Brasil - Rio de Janeiro – 2010

O sonho do meu pai era conhecer esse país, ele me disse uma vez que quando conheceu minha mãe em uma festa estava tocando uma música brasileira, ele se apaixonou por ela e pela cultura do país.

Tive que me mudar as pressas, então pedi pra um amigo comprar um apartamento e enviar meus pertences, ele me comprou um prédio em frente ao mar de presente de aniversário.

Detalhe: não é meu aniversário.

Detalhe ainda maior: eu não tenho 15 anos como dizia a faixa “Parabéns pelos seus 15 anos, com amor Tony”, pendurada no prédio, com certeza não foi a Pepper que mandou Tony fazer isso, ela é mais atenciosa.

Quando cheguei, meu apartamento já estava organizado, graças aos deuses. A cobertura de dois andares, sozinha, não dava conta de caber tudo, então tive que colocar meu closet em outro apartamento. Agora sei por que Tony comprou o prédio.

Cheguei na sacada e olhei a vista que eu tinha da minha sala, o vai-e-vem das ondas é bem diferente dos enormes prédios. Me lembrar daquela cidade fez meu coração doer, segurei o lindo colar e me lembrei das palavras da minha mãe quando o ganhei: “Sua maior arma é o seu coração”, quando descobri que aquele pingente de coração se transformava em uma espada, ri das ironias das palavras dela, hoje eu sei que o significado é bem mais profundo que isso: o colar reflete meu coração e reage às minhas emoções. Aquele lindo colar que ela me entregou, aquele dia se modificou quando eu coloquei e vem mudando desde então. Normalmente, eu não noto até alguém comentar, mas aquela profunda rachadura no cristal vermelho do pingente ninguém precisou avisar, eu a senti abrir, no mesmo momento em que uma se abriu no meu coração.

O barulho de alguma coisa caindo na cozinha me tirou de meus devaneios, as luzes piscando pela casa me fizeram perceber o quanto havia escurecido sem que eu notasse.

Transformei o colar em espada e me dirigi em direção ao som; as luzes pararam de vez e os barulhos de passos no segundo andar me chamaram a atenção, eram muitos e pareciam de criaturas pequenas. Revisei mentalmente uma lista de monstros pequenos, o que, de fato, só me fez ficar assustada. Enchi-me de fúria, acendendo a espada com uma luz vermelha brilhante e corri em direção à escada, mas parei na metade do caminho ao me deparar com um par de olhos vermelhos brilhantes me encarando e, aos poucos, dezenas deles foram acendendo ao meu redor.

–Saiam daqui – Minha voz tremia quando gritei, mas eles nem se moveram, em vez disso começaram a sussurrar algo que eu não consegui entender, mas parecia ser em português.

Do nada todos os olhos vermelhos se apagaram, mas eu sabia que eles estavam ali, eu podia senti-los, e foi aí que, no limite da luz da espada, eu vi a criatura no teto.

Parecia algo humanoide, só que com garras e presas enormes, além dos olhos vermelhos, o susto me travou e a criatura pulou em cima de mim, eu caí da escada e só senti o impacto da minha cabeça no chão antes de desmaiar.