Dez Desejos escrita por Gii


Capítulo 4
Flor solitária




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Capitulo 04 - “Flor solitária”

Eu estava sentada em uma praia deserta, admirando um por de um sol meio escondido em meio às nuvens. Eu já havia estado ali antes.

Normalmente, quando eu sonhava com aquela praia, eu podia ver o mar negro e ondas bem violentas, porém daquela vez o céu ao invés de estar apenas nublado, desabava em água ao meu redor, fazendo escorrer um bom tanto de areia de alguns penhascos ali perto.

Senti quando Seth sentou ao meu lado, mas eu não me movi para poder vê-lo. Eu só conseguia sentir meu coração pulando no peito e o seu cheiro de mistério me envolver, mais forte por conta da chuva que molhava sua pele.

Eu não sabia dizer que cheiro tinha o seu aroma. Era um cheiro, que eu sabia que era somente dele, mas ao mesmo tempo, não era seu. Tinha certeza que já o sentira antes.

Eu me senti sorrir ao perceber que ele passava o braço pelos meus ombros, fazendo meu corpo se aquecer naquele vento gelado que vinha do mar.

— Tudo bem Anna? Você está bem? — Ele perguntou com a voz mostrando preocupação.

Porque não estaria bem? Eu estava com ele..

— Anna? — ele me chamou, parecendo que começara a me balançar, como se quisesse que eu olhasse para ele.

Vi seu rosto preocupado, próximo do meu, mas havia algo de diferente.

Seu nariz, estava mexendo, ganhando outra forma e cor e exatamente acontecia com sua boca. Primeiro, seu nariz e sua boca se transformaram, dando uma pequena diferença — mas não menos familiar. Em seguida, era o contorno dos olhos e a cor da pele. A pele mais clara se sobrepôs a morena, causando grande diferença, mas os olhos, seu tom, era exatamente o mesmo. O mesmo tom negro e familiar que podia enxergar minha alma.

— Anna? — a voz mudara como todo o corpo, me fazendo assustar ao reconhecê-la...

— Anna? Vaquinha acorda! — Jonathan me balançou de novo e bufei ao constatar que havia acordado de mais um dos meus sonhos repetidos e perfeitos... Bem, quase repetidos. Aquilo foi estranho. Seth havia se transformado em Jonathan?

— Ah Jon, que mania é essa de me interromper? — eu perguntei irritada, tentando abrir os olhos e me ajeitando na poltrona macia.

— Interromper o que?

— Meus sonhos! — Eu disse, sentindo novamente aquela sensação de pesar no peito. Era assim toda vez que eu acordava de meus sonhos com Seth Clearwater. Uma sensação de perda dominava meu corpo e eu me sentia triste e irritada. — Já chegamos?

— Quase. A aeromoça já falou para apertar os cintos. — ele disse olhando para o meu cinto, como se para se certificar que tudo estava ok.

— Está tudo bem por aqui, pai. — eu disse vendo seu olhar de preocupado. Ele riu.

Sentíamos o avião descendo. Eu apertei o encosto do banco com força e respirei fundo. Tchau Seth, olá inferno, pensei.

***

— Vamos Jon! Você vai comigo sim! — Eu dei mais um puxão em seu braço, tentando força-lo a levantar da cadeira de mogno.

— Eu não quero ir para o meio da floresta sozinho com você. Eu tenho medo de você, eu já disse. — dele disse fingindo terror de maneira dramática. Eu tive que rir.

— Para de graça! — eu falei entre risos e dei mais um puxão em seus braços — A minha tia disse que se pegarmos a trilha certa chegaremos à um jardim lindo! Eu quero muito vê-lo ainda hoje... Aproveitar o sol!

Tudo bem que eu reclamei de vir para cá e tudo mais, mas com o Jon comigo até que estava sendo divertido. Nós fazíamos guerra de travesseiros quase toda vez antes de dormir, comemos pipoca com café e até já joguei ele na piscina algumas vezes!

E sempre quando eu fico com tédio, ele faz gracinhas ou arranja algo para fazermos. Nunca pensei que poderia ser tão divertido ficar isolada da civilização.

Jon colocou a mão no queixo, como se estivesse considerando a minah ideia maluca de andarmos pela floresta enorme que havia logo em frente à casa. Minha tia afirmou que era impossível se perder, uma vez que não se deixasse a trilha e eu não estava tão interessada sobre andar por aí, no meio da floresta até ela dizer sobre um jardim secreto que ela encontrou certa vez.

Eu realmente precisava achar aquele lugar!!

— Tudo bem! Vamos logo. — Ele disse e começou a me puxar pela mão para fora da casa-mansão, correndo porta a fora.

Saímos no jardim da frente, onde havia um imenso gramado verde, cercado de arvores silvestres grandes e muito, muito velhas. Fomos direto para a parte onde havia um tronco caído e uma bifurcação, com três trilhas diferentes, que levavam para diferentes direções floresta a dentro.

