Elements escrita por Jowlly


Capítulo 11
Noite das Garotas


Notas iniciais do capítulo

Yeeeey!
Viram? Esse capítulo até que saiu rapidinho, hahah!

Boa leitura!



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Drake realmente se preocupou comigo.

Isso era incrível de se dizer e ao mesmo tempo inacreditável. Um desconforto interno foi me tomando. Ele havia se preocupado comigo e quando me achou, onde eu estava? Ah, claro, eu estava beijando outro cara... estava “curtindo”. Isso deixaria qualquer um meio para baixo.

Fiquei meio mal e para tentar desconcentrar-me disso, resolvi treinar em uma daquelas cabines individuais, onde ainda não tinha treinado. Ao chegar ao segundo andar, notei que, além de mim, havia só outra garota que eu não conhecia, ela estava de olho fechado, parecendo concentrada, mas nada de “anormal” acontecia, resolvi nem prestar mais atenção.

Abri um daqueles cubículos, nem pequenos nem grandes, e entrei. As paredes eram de vidro, mas nada dava para se ouvir. Silêncio total.

Invoquei uma chama que apareceu com facilidade sob meus dedos. Comecei a brincar com ela, passando-a para a minha mão e aumentando-a. Eu não sentia tanto calor quanto devia, obviamente. Aproximei-a do meu rosto e examinei o fogo mais de perto.

Era algo até interessante, engraçado e, sem dúvida, fascinante. Ele movia-se quase que com a leveza de um gás, tinha cores bonitas e ao mesmo tempo parecia tão instável... Coloquei minha outra mão por cima com a intensão de apagar a chama, assim foi feito.

Logo em seguida, estalei os dedos e neles um novo fogo surgiu. Era até divertido ficar brincando desse modo, nunca tive muita oportunidade de fazer isso. Olhei para a parede na minha frente, essa era de concreto.

Concentrei-me e lancei uma grande coluna de fogo para ela, durou apenas por cinco segundos, até que eu perdesse a energia e tivesse que parar para me recompor. A parede, onde o fogo havia atingido, tinha ficado com uma grande mancha preta. Sorri para mim mesma.

Tentei novos modos de fazer o fogo surgir. Concentrei-me, olhando fixamente em um ponto do chão, e após alguns segundos, a chama logo brotara. Não foi difícil fazê-la ficar maior e maior, até que ficasse quase da minha altura. Lembrei-me de algo que o Drake havia feito com a água e tentei repeti.

Estendi a minha mão a fogueira e com um único pensar, consegui fazer com que aquele fogo logo fosse retomado a mim, com um pouco mais de treino, percebi que poderia fazer aquilo em questões de segundos se quisesse, mas decidi ir com calma.

Foi uma das únicas vezes que, envolvendo meu poder, eu realmente senti calor. Quando aquele fogo voltou para mim, pareceu que me aqueceu internamente, de certa forma, como se tivesse retomando minhas energias. Não pude deixar de ficar contente, era uma boa sensação.

Resolvi tentar ainda outras coisas, treinando diversos modos por algum tempinho, e, sem dúvida, o que eu mais gostei de fazer foi soltar fogo pela boca, como se eu estivesse soprando-o.

Quando senti meu corpo ficar cansado, decidi que daria um tempo. Ao sair do cubículo, notei que agora eu era a única dentro do 2º andar e quando olhei no relógio preso acima do elevador, um relógio grande digital, entendi o porquê. Já era hora do almoço.

Peguei o elevador e, ao chegar à entrada do refeitório, notei que ele estava cheio novamente. Ao longe, vi a mesa onde meus amigos estavam e sentei-me lá, cumprimentando-os.

– Oi, gente!

– Oi, Sofi. Eu ia te chamar, mas você parecia tão concentrada que decidi não te atrapalhar... – Karen comentou.

