Elements escrita por Jowlly


Capítulo 5
Casa na Árvore


Notas iniciais do capítulo

Heey, people!
Cá estamos nós com um novo cap., esse saiu bem grandinho, hehe...

Bem, boa leitura!



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– Vou procurá-lo.

As pessoas ali presentes pareceram até mesmo orgulhosas da minha súbita decisão, mas sinceramente, eu me sentia mais perdida do que ele. O lugar havia sido me apresentado no mesmo dia, provavelmente eu nem o conhecia inteiro. Por onde diabos eu ia começar com aquilo? Ah, por favor...

Aliás, eu nem sei o porquê do sumiço dele. Era por algo que eu perguntei? Por eu ter ficado curiosa e exigido explicação do por que dele me tratar daquele jeito? Ah, mas que garoto de maior frescura! Vai ficar de “mimimi”? Então deixa ele ficar de “mimimi”, ué! Mas não, a Sofia tem que ir falar com ele, a Sofia tem que se desculpar, a Sofia tem que acha-lo!

E com esses pensamentos um tanto quanto revoltados, entrei no elevador que havia acabado de chegar.

Apertei o botão da piscina, não sei exatamente o porquê, mas a vista é linda, e se eu escolhesse algum lugar para desaparecer temporariamente, teria escolhido a cobertura. Mas quando o elevador chegou nesta, constatei que Drake não é eu, e que não pensamos igual.

Por isso, sem muita demora – quanto antes acabar aquilo, antes eu vou fazer o treinamento de noite, e antes eu vou dormir – apertei o botão do segundo andar e logo adentrei-o.

Não tinha ninguém treinando nas quadras, mas tenho que dizer que acabei por ficar surpresa quando vi uma garota loira diminuir e aumentar o seu próprio tamanho consecutivas vezes em uma das cabines de treino “solo”, e, na cabine ao lado, um garoto de cabelo branco, aparentando ter minha idade, após encarar por alguns segundos um tijolo em um canto da cabine, o tijolo simplesmente desapareceu, desfazendo-se em pó.

Eu fiquei um tanto quanto espantada com aquilo. Qual seria o poder daquele cara? Para onde o tijolo tinha ido? E se ele fizesse isso com uma pessoa? Balancei minha cabeça ferozmente, como se isso fizessem os pensamentos ruins pularem para fora dela. Os dois estavam tão concentrados que pareceram não notar minha presença.

Logo eu voltei a procurar o meu parceiro. Passei no quinto, no quarto e no terceiro andar, e simplesmente não existia sinal de vida do Drake. Dei uma última checada em todos antes de voltar para o refeitório, e encontrei Karen no quarto andar. Se ia mesmo passar meu tempo procurando-o, precisava de ajuda.

– Hey, Karen – Falei logo me aproximando.

– Hey, Sofi – Ela respondeu no mesmo tom.

– Você sabe onde fica o quarto do Drake? – Seria muita bobagem minha não perguntar aquilo.

– Ah, claro, me acompanhe – Ela falou, direcionando-se ao outro lado do corredor em que estava.

Parou em frente a uma porta cujo número era quarenta e cinco. Vinte números a frente do meu quarto.

– Bem, é aqui. Mas eu não acho que ele esteja, viu?

– Tudo bem... Obrigada de qualquer jeito...

Ela apenas consentiu com um sorriso:

– Boa sorte. – Ah, sim, eu iria precisar de sorte.

– Obrigada. – Agradeci. Então, com um sorriso fofo estampado no rosto, ela entrou no elevador e me deixou sozinha em frente à porta do quarto dele. Segurei a maçaneta e respirei fundo. Girei-a e, por sorte ou por coincidência, ela estava destrancada.

Apesar de tudo, eu realmente não esperava encontra-lo no quarto, por isso não me surpreendi quando abri a porta e o encontrei vazio.

Fechei-a assim que entrei nele. Não queria que ninguém visse uma garota entrando no quarto de um garoto, ou melhor, não queria que ninguém me visse no quarto de Drake, especificamente.

