Como odiar o amor escrita por TheGhostKing
Notas iniciais do capítulo
Obrigada pelo apoio que vocês estão me dando, comentários, favoritos, acompanhamentos, isso me deixa feliz de verdade :3
Agora voltou o POV Nico, ok?
Jill levantou de repente, e Nico caiu para trás. Sentiu-se na pele de Leo naquele momento, e pensou se o tempo em que ele ficara desacordado fora tão desesperador quanto o tempo que ela esteve inconsciente.
– Jill! Que bom que está bem, eu fiquei preocupado, imaginei que pudesse ter machucado você de alguma forma, eu sinceramente... – Nico desatou a falar tudo que lhe vinha à mente para demonstrar o alívio que sentia, mas parou ao ver o modo como a amiga o olhava.
Ela estava com medo.
– O que foi? – ele perguntou, sem entender muito bem – o que aconteceu enquanto dormia?
Jill levantou-se e Nico imitou-a. Ela recuou.
– Deixa eu sair do quarto.
– Jill?
– Me. Deixa. Sair. Do quarto. AGORA.
Com a última palavra, a menina o empurrou para o lado, tirando-o do caminho, e andou rápido em direção à porta do chalé. Nico segurou seu pulso, insistindo para que ela ficasse.
– Jill – Nico disse, enquanto a menina puxava a mão - se seu pai te ameaçou como fez comigo, acalme-se, você não lembra que temos um plano?
– Não tem a ver com meu pai – ela disse, libertando-se e correndo para fora.
Nico ficou parado, confuso.
Será que foi assim que ela se sentiu quando eu a evitei?
Não.
Eu estava com medo do Cupido.
Ela está com medo de mim.
.
No café da manhã, Nico não comeu quase nada. Ficou furando suas panquecas com o garfo, sem ânimo, esperando o tempo passar. Viu as pessoas o encararem. Ouviu um ou outro comentando algo como “e o velho Nico voltou“. Não se importou, pelo menos não o suficiente.
Viu Percy se aproximar. Até o dia anterior, teria ajeitado, disfarçadamente, a postura, ou passado a mão nos cabelos para dar uma organizada naquela bagunça. Mas não se deu o trabalho, continuou com a cabeça apoiada na mão, furando as panquecas, ignorando o amigo até que ele se sentasse.
– Bom dia – ele disse. Nico respondeu com um grunhido – você está bem? O que aconteceu?
Nico suspirou. Olhou ao redor e viu as pessoas olhando, curiosas.
– Nada – o menino começou a furar as panquecas com mais força.
– Eu sei que é alguma coisa.
– Já disse que não é nada.
– Eu sinto que é algo, Nico. Dá para notar.
– Desde quando você presta atenção nesse tipo de coisa? Desde quando você presta atenção em qualquer coisa?
– Escute – Percy chegou mais perto, percebendo que a conversa seria difícil – Primeiro, largue o garfo. As pobres panquecas não tem nada a ver com isso.
Nico olhou para o prato. Havia descontado a raiva em seu café da manhã. Parecia que as panquecas tinham sido trituradas. Fincou o garfo na mais inteira e soltou, deixando-o de pé.
– Ótimo. – continuou Percy – agora me explique. Não precisa ter vergonha. É sobre a menina nova, não é? A Jade?
– Jill –corrigiu o menino. Ele suspirou fundo – talvez seja. É só que... ela foi tão legal comigo. Eu realmente senti algo por ela. Pode parecer exagero, devido ao fato de que a conheci ontem, mas não é, Percy, não é. Eu realmente senti algo. E não pude suportar quando soube que ela era filha do Cupido, não depois do que ele fez comigo...
– Como assim? – Percy interrompeu, confuso. Nico lembrou-se de que não havia contado à ele sobre sua visita ao Cupido com Jason.
– Hora da confissão. Longa história, explico melhor depois, mas ele me fez admitir à Jason que eu tinha uma queda por você, e não de um jeito gentil.
Percy abriu a boca para dizer algo, mas Nico foi mais rápido e continuou:
– Enfim, lembra quando eu desmaiei? Tive um sonho, e ele estava lá. Ele me ameaçou. Mandou que eu ficasse longe da filha dele. Foi muito difícil para mim, Percy. Está entendendo? Eu mandei um espírito persegui-la por puro desespero, pelo amor dos deuses! Enquanto ela se virava, eu pratiquei entrar e acordar do mini-coma. Então, a coloquei nele para explicá-la, no sonho, o que estava acontecendo, e depois de formarmos um plano para não nos separarmos, eu acordei, mas ela continuou a dormir. E quando acordou, ficou toda esquisita. Eu senti, Percy, ela estava com medo de mim. E agora eu não sei o que fazer.
Percy encarava as panquecas destroçadas como se fossem a coisa mais interessante do mundo.