Jon já estava meio ofegante quando perguntou qual das três trilhas era a que minha tia tinha me falado.

***

Giovanna não tinha ideia de qual escolher e analisava qual seria a melhor escolha, com os olhos semicerrados e a mente longe, imaginando o lindo jardim que perderia se errasse o caminho.

Jonathan fingia também olhar as trilhas, mas na verdade estava admirando a garota pela visão periférica, vendo como ela ficava linda quando estava com aquela cara séria. Os cabelos voando no vento.

Os semideuses escolheram a garota com desejos estranhos no coração. Eles agora estavam controlando seu destino, controlavam tudo. Como alguém controla um fantoche. Só que ninguém tinha percebido.

Tudo e nada havia mudado em um segundo.

Anna não sabia por que, mas queria ir pelo caminho da direita. Algo – ou alguém – parecia lhe dizer qual era o caminho certo a escolher, enquanto Jonathan fazia Uni-duni-tê, mas logo desistiu quando a garota que ele tanto gosta começou a caminhar por uma das trilhas.

Era hoje. Hoje, naquele jardim que ele contaria tudo para ela. Ele havia se decidido assim que vira os olhos dela brilhando de expectativa quando mencionou o jardim. Seria a oportunidade perfeita!

Eles estariam a sós e ele abriria finalmente seu coração, despejando todos esses anos de amizade, que para ele, significavam muito mais além disso.

E ele tinha a certeza de que ela o aceitaria. Se ele fizesse do modo certo, ela aceitaria o seu amor. Ah, e como ele estava certo! Sim, ela com certeza o aceitaria, bastava a palavra certa. Só que Jonathan não contava com os semideuses, que mudaram o rumo daquela história.

Eles simplesmente colocavam as ideias na cabeça da garota. Era como uma palavra que aparecia simplesmente do nada em sua cabeça e se tornava uma frase. Em seguida virava uma ideia e depois um pensamento diretamente criado por Anna.

Elas simplesmente apareciam e ela decidia se seguiria ou não. Mas porque não seguir? As ideias eram boas. Pelo menos era o que ela achava.

Anna não tinha certeza o que fazia, só seguia a trilha, pulando alguns galhos e matos secos, sendo seguida por Jon e fazendo o que vinha em sua cabeça. Algo dizia que ela devia estar sozinha, mas já era tarde demais para pedir que Jon voltasse.

Jonathan avistou o começo do jardim e seu coração já acelerou em antecipação. Quantas vezes ele já ensaiara para isso mesmo? Sua cabeça girou e sua mente estava zerada. Esquecera tudo o que planejara dizer... E agora? Como ela reagiria?

Os semideuses se divertiam com o pobre garoto. Por algum motivo, seus pensamentos eram engraçados para eles.

Mas eles estavam cansados de esperar. Já estava na hora de acabar com aquilo. Eles queriam assistir a história mais engraçada - ou trágica - que eles criaram. Apenas por diversão.

— Que comece o desastre! — gritou Jaymes, gargalhando e unindo as mãos junto com os outros semideuses.

Um grande luz dourada tomou conta do aposento dos céus.

***

Depois de alguns minutos de caminhada, eu pude ver, através de algumas folhas de uma arvore baixa, o começo do que achei ser o jardim. Eu caminhei mais rápido quando vi que era ele mesmo, sentindo algo como um calor no peito. Era tão lindo! Tinha flores de tantas cores, selvagens trepadeiras, lírios, margaridas e cravos. O aroma no ar era inebriante e havia borboletas por todos os lados. Uma fonte enorme no meio de tudo, quebrada, esguichava algo como uma fina chuva volta e meia. Parecia um conto de fadas.

Tão perfeito. Eu sabia!

Jon pegou a minha mão, puxando para dentro do jardim.

— Eu te disse que valeria a pena — olhei zombera para ele — E você correndo a chance de perder isso!

— É... Isso aqui é lindo mesmo, tenho que admitir. Parece um jardim selvagem.

— E é! Deve ser por isso que é chamado de secreto.

Eu dei a volta na fonte, tocando a pedra cinza que contornava a enorme fonte. Vi pequenos peixes ali, brilhando dourados. Como eles haviam parado ali? Sentei-me na beirada e Jon se sentou do meu lado. A fonte molhava aos poucos nossas roupas.

Ao mesmo tempo em que Jon pegava minha mão e brincava com os meus dedos, eu vi algo faiscar ao longe, como um brilho dourado, nos limites daquele jardim.

— Anna? — Ouvi Jonathan me chamar ao longe, quando levantei em um pulo.

— Esperai. — Eu disse sem ao menos pensar. Atravessei o jardim rapidamente, tentando evitar pisar nas flores que nasciam aqui e ali, até chegar ao meu destino, em baixo de uma arvore maior, vi uma flor separada das outras.