Eu achava que os quartos eram diferentes, sendo mais exata, eu achava que o quarto do Drake fosse muito diferente do meu, mas na verdade, era bem parecido. Do lado esquerdo, um beliche, a cama de baixo estava arrumada, mas quando fiquei nas pontas do pé, vi que na de cima ele não havia nem se dado ao trabalho de arrumar o lençol direito. O guarda-roupa de portas espelhadas era o mesmo. No meu quarto havia um pequeno sofá com uma mesinha de centro, já no dele havia uma escrivaninha de madeira próxima da parede. Andei ate ela.

Não havia nada de muito interessante: um notebook fechado, uma caixa de headphone aberta ao seu lado, algumas folhas de rascunho e canetas, lápis e borrachas espalhadas, de forma despreocupadamente desorganizada.

Estava para desistir de procurar por lá quando acidentalmente pisei em algo duro. Caído no chão entre a escrivaninha e a parede havia um porta-retratos. O lado da foto estava para baixo. Movida pela curiosidade peguei-o evitando um ou dois cacos de vidros.

A madeira estava velha e um pouco mofada, o vidro que cobria a foto estava totalmente rachado e quebrado no meio. Com certeza estava há muito tempo ali. Parecia que ele havia caído e Drake não tivesse nem ao menos sentido sua falta, como se aquilo não fizesse diferença. Ou então, pelo estado do vidro todo rachado, parecia que ele havia o jogado contra a parede e não ligou em pega-lo de volta.

Por algum motivo fiquei preocupada com aquilo. Não com o estado do porta-retratos, mas sim com a foto que havia nele. Todo mundo pode jogar um porta-retratos contra a parede se quiser ou em um ataque de raiva, claro que, a maioria das pessoas se arrependia e depois pegava de volta, mas não porta-retratos com a foto de uma família feliz. Não porta-retratos com a foto de sua família. Bem, era o que eu achava.

Um nó se formou sem permissão em minha garganta. Quanta compaixão eu poderia sentir por aquele idiota? Por que eu estava ali na verdade?

Enquanto olhava para a foto pensei se aquela poderia ser a família de Drake. Se fosse, porque ele havia esquecido ela no chão? Ele era um idiota! Bom... Na foto, ele não parecia idiota.

Ele deveria ter doze anos. Estava de costas para uma casa bonita, com o jardim verde e florido. A sua direita havia um rapaz um pouco mais velho que ele, no chute, eu diria uns catorze anos. Seu cabelo era um pouco mais escuro que o de Drake, os seus olhos... ah, os seus olhos cor de mel eram os mesmo. Sem dúvida, aquele devia ser seu irmão mais velho. Atrás dos dois havia duas pessoas, um homem e uma mulher, que, obviamente deviam ser os pais.

A mulher sorria de forma dócil e frágil, seu cabelo negro deveria ir ate sua cintura, mas era um pouco difícil dizer, eles estavam balançando, os seus eram olhos azuis. Seu marido a abraçava de forma carinhos com um dos braços e com o outro acariciava os cabelos de Drake. Ele era um pouco mais alto que sua mulher, seus cabelos eram castanhos e seus olhos cor de mel. Drake parecia ser uma copia de seu pai.

Naquela foto eles pareciam tão felizes... Pareciam completos. Aquela era a felicidade de uma normal família americana. O que será havia acontecido para Drake se tornar tão... infeliz e frio?

Na foto ele estava com um sorriso tão terno, contente e alegre. Dava inveja ver aquela foto. Fazia parecer que meus melhores momentos nem haviam sido tão felizes assim, o que, sem dúvida nenhuma, era mentira.

Sai de meu estado de transe e botei o porta-retratos deitado em cima da escrivaninha, tentando não me importar com tudo o que tinha visto, ou melhor, pensado.

Felizmente minha concentração nunca foi ótima, então é fácil mudar meu foco com a maioria das coisas. Gosto de pensar que isso é “múltipla atenção”, não conseguir prestar atenção em uma só coisa.

