Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 11
Capítulo 11 – Iustus cogitare de te


Notas iniciais do capítulo

Dia 11
Happy Together (Turtles)



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Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 11 – Iustus cogitare de te

O apito paralisou o jogo, mas não foi totalmente inesperado.

— Seirin, substituição! — o professor que atuava como juiz informou. Taiga respirou fundo e saiu da quadra, trocando um soquinho de punho fechado com Mitobe.

Jogou-se no banco, inconformado consigo mesmo.

— Não sei o que está acontecendo — Riko falou para o rapaz — Tome um tempo, Kagami. Se achar que tem condições pode voltar para a quadra no último quarto.

— Aa — resmungou jogando a toalha sobre a cabeça.

Quando a garota voltou a prestar atenção no jogo que continuava, Taiga apoiou os braços nas pernas, inclinando-se para frente. Seu humor estava péssimo.

— Problemas, Kagami kun?

O ruivo olhou para o lado, dando de cara com Kuroko. Acabou saltando no banco, assustado.

— Desde quando está aí?!

— Fui substituído antes de você.

A informação fez Kagami se estapear mentalmente. Duas vezes. Estivera tão distraído e fora de foco durante o jogo que sequer notara sua sombra saindo de quadra. Como? Agradeceria certo egocentrista narcisico por isso.

Desde quarta-feira, depois daquela pequena demonstração de infantilidade de Aomine a vida não fora mais a mesma. O rapaz não dera sinal de vida, nem sequer com SMS. E Taiga começara a pensar que ele agia como uma criança de três anos que não gosta de dividir o brinquedo!

Porém quanto mais pensava, mas via aquela crise exatamente como ela parecia ser: uma crise de ciúmes! Sem qualquer justificativa ou embasamento. Sem lógica, sem sentido, sem... inclua aqui qualquer palavra do dicionário que aluda ao bom senso.

A quinta-feira fora longa e tediosa. E sem qualquer perspectiva de ter sua revanche, já que Aomine parecia ter sido abduzido por alienígenas (se fosse verdade que sofresse todo tipo de experiência invasiva e testes biológicos e mentais!) Exagero a parte, o maldito conseguira bem o que queria: Kagami não pensava em outra coisa a não ser no fim daquela tarde.

Isso significava entrar em quadra contra Shutoku firmemente decidido a vencer. Mas sem a capacidade para completar a intenção. Toda vez que enfrentava Midorima em uma jogada a imagem mental de Aomine e a lembrança daquela raiva fria vinha a mente de Kagami e dava uma rasteira em sua concentração. Mal conseguia finalizar as jogadas.

Odiava-se por não ser capaz de manter o foco no esporte que tanto amava. Odiava Aomine ainda mais por ser o culpado daquilo!

Nunca se sentira assim antes. Estava perdido. E o maldito nem aparecia na sua frente, para socá-lo e, quem sabe, resgatar sua paz de espírito daquele seqüestro.

Maldito um-contra-um. Maldita aposta.

— Problemas, Kagami kun? — Kuroko repetiu depois de um longo tempo em que Kagami mergulhara em suas reflexões. Fora ignorado da primeira vez. Talvez tivesse uma reposta se fosse um pouco mais a fundo — Aomine kun fez alguma coisa?

Taiga arrepiou-se. Era tão obvio assim?

— Por que acha isso? — entrou na defensiva.

— Porque tudo o que tem acontecido em sua vida ultimamente se relaciona com Aomine kun. Você só fala dele. Pensei que estavam se divertindo bastante.

— Me divertindo? — rosnou — É impossível me divertir com aquele aho!

— Kagami kun tem um jeito bem peculiar de não se divertir.

—...

— Mas seu desempenho hoje tem sido inusitado.

Kagami desviou os olhos e não respondeu. Recebeu aquela frase como uma crítica que se amontoou sobre todas que fazia contra si próprio.

O apito encerrou o terceiro quarto. Os jogadores fizeram uma pausa de dois minutos antes de retomar a quadra. Era apenas um amistoso, não precisavam de nada mais longo.

Apesar de ter passado noites em claro e ansiado muito por aquele jogo, contando as horas para que chegasse, Taiga não voltou à quadra no último quarto. Ficou sentado ao lado de sua sombra, perdido em pensamentos que tinham um simples fato em comum. O maldito egocêntrico que vivia tentando dizimar o mundo com uma epidemia.

Os minutos se arrastaram tortuosos, infinitos.

E Seirin perdeu o jogo.

oOo

Mesmo um amistoso teve efeito devastador sobre o animo dos jogadores. Não houve clima para comemoração. Depois de algumas palavras de incentivo de Riko acabaram se separando e cada um seguiu seu caminho.

Kagami chegou no apartamento desanimado. Sentou-se no chão para tirar o tênis e perdeu um tempo, pensando na derrota. Grande parte dela era sua culpa. O basquete não era um jogo individual, sabia disso. Mas tinham um estratagema durante as partidas e sua atuação fraca causara impacto negativo no resultado final.

Ainda que fosse um esporte coletivo a individualidade continuava fator importante. Impossível não sentir culpa, quando sabia que podia jogar melhor. Já jogara melhor contra Shutoku.