– Sem problemas. – sorri reconfortante, ela correspondeu o sorriso. – Daqui a pouco eu pego a comida, só a fila que está muito grande... – Avisei, mas eles pareciam mais concentrados no próprio prato.

A mesa estava em silêncio, não entendi bem por que.

Quando a fila havia diminuído, levantei-me e fui pegar minha comida. Prato básico: arroz, salada e filé de frango. Quando voltei à mesa, todos ainda se encontravam do mesmo jeito. Estranhei.

– O que houve, gente? – não resisti e perguntei.

– Nada. – Peter e Karen responderam juntos, mas nenhum dos dois para mim. Eles mentiam muito mal.

Encarei de modo suplicante para que Lauren esclarecesse minhas dúvidas. Ela largou seus talheres e deu um breve suspiro, então me encarou com seus brilhantes olhos azuis.

– Sofia, contaram-me que Max lhe convidou para sair e você aceitou, certo? – seu tom de voz, assim como sua expressão, estavam sérios.

– Ah... sim, é verdade. – comecei a entrar na defensiva.

– Ninguém pode lhe dizer com quem sair e com quem não sair, mas é um conselho, cuidado ao se envolver com ele. Maxell não é muito confiável... – Ela havia deixado à frase no ar, mas aquilo não bastava para mim.

Comecei a ficar um pouco nervosa. O Max é um anjo! Mega confiável. O que havia acontecido para que ninguém gostasse dele?

– O quê?! Por quê?! Por que todos vivem dizendo isso?! Ninguém sequer me explica o motivo disso! Ele é uma ótima pessoa e não há como me convencer do contrário!

Deu para perceber que a mesa ficou desconfortável, parecia que ninguém queria relembrar o que tinha acontecido... Se é que aconteceu algo, mas... Eu precisava saber.

– Por causa dele, nos metemos em uma grande confusão e perdemos uma grande amiga. Mas não entrarei em mais detalhes, prefiro que você pergunte a ele, e que ele te diga. – Pela expressão seria e um pouco abatida de Lauren, percebi que o assunto havia se encerrado ali, mas eu também não insistiria mais. Ela estava certa, se existia alguém por quem eu tinha que saber, esse alguém era o próprio Max.

Decidi que eu o perguntaria sobre aquilo no dia do encontro. Na verdade, eu estava bem ansiosa para chegar o dia, mesmo não fazendo nem ideia do que vestir e etc...

O resto do almoço foi bem silencioso e ás vezes sentia o olhar de Drake pesando sobre mim, deixando-me desconfortável, mas quando olhava de volta, ele já estava encarando a comida novamente.

Por falta de apetite, nem mesmo repeti. Levei meu prato até a cozinha e ajudei meus colegas a lavar a louça, apesar da quantidade, pelo fato de ser bastante gente não demorou muito para que tudo estivesse limpo e em seu devido lugar.

Subi para o meu quarto e me joguei na cama. Ao sentir o impacto do colchão com as minhas costas gemi de dor. Havia até mesmo esquecido da ferida, mas ela ainda não tinha se curado totalmente. Não me movimentei por um bocado de tempo, apenas olhando o teto branco e sem saber ao certo o que fazer.

Minha preguiça era maior do que tudo. Vetei meus pensamentos que estavam a mil e resolvi não me concentrar em nada especificamente.

Com um impulso um pouco dolorido, olhei para a minha imagem no espelho do guarda-roupa e dei um suspiro. Meu cabelo estava realmente grande, muitas vezes isso me incomodava. Prendi-o em um coque assim que achei um elástico no meio das minhas coisas. Sem dúvida, assim que tivesse a oportunidade, iria corta-lo.

Estava quente. Eu usava um short jeans e uma regata amarela leve, além dos típicos chinelos, calçado que mais ficava no meu pé. Parecia estar mais pálida do que o normal, sem contar que meus olhos estavam mais cansados.

É incrível como sua vida pode mudar de um instante para outro, não? Basta agarrar tal oportunidade. E quem diria que por tal ato, tantas dúvidas minhas seriam respondidas, ao mesmo tempo em que tantas outras seriam criadas.