Uma das gavetas da escrivaninha estava aberta. Nela havia um carregador de celular, então supus que seria ali que Drake guardava seu telefone e seu fone de ouvido. Mas nenhum dos dois se encontrava lá, o que significava que Drake não havia apenas saído para um passeio, como levou seu celular e o fone, em outras palavras, ele estava ouvindo música em algum lugar por aí enquanto eu o procurava que nem uma barata tonta.

Puxei um pouco mais a gaveta para ver se encontrava algo a mais, só que quem diria que ela estava meio solta? Bem, ninguém me disse nada, e por isso que, desajeitada como sou, acabei deixando a cair.

Temendo por ter chamado atenção de alguém do lado de fora, encaixei-a de modo rápido novamente no móvel. Como algum tempo atrás, algo me chamou atenção. Assim que encaixei a gaveta em seu devido lugar vi no fundo dela um papel totalmente amassado.

Insegura, o peguei e o desamassei para olhar melhor.

Era uma foto que havia sido amassada e desamassada inúmeras vezes, e, agora, pelo jeito, havia sido esquecida no fundo de uma gaveta. Uma foto a qual Drake nunca mais prestaria atenção, provavelmente. Aquele era um destino cruel para uma foto.

Drake não era uma pessoa exemplar com fotos. Mas aquela foto era nada mais nada menos que a foto de uma garota linda.

Talvez aquela fosse à garota que ele gostava. Talvez a garota que partiu seu coração. Ou apenas, uma melhor amiga que ele possa, ou não, ter perdido. Quem era ela? Ás vezes aquela foto poderia não ter importância, ou então valer o mundo. Mas de qualquer modo, ele havia a jogado fora, mas não havia se desfeito dela.

Novamente um nó na garganta formou-se sem minha permissão.

A garota estava sorrindo alegre, ela devia ter uns catorze anos ou quinze, seus cabelos eram ruivos e encaracolados, e apesar dos olhos estarem apertados por seu enorme sorriso, as cores dele eram claramente visíveis: eram verdes. Um verde incansável de se olhar. A foto havia sido tirada em o que parecia ser uma floresta, tão espontânea e natural que nos deixava com uma boa sensação. A mesma pergunta se formou novamente em meu interior: quem era ela?

Coloquei a foto no mesmo lugar que havia a encontrado, tentando acalmar meus ânimos. Aliás, quem se importava quem era ela? Eu com certeza que não.

Já exausta, sentei-me na cama de baixo e dei um longo suspiro. Parecia que nunca iria sair do lugar se continuasse naquele ritmo. Será que valia a pena ligar para a polícia e dar queixa de desaparecimento? Não, não, o que eu iria explicar? “Ah, um colega meu sumiu, e eu preciso dele para me treinar e me ensinar a usar meus poderes”. Ridículo.

Até pensei em ficar ali naquele quarto até apodrecer e o Drake voltar, mas ao julgar por toda a frescura dele, era capaz de dar até chilique por eu estar em seu quarto, humph.

Percorri os olhos pelo quarto mais uma vez, e como se não bastasse, algo mais me chamou atenção.

Um tênis. Um coturno, na verdade. Ele estava sujo de barro nas solas, era tanto que você conseguia ver de longe, estava um pouco molhado e grudado em seu bico, havia uma folhinha.

Levantei da cama espantando a preguiça e me abaixei até o tênis, pegando a pequena folha com a minha mão... Era de pinheiros, sem dúvida. O cheiro era inconfundível.

E... Onde tem pinheiros, água e barro? Óbvio, na floresta, claro.

Senti-me um pouco como um Sherlock Holmes versão feminina, ligando todas as pistas até chegar ao culpado, ou melhor, ao fugitivo. Se aquele tênis estava sujo de barro – e barro recente -, significa que ele já esteve na floresta, e se ele já esteve, existe uma remota possibilidade de estar agora também.

Sinceramente, as chances de eu estar certa não eram muitas, mas, bem, era o melhor que eu tinha até o momento. Então... por que não, né?

Sai daquele quarto e fui até o térreo, onde, discretamente, passei pela porta da frente e segui a trilha por onde eu havia chegado. Estava meio tarde, e se demorasse demais, ia escurecer. E ficar na floresta a noite não é o meu plano... Alem do mais, meu senso de direção é horrível.