Deixou-se cair de costas no piso de madeira, irritado. Shutoku lembrava Midorima e a imagem mental de Midorima imediatamente evocava a lembrança de Aomine.

Estava tudo uma bagunça em sua cabeça.

E a bagunça só piorou.

Seu apartamento era grande para alguém que morava sozinho. Mas pareceu ainda maior durante o longo final de semana. E tão silencioso...

O desgosto não possuía mensura, mas era inegável: se acostumara com a rotina e aquela palhaçada de “escravo/dono”. E sentia falta. Um pouquinhozinho assim só, mas sentia. Talvez fosse culpa da solidão. Sem a presença de Aomine não se daria conta de como era solitário voltar para a casa vazia todos os dias. Se não tivesse sido forçado a aturar o outro por tantas horas do dia, com suas exigências absurdas, sua necessidade de ser atendido e mimado; e a ordem impossível de dominar todos os pensamentos de Kagami...

Maldito aho!

Que morresse enforcado com aquele ego exarcebado.

Só de rebeldia não ia mais pensar nele sequer um segundo. Não desperdiçaria um instante de seu tempo pensando nele. Seria como se Aomine e aqueles dias nunca houvessem existido.

Mas claro que tão brava decisão não funcionou. Pois Taiga fez nada além de remoer pensamentos a respeito do rival.

Ter coisas deles em seu apartamento não ajudava muito. Ajudava em nada, aliás! O vídeo-game estava ali, mantendo viva aquela ideia bizarra de criar bactérias e germes, batizar febres, criar sintomas e espalhar pandemia pelo mundo. Fala sério, alguém jogava mesmo esse tipo de jogo? Aomine, claro. E Kagami podia dizer seu desempenho na campanha apenas pelas expressões que fazia. Mínimas nuances como um erguer de sobrancelhas, um semi-cerrar de olhos, um sorriso debochado. Adivinhava se ele estava indo bem ou mal, o quão perto chegara de eliminar a humanidade ou de ser derrotado pela descoberta da cura.

Taiga podia ler cada uma das reações. Não que ficasse estudando ou analisando o outro, evidentemente. Apenas aprendera na breve convivência. Quem podia culpá-lo?

Havia também o caderno abandonado. Cheio de matéria incompleta, páginas em branco entre um conteúdo e outro, um horror para alguém metódico como Kagami. Mas não podia negar uma coisa: a letra de Aomine até que era bonitinha. Os kanjis bem desenhados. Os hiraganas, particularmente, eram um primor, bem arredondados como letra de menina.

Menina se sentiu Taiga, por estar admirando a letra justamente de quem! Pensou em instalar uma lareira na sala e queimar o caderno pra se aquecer durante o inverno...

Enfim, depois de um final de semana que pareceu durar um século sem notícias do outro, imaginou que a ausência significava uma coisa: estava livre do compromisso com Aomine. Que alivio! Ou nem tanto, não queria que acabasse daquela forma. Desejava vencer o um-contra-um e conquistar sua liberdade de forma honrada. Mas e se não tivesse opção?

A consequência de passar o final de semana em claro pensando na situação foi dormir a manhã inteira debruçado na careira ao invés de assistir as aulas. Refugiou-se no telhado para almoçar sozinho. Por fim, a tarde avançou com o treino rigoroso da equipe de basquete. Riko não teve misericórdia!

Quando chegou no prédio em que morava sentia dor em cada parte do corpo. Até os cabelos doíam! Os cabelos!!

O plano era tomar um banho e cair na cama. Voltar a rotina. A rotina pré-Aomine, óbvio, deixando a vida entrar nos trilhos. Mas a vida não queria que Taiga pudesse seguir em frente tão facilmente. Acabara de sair do banheiro, depois de tomar um longo banho, vestindo um moletom confortável e quente, quando a campainha tocou.

Ficou intrigado. Pouquíssimas pessoas tinham permissão de passar pela portaria sem precisar de anunciação. Era uma lista tão restrita que apenas um nome passou por sua cabeça.

Mas apostaria engolir um cavalo com casco e tudo a acreditar que Aomine teria a cara de pau de aparecer ali depois do showzinho que dera na quarta-feira.

Abriu a porta, curioso. E surpreendeu-se. Ou não, se fosse bem sincero consigo mesmo.

Aomine em pessoa, com aquele sorriso presunçoso e expressão de que nada de errado acontecera.

Inferno.

Onde é que ia comprar um cavalo?

continua...


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Notas finais do capítulo

O título do capitulo é uma referência a situação do Kagami, algo como “Só consigo pensar em você”.

Agosto do ano passado eu participei de um desafio dos 30 dias, mas fiz oneshots e foi difícil dar conta. Daí pensei que capítulos em seqüência seria mais fácil. Me enganei.

Não da tempo de estruturar tudo muito bem. É terminar o capitulo e chorar o leite derramado, mas já pensado com como salvar um pouco pra pelo menos fazer coalhada no dia seguinte. Moral da história: não sejam muito exigentes com essa autora :/

Até amanhã.

—---

PS: AoKaga é OTP pra vida toda. Mas confesso que dei uma shippadinha MidoKaga em alguns episódios. Então... se eu escrever mais de Kuroko, vou fazer esse ciuminho do Aomine recorrente, mesmo que fique estranho. Acho tão amor :3



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