Talvez, se nada disso estivesse acontecendo, eu teria tentado o vestibular de pedagogia, meu sonho desde o ensino médio foi lecionar crianças. Talvez se não desse certo, eu iria fazer arquitetura... Ou tentar pela música. Talvez, talvez e mais talvez. A verdade é que tudo isso é o meu maior “e se”. E se nada disso tivesse acontecido?

A verdade é que talvez o que mais me assusta no momento é o futuro. E depois de tudo isso? Terá um depois? O futuro nunca esteve tão incerto quanto está agora.

Lembrei-me das minhas colegas do colégio, o que elas estariam fazendo hoje? Será que também se lembravam de mim? Será que voltaram a me procurar? Pode ter sido a melhor ou a pior coisa eu ter me afastado tanto assim de todos por causa da morte dos meus pais.

Passei os olhos pela mesinha da sala e achei o embrulho que Max havia me entregado. Fui até ele e tirei o colar do papel de presente. Ele era extremamente lindo, a pedra de diferentes cores parecia brilhar. Tirei o meu atual colar e guardei-o nas minhas coisas, logo, afastei o meu cabelo e coloquei o colar de Max.

Após ter colocado, admirei-o sem tirar os olhos do espelho. Havia ficado lindo em mim, como um presente ideal.

Duas batidas na porta despertaram-me de meus devaneios. Falei para a pessoa entrar.

Pela primeira vez, ela não entrou na sua comum animação, Karen, na verdade, parecia até mesmo um pouco cabisbaixa.

– Oi... – Ela falou desanimada com um sorriso meio triste.

– Oi – Respondi com um sorriso animado tentando levantar seu humor. – Aconteceu algo?

– Não. Só vim ver se você estava bem... – ela continuava encostada no batente da porta.

– Sim, eu estou... – Estranhei a pergunta até lembrar-me da cena no almoço. – Não se preocupe com isso. Eu sei me cuidar. – sorri, tirando um sorriso dela também.

– É, a gente sabe.

Ficamos um segundo em silêncio até ela lembrar-se de outra coisa para comentar.

– Ah, e aí? Noite das garotas hoje? – seu sorriso havia voltado a ficar de ponta a ponta.

– Sim, hoje sim! – comentei rindo um pouco.

– Finalmente, né? Hahaha.

– Pois é...

– Vai ser no meu quarto, ok? Vamos logo depois da janta. A Lauren vai também, mas ela nunca fica até o fim nesses casos, tipo, sempre tem uma “inconveniência” e ela tem que sair. – a morena revirou os olhos, fazendo com que eu risse.

– Ta bom.

Ela foi virando para sair, mas parou de repente.

– Ah, o Drake tá te procurando. – e logo depois foi embora.

Drake? Procurando-me?

Não demorei muito para simplesmente sair do quarto e ir atrás dele. Felizmente, no primeiro lugar que eu fui, era onde ele estava. Acho que tanto eu quanto ele gostávamos de ficar na cobertura.

– Oi... A Karen disse que você estava me procurando... - Falei enquanto me aproximava dele - Quer falar algo comigo?

– Ah, oi. – ele não desviou seus olhos da paisagem. – Eu só queria te avisar que hoje não vamos treinar. Melhor você terminar de se recuperar, ok? – finalmente, seus olhos âmbar encontram-se com os meus.

– Ah, entendi. Mas eu não estou tão ruim assim...

– Só não está bem o suficiente para treinar. – ele deu um sorriso de lado. Sorri também, revirando os olhos.

Voltamos, dessa vez ambos a encarar a paisagem.

– Drake... – chamei-o, depois de um tempo em silêncio. Como não houve resposta, eu continuei. – Você pensa assim nisso também? Quer dizer... Sobre o Max?

