O Tempo que Leva escrita por Bruna Guissi


Capítulo 8
Viva


Notas iniciais do capítulo

Heeyyy!
Dia oito aí para vocês lindos!
Live and let die – Guns n' Roses/Paul McCartney



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Eu senti o Sapulinho, o sapinho que resolveu morar no meu estômago, dar uns saltos de ansiedade quando chegamos ao Hospital Central naquela manhã. Subimos as escadas e fomos em direção à recepção.

O resto na noite de ontem fora tranquilo. A banda tocou, mas não consegui prestar muita atenção, estava pensando em tudo o Ian havia me dito. Então no final da noite perguntou se gostaria de acompanha-lo na manhã seguinte. Disse sim na hora.

E aqui estávamos; caminhamos pelo corredor claro até chegarmos às escadas, subindo dois lances. Ian estava quieto, e eu sentia um pequeno frio na barriga. Ainda não acredito que estava ali, sabe? Conhecendo a mãe dele...

“Você pode não ter outra chance.” Eu sei.

Paramos na frente do quarto de número duzentos e dezesseis. Respirei fundo, tentando conter a ansiedade. Senti que ele parecia um pouco ansioso também. Ele abriu a porta.

Ela estava deitada de olhos fechados, meio que ensonada, talvez dormindo. Era uma mulher com mais de seus quarenta anos, jovem para a idade do filho que tinha; não tinha os cabelos para lhe adornarem o rosto, mas era fácil de enxerga-la com eles; Ian era a cara dela.

–Mãe... – chamou baixinho, aproximando-se cama. Pegou a mão dela com cuidado – Trouxe uma pessoa para você conhecer.

Ela abriu os olhos lentamente, sorrindo ao ver o rosto dele. Ela era... linda.

–Mãe, essa é Mikaela. – disse Ian, então dei um passo para frente, para que ela pudesse me ver. Estava com uma jaqueta de moto que ele me emprestara nas mãos, agarrando-a furiosamente. Sentia um frio enorme na barriga.

Os olhos dela pousaram em mim. Abriu um sorriso maior. Sorri de volta.

–Mikaela! – sussurrou ela, com a voz feliz – Ian me falou de você. – senti meu sorriso aumentar – Ian, não tinha me dito que sua namorada era tão bonita. – disse cobrando ele, mas com a voz suave. Senti um Sapulinho se agitar no meu estômago. Ele revirou os olhos, sorrindo.

–Essa é minha mãe, Regina. – apresentou ele.

–Prazer. – falei, ficando ao lado dele. Eram os mesmos olhos cor de avelã que ele tinha. Ele soltou uma risada leve.

Sentamos ao lado da cama dela, e conversamos por vários minutos. Foi... Diferente de tudo o que eu já fiz, acho. Ela contou como ele mencionara o evento do dia que nos conhecemos, ocultando detalhes.

–Ele disse que era uma garota muito marrenta, - falou com a voz suave, fazendo-o corar – mas que sabia que ela tinha gostado dele. – eu dei uma risada, e ele soltou um pigarro.

–Mãe... – pediu, mas ela só fez ignorá-lo, tocando gentilmente a mão dele.

–Ele é muito mais tímido do que parece.

Ele soltou um suspiro, levantando-se da cadeira.

–Vou pegar algo para comer. – anunciou, fazendo com que nós duas ríssemos – Quer algo? – perguntou da porta.

Fiz que não com a cabeça, agradecendo. Ele saiu pela porta.

Voltei a olhá-la, e ela me encarava com os olhos suaves. Dei um sorriso tímido.

–É a primeira vez que conheço uma namorada dele. – confidenciou ela, fazendo meu queixo cair de leve. Ela riu da minha expressão.

–Verdade? – perguntei. Ela acenou que sim.

–Ele costumava ser uma criança muito tímida, o Ian. – explicou ela, com os olhos mostrando saudade – Tinha poucos amigos, mas os manteve até hoje. Tinha um pouco de dificuldade para se deixar apegar às pessoas. – continuou, o olhar ficando um pouco mais triste – Ian nunca chegou a conhecer o pai.

When you were young

(Quando você era jovem)

And your heart was an open book

(E seu coração era um livro aberto)

You used to say live and let live

(Você costumava dizer viva e deixe viver)

You know you did

(Você sabe que dizia)

Senti uma pontada no peito.

–Por quê? – perguntei.