– Eu sabia que não devia ter contado – Nico suspirou.
– Não, não, nada disso, é só que é muita informação.
– Então você me entende?
– Nunca passei por nada parecido, mas acho que sim.
– E o que eu devo fazer?
– Antes de mais nada, eu tentaria descobrir o que houve enquanto ela dormia. Depois, quando seus pensamentos estiverem mais organizados, você decide o que é melhor fazer.
Era tão óbvio que Nico quase riu. Quase.
Não acreditava que Percy Jackson tinha pensado em algo tão simples que traria a solução. Talvez Nico tivesse sido cegado pela aflição.
– O seu único desafio – continuou Percy – seria se aproximar dela e convencê-la a falar. Mas talvez não seja tão difícil.
Nico sentiu vontade de beijá-lo. Depois pensou bem e não sentiu, não.
– Obrigado, Percy. Você me ajudou mesmo.
– Para isso servem os amigos.
– Amigão – Nico deu uma risadinha baixa – só preciso de uma ajudinha: onde fica o chalé do Cupido? Aliás, ele existe?
– Perto do lago, ao lado do de Jano, se eu não me engano – ele deu uma pausa e riu – rimou!
– Você podia ser um rapper – comentou Nico, sarcástico, revirando os olhos e tirando o garfo da panqueca.
– Vai comer esses restos mortais?
– Vou – disse o menino, já enfiando um pedaço na boca – não me julgue. To com fome.
– Mas é a rainha do drama mesmo – disse Percy, deixando a mesa – boa sorte com a garota. A Jessie.
– É Jill – Nico disse baixinho, pescando pedaços furáveis de panqueca.
E é um nome lindo.
.
Nico bateu à porta do chalé branco e vermelho.
– Quem é? – perguntou Jill.
O menino se desesperou com a pergunta. Mentia? Dizia a verdade? Ou só entrava de uma vez?
– É o... É... – Nico disfarçava a voz - Aqui é o... Will Solace.
O nome do menino foi o primeiro a pular em sua mente.
– O que quer?
– Soube que desmaiou ontem e acordou com uma mudança de comportamento. Preciso examiná-la. Posso entrar?
– A porta está aberta – ela respondeu.
Nico abriu, entrou e fechou a porta atrás de si em um segundo.
– Não entre em pânico – ele disse, rapidamente – desculpe por menir.
Jill estava mais distante do que sua voz havia soado.
– O que está fazendo? O que quer comigo?
– Desculpe, de verdade, por entrar assim em seu chalé. Não me ache um maluco doente por isso. Eu só preciso conversar com você.
– Afaste-se – ela ordenou.
Boneca, eu estou encostado na porta, não dá para me afastar mais, ele ficou com vontade de dizer, mas ficou calado.
– Eu preciso de uma informação. – ele disse após um tempo - saio do chalé depois disso.
Ela respirou fundo.
– Tudo bem – concordou – deixo você fazer uma pergunta.
– Só uma?
– É a sua pergunta final?
– Não, não – ele apressou-se em dizer. Pensou e, enfim, se decidiu – O que, exatamente, aconteceu enquanto você dormia e eu estava acordado?
– O que aconteceu foi um encontro com meu pai. Ele me avisou sobre você. Me disse o que é capaz de fazer, o que é capaz de dizer. Talvez não seja culpa sua, mas não posso confiar em você. Desculpa.
– Mas... – Nico começou, mas foi interrompido.
– Você disse que sairia do chalé.
– Mas eu... – ela o repreendeu com o olhar.
Ele olhou para ela, com dor. Não acreditava nas palavras que saíram de sua boca. Cada uma atingiu-lhe com o mesmo impacto de um tiro. De quarenta tiros.
Ele abaixou a cabeça e saiu do chalé.
Ela o enxergava como um monstro. O que ele mais temia havia se tornado verdade. Nico não sentiu vontade de esmurrar o Cupido por fazê-la o ver de tal maneira. Não. O que ele sentia vontade, ou melhor, saudade, era o colo de Bianca.
Queria jogar-se nos braços da irmã para um abraço apertado. Queria que ela fizesse carinho em sua cabeça e sussurrasse em seu ouvido que tudo ficaria bem.
Ele encostou-se na porta do chalé do Cupido e tentou esquecer o assunto. Repassou em sua cabeça o que tinha acabado de acontecer, e tomou coragem para completar a frase que havia sido interrompida duas vezes por Jill:
– Mas eu te amo. - ele sussurrou.
Nico começou a caminhar para longe do chalé, mas logo deu meia volta e gritou:
– Mas eu te amo!
Esperou por uma resposta. Silêncio. Ele voltou a caminhar.
E, conseguindo dar um leve sorriso, disse, como se Jill estivesse logo à sua frente.
– Não sei porque eu te amo, mas sei que amo, sua filha da mãe.
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