sei que você está aí dentro! – gritava uma voz feminina conhecida do outro lado, parecia mais do que animada batendo constantemente na porta.

– Ai, já vou.

Abriu a porta assim que terminou de falar, apenas para dar de cara com uma Paola com um sorriso de orelha a orelha, uma roupa muito arrumada para não estar armando alguma coisa e abrindo a boca para soltar de uma vez o motivo de tanta animação.

– Que roupa é essa, menina? Se arruma logo que a gente vai sair! – nunca tinha visto Paola tão feliz, e por isso ficou um pouco atordoada quando a garota a puxou para dentro do quarto, começando a mexer em suas coisas atrás de uma roupa. – Vamos ver o que você tem aqui... – murmurava ao jogar as roupas de um lado para o outro.

– Você tá bêbada, Paola? – Maria estava mesmo achando tudo muito repentino.

– Não, mas pretendo ficar. – respondeu ela, sem parar de remexer com as roupas de Maria, finalmente decidindo em uma. – Toma, veste isso aqui. Anda, anda.

Paola jogou a roupa na direção da ruiva ali meio perdida, empurrando-a para dentro do banheiro para que terminasse de arrumar.

– Posso saber pelo menos o motivo de tanta alegria e por que diabos vamos sair de noite em plena terça-feira? – gritava de dentro do banheiro enquanto se trocava, sem saber muito bem porque o fazia.

– É aniversário do Albert hoje, quando terminar com você, vamos as duas enxotar o garoto da tristeza do quarto dele pra nos divertirmos um pouco. – gritava Paola de volta, franzindo as sobrancelhas ao finalmente notar a bagunça do quarto de Maria.

Por alguns segundos Maria ficou achando tudo muito normal, comemorar aniversários saindo do hotel era o melhor a se fazer, principalmente porque ali dentro não havia muita coisa divertida para aproveitar. Mas, quando finalmente notou que era Paola, a que mal quis entrar no quarto de Albert para perguntar se tinha melhorado da febre, quem estava dando a ideia toda animada, um sorriso sapeca se abriu em seus lábios. Terminou de ajeitar o vestido, saindo do banheiro prendendo os cabelos em um rabo de cavalo baixo que caía sobre o ombro direito, olhando sugestivamente para Paola.

– Vejo que se resolveram então, hehe. – faltava pouco para que começasse a cutucar e cantar “Paola tá namorando” igual uma criança.

– Bem, sim, mas não do jeito que você tá pensando. – Paola a fuzilou com o olhar, fazendo-a levantar as sobrancelhas sem entender, mas mesmo assim pegando os sapatos que eram jogados em seus braços. – A gente conversou e nos resolvemos. Não estamos juntos, mas voltamos a ser amigos, o que é um alívio. Achei que ele tinha te falado, faz mais de uma semana isso.

Maria deu de ombros ao ver o olhar interrogativo de Paola, a verdade era que não tinha perguntado sobre o assunto para Albert, até porque tivera pouco tempo para realmente falar com ele depois daquele dia. A rotina de ensaios voltou muito rápido e, depois do primeiro dia, Maria já estava outra vez pronta para se arrastar por aí pedindo auxílio de tão cansada que se encontrava, pouco tempo sobrava para socializar. Não tinha falado nem com Alba direito, só quando a mulher chegava para uma de suas conversas tranquilas ao ver que a garota estava a ponto de desistir da vida e de tudo.

– Pronto, estou bonita? – fez pose, fingindo jogar os cabelos ao vento.

– Tá linda, agora vamos lá tirar a outra tartaruga do casco.

Paola mal esperou Maria ficar sobre as próprias pernas, arrastando-a para fora do quarto dando tempo apenas para que pegasse a carteira. Nunca fora tão rápido do próprio quarto até o quarto de Albert, muito menos usando as escadas porque Paola estava tão impaciente que não quis esperar os elevadores. Quando finalmente alcançaram a porta do garoto faltava pouco os pulmões de Maria pedirem pra sair. Ela apoiou as mãos sobre os joelhos, maldizendo sua falta de físico por ser uma atoa que não fazia exercício nenhum, enquanto uma Paola atlética tinha a respiração controlada e batia desesperada na porta do quarto do garoto.

– ALBERT! – gritava ela, sem parar de bater na porta com os nós dos dedos.