–Ele nos deixou quando eu estava para tê-lo. Sempre sofreu com a ideia de que talvez ele fosse o responsável pelo abandono. – sentir minha garganta apertar enquanto ela falava. Ela segurou minha mão – Então fico muito feliz que ele tenha se permitido conhecer você; que não tenha desistido das pessoas.

But if this ever changin' world

(Mas se esse mundo em constante mudança)

In which we live in

(No qual nós vivemos)

Makes you give in and cry

(Faz você desistir e chorar)

Say live and let die

(Diga “Viva e deixa morrer”)

Live and let die

(Viva e deixe morrer)

Dei um sorriso emocionado para ela, que retribuiu apertando de leve minha mão.

–Na verdade foi ele quem deu o primeiro passo. – admiti para ela, fazendo-a arquear as sobrancelhas em surpresa – Não sou boa com relacionamentos também. – expliquei. Ela deu um sorriso amável para mim.

–Vai ver é por isso mesmo que ele gostou tanto de você. – disse fechando os olhos e descansando a cabeça no travesseiro.

Sorri novamente. Eu gostei dela.

Ouvi Ian chegar; estava com uma lata de refrigerante na mão, e alguns doces. Dei uma risada leve.

–O quê? – perguntou, sentando-se ao meu lado. Apontei os doces, explicando:

–Foi para a lanchonete comprar doces? Você tem quantos anos? – falei baixinho, rindo dele. Ele revirou os olhos – Me dá esse brigadeiro? – pedi, então fiz menção de pegar.

Ele evitou o movimento, protegendo-os com os braços.

Ei! – reclamei – Não vai me dar nenhum?

–Não, você não disse que é coisa de criança? – reclamou sussurrando. Eu dei risada.

–Eu só perguntei quantos anos tinhas, não disse isso. Dá um! – insisti, ele voltando a proteger os doces – Depois reclama que vai ficar gordo! – e puxei o braço dele, quase alcançando a caixinha de doces dessa vez. Ele os tirou do meu alcance, esticando o braço para longe de mim.

–Só se se desculpar. – disse rindo. Revirei os olhos e tentei pegar de novo, e ele me segurou no lugar.

Franzi os lábios e cruzei os braços como uma criança teimosa.

Ele colocou um dos doces na boca, fazendo som de apreciação enquanto mastigava. Comecei a rir, segurando o tom para não acordar a mãe dele.

–Deixa de ser chato! – e me inclinei para pegar de novo, só que dessa vez ele se levantou, achando graça no meu esforço. Levantou o prêmio acima da cabeça, me chantageando.

–Cadê meu pedido de desculpas? – perguntou. Bufei, ficando de pé.

–Tá bem! – cedi – Sinto muitíssimo. – disse com todo o sarcasmo que pude colocar na frase, fazendo-o rir.

–Hmm... Não me convenceu. – então ele começou a rir quando fui para cima dele, puxando as mangas da jaqueta que ele usava.

–Deixa de ser assim! – pedi, puxando mais uma vez os braços dele. Ele se soltou e esticou o máximo que pôde os braços em cima da cabeça.

–Só se me beijar. – exigiu, achando graça do meu esforço inútil. Estreitei os olhos, indignada.

–Quer me comprar com um brigadeiro? – falei, beliscando seu braço então – Que coisa feia. – e dei risada.

–E então? – perguntou, agora com um sorriso brincalhão dançado no rosto – Quer o doce ou não quer?

Dei um sorriso azedo para ele.

–Bom, não devia ter que comprar um beijo da sua namorada. – alfinetei, estreitando os olhos. Ele corou! Era a primeira vez que conseguia isso. Dei uma risada – Então estamos namorando? Por que se esqueceu de me avisar? – perguntei rindo, mas envolvendo a cintura dele com os braços, deixando espaço para que pudesse encará-lo nos olhos.

O sorriso dele se tornou suave, quase tímido. Abaixou os braços para mim, pegando um brigadeiro na caixinha e batendo de leve com ele no meu nariz.

–Você ganhou. – disse suavemente. Eu dei uma risada leve. Abri a boca para que ele colocasse o doce, e assim ele fez.

Mastiguei, imitando o som que ele tinha feito mais cedo. Ele revirou os olhos e riu. Passei os braços pelo pescoço dele, subindo com a palma no peito dele por baixo da jaqueta. Senti ele estremecer.

–Não precisa comprar um beijo. – falei, tirando uma mecha de cabelo de cima dos olhos dele – Eu gosto de te beijar. – expliquei baixinho dando de ombros, fazendo-o sorrir – Mas gosto de te ver sofrer um pouquinho.