– Eu cheguei depois desse tal acontecimento, não ouço muitas coisas boas ao seu respeito e também nunca me aproximei dele. Não sei te responder com clareza...

Não falei nada. Pelo menos alguém era neutro sobre ele, senti-me contente e até mesmo surpresa. Se alguém fosse neutro, não imaginava que fosse justo o Drake.

Sem dizer mais nada, peguei o elevador e desci até o meu quarto, novamente. Não tinha muito que eu pudesse fazer, mas não estava reclamando disso, eu queria mesmo um tempo justamente para isso: não fazer nada.

Peguei um livro qualquer da estante e comecei a lê-lo. Quando eu vi, já era hora do jantar.

O ambiente da mesa estava mais descontraído do que de tarde, o que era bom. Peter fez algumas piadas, das quais nós rimos, o refeitório todo conversava e, novamente, o tempo passou depressa. Depois de ter lavado a louça e tomado banho - tomando cuidado com os machucados mais profundos que não haviam fechado ainda -, coloquei meu pijama e fui até o quarto da Karen.

Ela me atendeu com a sua típica alegria e logo me puxou para dentro.

– Até que em fim, né, garota! Demorou, hein?

– Eu? Demorar? Imagina! – comentei rindo.

– É! Já tava vendo se não estava colocando seu vestido de noiva... – ela revirou os olhos e nós rimos. Lauren já estava sentada lá. Acho que foi a primeira vez que a vi mais calma, e até mesmo relaxada. Ela acenou com a cabeça e eu retribuí.

Karen me jogou uma almofada e nós sentamos no chão, ao lado de Lauren. Ambas estavam me olhando ansiosas, como se eu que devesse começar a falar.

– Que foi? – perguntei tímida.

Elas se entreolharam e deram um sorrisinho. A morena foi a primeira a se pronunciar, claro.

– Queremos saber do Max, oras!

– Achei que não gostassem dele...

– E não gostamos. – Lauren esclareceu – Mas se você gosta e quer mesmo ficar com ele... Precisamos saber dos mínimos detalhes! – seu sorriso no final fez com que eu me sentisse mais confortável.

– Ta bom, ta bom! – suspirei antes de começar a falar.

A verdade é que fazia tempo que eu sentia que não tinha amigas de verdade, mas dessa vez parecia ser diferente. Elas me passavam um ar de extrema confiança, eu sabia que podia contar com as duas. Nunca me senti tão parte de uma família desde que havia chegado lá.

– Sim, nós nos beijamos. – antes que eu pudesse continuar, fui interrompida por um gritinho histérico de uma inquieta Karen e uma risada de Lauren - E... bem... Na verdade, ele meio que “me obrigou”... – sorri ao lembrar-me da cena. Ele não tinha me obrigado de verdade, e, realmente, eu havia gostado da surpresa. Vi o ponto de interrogação na cara das duas e continuei. – Nós estávamos nadando lá nas cachoeiras, quando, de algum modo, meu short se perdeu e ele conseguiu pegar. Para que eu pudesse ter meu short de volta, teria que ficar devendo algo a ele... que no caso, bem, foi o beijo. – ao terminar, senti minhas bochechas corarem.

As duas se entreolharam com um sorrisinho cômico e depois me fitaram de volta, como se esperassem que eu continuasse.

– É só... viram? Nada de especial...

– E ele beija bem? – Karen perguntou, me ignorando.

– Beija... muito bem. – meu rosto esquentou ainda mais ao me lembrar de como aquilo havia me deixado sem fôlego. Ambas as garotas riram da minha expressão. – Mas e vocês? Alguma de vocês tem namorado? – perguntei curiosa, aliás, elas já sabiam muito de mim e eu quase nada delas.

– Não. – responderam em uníssono.

– Ele é seu namorado? – Karen logo perguntou.

– Max?

– É.

– Não... ainda. – riram. – Mas vocês não gostam de ninguém? – ainda estava intrigada, era injusto só eu falar de mim!

