O Tempo que Leva escrita por Bruna Guissi


Capítulo 11
Juntos


Notas iniciais do capítulo

Aooo dia onze para vocês!
Boa leitura!
Happy Together – Turtles



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Eu acordei primeiro naquela manhã. Decidi fazer o café da manhã naquela cozinha que eu não conhecia muito bem; achei alguns bons ingredientes, embora simples.

Fiz uma omelete, torradas francesas e suco. Quando estava cortando uma banana para fazer uma salada de frutas, ouvi passos pelo corredor. Ele entrou pelo batente do arco meio ensonado, somente de cueca, coçando curiosamente a cabeça.

Então percebeu toda a comida já preparada e abriu um sorriso.

–Bom dia. – cumprimentei, voltando a cortar as frutas. Ele caminhou até a ilha da cozinha onde eu estava, e roubou um pedaço de fruta qualquer. Depositou um beijo perto da minha têmpora esquerda.

–Bom dia. – cumprimentou, sentando-se na minha frente. Observou a comida com uma expressão faminta, enquanto eu terminava de jogar a calda em cima das frutas – Vou ter que começar a fazer exercícios físicos regularmente. – comentou servindo-se da omelete.

Dei uma risada leve, e coloquei a vasilha na frente dele. Peguei duas torradas e um pouco da omelete, enquanto ele servia suco de laranja em dois copos.

–Se divertiu ontem à noite? – perguntou, enfiando uma garfada generosa de comida na boca. Mostrei a língua para ele – Ah, é verdade! Claro que se divertiu. – completou, agora com um sorriso torto no rosto – Ganhou o melhor presente de todos no final da noite. – e fez um gesto como que dissesse “Isso mesmo, euzinho.”. Precisei rir disso.

–Deixa de ser metido! – então tomei um gole de suco antes de continuar – Mas sim, eu me diverti muito ontem. – e dei um sorriso sincero para ele, o qual ele retribuiu. Os olhos deles se estreitaram.

–Esse é seu jeito de agradecer a uma noite maravilhosa? – perguntou, agora com uma expressão libidinosa no rosto. Revirei os olhos – Olha, eu não achei suficiente. – então levantou-se da cadeira, antes que eu pudesse fugir, e me JOGOU PELOS OMBROS. ISSO MESMO. COMO UM SACO DE FARINHA.

Ian! – reclamei, ele somente me ignorando, caminhando tranquilamente até a sala como se eu pesasse nada – VOCÊ ENLOQUECEU? – e comecei e me espernear freneticamente, até senti-lo puxar-me para baixo, no sofá.

Colocou-me deitada de costas, e apoiou-se em cima de mim, um braço de cada lado do meu corpo.

Ian..! – chamei de novo, agora encarando os olhos intensos dele. Engoli em seco, sentindo Sapulinho dançar arromba no meu estômago – Não faça as coisas do nada... – falei, com menos firmeza do que eu queria.

–Mas por que não? – perguntou, passando de leve o dedão na minha bochecha – Eu quero. – respondeu insolentemente. Então abaixou o rosto lentamente, até que eu já não respirasse ar que não tivesse o cheiro dele. Senti meu rosto esquentar.

Eu não sabia o que dizer; ele tinha essa mania de ser divertido, e em um segundo entrar num estado tão intenso que me deixava desconcertada. Eu não acompanhava o ritmo das emoções dele. Era tudo tão confuso.

–Você sempre fica com o rosto vermelho quando eu chego perto. – comentou fechando os olhos, esfregando de leve a ponta do nariz do meu rosto até meu pescoço. Começava a ficar difícil de pensar.

–Fico? – “Brilhante.” Ah, vá!

Ele fez que sim com a cabeça, agora roçando de leve a região da minha clavícula.

–Gosto assim. – falou. Mordeu de leve a base do meu pescoço, fazendo com que eu soltasse um arquejo.

Não é justo. – murmurei, fazendo-o olhar para mim – Não pode fazer o que quiser. – reclamei infantilmente. Sentia dificuldade de respirar, e percebi que ele parecia tranquilo.

–Mas eu estou fazendo. – disse, abrindo um sorriso brincalhão – Quero ficar com você, e vou fazer isso. – então praticamente deitou-se em cima de mim para me beijar.