Eu já estava andando fazia uns dez minutos quando, enfim, cheguei a um riacho. Eu me lembrava dele da primeira vez que havia passado, ou seja, ontem.

A água corria normalmente, ou quase... Em uma parte, mais ou menos no meio, ela diminuía drasticamente de velocidade, estranho... Na verdade, tinha algo ainda mais estranho. Ela não só diminuía de velocidade como parecia querer sair de seu leito, parecia querer seguir outra direção; não voltando, mas indo para o lado, ou da onde eu via, para frente.

Era como se fosse atraída por algo... ou por alguém. Talvez atraída por alguém que controlasse a água, não? Nada mais justo do que isso... E nada mais justo do que eu pensar ser o Drake.

Uma vez, no inverno, com a lareira acesa em casa, para que eu não morresse congelada (desde que descobri meu poder, percebi que ao contrário do que pensava, não estava imune ao frio, justamente o contrário: eu comecei a sentir o frio com maior intensidade), eu notei que parecia que o fogo estava querendo vir em minha direção.

No começo achei que fosse só alucinação, ou impressão... mas então eu realmente vi, até mesmo nas pequenas coisas, como nas chamas do fogão quando vamos fazer a comida, essa energia se inclinar na minha direção.

Não duvidava que acontecesse o mesmo com ele.

Tentei seguir aonde a água parecia querer ir, saltei por cima do riacho sem muita dificuldade e afastei as folhas que impediam meu caminho. Apesar de não existir nenhuma trilha lá, dava para perceber que alguém havia passado por ele recentemente. Fiquei feliz ao constatar que estava no caminho certo.

E ainda mais feliz depois de afastar todas as folhas e galhos da minha frente revelando uma clareira. A grama estava alta, crescida e selvagem, o lugar, obviamente, era cercado de árvores, mas não havia motivos aparentes por aquele canto não ter nenhuma.

Olhei em volta procurando alguma coisa, até que algo entre as árvores me chamou atenção. Aproximei-me um pouco, até que a minha visão e meu cérebro entrassem em sintonia, fazendo acreditar realmente no que eu estava vendo. Uma casa na árvore.

É o sonho de toda a criança ter uma dessas, inclusive, era o meu também, mas tampouco havia sequer chegado perto de alguma. E agora ela estava lá, reluzente, ao mesmo tempo do que claramente antiga.

Era bem simples, nenhum luxo ou coisa do tipo, apenas um pequeno espaço de madeira, teto, uma escada de corda para subir e nada de mais.

Sem pensar duas vezes, fui até a corda e subi, mesmo que com um pouco de medo de cair, ou se aquilo iria mesmo me segurar. Passei por um “buraco” no teto justamente com essa função e com um impulso de corpo e braço, consegui subir.

Entrei na casa em que nem porta tinha e o susto não foi menor.

Drake estava lá dentro, mas assim que sentiu minha presença, abriu seus olhos e tirou o fone de ouvido com a mesma velocidade de um piscar, em seguida, encarou-me com o rosto mais indignado do mundo.

Se eu não estivesse tão apavorada por sua expressão, provavelmente teria rido.

– O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? –Bradou.

– Você sumiu... – falei o óbvio.

– O que é que... – ele parou de falar, respirou fundo e encarou meu rosto novamente, comecei a ficar preocupada, ele estava realmente irritado. - O que é preciso fazer... – começou calmo – para conseguir um pouco de privacidade!! – ele praticamente gritou a última parte.

Eu pensei seriamente em descer daquele lugar e deixa-lo mofando lá, sem a intensão de voltar, mas se fizesse isso, Lauren provavelmente iria me dar uma bronca e talvez um castigo, e, bem... Não quero receber um castigo dela.

– Calma! – gritei sendo hipócrita, já que eu mesma não estava calma – Olha, me pediram para ir te procurar porque você sumiu, e eu vim!

– Como você sabia desse lugar? – ele continuava bravo, independente do que eu falasse.

– Não sabia...

– Como o achou?!

