Chapter 14 – Searching for Answers 

[Steve Rogers]

“Que porra é essa?”

Era a única coisa que se passava pela minha cabeça naquele momento. Depois do sufoco que foi chegar até aquele maldito lugar – eu corri contra o tempo, literalmente, até perdi a conta dos quarteirões que percorri que nem um maluco –, no meu destino eu ainda encontro o meu corpo parado ao lado do meu carro me encarando como se eu fosse uma aberração. Eu sabia muito bem quem estava ali dentro, não tinha dúvidas de que era aquela ruiva irritante quem estava ocupando o meu corpo enquanto eu ocupava o dela.

Mas, isso não era o principal motivo da minha raiva naquele instante, quisera eu que fosse apenas isso. O que me deixou possesso foi ver a minha imagem sendo desrespeitada daquela maneira. O que aquela garota tem na cabeça para me vestir daquele jeito? Camisa por dentro da calça social? Sapatos de empresário de meia idade? Não, isso ainda era fichinha perto do crime que aquela garota sonsa cometeu ao encostar no meu cabelo incrível e deixa-lo daquele jeito, completamente dividido ao meio e lambido para os lados com a absurda quantidade de gel que ela provavelmente deva ter usado.

Eu parecia um nerd riquinho!

— Que porra você está usando, ruiva? O que você fez com o meu cabelo? Sua filha da... – eu queria muito bater naquela garota, mas o fato de eu estar num corpo feminino agora e ela estar ocupando o meu, me impedia, pois de forma alguma eu poderia machucar o meu lindo rosto.

— Você não está com moral nenhuma pra me insultar agora Rogers! – minha própria voz me corta, grossa e firme, esbanjando a personalidade que eu tanto detesto daquela ruiva. Era muito estranho vê-la usando meu corpo e minha voz para me dar uma bronca – Olha as roupas que você colocou em mim! Eu pareço um moleque de rua que não corta e nem escova os cabelos.

— Só que você não tem uma reputação a zelar. Tanto faz se vestir como um mendigo ou uma prostituta, ninguém presta atenção em você! – eu queria que minhas palavras atingissem ela, mas a garota fez aquela cara de indiferença que eu tanto odeio.

— Como se isso me importasse. – e revira os olhos – Sério que sua preocupação agora é o modo como estamos vestidos? – sua pergunta me fez engolir seco – Sei que é difícil pra você, Rogers, mas podia tentar ser menos idiota e superficial? Será que não percebe que nós trocamos de corpos, imbecil?!

Agradeci mentalmente por estarmos sozinhos no estacionamento, pois a Romanoff parecia não se importar em gritar aos quatro ventos a merda que estava acontecendo com nós dois, e pior, se alguém ouvisse a garota dizendo isso com a minha voz e estando no meu corpo, os rumores de que sou maluco e esquisito certamente surgiriam e se espalhariam como praga pelos corredores daquela maldita escola.

— Dá pra falar mais baixo, ruiva? Eu não sou surdo. – respondo em tom mais baixo, porém igualmente irritado – E ninguém precisa saber o que está acontecendo aqui.

Ela parece ponderar, mais calma, os olhos me fitando um pouco intrigados, enquanto seu pensamento parecia vagar para além dali.

— Por que isso está acontecendo com a gente? – do nada ela solta a pergunta, fazendo-me desejar muito ter a resposta, mas eu não tinha – Como estamos no corpo um do outro? Isso não é possível!

Reviro os olhos e bufo.

— Acha que ceticismo agora vai adiantar de alguma coisa? – o cenho da mesma enruga-se, e eu ignoro sua expressão prosseguindo – Nós trocamos de corpo, merda, então já vimos que é totalmente possível. Só precisamos descobrir o que causou isso e achar um jeito de desfazer essa porra toda.

— E você acha que vai ser fácil como estalar os dedos? – Natasha responde, um tanto debochada e negativa sobre nossas chances, o que me deixou sem palavras. Eu definitivamente não quero pensar em ter que ficar pro resto da vida nesse corpo. Então de repente ela arregalou os olhos, como se uma ideia tivesse passado por sua cabeça – É claro! Como eu não pensei nisso antes? Só pode ter sido ele!  

O tom raivoso na voz grave me deixou ainda mais intrigado.

— Do que você tá falando?

— Qual a última coisa de que se lembra antes de acordar essa manhã?

Apesar de sua pergunta súbita me estranhar, resolvo responder.

— Lembro de estarmos no museu, nos beijando de um jeito bem selvagem... – comecei a esboçar um sorriso malicioso, na simples intenção de provoca-la, o que pareceu funcionar, pois as bochechas ficaram rosadas e os olhos queimavam de fúria – Você até soltou um gemido quando sentiu o meu...