Imagine me and you, I do

(Imagine você e eu, eu consigo)

I think about you day and night

(I penso em você dia e noite)

It's only right

(É apenas justo)

To think about the girl you love

(Pensar sobre a garota que você ama)

And hold her tight

(E abraçá-la forte)

So happy together

(Tão felizes juntos)

Ele não colocou muita pressão nos lábios dessa vez; beijava-me como se fizesse uma tarefa rotineira prazerosa, como acordar de manhã do lado quem se gosta. Percebi que sentia exatamente isso. Respirei fundo, sentindo meu corpo se eletrificar um pouco, de uma maneira boa.

Puxei-o para mais perto, segurando-o pelo pescoço, com uma mão apoiada de leve na lateral do corpo dele. Era sempre assim; eu me acalmava e ele ficava eufórico, e visse versa. O beijo foi ficando mais intenso, e quando separamo-nos um do outro para recuperar o fôlego, eu já estava com as pernas enroscadas nele.

–Não dá... para fazer isso... sempre! – falei com dificuldade. Ele fez uma cara confusa; também respirava rapidamente – Esquecer do mundo toda vez que te toco. Não dá. – expliquei frustrada.

Ele abriu um sorriso torto, levantando-se e me puxando junto. Sentamo-nos no sofá, esperando o ar voltar a ser respirável. Estava demorando.

–Você é tão dura na queda. – falou balançando a cabeça, levantando-se e voltando para cozinha.

If I should call you up

(Se eu devesse te chamar)

Invest a dime

(Invista dez centavos)

And you say you belong to me

(E diga que você pertence a mim)

And ease my mind

(E acalme minha mente)

Imagine how the world could be

(Imagine como o mundo seria)

So very fine

(Tão magnífico)

So happy together

(Tão felizes juntos)

Como assim ele muda os ânimos desse jeito e depois simplesmente VOLTA A COMER? Respirei fundo, seguindo-o logo depois.

“Ele tem razão, sabe.” QUE QUE É, JUSIETE? “Você é mesmo teimosa. Não admite de uma vez por quê?” Admitir o que, exatamente?

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos inconvenientes. Infelizmente, olhar para Ian, só de samba canção comendo distraidamente, faziam alguns outros pensamentos surgirem.

Eu gosto dele. Mas é estranho, porque gostar dele e estar com ele, ao contrário do que acontecia quando estava com Phelipe, fazia com que eu gostasse mais de mim mesma.

Ele levantou a cabeça, percebendo que eu o encarava.

–O que foi? – perguntou sorrindo para minha expressão. Eu devia estar em estado beta. Balancei a cabeça, como quem diz que não quer nada.

Terminamos de comer e arrumamos a cozinha. Logo depois entrei no chuveiro, trancando a porta, só de sacanagem. Voltei para o quarto onde ele estava deitado na cama já arrumada, lendo uma partitura qualquer.

Troquei de roupa rapidamente, colocando a camiseta que ele me emprestara em cima de uma poltrona confortável no canto do quarto. Decidi que já estava na hora de ir embora, eram quase onze e meia. Eu ainda tinha de ir para a casa dos meus pais almoçar.

Ian ofereceu para me dar carona, e depois de alguma insistência aceitei. Nunca gostei de pegar ônibus mesmo. Mas em algum lugar eu senti uma inquietação; meus pais não faziam nem ideia de Ian.

Paramos na praça, algumas casas de distância da casa de meus pais. Dei um sorriso sem graça para ele. Ele revirou os olhos.

Tudo bem. – insistira pela décima vez. Expliquei que ainda não havia falado dele para minha família e ele apenas fez dar de ombros. “Pode falar agora, a não ser que não queira.” Dissera apenas. De algum modo aquilo me incomodou.

Ele parecia descontraído, mas consegui sentir alguma impaciência no modo de olhar. Coloquei uma mão no rosto dele, virando-o para mim. O sorriso dele diminui para uma expressão mais serena.

–Não preciso que ninguém aprove. – falei de repente, seus olhos se prendendo nos meus – Faço o que eu quiser a um bom tempo, e com certeza quero fazer isso. – falei indicando a gente.

I can't see me lovin' nobody but you

(Eu não me vejo amando alguém além de você)

For all my life

(Por toda minha vida)

When you're with me

(Quando você está comigo)

Baby the skies will be blue

(Baby, os céus serão azuis)

For all my life

(Por toda minha vida)

Peguei o capacete que ele me dera de presente que estava amarrado na garupa da moto, segurando-o com firmeza. Ele franziu o cenho – Vem me buscar hoje. – falei sorrindo.