– Seguindo as pistas, oras... – cruzei os dedos para que aquele interrogatório parasse, mas minhas preces não foram ouvidas.

– Que pistas? –dessa vez, ele parecia meio espantado.

– Bem, no seu quarto tinha um coturno com barro, e eu pensei que você pudesse estar na floresta, até que eu vi o riacho, e a água parecia estar sendo atraída para uma direção, então deduzi que assim como eu, você atrai seu elemento, daí eu só andei um pouco e encontrei essa clareira e em seguida essa casa na arvore.

Ele parecia espantado, mas quando ouvi a sua próxima fala, tive certeza de que ele tinha parado de ouvir em “no seu quarto”.

– Você entrou no meu quarto? – ele parecia ainda mais indignado. Justamente a pergunta que eu não queria responder.

– Entrei... mas foi só porque já não tinha mais nenhuma opção. Já havia te procurado por todo o lugar. Eu não fiz nada demais, só vi o coturno!

Sim, eu havia mentido. Como é que eu iria explicar que havia visto a foto da garota ruiva amassada ou ainda a foto de sua família no retrato quebrado?

Ele me lançou um olhar de reprovação tão grande que me arrepiei. De repente, comecei a ficar com mais frio e me envolvi em um abraço solo.

Não era a primeira vez que aquilo acontecia, e eu também não gostava de admitir... mas eu meio que sentia a presença do Drake. Eu havia me tornado mais suscetível ao frio, e, bem, Drake me deixava com frio, ele tinha uma aura gelada, pelo que parecia, provavelmente tinha a ver com o fato de ser usuário de água...

Perguntei a mim mesma se o contrário acontecia com ele também, mas não era um bom momento para entrar no assunto.

– Você pode me deixar em paz, por favor? – perguntou, dessa vez já mais calmo.

– Não. – Respondi em automático, ele me lançou mais um olhar, só que de raiva...

Antes que pudesse falar alguma coisa, interrompi-o:

– Volta para lá, já ta escurecendo e não é bom ficar aqui sozinho. Além de que vamos treinar ainda, hoje a noite, não se lembra?

– Não estava me referindo a me deixar em paz agora, mas para sempre, no geral. – o modo que ele me falou isso me deixou um pouco mal e pouco irritada. Foi tão frio, tão indiferente...

– Claro. Eu te deixo em paz na medida do possível. – fui o mais sincera que consegui sem ser grossa.

– Como assim, “na medida do possível”? – o modo arrogante voltou.

– Somos parceiros. Por mim eu não veria mais sua cara, mas não é assim que funciona. – dessa vez, fui realmente grossa. Senti chamas pinicarem as pontas dos meus dedos, pedindo para serem liberadas, mas não permiti.

Ele revirou os olhos e suspirou, e entre uma troca de olhar, decidimos que já estava na hora de voltar. Chegamos ao prédio poucos minutos antes do sol desaparecer entre as montanhas e deixar o céu escurecer novamente.

– Vamos treinar agora, depois jantamos. Tudo bem para você? – estava tentando ser simpático, o que era bom, mesmo que obviamente contra a sua vontade.

Quem sabe o ato de eu ir procura-lo tenha feito um pequeno peso na consciência dele?

– Está tudo bem, mas, por favor, não exagere.

Ele deu um sorriso de canto de boca, dessa vez, sem nenhum traço de maldade ou aquele divertimento suicida que ele esboçou durante o treino da manhã, o que de certa forma me aliviou. Antes mesmo do treino começar, eu já estava cansada.

Ambos estávamos na quadra, novamente, preparando-nos.

Eu dei um longo suspiro, esperando o que estava por vir, se da primeira vez havia sido difícil, não queria nem ver agora.

– Certo, a sorte é que nossos poderes são opostos, – “sorte”? – então fica mais interessante. Faremos assim, a todo jato d’água que eu jogar, você vai se defender.

– Como, se fogo não pode com água? – Falei de modo natural, mas depois que vi o sorriso que ele deu, reparei na cagada que havia dito. Basicamente me rebaixei a ele.

