Oceano escrita por Mateu Jordan


Capítulo 15
Sombras dançando




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Enquanto sobrevoamos Los Angeles, eu tento não pensar em como estou gostando de ficar ali em cima com Riba. Suas asas batem para não perder o equilíbrio aqui do alto, e o barulho é tão harmonioso quanto uma fonte.

Podemos ter vivido em mundo diferentes até agora, mas a harmonia entre nós já foi restaurada.

– Desculpe por hoje à tarde – Digo. Sei que tenho que pedir desculpas por não ter ido comemorar com ele depois do Ritual do Pôr-do-Sol, tento demonstrar minha decepção comigo mesma. – Eu fiquei tão eufórica por todos aqueles sereianos vindo em minha direção que perdi totalmente os sentidos, eu...

Não sei mais o que falar, tento não olha-lo nos olhos. Não quero saber se ele está triste ou não.

– O importante é que nós já sabemos que não somos meio-irmãos... – É a única coisa que ele diz. E eu sorrio. Sei que gostei de saber disso.

A cidade daqui de cima é tão linda quanto do chão. As luzes coloridas e brilhantes, deixam a cidade ainda mais aconchegante e bonita. Vejo carros indo de lá para cá, e vejo as ondas do mar desmancharem na areia. É tudo tão sincronizado.

Observo o nosso hotel se aproximando e sinto que meu coração está disparado novamente. Meu sangue bate contra as veias morrendo de ansiedade, e eu não sei o que vou falar, e eu não sei o que vou falar.

Não pensei em nenhuma desculpa para dar aos meus pais, mas eu sei que tenho que colocar o Orgulho e Preconceito que estava lendo na história. Minha mente trabalha incansavelmente tentando achar algo bom e fácil de explicar, mas é tão difícil pensar aqui do lado de Riba, quando o que eu queria realmente estar fazendo era beija-lo. Meus ouvidos vibram de ansiedade quando aterrisso na porta do hotel.

Riba olha para os lados e se certifica de que não tem ninguém ali. Vai até mim e me dá um beijo no rosto.

Minha pele parece areia molhada se desmanchando contra a maré. Sinto meus pelos eriçarem e eu me sinto bem. Muito bem.

Nos despedimos, mas a minha vontade era de voar para onde Riba fosse, mesmo que isso fosse impossível. Eu poderia tentar, se tentar fosse traze-lo até mim.

*****

Antes de entrar no nosso apartamento, olho para lua e para o céu escuro cheio de estrelas, eu queria tanto que ainda o sol estivesse no auge, não deveria ter me atrasado tanto.

Quando abro a porta, vejo passos caminhando até mim rapidamente. Viro-me para fecha-la e minha mãe vem correndo até mim me pegando de surpresa e me abraçando.

– Graças a Deus – Ela diz. Estou quase sufocando, mas eu precisava mesmo dar um abraço desde aquele dia em que tive um sonho com meu pai e com a minha mãe, que tenho certeza que foi Poseidon que armou tudo para eu ter certeza de que era filha dele. Vou conhece-lo logo? – Graças a Deus.

Meu pai está atrás de mim, e ele me olha aliviado. Não sinto raiva ou medo, sinto afeição por ele agora. Ele está me olhando tão afetuosamente que sinto vontade de chorar e pedir desculpar para os dois, e dizer que nunca mais vou sair dessa maneira e demorar tanto.

– Por onde você andou, Leo? – Meu pai me chama pelo meu apelido, e sinto meu coração bater. Agora eu sou Leo Glenn Parker, mas ainda continuo sendo a pequena Leo dele. – Ficamos preocupados... sua mãe queria ligar para a polícia, mas eu conheço você... sei que você não faria qualquer bobagem como sumir.

– Desculpem! – Eu estou quase chorando, mas não vou chorar, isso com certeza teria que ser explicado e eu não poderia contar a verdadeira razão pelo meu choro. – Eu fiz uma nova amiga, Lia. – Tentei pensar em algum nome parecido com Lylha – Ela me contou que mora aqui, mas que não vem muito para o litoral... e demoramos porquê... fomos tomar sorvete na Devies Ice.

– Estávamos preocupados de verdade, Leona – Minha mãe disse – Devia ter ligado, ou qualquer coisa do tipo, sabíamos onde estávamos...

