Oceano escrita por Mateu Jordan


Capítulo 24
Um pouco mais de tempo




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— Riba!

Minha voz sai falhada, mas foi alto o bastante para ele ouvir. Meus olhos estão focados em sua silhueta e eu não quero desviar o olhar nunca mais. Observo enquanto o som chega a seus ouvidos e ele vira exatamente na minha direção. Ele só tem tempo de se levantar, e eu já estou em seus braços.

Abraço-o como se ele fosse minha vida. E ele é. Mas é como se ele fosse a passagem entre a tristeza e a felicidade. E ele é.

Sinto seu cheiro de terra molhada e de água e toco suas asas lentamente. Meus dedos se perdem em suas feições e eu fecho os olhos para uma lágrima cair. Toco a ponta de suas garras que ficam sobre suas asas delicadamente, e sorrio para mim mesma. Eu amo-o. E isso foi uma comprovação disso.

Sinto os dedos dele sobre a jaqueta de Tim, e por um momento preferiria estar passando frio do que estar com aquela jaqueta. Riba com certeza irá desconfiar de cheiro de Tim. E isso não é bom, pelo menos para mim.

Mas deixo tudo ir com a água do reservatório. Deixo minhas lágrimas caírem por conta própria e deixo meus dedos vagarem pelo seu rosto até que toco seus lábios.

— Leo, eu... — Riba começa a falar, mas toco mais forte seus lábios e ele para. Nosso silêncio é tão reconfortante quanto um travesseiro de plumas, e tão gostoso quanto um domingo a tarde. Ainda arde um fogo dentro de mim, mas diferente do que ardia antes, esse é de desejos bons.

Olho-o nos olhos. Estou suplicante, e quero que ele perceba. Pela primeira vez ele não me toca delicadamente, mas sim de um jeito melhor. Ele segura minha cabeça com uma mão, e com a outra segura a minha outra mão. Eu já estou imóvel, esperando-o. E ele não demora.

Mesmo que as estrelas desejassem cair nesse momento, e mesmo que os oceanos resolvessem brigarem entre si, e mesmo que o sol desejasse queimar-nos, nós ainda estaríamos aqui, quase no litoral dos Estados Unidos, nos amando.

Seu beijo por um momento pareceu molhado, mas deve ter sido minha culpa. Eu estava chorando. Riba não. Mas não me importei, a partir do momento em que estávamos ligados por nosso beijo, o mundo era nosso. Mesmo que estivéssemos só nos Estados Unidos, o mundo todo estava parado para nos ouvir e observar, e eu não quero que isso acabe.

Toco seus cabelos loiros tingido, e a maciez me faz suspirar. Ele também me toca nos cabelos e eu gosto, mas logo suas mãos voltam ao meu rosto, e seus movimentos fazem meu corpo gelar e esquentar em cada milímetro. Não pare, por favor.

Suas asas não existem mais para mim, e eu não estou vestindo o casado de outro cara. Estou apenas com Riba, isso é o que importa para mim agora. Não abro os olhos nem por um segundo sequer, e não choro mais.

Riba se afasta tão rápido quanto se aproximou de mim. É um choque para mim, e eu deixo transparecer isso em meu rosto. Desde que conheci ele, meus dias e minhas noites são para ele. Minha vida e tudo mais. E ele simplesmente para. Para.

— Leo - Ele começa. Quero ouvir sua voz, mesmo que seja para dizer que já está indo embora. Mas que, por favor não seja isso. — Você me deixou lá, sozinho. Não pediu minha ajuda para voltar para a casa, não me beijou, não me disse tchau. Me deixou molhando.

— Se eu pedisse para me levar em casa, eu não teria coragem de dizer tchau. — Isso sai rapidamente da minha boca, como se minha cabeça estivesse esperado para dizer aquilo a décadas e que essa era a hora. Devia ser mesmo.

Não parei para pensar em o que diria a Riba quando o visse, e quando o vi eu simplesmente deixei que meu corpo me levasse. Não pensei no que diria a ele, porque eu realmente não esperava vê-lo de novo.

Agora ele parece em choque. Meus olhos ainda suplicam para que ele chegue mais perto e me faça esquecer tudo novamente, mas meu coração sabe que ele não fará isso. E ele bate de uma forma que faz meu peito doer.

— Volte comigo para Oceano - Ele começa. Percebo que sua voz falha também, ele não tem muita convicção daquilo que está falando. — Lylha e Mar estão muito tristes. Até a Alma veio conversar comigo. Não vejo Lylha a dias.