Ele abriu um sorriso que faria qualquer um se apaixonar em segundos. Despedi-me com um abraço forte, fazendo questão de enterrar meu rosto no pescoço dele.

Comecei a caminhar em direção à casa dos meus pais, a inquietação tornando-se uma ansiedade quase eufórica. Foda-se! Foda-se tudo! Eu vou contar que, por incrível que parece, superei a única relação que tive, que, diga-se de passagem, durou anos, em pouco mais de uma semana. E que estava realmente satisfeita comigo mesma.

Era isso mesmo que eu iria fazer. Espero que minha mãe não desmaie.

Bati na porta com mais energia do que precisava. Quem atendeu não era quem eu esperava. Damian?

–Mikaela! – saudou, deixando que eu entrasse – Mãe, a Mika chegou! – gritou, voltando para a cozinha. Por que meu irmão estava em casa? Pousei o capacete na mesa do hall de entrada, deixando minhas coisas do lado.

Caminhei até onde pudesse ver a fonte do forte barulho vindo da cozinha.

–Está todo mundo em casa hoje? – perguntei, vendo não apenas minha mãe e meu irmão, mas minha irmã e o marido dela. Minha mãe veio até onde eu estava, me recebendo num abraço.

–Ah, querida, feliz aniversário! – falou com a voz feliz. Ela adorava ter a casa cheia; apenas sorri em resposta. Meu pai apareceu vindo do corredor, parando para estender-me a mão gigantesca.

–Parabéns. – desejou com um sorriso grande no rosto. Abracei-o também. Escolhi um lugar para sentar na mesa, cumprimentando antes minha irmã e o marido dela, aceitando os votos de felicidades.

–Vinte e um anos, quem diria. – falou Angeline com a voz azeda, fazendo uma careta para mim. Retribuí mostrando a língua – E não mudou nada.

–Como vão as coisas Maxiel? – perguntei ao japonês barbudo com quem minha irmã estava desde os tempos de faculdade dela.

–Bem, bem. – respondeu simpaticamente – Bela jaqueta. – acrescentou ele, fazendo-me notar que eu não tinha tirado a peça antes sentar para comer.

O comentário fez o resto das pessoas na casa nota-la também. Obrigada, Maxiel, é exatamente assim que eu pretendo começar um assunto desses. Dei um sorriso amarelo para ele.

–Verdade Mikaela, é uma jaqueta muito boa. – comentou meu pai, vindo para onde eu estava ara analisar. Ele franziu o cenho quando viu o selo de motociclismo no braço – Onde conseguiu? – perguntou desconfiado.

–Presente. – respondi com a voz fininha, dando um sorriso suspeito. Ele não apreceu acreditar, mas aceitou a resposta.

–Coloca pra ela lá na porta, Damian, por favor. – este revirou os olhos, soltando um rugido de preguiça. Pegou a jaqueta e levou pelo corredor.

Péssima ideia. Ele voltou com meu capacete nas mãos, fazendo uma cara de confusão. Ai mas que enxerido!

–Mika, onde você arranjou isso? Não diga que foi presente também. – apoiei a cabeça nas mãos, quando meu pai olhou o objeto.

–Está dirigindo uma moto e eu não estou sabendo? – perguntou nervoso. Olhei para meu irmão com um olhar assassino e em resposta ele deu de ombros como quem diz “Ué, e eu vou saber?”.

–Não, pai. – falei, virando-me para ele. Agora todos na cozinha prestavam atenção – Eu realmente ganhei este capacete. – expliquei aos poucos.

De quem? – minha irmã perguntou, e eu quase virei uma bicuda nela.

–Fica quieta, Angeline. – pediu meu pai – De quem? – insistiu depois. Soltei um suspiro, olhando para todos na mesa antes de responder.

–Do meu... namorado. – e dei de ombros, meio que rindo. Ficaria feio falar “De um cara que conheci semana passada com o qual estou transando há alguns dias. Temos uma relação legal, mas não sei onde isso vai dar.”.

Não sei como, mas meu pai franziu o rosto ainda mais, numa careta de confusão e indignação. Já minha mãe me olhava com o rosto surpreso.