Ela tinha o começo de pétalas brancas, mas conforme iam passando, aos poucos se azulava, até ficar de um azul intenso. Era linda. As pétalas eram viradas levemente para baixo, como uma margarida, mas ao mesmo tempo, parecia ter uma textura de uma rosa. E além de tudo, tinha a exata quantia de dez pétalas. Eu nunca vira uma flor como aquela.

Espetacular.

Me aproximei para observa-la melhor, apreciando tamanha sua beleza. Eu não resisti a ideia que me arrebatou. Com certeza ela era muito linda, se eu a arrancasse, ela logo morreria... Mas eu precisava pega-la!

Cavei em volta da flor solitária e tirei-a pela raiz, com todo o cuidado que consegui.

— Anna? O que está fazendo? — Ouvi a voz do Jonathan próxima a mim.

— Olha essa flor, Jon! — Eu disse sorrindo, segurando a flor com a mão em concha e me virando para ele ver.

Ele se aproximou curioso.

— Que espécie é essa? Nunca vi igual.

— Não toque nela! — eu puxei de perto dele, com medo que machucasse a flor, dando vários passos para longe dele.

— Calma, eu não ia fazer nada! — Ele levantou as mãos em rendimento, franzindo a testa para mim.

— Desculpe. — Eu voltei a encarar a flor, me deleitando com sua perfeição — Você viu alguma coisa para que eu possa coloca-la? Queria leva-la para casa...

— Hã... Acho que vi um vaso ali do lado da fonte. — ele me olhou por um longo momento, vendo eu ir em direção a fonte — Você está estranha.

Eu sorri para ele ironicamente.

— Obrigada pelo elogio! — Eu ri e fui atrás do vaso. Achei um vaso laranja que tinha uma folha verde pintada na sua lateral, porém estava bem sujo de terra. Precisaria de uma boa limpeza.

Coloquei cuidadosamente a flor. Abaixei e peguei um pouco de terra com as mãos e coloquei no pequeno vaso, tomando o máximo de cuidado.

— Pronto. — Sorri feliz comigo mesma. Segurava o vaso na altura dos olhos, admirando a pequena flor. — O que foi? Porque está me olhando desse jeito?

Ele balançou a cabeça levemente.

— Nada. — Ele sorriu — Eu só queria conversar com você sobre uma coisa.

Agachei ao lado da fonte, me sentando na beirada e peguei um pouco de água com a mão e joguei no vaso, me perguntando quanto tempo aquela flor viveria ali.

Então me veio uma ideia nova.

Jon sentou-se ao meu lado, tocando minha mão.

— Anna, eu queria te contar algo muito importante.

— Tudo bem, pode falar — eu disse, mas quase não o estava escutando. Uma ideia veio à minha cabeça. Eu balancei, tentando tirar aquela loucura.

Olhei para o rosto de Jonathan. Ele parecia nervoso. Franzi o cenho pra ele.

— Jon, você me acharia maluca se eu dissesse que eu posso realizar um desejo se arrancar essa pétala da flor. — Eu apontei para a flor.

Ele me encarou, com a boca levemente aberta.

— Eu sei o que vai dizer, mas olha, eu sinto que se eu desejar algo e puxar a pétala, algo vai acontecer!

O que eu poderia desejar?

— Acho que o sol forte não está fazendo bem à você... Mas não é sobre isso. Anna presta atenção em mim. O que eu tenho pra te falar é importante!

— Já sei! — Gritei interrompendo-o — Como não pensei antes? Seth Clearwater!

— O que? Quem é Seth Clearwater? — Jon segurou minha mão.

Eu ri de ansiedade, imaginando se aquilo tudo daria certo. Senti-me meio alucinada. Segurei o vaso firme e puxei a pétala, ainda agarrada a mão de Jon.

— O quê? De que adiantou você plantar a flor se esta arrancando as pétalas? Anna?! — Ele exclamava, mas eu o ignorei.

Fechei os olhos com força enquanto desejava:

“Eu desejo estar no mundo dos transmorfos e dos vampiros. Desejo estar no mundo de Stephenie Meyer. Junto do garoto que eu me apaixonei, Seth Clearwater.”

Nada. Eu abri lentamente um dos olhos e Jonathan me encarava, parecendo mais do que confuso. Eu ainda estava no jardim.

— O que... — Jonathan começou a dizer, mas um vento muito forte passou por nós, quase nos derrubando no chão. O ar se agitou cada vez mais em nossa volta e eu me agarrei a Jon, de alguma maneira, segurando ainda o vaso.

Com um clarão todo o jardim ficou borrado, como de alguém tivesse esbarrado nas cores e as colocando em uma liquidificador.

— O mundo de Stephenie... — Uma voz sussurrou de maneira sombria, vindo de todos os lados, como em um sonho. — Apaixonou... Seth Clearwater.

E tudo escureceu de uma só vez.


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