Talvez pelos gritos, ou por também estar perto da porta do quarto quando Paola começou a chamar, Albert apareceu do outro lado bem mais rápido do que Maria esperava, franzindo as sobrancelhas. Se não estivesse tão sem ar por ir pelas escadas, ela teria começado a rir do pijama que ele vestia, mas não tinha forças nem pra isso.

– O que vocês duas tem na cabeça? – Albert, sempre amável, perguntou sem tirar a expressão confusa do rosto.

– Temos que é seu aniversário, e vamos sair!

Maria achou que Paola entraria do nada no quarto de Albert também, mas ela apenas ficou ali na porta, com o mesmo sorriso de antes, esperando longos segundos antes de ficar impaciente dele não se mexer.

– Anda logo, se arruma. A gente espera aq... – ela começou, mas Maria estava com as pernas tremendo e levantou uma das mãos, pedindo atenção.

– Você espera aqui se quiser, eu vou lá dentro beber uma água e sentar. – e então, sem cerimônias, entrou no quarto de Albert, dando tapinhas no ombro dele como se sentisse pena da situação que tinham se enfiado.

Apesar de Paola parecer estar completamente à vontade com a nova amizade deles, ficou mais do que desconfortável ao entrar no quarto do garoto, ficando em pé em um canto dura como um pau enquanto ele caminhava de um lado para o outro ajeitando a roupa. Enquanto isso, faltava pouco para Maria deitar na cama dele e comer a comida que ele tinha no frigobar, não reparando muito na situação de Paola ao se colocar super à vontade.

A preparação toda durou menos do que vinte minutos, e depois disso os três saíram do quarto, com uma Paola soltando o ar que parecia estar prendendo desde que entrara. O taxi já os esperava na porta do hotel quando passaram pelo lobby, e como só Paola sabia para onde eles estavam indo, foi a que deu as direções enquanto Maria e Albert davam olhares sofridos um para o outro. Não que não gostassem de sair, era divertido, mas não ser tirado do conforto do quarto sem nenhum aviso prévio. Mas, apesar disso, tinham em mente que fariam o melhor da noite, até porque era mesmo aniversário dele e tinha que se divertir.

Ficaram em silêncio durante todo o percurso. Maria porque estava pensando em sua cama quentinha e na pizza que pensara em pedir mais tarde, Albert porque ainda parecia meio acanhado com toda aquela situação e Paola, bem, só não falava porque os dois não abriam a boca. Saltaram do taxi antes mesmo dele parar, se é que isso era possível, Paola pagou o necessário e logo depois já estavam entrando na boate barulhenta e não tão cheia. Claro, era dia de semana, apenas as pessoas que não tinham nada melhor pra fazer na vida no dia seguinte, ou que não ligavam para o que tinham sim que fazer, se enfiavam em boates em dias como aqueles.

– Vou comprar algo pra beber, achem uma mesa! – gritou Paola, para tentar ultrapassar o volume da música, já caminhando para longe.

– Com essa correria nem consegui te dar os parabéns direito. – Maria começou, caminhando atrás de uma mesa, com a voz também alta para que Albert a ouvisse, por mais que estivesse ao seu lado.

– Tudo bem, eu nem esperava que alguém fosse se lembrar. Tirando Alba, que me deu um presente no café da manhã. – ele riu pelo nariz, o que fez Maria rir também. Alba parecia a mãe de todos, ou avó.

Ao avistarem uma mesa vazia a poucos passos, apressaram-se e sentaram nas cadeiras vazias quase como se jogassem a dança da cadeira, se divertindo com o fato dos dois terem pensado a mesma coisa.

– Por que você não me falou que era hoje? – perguntou, apoiando o queixo na mão ao olhar na direção do garoto, curiosa.

– Não sei, não saio por aí avisando todo mundo quando é meu aniversário. – ele deu de ombros, o que fazia sentido, ninguém saía soltando o dia do aniversário pra todos que conhecia. – Me impressiona que ela ainda se lembre.

A expressão de Albert mudou, e Maria teve que se aproximar um pouco para entender o que ele estava falando, e quando entendeu, conteve mais uma de suas risadinhas.

– Percebo que alguém ainda está apaixonado. – cantarolou ela, não conseguindo se segurar.