Meu irmão deu de ombros, como se a informação não fosse relevante, voltando a levar o capacete pelo corredor. Voltou e sentou-se a mesa para começar a comer, ignorando a indignação alheia.

Que namorado? – perguntou ele, ainda com aquela expressão cômica no rosto. Dei de ombros. Ele parecia perder a paciência.

–Mas Mikaela! – protestou minha mãe – Você não acabou de terminar com Phelipe? – perguntou com uma tristeza na voz. Senti uma veia estalar na minha testa à menção do nome.

–Mãe, terminamos, mas não estou morta. – respondi – E ele é um ótimo cara. – comecei a falar, vendo que meu pai já balançava negativamente a cabeça.

–Quero conhecê-lo. – exigiu. Revirei os olhos, perdendo a paciência. Levantei da mesa para olhar melhor para meu pai.

–Tenho idade suficiente para saber o que fazer. Pelo menos quanto a isso. – rebati, com o tom de voz sério.

Ele pareceu pensar um pouco, mas então falou:

–Mas Mikaela, tem certeza de que isso não é só para se sentir melhor por causa de Pheli... – não deixei que ele terminasse.

–Pai, o Phelipe não presta. – respondi simplesmente, fazendo todos, inclusive Damian, olharem para mim – Desperdicei anos da minha vida com um grande merda, e não vou fazer isso de novo. – minha mãe se retraiu ao ouvir a ofensa, e minha irmã arqueou as sobrancelhas. Maxiel parecia assistir tudo com muita atenção.

–Mikaela, você está nervosa... – tentou, mas aí eu dei uma risada meio escandalosa.

Ele me traía. – falei com a voz ácida. Um silêncio mortal caiu na mesa – Há mais de dois meses tem saído com outra pessoa. – falei, percebendo que achava graça daquilo tudo – Eu até cheguei a conhecê-la. – completei, dando uma risada insolente.

Todos em volta me olharam com a expressão de choque. Dei de ombros, como que terminando o assunto por ali. Meu pai achou melhor deixar morrer por ali também, então começamos a comer, naquele silêncio meio constrangedor.

Meio não, né.

Depois do almoço, vieram as sobremesas; e eram muitas. A conversa voltou a vingar depois de um tempo, enquanto comíamos pudim, bolo e sorvete. Estava tudo indo razoavelmente bem, se quer saber.

Matei o assunto de uma vez, e quer saber, minha mãe não desmaiou, então está tudo bem. Só faltava avisar que ele viria me buscar.

Perto das três e meia mandei uma mensagem para Ian. Ele chegou em quinze minutos; todos conseguiram ouvir o ronco da moto estacionando na frente da casa. Vi meu pai franzir o rosto, e não pude conter um sorriso.

Levantei da mesa e fui abrir a porta. De pé ali, com o rosto ansioso e extremamente eufórico, Ian sorria para mim. Estava do jeito de sempre, camisa xadrez, camiseta e calça jeans, e por cima a jaqueta que usava para dirigir em dias mais frescos. Havia apenas tirado um pouco dos cabelos do olhos.

Peguei o capacete da mão dele, colocando ao lado do meu. Sorri para em direção à ele, e ele retribuiu.

Bem vindo à casa de loucos. – adverti baixinho. Ele abriu ainda mais o sorriso. Atravessamos a porta lado a lado, ele com a expressão ansiosa. Gostaria de mordê-lo agora. Paramos na porta da sala, onde todos se encontravam – Mãe, pai. – chamei, fazendo-os virar para nossa direção. Percebi que estava dando um sorriso sem graça para eles, quase corando. É agora: - Este é Ian. Ian, esses são meus pais, Adriana e Steve. – meu pai levantou imediatamente, e Ian estendeu a mão com firmeza para ele; Ian era alguns centímetros mais alto. Minha mãe veio com um sorriso de quem achava graça na reação do marido, e cumprimentou docemente novo habitante daquele pequeno espaço.

–Prazer em conhecê-lo. – falou com a voz simpática, e Ian deu seu sorriso mais irresistível para ela. Canalha. Ela amoleceu na hora.

–O prazer é todo meu. – respondeu.

–Este é meu irmão mais novo, Damian, minha irmã mais velha Angeline e o marido dela Maxiel. – ele cumprimentou a todos, simpaticamente. Senti Damian mandar um olhar estreito para ele, como que o avaliando. Damian tinha um centímetro, talvez dois, a menos que Ian. Seus olhos azuis ainda eram desconfiados.