— Já chega! – ela me corta, um tanto exasperada – Você pode pular essa parte, eu realmente não quero me lembrar disso... – os olhos desviaram-se para um ponto aleatório no chão, enquanto os punhos fechavam-se e a voz soava em um resmungo impaciente.

Tento não rir abertamente da situação, me limitando a um mero sorriso de lado, em seguida forçando minha mente a lembrar de mais alguma coisa que nos fizesse entender o porquê daquilo estar acontecendo.

— Certo... Lembro que um maluco de fantasia apareceu falando um monte de besteiras e... – foi minha vez de arregalar os olhos, enfim chegando a mesma linha de raciocínio da ruiva – Eu vou matar aquele filho da puta! – meu xingamento soou bem mais alto do que eu esperava.

— Ele disse que era o Loki... Isso faz algum sentido.  – ela ignora minha explosão, colocando seus pensamentos para fora. Tento entender a referência de suas palavras, mas só consegui me sentir ainda mais confuso. Percebendo isso, a ruiva continuou a explicar – Loki é um deus da mitologia nórdica muito conhecido como deus da trapaça e da travessura, que também está ligado a magia. Os mitos dizem que ele costumava pregar muitas peças em seu irmão Thor, e também em outros deuses, como algum tipo de passatempo.

Eu poderia dizer que Natasha está enlouquecendo ao cogitar a possibilidade de um ser “divino” e mitológico realmente ser a causa de nossos problemas, nunca acreditei muito nesse tipo de coisa, mesmo sabendo que meu melhor amigo foi batizado com o mesmo nome de um deus antigo e, como a ruiva mesmo falou, irmão de nosso suspeito. Considerando que eu estou em um corpo que não me pertence e encarando agora o meus próprio, acho que ceticismo realmente já deixou de ser uma opção. E com essa explicação da garota, até que as coisas começam a fazer sentido de alguma forma. Se esse cara tem poderes mágicos e gosta de pregar peças nos outros, provavelmente a Romanoff e eu não passamos de vítimas de uma travessura daquele bastardo. 

— Ainda bem que você é uma nerd, isso nunca teria passado pela minha cabeça. – deixo escapar em voz alta o que eu estava pensando, e isso pareceu não agradá-la nem um pouco – Mas se não for só um mito e esse cara for mesmo um “deus” de verdade, por que ele fez isso com a gente? Por que nos trocar de corpos? O que ele ganharia com isso?

— Eu não sei. – fala com sinceridade.

Respiro fundo, me aproximando de Natasha um tanto impaciente, me sentindo muito estranho por ter que levantar a cabeça um pouco para poder fita-la. Meu corpo é realmente bem mais alto que o da ruiva.

— O que foi? – o olhar confuso e a voz questionadora reagem assim que estendo uma das mãos a sua frente.

— As chaves do meu carro. – ainda sem entender, ela me entrega, apenas me observando entrar no veículo antes de dirigir minha atenção para a mesma – Entra logo. – eu digo, quase como uma ordem – Nós vamos resolver essa merda agora.

— Nós temos aula, Rogers, e já estamos bem atrasados.

Será possível que até mesmo nessa situação bizarra ela não consegue deixar a pose de garota certinha e estudiosa de lado?

Paciência!

— Você prefere ir pra aula com o meu corpo ou com o seu? – tento convence-la de alguma forma – E hoje teremos educação física, ruiva, provavelmente você terá que entrar no vestiário masculino para se trocar, e os garotos não são nada tímidos em ficar sem roupas na frente dos outros.

Os olhos se arregalam mais uma vez em pavor, e eu quis rir da expressão esquisita que a garota fez ao provavelmente imaginar estar em um lugar cheio de caras suados e pelados a rodeando. Isso só me fez comprovar a hipótese que eu tinha de que ela é mesmo uma virgem certinha.

Então, ela dá a volta no carro, abrindo a porta do passageiro e sentando-se no banco ao meu lado com a cara emburrada.

— Vamos logo, idiota! – é tudo que diz, com os braços cruzados como uma menininha mimada, o que era bem bizarro de se ver em um corpo másculo e grande como o meu.

Balanço a cabeça, tentando esquecer essa imagem assustadora de mim mesmo, dando partida no carro com certa pressa, saindo daquele estacionamento rumo ao museu que visitamos no dia anterior.

Era hora de buscarmos respostas. E se aquele filho da mãe insistisse nessa brincadeira, seria o dia em que Steve Rogers mataria um deus nórdico usando o corpo de uma ruiva baixinha para isso.