– Mas água também não pode com fogo... ela evapora, sabe? Aulinhas de ciência... – falou devagar, como se eu fosse uma retardada.

Ta, ok, ok, eu realmente não havia pensado naquilo, mas poxa... Para algumas coisas tenho raciocínio rápido, mas não para todas...

– Certo, entendi! – falei ficando irritada, então, claro que as chamas quiseram passar do meu interior para o exterior. Dessa vez eu não as reprimi.

Ele deu um sorriso de canto de boca ao ver minha mão já em fogo. Em uma velocidade quase que maior do que podia acompanhar, ele me lançou um jato d’água. Ao mesmo tempo, eu fiz um tipo de escudo de fogo, aos dois elementos se chocarem, um barulho estranho junto com o vapor insistente surgiu.

Antes que eu pudesse ver com clareza novamente, ele me mandou outro, dessa vez não fui rápida o suficiente e acabei encharcada. Seu sorriso foi vitorioso.

Mas se ele conseguia jogar daquele modo, eu também conseguia. Senti a água evaporando de meu corpo, que ficava cada vez mais quente, então lancei a ele uma coluna de chamas, que por pouco não foi apagada...

Com o tempo, ficávamos cada vez mais espertos, e o “jogo” ia ficando cada vez mais difícil, até que depois de pelo menos uma hora e meia, entramos em um consenso e decidimos parar. Apesar do cansaço, eu parecia bem menos um trapo do que antes.

Saímos da quadra, Drake se espreguiçou, esticando o tronco e apertando os olhos, fazendo uma feição um pouco engraçada.

– Drake... – chamei-o.

– Oi. - Ele olhou para mim. Ao contrário de mais cedo, não estava tão bravo ou irritado. Ele parecia... normal. É, pela primeira vez normal, sem estar tentando ser legal ou chato...

– Sobre a casa da árvore... quem mais sabe? Como você sabia dela?

Ele torceu a boca e revirou os olhos para cima, como se pensasse se deveria me contar.

– Ninguém mais sabe. E não quero que saibam. Por isso, espero que não conte a ninguém – me lançou um olhar significativo, do qual entendi completamente – E eu descobri uma vez, quando estava meio cansado, meio mal, e resolvi sair para dar uma respirada, acabei chegando até o córrego e andei um pouco mais para frente... então achei uma casa da árvore. Não sei muito sobre ela, mas até onde entendi, foi feita pelas outras gerações de Conventionis, mas logo esquecida e abandonada.

– Ah... entendi. E você estava lá porque...

– Porque queria um tempo. Pensar um pouco, sabe? – ele falou enquanto entrávamos no elevador.

– Ah, sei.

Ficamos em silêncio até chegarmos ao refeitório, indo direto pegar a comida e depois nos sentando com os outros.

– Ah, vocês estão aí! – Peter comentou, enquanto botava na boca mais uma garfada de carne.

– Uhum, eu o achei, afinal de contas.

– E onde ele estava? – Lauren indagou.

Gelei por um segundo, mas Drake respondeu por mim.

– Nós meio que nos desencontramos por um tempo, eu não estava em só um lugar...

Seu tom de voz deixou claro para não voltar nesse assunto, e todos perceberam.

A janta não demorou muito, nela, apenas alguns comentários engraçados e piadas feitas por Peter, onde todos riam, o que nos animava um pouco. Eu me sentia cada vez mais cansada pelo dia.

Depois que todos se foram, antes que subissem, consegui chamar Karen. Ela havia se mostrado uma boa amiga hoje, quando fazíamos as compras, e eu tinha que esclarecer algumas dúvidas com ela.

– Karen...

A morena se virou para trás, fitando-me com seus olhos verdes de dar inveja.

– Diga!

– A gente pode conversar?

Ela pareceu não se incomodar, disse que sim e então fomos até os sofás, onde sentamos e ela me esperou dizer.

– É sobre o Drake... – mal terminei a frase ela já me lançou um olhar malicioso!

– Hmm... ta gostando dele, né?

– O quê?! Nem a pau!

Karen gargalhou, senti meu rosto esquentar sem motivo.