Lauren riu e deu de ombros, assim como Karen. Parecia que era combinado, elas estavam fazendo exatamente a mesma coisa!

– Nem ligo mais para isso não, acho que com tanta coisa para fazer, namorar não é nem um pouco uma prioridade. – falou com seu típico tom de voz calmo. Sinceramente, eu não imaginava uma resposta muito diferente, apenas confirmei com a cabeça.

Tanto eu quanto a ruiva encaramos Karen a seguir.

– Faz tempo que eu não gosto de ninguém... – ela estalou a língua – No máximo do máximo, acho o cara até bonito, mas não chego a gostar... – deu de ombros mais uma vez.

– E quem é que você acha bonito? – perguntei sorrindo, ela logo sorriu junto.

– Ah... sei lá... – revirou os olhos – Drake, talvez...

O modo que ela falou fez com que nós três ríssemos.

– É, verdade, ele é bonitinho. – concordei. Nisso eu não podia negar.

Continuamos conversando de coisas aleatórias, quando o assunto se concentrava muito em mim, logo eu desviava a atenção e as fazia perguntas. A conversa em si nos rendeu boas risadas e eu também acabei me sentindo mais próxima delas.

Depois de algum tempo em silêncio, olhando para cima, resolvi puxar um assunto que me lembrei de repente, algo que por vezes já havia me deixado bem curiosa, mas até então não tinha tido coragem de perguntar.

– Gente... – chamei atenção das duas – Vocês disseram que todos passaram por várias coisas... desagradáveis.... no passado. O que houve com vocês duas?

Todas nós, que até então estávamos deitadas no tapete do quarto, sentamos. Quando as encarei, vi que seus semblantes haviam ficados sérios e até mesmo um pouco triste, me arrependi de ter perguntado, mas quando eu ia dizer que não precisavam responder, elas começaram a falar.

– Ah... como você pode imaginar... não são histórias muito bonitas... – Lauren deu de ombros. Nem eu nem Karen, que provavelmente já sabia, a interrompemos. – Fui abandonada no orfanato pela minha mãe, que depois eu descobrir ter sido vítima de estupro. O orfanato era mega rigoroso, cresci lá até meus nove anos, quando fui adotada por pessoas de péssimo-caráter... eles usavam crianças para trabalharem, literalmente, como escravas, e muitas acabavam adoecendo e morrendo... Fiquei um ano nesse lugar, até conseguir fugir, e sem saber o que fazer, acabei caindo em mãos erradas novamente, um criminoso que fazia tráfico de mulheres e crianças para outros países tentou me levar, mas eu consegui fugir novamente. Depois disso, parei em um colégio interno para garotas, mas nem lá era seguro. As que tinham dinheiro dominavam o colégio e azucrinavam, maltratando de verdade, as que não tinham, as novatas... e eu era uma delas. Fiquei três anos nesse colégio ate que fugi de novo. Virei artista de rua por um bom tempo... até que em uma noite, quando eu tinha catorze anos, tudo deu errado... Fui sequestrada, levei uma facada no abdômen e ainda roubaram tudo o que eu tinha. O engraçado foi que, quando denunciei isso para a polícia, após sair do hospital, descobri que a delegada era minha mãe biológica. Vivemos juntas pelos próximos meses muito bem, até eu chegar em casa, vê-la assassinada e um bilhete escrito em sangue na parede branca “não se meta onde não é chamada”, um tipo de vingança àquela denuncia, então, ao completar quinze, ganhei meus poderes e logo me acharam...

Ela falou isso com tanta naturalidade e com a voz tão fria que não poderia ter me deixado mais chocada. Eu estava totalmente boquiaberta. Como alguém poderia ter passado por tudo isso?

Consegui entender o porquê de ela ser a líder e até mesmo o porquê de ver as coisas com tanta frieza... De ambos os lados... Se fosse eu, tenho certeza que não teria aguentado nem um pouco, nem metade do que ela passou. Meu coração estava apertado e por pouco não senti meus olhos lacrimejarem.