– Não queria passar a impressão de que sou um bebezinho para Lia, não é mamãe? – Eu disse. – Mas já estou aqui, e prometo que amanhã volto antes das 18 horas.

– Não queremos mais que você saia longe de nós, Leo – Meu pai disse. – É perigoso.

– Não é não – Digo. Meu coração bate como marreta em concreto, e eu não quero ficar nervosa. – Lia é uma boa menina, além disso, ela mora aqui, conhece o lugar.

– Não queremos... – Minha mãe começa. Reflito sobre porquê disso agora. Será que ela sabia que estava dormindo com Poseidon? Ou ele simplesmente era um homem que ela tinha se apaixonado?

– Mãe – Começo – Tenho 17 anos, não 10... e por favor... hoje ainda é meu aniversário... estou louca para comer uma pizza, que tal?

Meus pais se entreolham, e eu percebo mais passos vindo em nossa direção.

Logan aparece e me abraça, diferente dos meus pais ele não me pergunta nada, apenas se sente feliz de eu estar aqui de volta. Não posso abandona-los, mas devo?

*****

Depois de algumas horas, estou deitada na minha cama olhando para a escuridão. Hoje as sombras não dançam nas paredes, e eu estou relaxada, porém pensativa.

A pizza que comemos horas atrás, pesa no meu estômago como chumbo. Eu não devia ter comido tanto, mas depois do dia de hoje, eu poderia ter comido mais uma inteira.

Sinto minha cabeça rodar e eu não consigo fechar os olhos. Logan, como sempre, dorme como pedra na cama ao lado, mas ele não me atrapalha. Ele é um amor.

Penso no dia louco que foi hoje, e sem querer bato a mão nos meus pingentes. Fecho os olhos e imagino as ondas cristalinas iluminadas pelo sol se desmanchando na praia, meus dedos tocam sua curva, e eu sorrio de sossego.

Depois toco as asas do pingente de Riba. Penso em como ele parecia forte quando me levou hoje à noite para o hotel, e eu relaxo, gosto das curvas do pingente, ela me faz lembrar o barulho delas batendo, de como são lindas e brancas.

Respiro e suspiro.

Daqui a alguns dias tudo isso vai acabar e eu terei que escolher entre os dois mundos que me fazem felizes. Não estou preparada ainda.

Solto os pingentes pois quero tentar pensar direito. Minha família é tudo para mim, mas em Oceano eu consegui me sentir em casa e talvez eu consiga fazer minha família lá. Eu não sei, eu não sei.

Sinto meus olhos ficarem pesados, e meus pensamentos esquecidos, adormeço mesmo estando instantes atrás completamente acordada. Meu último pensamento é em Riba, e no que ele me disse hoje: “O importante é que nós já sabemos que não somos meio-irmãos”, e eu gostei de novo de saber disso.

*****

– Estou me sentindo traído, Tritão – A voz de um homem retumba em minha mente, e eu não me sinto com medo, me sinto calma.

– Não sei do que está falando, Deus dos Mares – Reconheço Tritão em sua sala branca cheia de ouro pela mesa de pedra, e atrás da cadeira onde me sentei horas atrás, está um homem.

– Você nunca sabe de nada, filho. – A voz dele é acolhedora para mim, e eu não quero que ele pare de falar. – Mas você ainda vai saber de tudo.

– Quem será a pessoa, então? – Tritão pergunta. Ele parece amedrontado, ou melhor, relutante.

– Eu não sei também – O homem parece decepcionado. – Mas eu sei que tem alguém. Isso eu sei.

– Então é ela quem vai ajudar? – Tritão fala olhando exatamente para o homem que não consigo distinguir. – É ela?

– É ela – O homem diz – Mas não fale com ela. Nunca. Só até eu mandar.

– Como o senhor quiser, Poseidon – Tritão diz, e a imagem se torna desfocada para mim. Poseidon. Aquele homem era meu pai. Eu estava tão perto.

Meu coração bate enquanto finalmente vejo as sombras dançando essa noite. Quero gritar para parar aquilo, mas eu não consigo dizer nada.

Meus olhos não se abrem agora, e de pouco em pouco, meus olhos descansam e as sombras somem. Era o meu pai de verdade, por isso consegui me sentir tão à vontade enquanto ele falava. Mas quem são as pessoas que eles estavam comentando? Pareciam duas pessoas, uma que iria ajudar, e uma que iria arruinar. Quem são elas? Quem?


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