Ele riu, depositando um beijo na maçã do meu rosto. Fechei os olhos automaticamente. A sensação era ótima.

–Você é muito boa nisso. – disse então, perto do meu ouvido. Senti meu peito esquentar um pouquinho – Em me irritar, na verdade. – disse rindo e fazendo-me rir. Revirei os olhos – Mas em outras coisas também. – então encostou nos meus lábios de leve, fazendo com que eu parasse de rir na hora. Se faz uma coisa tem que fazer direito.

What does it matter to ya

(O que isso importa para você)

When ya got a job to do ya got to do it well

(Quando tem algo para fazer, tem de fazer bem feito)

You got to give the other fella hell

(E mandar os outros pro inderno)

Suspirei. Beijá-lo nunca era a mesma coisa. Sempre sentia cum milhão de coisas novas toda vez que ele fazia questão de mexer comigo. Em algum lugar, senti uma ferida sarando.

Ele brincou de leve com meus lábios, fazendo com que eu soltasse outro suspiro. Então lembrei onde estávamos. Separei-me dele, um pouco ofegante.

–Sua mãe está ali. – repreendi, nem um pouco arrependida. Mas não era algo bonito de se fazer na primeira vez em que se conhecia... bem, sua sogra. Senti Jusiete e Sapulinho se mexerem em algum lugar. Ele me ignorou.

–Ela gostou de você. – disse, então sorri.

–E eu gostei dela. – respondi – Você é a cara dela, sabia disso? – perguntei, fazendo-o sorrir – O que faz de você um rapaz bem bonito. – acrescentei baixinho, fazendo-o rir.

–Eu sempre soube que me achava irresistível. – provocou ele, fazendo-me estreitar os olhos. Ah, ele se acha irresistível... Vamos ver quem não resiste a quem.

Puxei-o para baixo de leve, só para encostar minha boca na dele. Senti ele engolir em seco. Fingi que não estava num quarto onde a mãe dele também estava, e passei a língua de leve no lábio inferior, repetindo o gesto no superior.

Senti as mãos deles ficarem mais firmes na minha cintura. Ainda com a boca na dele, perguntei baixinho.

–Quem é que não resiste a quem? – ele deu uma risada nervosa, engolindo em seco novamente. Coloquei os lábios com mais força nos dele, só para me afastar logo em seguida e morde-los antes de soltá-lo.

Ouvi um gemido gutural na garganta dele. Senti um arrepio bom o som.

Não devia ficar fazendo isso. – avisou ele, então me soltou. Eu sorria vitoriosamente para ele. Ele tinha uma expressão meio faminta no rosto, que cá entre nós eu ADOREI – Posso não responder por mim depois.

Virei para sentar na cadeira ao lado da cama novamente, mas então ouvi o bip das máquinas se acelerarem dentro do quarto.

Toda a atmosfera leve sumira num instante; um médico acompanhado por dois enfermeiros entraram rapidamente pelo quarto. Eu fiz menção de ir até a cama, mas senti Ian me segurar pelos dois braços, puxando-me para fora dali.

Virei assustada para ele.

–O que está acontecendo..? – quis saber. O rosto dele era uma máscara dura de dor. Ele balançou a cabeça.

–Acontece às vezes. – sussurrou – A quimioterapia mexe com os batimentos cardíacos dela, então ela toma remédios para controlar a situação. Nem sempre eles funcionam bem. – a voz dele era fria.

But if this ever changin' world

(Mas se esse mundo em constante mudança)

In which we live in

(No qual nós vivemos)

Makes you give in and cry

(Faz você desistir e chorar)

Virei para olhar pela janela, enquanto aqueles homens desconhecidos cuidavam dela. Por favor, não... Não agora... Por favor...

Voltei a olhá-lo, sem conseguir esconder o medo nos olhos. Ele encarava o vidro atentamente. Segurei a mão dele.

Estou aqui. – falei. Ele olhou para mim, de repente surpreso por alguma coisa. Senti ele respirar fundo, então acenou com a cabeça.

Me puxou para perto, segurando-me com força, minha cabeça enterrada no peito dele. Só conseguia sentir seu cheiro.

–Obrigado. – murmurou.

Say live and let die

(Diga “Viva e deixa morrer”)

Live and let die

(Viva e deixe morrer)


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Notas finais do capítulo

:B
Espero que tenham gostado! Esse foi curtinho mesmo :~~
Um beijos, e não deixem de expressão seu amor e suas opiniões!
Um abraço!



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