Vi que Karen abriu a boca para comentar alguma coisa, mas logo desistiu. Ela encarava fixamente nos olhos de Lauren, perdidos, e eu tive a sensação de que faltava alguma coisa naquela história, mas jamais iria comentar alguma coisa, aquilo já era demais...

Seguiu-se um silêncio um pouco desconfortável, eu estava terminando de digerir tudo o que Lauren havia dito quando Karen começou.

– Bem... acho que a minha história é menos pior... – começou – Eu vivi normalmente até os treze anos com meus tios-avós, até que eles morreram de velhice – ela soltou um breve riso - na mesma época. No enterro deles conheci meus pais, na época em que eu nasci eles não tinham condições para cuidar de mim, então “me doaram” para quem mais confiavam, tanto que ainda adotaram outro garoto, já que queriam ter um filho e tals... eu passei a viver com eles em outra cidade e estava tudo indo as mil maravilhas, quando, com quinze anos, recebi a notícia que meus pais haviam morrido em um acidente de avião, daí sobrou só eu e meu irmão mais novo. Comecei a trabalhar para nos sustentar, fiquei muito próxima dele e ele acabou sendo meu porto seguro, fazia de tudo para fazê-lo sorrir, mesmo quando quem estava pior era eu mesma. Mas sabe... quando nós forçamos o sorriso todo o dia, ele acaba aparecendo de forma natural depois... Assim que completei meus dezesseis anos, meu irmão foi atropelado por um bêbado maldito dirigindo um caminhão, foi morte na certa. Ganhei meus poderes ao completar dezessete anos...

Meu coração se apertou ainda mais. Karen também havia sofrido bastante, todas as pessoas importantes para ela morreram. Vendo como ela é, jamais pensaria em algo do tipo. Sempre tão animada... divertida... otimista... De novo, percebi que se fosse comigo eu não aguentaria nem metade, não aguentaria nem chorando o que ela aguentou sorrindo.

Senti-me fraca... Fraca, pois a pior coisa que eu já enfrentei, e praticamente não consegui seguir em frente, não chega aos pés do que elas enfrentaram, e elas seguiram em frente. Elas nunca desistiram... e eu estava prestes a desistir.

Eu queria falar que minha história não chegava perto da delas, queria dizer que sentia muito pelo que havia acontecido, elogiar a força de vontade de ambas e consolá-las até não poder mais... queria ter feito alguma coisa para melhorar a vida delas anteriormente, mas passado é passado e não temos como voltar... Queria eu ser tão forte como elas foram.

Nenhuma das duas olhavam diretamente para mim, seus olhos estavam dispersos pelo quarto e o silêncio começava a ficar desconfortável, mas eu ainda estava em estado de choque.

De repente, ouvimos batidas na porta. Karen avisou que estava aberta e todas nós viramos em direção ao rapaz que tinha acabado de entrar. Minha cabeça ainda estava rodando, mas o que aconteceu em seguir logo desviou minha atenção.

– Lauren. Precisamos de você. – Era Ryan. Das poucas vezes que eu o ouvi se pronunciar, estava sempre sério. E dessa vez não era diferente.

A ruiva levantou-se e foi até fora do quarto, encostando um pouco a porta. Pude perceber que ele havia dito algo, mas não identifiquei o que era, a preocupação veio quando ouvi a voz de Lauren perplexa ao soltar um “O quê?!”. Karen e eu nos entreolhamos preocupadas.

Quando Lauren abriu um pouco mais a porta e olhou para nós duas, de cara pude perceber que algo havia acontecido. Algo nada bom. Seu olhar exalava preocupação.

– Temos problemas.


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Notas finais do capítulo

Yeeey!
Gostaram?
O que acharam do passado das garotas?
E o que acham que vai acontecer agora?
Por favor, comentem :3

Beijos e até o próximo!