– Eu só queria saber por que ele me trata assim, meio mal ás vezes, sabe?

– Ah... isso... – um pouco mais cedo ela havia dito que ele era naturalmente estranho, mas não me contentei só com essa reposta – Olha, quando nós fomos falar com ele e chama-lo para Conventionis, ele não falava nem comigo e nem com a Lauren, só conversava com os outros garotos, principalmente com Peter, que hoje é seu melhor amigo... e só depois, com o tempo, que ele viu que podia confiar em nós duas e começou a falar mais, só que ainda sim sinto que ele é meio distante.

– Está dizendo que ele não se da bem com garotas?

– Bom, pelo menos é isso que eu notei. Ele foi muito vago no que aconteceu com ele, só sei que ele tinha uma família... e hoje não tem mais. – senti de novo um nó na garganta ao pensar na foto emoldurada... Quantos nós na garganta havia sentido hoje, aliás? – Não tenho respostas sobre o lance dele com garotas em geral.

Fiquei um pouco pensativa, mas não sabia bem no que achar de toda aquela história, eu não conseguia ligar bem os fatos.

– A minha dica é que você mostre que ele pode confiar em você, assim ele vai se sentir mais confortável, e logo passará a ser mais legal.

– Bem, obrigada Karen! Me ajudou bastante... – sorri e ela retribuiu o sorriso. – Mas ainda tenho dúvidas nesse lance de parceiros... o que isso significa? Quem decide? Podemos mudar?

Karen levou um pouco de tempo para processor tudo, mas logo respondeu.

– Parceiro é alguém que vai te ajudar a treinar, geralmente eles estão sempre no mesmo nível, tem poderes inversos ou compatíveis, coisas parecidas. Toda a Conventionis é meio que dividida em sub-grupos, cada qual com seis integrantes, o nosso, até então, tinha cinco, e quando você chegou, Lauren logo te colocou com Drake, que era o único sem nenhum parceiro. Ela que decidi tudo por aqui, já é veterana, assim como Ryan. Aliás, eles são parceiros, e o meu é o Peter.

– Ah, entendi.

– E não, não podemos mudar. Por isso que é melhor vocês se darem bem...

Confirmei com a cabeça, rindo um pouco.

– Aliás, eu nem te perguntei... qual o seu poder e dos outros?

Karen abriu um sorriso.

– Levitação. Não só me levito, como os objetos ao redor. É bem útil no dia a dia – arregalei os olhos, aquilo sim era legal! – De Peter é poder mudar as consistências das coisas ao seu redor, e de si mesmo. Ele pode ficar mais sólido que uma rocha, se quiser...

– Nossa, que legal.

– Uhum. Ryan tem invisibilidade, podendo até atravessar objetos sólidos e Lauren tem o poder mais raro, mas não menos interessante: ela “cria matéria”, pode criar escudos, segura-los com muita concentração, armas... mas é por pouco tempo, e dependendo da concentração podem ser fáceis de destruir...

– Uau. Interessante.

– Mas nenhum é tão raro quanto o seu e o do Drake...

– Sério?

– Ahã, muitos poderes se repetem, mas ninguém nunca viu o de vocês. Talvez foi por isso que Lauren optou por esperar o par ideal para o Drake, alguém com o poder de elementos também. E bem, esse alguém foi você.

Senti-me até mesmo um pouco chocada com a resposta, quem diria...

– Muito obrigada, Karen! – agradeci, enfim.

– Certo, fico feliz em ajudar! Eu já vou dormir, lembre-se que o toque de recolher é as dez... – me deu um beijo na bochehca de boa noite e subiu.

Eu ainda fiquei um pouco mais de tempo no sofá, era tudo muito novo para mim e precisava digerir as coisas. Sem ao menos reparar, um garoto se aproximou de mim... logo eu o reconheci. Era o cara que desintegrou o tijolo.

– Oi. – Falou – Posso me sentar?

– Oi, claro, sente-se! – Sorri.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Gostaram dos poderes das outras pessoas?
Quem vocês acham que é o garoto de cabelo branco?

Vejo vocês nos reviews!