O que recebeu, porém, fora apenas uma careta. Sentia que ele iria responder com alguma brincadeira também, mas a voz gritante de Paola tirou os dois da conversa que estavam tendo, olhando ao redor a procura da italiana. Não demoraram a achá-la carregando três copos de uma bebida colorida nas mãos, parecendo equilibrar os três para que não caíssem ao chão ao passar pelas pessoas reunidas que dançavam já no ritmo da música sem muita letra.

Assim que teve a bebida nas mãos, Maria olhou para ela e soltou uma risada baixa ao ver que não tinha uma cereja, lembrando-se do dia do seu próprio aniversário. Mal percebeu quando soltou um suspiro, deixando o sorriso sumir enquanto mexia na bebida com o canudinho que vinha na mesma. Sabia o motivo de ter ficado assim de repente, mas não queria começar a ficar depressiva de saudade bem no dia feliz de Albert, e por isso bateu as mãos contra a mesa, fez uma expressão séria e levantou o rosto. Não era hora de sentir saudades. Devia ter ficado muito tempo entre os próprios pensamentos, porque quando levantou o rosto Paola não estava mais na mesa, apenas um Albert com as sobrancelhas franzidas.

– Ué, cadê ela? – perguntou, olhando para todos os lados da boate.

– Saiu com um cara que chegou nela.

Quase podia sentir a indignação e tristeza de Albert nas palavras que disse, e sabia que se o deixasse assim acabaria voltando ao seu eu monossilábico, coisa que não era digna do dia em que se comemora mais um ano na terra. Apoiou uma das mãos no ombro dele, pegando o copo da bebida colorida com a outra ao apontar com o dedo indicador as pessoas dançando alegremente.

– Hoje é o seu aniversário, o seu dia de ficar feliz. Nada de pensar em Paola e sofrer pelas coisas passadas. – bebeu um pequeno gole, fazendo uma careta. – Pensa igual aquele macaco do rei leão, o que passou passado está, dói, mas passou.

Tentar ser poética não era seu forte, mas pareceu funcionar para alguma coisa, já que Albert começou a rir. Não conseguia dizer se era da careta que tinha feito com a bebida ou o fato de ter ligado a situação amorosa dele com um filme de animação, mas se tinha aprendido alguma coisa com Gabriel é que não se devia ficar triste em dias de comemoração, então contaria a risada dele como uma vitória.

– Então, vamos levantar essa bunda da cadeira e ir dançar! – disse animadamente, bebendo toda a bebida de uma vez, o que fez sua cabeça girar e que fizesse uma careta que tremeu seu corpo todo.

– Tem razão, dane-se Paola. – respondeu ele, não tão alto como ela, mas também bebeu toda a bebida, que pareceu não ter efeito nenhum sobre ele.

Assim que deixou o copo sobre a mesa, piscando os olhos várias vezes, Albert levantou da mesa puxando Maria pela mão em direção a pista de dança. A situação a lembrava muito Gabriel, e por isso não conseguia parar de sorrir. Enquanto dançavam sem parar avistou Paola algumas vezes, e para que Albert não se lembrasse de nada muito desagradável, o girava sempre para que não desse de cara com ela. No final sabia que ele tinha se divertido muito mais que ela, que toda hora tinha que se preocupar com ele não dar de cara com Paola dando uns pegas brutos em algum cara desconhecido.

Agora tinha uma ideia do que acontecera com os dois. Paola provavelmente não conseguira retribuir os sentimentos de Albert, ela parecia daquelas que vivem a vida adoidada com relação a relacionamentos. Era meio triste pensar que tinha machucado o amigo daquele jeito, mas era bom que estavam agora conversando quase que normalmente.

Só saíram da boate quando já não se aguentavam em pé, Albert mais que ela, já que se conteve para poder cuidar do garoto, afinal era o aniversário dele, ele tinha que se divertir. Paola acabou encontrando com os dois na saída da boate, tão feliz e bêbada quanto o garoto, o que fez Maria rir. A viagem de volta ao hotel acabou sendo mais barulhenta do que o motorista do taxi estava disposto a aguentar, por mais que Maria tentasse conter os gritos felizes de Paola.

Mas, apesar de tudo, tinha sido uma das suas noites preferidas desde que chegara ali. Ver os dois amigos animados daquele jeito e conversando era algo que a alegrava, mas ao mesmo tempo a deixava um pouco nostálgica, era quase como se faltasse alguém ao seu lado comentando das loucuras bêbadas dos dois. Sabia que passava da hora de começar a se arrumar para voltar pra casa.


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