Qualquer coisa faz sua ideia mudar

Quem sabe a gente pode se entender

Nova Deli era indiscutivelmente um lugar magnífico. Renji estava encantado com tudo o que via. Desejou que sua viagem jamais terminasse, queria andar pelo mundo sem um destino certo. Ir para onde o vento levar.

Infelizmente aquele era seu último dia ali, mas estava animado em dar continuidade a viagem, iria para o Nepal, depois Tibete e finalizaria a viagem em Hong Kong. Então retornaria para casa. Não havia nada que o prendesse no Japão, por isso, Renji estava realmente tentado a continuar sua viagem sem dar um ponto final aquela diversão. Conhecer novas culturas, fazer amizades e viver o que a vida tem para oferecer.

Assim que terminou de organizar sua mochila, ele se encontrou com Grimmjow no corredor do Albergue em que estavam hospedados.

— Tô morrendo de fome, vamos comer alguma coisa e depois ir para a estação de trem? — Renji perguntou animado para comer mais um pouco dos bolinhos de queijo de cabra.

— Eu estou pensando se a gente não come na estação. Conheço um cara que trabalha lá.

— Não pode ser, você conhece todo mundo. — Renji desceu a escada, ouvindo a gargalhada de Grimmjow atrás dele.

Eles se conheciam há muito tempo, quando ainda estudavam no colégio. Grimmjow se mudou com os pais para Hong Kong, logo que terminou a escola, se correspondiam por e-mails e nos últimos meses começaram a planejar uma viagem juntos.

Renji não conseguiu esperar até chegar na estação de trem de Deli, comprou uma espiga de milho assada no meio do caminho e foi comendo.

Grimmjow era muito animado, um pouco estressado as vezes, mas, geralmente, ele estava sempre ocupado demais com sua câmera fotográfica e alguma história para contar. Ensinou muito sobre a cultura da Índia para Renji e até arriscava ensinar um pouco de hindi.

— Estou pensando em ficar com você quando chegarmos a Hong Kong. — Renji falou naturalmente sem pensar. — Quem sabe consigo conversar com algum colega da faculdade para arrumar um emprego lá.

— Hmm. — Grimmjow não falou mais nada no trajeto para a estação e nem fez algum comentário falando sobre o lugar e sua história, o que deixou Renji um pouco curioso, afinal, aquele não era o tipo de homem de poucas palavras.

A viagem estava ficando bastante desconfortável com aquele silêncio e Renji percebeu que poderia ter sido culpado pode isso. Ele tentou puxar assunto sobre a paisagem e a ferrovia, foi como falar com uma parede.

— Olha, eu falei aquilo em Deli somente porque estava pensando em mudar um pouco de ares, não tô propondo casamento nem nada disso. — Renji falou irritado, odiava quando as pessoas ficavam com aquelas caras emburradas, em invés de falar o que tanto lhe atormenta.

— E quem disse que eu to preocupado com isso? Se quiser ir, é só ir. — Grimmjow acomodou-se melhor no banco e fechou os olhos, cruzando os braços. Renji estava sentado no banco da frente e eles dividiam a cabine com um casal de turistas que estavam passeando pelo trem, tirando fotos.

— Porra, achei que você fosse querer me ajudar em algo.

— Renji, relaxa e curte a viagem. Você tá perdendo tudo. — Grimmjow continuava de olhos fechados. Como o ruivo continuou falando, Grimmjow desistiu de dormir e ouviu os planos dele para quando chegassem a Hong Kong. — Você não disse que tinha um professor lá que estava te esperando?

— Sim, mas era brincadeira, eu não acho que ele vai me esperar esse tempo todo. Foi só um caso passageiro.

— Aham, sei.

— O que?

— Sempre que fala nele, faz uma cara de melão.

— É claro que não faço.

— Está fazendo agora.

— Não seja estúpido. — Renji cruzou a perna e fingiu ler um mapa.

— Está de cabeça para baixo, gênio. — Grimmjow voltou a se recostar na poltrona e tentar dormir mais uma vez, a viagem levaria algumas horas.

— Será que aquele casal vai demorar? — Renji guardou o mapa na mochila e deu uma espiadinha pela porta de correr, depois fechou e puxou a correntinha.

— Porque? Trens em movimento te deixam com tesão? — Grimmjow jogou a cabeça para trás, deixando os cabelos caírem na lateral do rosto, ele estendeu a mão direita, chamando Renji para sentar ao seu lado.

Aquela viagem estava mesmo sendo um divisor de águas na vida de Renji, mas nada se comparava a confusão de sentimentos ambulante que era Grimmjow. Seu amigo de colégio, e agora, qualquer coisa, menos marido.