Ficamos parados ali por alguns segundos antes que se tornasse tudo muito embaraçoso.

–Bom, acho melhor eu ir indo. – anunciei, fazendo minha mãe reclamar – Tenho que trabalhar ainda. – expliquei. Esse era só um dos motivos.

–Fique mais meia hora! – exigiu ela – Nós nem conhecemos seu namorado direito. – protestou. Ian abriu um sorriso largo, concordando na hora. Vendido!

Mas até que não foi ruim; Ian sabia lidar muito bem com as pessoas. Conversou com meu pai sobre a empresa em que trabalhava, falando dos instrumentos com uma empolgação contagiante. Meu pai nem reclamou quando ele disse que tinha uma banda.

Minha mãe se encantou pela educação dele (porque não foi ela quem ele chamou de frígida logo quando se conheceram) e simpatia, e já com meu irmão conversou um pouco menos, assim como minha irmã e Maxiel; Damian sempre fora o menos social da casa, mas pareceu gostar dele. Já Angeline passou o resto da tarde dormindo depois de passar mal, e Maxiel fez companhia a ela. A bendita estava grávida.

Resumindo, foi tudo bem. Bem mesmo.

Quando saímos pela porta em direção à motocicleta, pude ver minha mãe e meu pai olhando da janela, atrás da cortina. Revirei os olhos. Ian sorria alegremente para mim enquanto me ajudava com o capacete, e eu fazia o mesmo com o dele.

–O que foi? – perguntei ao ver a cara feliz dele. Ele deu de ombros.

–Gostei da sua família. – falou. Foi minha vez de sorrir.

–Um bando de loucos. – respondi abaixando os braços. Ele sorriu com carinho para mim.

–Ela é ótima. – repetiu – E grande. – completou. Pude ver nos olhos dele que nunca vivera com muitas pessoas dentro de casa.

–Eu sei. – respondi.

Montamos na moto e percorremos a cidade rapidamente até chegar ao meu apartamento. Ian agora estacionava a moto dentro do prédio, já tinha dado até o controle do portão para ele. Eu não usava a vaga mesmo.

Subimos pelo elevador, conversando sobre nada em especial. Colocamos os capacetes e as jaquetas perto da porta, como sempre, tirando os sapatos. Fui para o quarto a fim de tomar um banho, e Ian fez-se a vontade na sala, vendo um filme qualquer.

Troquei-me para o uniforme de trabalho, já perto das cinco horas. Caminhei até a sala enquanto prendia o cabelo numa trança, e me joguei no sofá ao lado dele. Tinha tempo de sobra ainda, se fosse de moto.

Ficamos ali mais um tanto de tempo, comendo balas de gelatina de um pacote que ele trouxera, apenas sentados, sem compromisso. Percebi que nunca me senti tão a vontade perto de alguém do sexo oposto. As coisas, por mais confusas e eufóricas que fossem ao lado dele, funcionavam como se fossem para ser.

“Parece que não teria como ser diferente, não é?” Jusiete às vezes plantava umas coisas na minha cabeça...

Me and you

(Eu e você)

And you and me

(Você e eu)

No matter how they tossed the dice

(Não importa como jogaram os dados)

It had to be

(Tinha que ser)

The only one for me is you

(A única para mim é você)

And you for me

(E você para mim)

So happy together

(Tão felizes juntos)

Sentei reta, fazendo-o me encarar surpreso.

Neste momento, e não importa o quanto ele vai durar, não quero mais nada. Estávamos bem. E eu nunca pensei que fosse me sentir em casa com uma pessoa que conhecesse há tão pouco tempo.

I can't see me lovin' nobody but you

(Eu não me vejo amando alguém além de você)

For all my life

(Por toda minha vida)

When you're with me

(Quando você está comigo)

Baby the skies will be blue

(Baby, os céus serão azuis)

For all my life

(Por toda minha vida)

Ele ainda me olhava com olhos confusos, abaixando o volume da televisão. Aposto que sei o que vai me perguntar.

–Está tudo bem? – abri um sorriso involuntário para ele. Ele não entendia o que eu estava fazendo, mas sorriu de volta, com os olhos doces. Então percebi.