Meu coração agora dói mais. A dor é sufocante e mesmo estando a céu aberto, eu preciso de mais oxigênio. Não sei bem o que falar, então fico quieta. Minha boca está aberta para deixar o ar entrar, mas além disso nesse momento ela não diz nada.

— Volta comigo. — Riba parece triste. Eu não sei o que fazer, só queria que tudo isso se resolvesse em um piscar de olhos. Pisco 5 vezes seguido. Nada.

Olho em volta, ainda as estrelas e a lua continuam dançando na água, e eu sinto uma vontade enorme de abandonar tudo e sair voando por aí com Riba. Mas sei que não posso simplesmente fazer isso. Tenho que forçar minha morte para meus pais, só assim eles deixarão de me procurar e deixarão que eu viverei livre em Oceano. Isso é uma regra em Oceano, para o nosso próprio bem.

— Como sabia que costumava vir aqui, Riba? — Pergunto. Quero mudar de assunto, antes que eu comece a chorar.

— Eu já observei você aqui — Ele diz, triste. — E eu tinha certeza que acharia você aqui em algum momento.

Meu coração se aperta mais quando ouço-o falando isso. Quero poder abraça-lo, mas isso seria pior para ele. Estamos ambos sofrendo, e isso não é nada bom.

— Você sabe que eu não posso ir simplesmente embora, Riba — Digo. E ele concorda com a cabeça. Seus cabelos parecem brancos no reflexo da lua e da água. E seus olhos tão negros quanto a noite. Meu único pensamento agora é em como eu quero-o.

— Você também não pode simplesmente ficar aqui - Ele diz. — Seu pai não te deu a cauda prateada a toa, Leo. Parou para pensar nisso?

Não. Não havia pensando nisso. Estava muito ocupada pensando em mim mesmo, e em como eu queria ser feliz, do que pensando em que eu poderia significar algo bom para Oceano e para os sereianos. Me sinto mal por não ter pensado nisso, mas agora parece que uma porta foi aberta para mim, e que mais oxigênio foi entrando por ela, me ajudando a pensar melhor.

— Eu preciso pensar mais. — Eu falo. E ele concorda de novo com a cabeça. — Eu preciso de um pouco mais de tempo.

— Você conseguirá esperar muito para voltar para Oceano? — Ele pergunta. Mas eu sei que não é bem para "Oceano" que ele quis dizer. Mesmo assim, não discordo de sua pergunta.

— Sei que se eu demorar muito a pensar, não vou conseguir mais fazer nada. Eu preciso de uma resposta rápida...

Riba olha para o reservatório e olha para mim. Não sei o que isso quer dizer, mas também não pergunto. Apenas espero que ele diga algo. Eu preciso ouvir sua voz de novo, e de novo e de novo.

Ouço o latido dos mesmos cachorros que latiram quando eu passei por essa mesma rua, mas diferente de quando eu passei, sei que não tem ninguém ali. E Riba parece saber a mesma coisa.

Ouço então um zumbido no ar que parece um pássaro voando velozmente, e quando Riba olha para o céu, meu olhar segue o dele e vejo mais 3 silhuetas de anjos sobrevoando nossas cabeças. Os cachorros latiam para eles.

— Hora de ir, Riba — Diz uma silhueta feminina. Não vejo seus cabelos balançando e a voz não me é estranha. Com certeza é a mesma sereiano aéreo que estava puxando Riba no dia do Ritual do Pôr-do-Sol. Não gostei de revê-la.

Riba agora desvia o olhar dela e me olha. Ele só me olha. Não me toca, nem nada.

— Só uma dica — Ele fala inesperadamente — Acho que quando você está na forma de sereia, você consegue refletir mais, além de estar em uma paz universal. Acho que vai ser bom para você pensar aqui... — Ele olha para o reservatório.

— Obrigado pela dica... — Eu respondo, olhando-o nos olhos.

— O.k. — Ele diz, agora desviando do meu olhar. Coloca as mãos no bolso antes de levantar voo e me olha novamente — Estou indo, até breve, Leo.

Vejo-o se afastar e me surpreendo em não estar chorando. Quando os outros três sereianos se afastam, Riba vira para mim e eu ouço sua voz firme:

— É bom ver que ainda usa o presente que te dei.

Toco o pingente para ele ver que eu sei do que ele está falando. As asas fazem-me murchar, mas eu ainda estou aqui.

Quando Riba já se afastou, me surpreendo mais uma vez. Só que dessa vez, me surpreendo por estar chorando.


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