O estalo de compreensão foi quase audível. Eu... Senti alguma coisa no meu peito palpitar enquanto fitava os olhos cor-de-avelã dele.

Merda... – sussurrei, deixando a boca ficar entreaberta. Ele já estava achando graça da minha cara.

–Esqueceu a roupa colorida com a roupa branca na máquina? – perguntou, tentando entender o que acontecia ali. Era uma epifania. Maldita seja Jusiete.

–Não. – respondi automaticamente – Acontece que percebi uma coisa... – então me segurei. “Mas fala logo, desgraça!” Calma! Ele olhou para mim, incentivando. Respirei fundo – Me apaixonei. – falei por fim.

Ele ficou alguns segundos me encarando com a expressão atônita, até abrir o que foi o sorriso mais... alegre que já vi.

–E demorou todo esse tempo para perceber? – segurou meu rosto com as duas mãos, dando risada da minha cara incrédula – Você é mesmo alguma coisa. – então deu-me um beijo carinhoso, me abraçando. Sentia todo o calor do corpo dele relaxando meus músculos.

Então é isso...

Senti que estávamos deitando, quando lembrei-me da hora. Fiz um esforço homérico para afasta-lo um pouco.

–Já disse que o mundo não pode sumir. – expliquei, fazendo-o rir – Ainda tenho que trabalhar. – então ri junto.

–É o que acontece quando duas pessoas funcionam bem juntas, sua lerdinha. – falou, levantando-nos. Dei um sorriso azedo para ele, fazendo-o balançar a cabeça.

–Eu aceito sua declaração. – falou, como se comunicasse algo para uma pessoa que passava por necessidade – Pode me adorar, eu sei que é quase impossível de não acontec.. Ai! – e começou a rir quando dei um beliscão no braço dele.

–Não se esqueça de que foi você quem veio com o papo todo romântico primeiro. – disse alfinetando. Ele abriu um sorriso torto.

–Eu sei disso. – disse simplesmente – E quer saber? Você já estava louca por mim, só não sabia disso. – disse me puxando num abraço. Revirei os olhos – Não nega! – proibiu ele, beliscando minha bochecha.

–Ei! – reclamei, então ele pegou uma mecha do meu cabelo que escapava da trança, trazendo-a para perto do próprio nariz. Ele inspirou de leve, fechando os olhos por um momento. Eu não sabia o que fazer, então apenas observei.

–É que sempre gostei do cheiro do xampu que usa. – explicou, meio sem graça – Senti o cheiro no mercado quando nos conhecemos, e não consegui tirar da cabeça. – os olhos dele eram sérios, como se revelasse um segredo. Abri um sorriso tímido; ele continuou a falar – Então, quando te vi no bar, não consegui acreditar. – ele abriu um sorriso, lembrando-se do dia – Coincidência demais, não acha? – perguntou por fim.

Eu balancei a cabeça negativamente, fazendo-o franzir o cenho por um instante.

–Não parecia coincidência. – falei, sem saber ao que me referia exatamente. Ele sorriu, respirando fundo. Tinha um nome para isso. Karma.

Me and you

(Eu e você)

And you and me

(Você e eu)

No matter how they tossed the dice

(Não importa como jogaram os dados)

It had to be

(Tinha que ser)

The only one for me is you

(A única para mim é você)

And you for me

(E você para mim)

So happy together

(Tão felizes juntos)

–Vamos te levar para o trabalho, garota da cerveja preta. – falou, antes de pegarmos nossas coisas para sair.

Entrei pela porta do restaurante que tocava uma música animada de fundo. Trabalhei tranquilamente aquela noite, e dormi melhor ainda.

Me and you

(Eu e você)

And you and me

(Você e eu)

No matter how they tossed the dice

(Não importa como jogaram os dados)

It had to be

(Tinha que ser)

The only one for me is you

(A única para mim é você)

And you for me

(E você para mim)

So happy together

(Tão felizes juntos)

So happy together

(Tão felizes juntos)

How is the weather

(Como está o tempo?)

So happy together

(Tão felizes juntos)

We're happy together

(Nós somos felizes juntos)…


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Notas finais do capítulo

RÉPI TCHUGUÉDEERRR :B
Adoro essa música, mas não sei se o capítulo está a altura!
De qualquer jeito, espero que tenham gostado!
Deixem um amor, um ódio (bem pouquinho), uma opinião ou erros de digitação!
Um abraço!



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