Ele não queria crescer escrita por Any Queen


Capítulo 3
Wendy enfrenta Tigrinha


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeeeeeeeeee, estou sumida ao cubo, porém eu tenho uma explicação muito plausivel, na minha escola, como eu sou do terceiro ano, agora tem duas provas por semana e não mais a semana de provas habitual. Ou seja, eu tenho que estudar TODO o final de semana e quando eu tenho tempo, estou muito cansada para escrever.
Então, tive que esperar as férias até poder escrever novamente, mas está ai. Espero que gostem.
Algumas considerações:
— A história está classificada como livre, porém eu queria saber se existe algum problema se eu colocar a classificação +13? Porque quero que as coisas fiquem um pouco mais picantes.
— Gente, é um conto de fadas, vai ser clichê, me desculpe.
— Vou tentar fazer um clichê não tão clichê para que fique boa.
— Quero agradecer aos comentários lindos, mesmo depois de tanto tempo sem postar.

Boa leitura



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"Nunca diga "adeus", porque dizer "adeus" significa ir embora e ir embora significa esquecer" - James M. Barrie, Peter Pan.

Peter segurou a mão de Wendy e começou a correr para a Terra do Nunca. Wendy estava com o coração acelerado, não sabia o que estava acontecendo com os meninos, porém Pan permanecia com uma expressão determinada no rosto. Ao chegarem a casa, a menina viu que exteriormente não tinha nada preocupante, eles pararam de correr e o Garoto de Verde soltou-a.

Ele abriu a porta calmamente e sorriu por um motivo desconhecido, adentrou animado na casa esquecendo-se completamente de Wendy. Ela, por sua vez, ficou paralisada por alguns segundos, tentando entender o que acabara de acontecer. Quando entrou na casa, viu Peter e os meninos sentados no chão envolta de uma linda garota com traços indígenas. Ela usava uma blusa bege com tranças nas mangas, um short jeans desbotado e tênis all star branco, tinha um cabelo liso escuro e olhos grandes verdes.

Wendy andou com passos lentos até o grupo formado na sala, Peter estava com toda a sua atenção voltada para os presentes semiabertos que rodeavam o chão, os meninos corriam de um lado para outro com os brinquedos recém-adquiridos. Ninguém precisava falar quem era aquela garota, Wendy adivinhou quem seria.

Tigrinha olhou para ela e sorriu, levantou-se do chão e correu até a Wendy.

– Não acredito! – ela olhou do Peter para Wendy sem que pudesse acreditar – Você trouxe uma garota para a Terra do Nunca.

– Essa é Wendy. – disse o menino sem tirar os olhos do presente.

– Prazer, sou a...

– Tigrinha. – cortou Wendy – Eu suponho.

– Acho que a placa lá na frente me entregou. Mas esse é só o meu apelido, meu pai gosta de me chamar assim e os Meninos também.

– Acho que eles gostaram dos presentes que você trouxe.

– Meu pai é o chefe da máfia, literalmente, não gosto do que ele faz, mas tento gastar o dinheiro dele com coisas boas.

– Seu pai é o chefe da máfia? – assustou-se a menina.

– O que posso fazer? Foi assim que eu conheci Peter na verdade. – Tigrinha olhou para o garoto sentado no chão com carinho, Wendy não gostou daquele olhar, até poucos minutos estava beijando Peter, agora aquela garota aparecia e tirava a sua atenção.

– Ele tentou roubar de vocês também?

– Peter! – isso chamou a atenção do garoto, ele se levantou e ficou perto das duas meninas – Você roubou a pobre Wendy?

Pan deu de ombros.

– Ela pediu para ser roubada.

– Vou gostar de ouvir como essa história aconteceu, mas que tal comermos?

Wendy olhou para Peter, esperando que ele dispensasse a filha do mafioso ou pelo menos se lembrasse do que eles estavam fazendo há pouco tempo.

– Tudo bem. – ele pegou a mão de Tigrinha e começou a andar para a mesa velha – Você será nossa convidada de honra.

– Que educado! – a menina sorriu – Trouxe algumas pizzas comigo, vou pegá-las.

Assim a morena saiu da casa, Wendy foi até Peter e olhou significativamente para ele.

– Acho melhor ir embora, está escuro...

– Não vai ficar para o jantar?

– Não. – a menina olhou para os pés envergonhada por estar com ciúmes – Vou deixar vocês passarem um tempo com sua amiga.

– Está tudo bem? – Peter chegou mais perto e segurou a mão da menina.

– Claro. Só preciso ir...

– Fique para o jantar e depois eu te levo para casa. É perigoso andar sozinha pela floresta – disse ele com um olhar sedutor – Ainda mais bonita como você está.

– Bajulação é um ótimo jeito de me fazer ficar.

– Não á bajulação. – constatou ele arqueando as sobrancelhas.

– Então o que é, Peter Pan? – ele chegou mais perto e toco os lábios da menina.

– É prioritariamente favorecimento pessoal.

– Muito bem! – chamou Tigrinha escancarando a porta – Venham meninos!

Wendy pulou para longe de Peter e sentou-se a mesa. Os Meninos demoraram um pouco a ficarem calmos para comer, quando todos estavam devidamente servidos, a Tigrinha começou a contar:

– Acho que Wendy vai gostar de ouvir a história de como conheci o Peter – A morena segurou a mão de Peter e lançou-lhe um sorriso inocente – Meu pai estava traficando armas em um galpão perto daqui, eu tinha dez anos e estava brincando em um canto quando Peter entrou correndo e se escondeu perto de mim. No começo eu fiquei com medo, mas depois intrigada por aquele lindo menininho vestido de verde.

Wendy sorriu, Peter deveria ter sido uma criança maravilhosa, a menina sentiu inveja da Tigrinha por ter convivido com Pan durante oito anos. O que eles não teriam feito juntos?

– Logo entrou o James Ganho, Peter estava se escondendo dele. Eu disse ao meu pai que aquele homem era um espião e meu pai cortou a sua mão como aviso, para que ele nunca mais entrasse naquele lugar. Agora, sempre que meu pai vê o Gancho ele quer cortar sua outra mão, mas esse não é o ponto... Fiz meu pai ajudar Peter, ele sempre consegue burlar as leis, então a Terra do Nunca não teve que enfrentar os oficiais.

– Foi muito legal da sua parte. – disse Wendy.

– Nunca teve tanta menina aqui. – disse Magrelo com pizza na boca.

– Pode ser algo que venha acontecer mais vezes agora que estou de volta.

– Onde você estava, Tigrinha? – perguntou um dos gêmeos.

– Na Itália.

– Eu nunca saí daqui. – falou Wendy.

– Que pena, já visitei lugares incríveis. Convidei Peter para ir comigo, mas ele não quis deixar os Meninos.

– Não posso deixar a Terra do Nunca, sou a vida e alma desse lugar. – Peter sorriu por trás da fatia.

– Com certeza, meu querido. – Tigrinha afagou o ombro do garoto.

Wendy desviou o olhar e continuou sua pizza em silêncio enquanto a conversa ganhava vida. Depois do jantar, Tigrinha se ofereceu para lava a louça, Wendy tentou ajudar, porém a morena fez Peter lavar com ela. Wendy contou história para os Meninos dormirem e esperou ansiosamente que Pan a levasse para casa.

Ela desceu as escadas tentando manter a calma, Tigrinha era amiga deles de longa data, Wendy não poderia ficar com raiva se eles queriam passar um tempo com ela. Mas a menina era acostumada a ser a única garota da Terra do Nunca, agora teria que se adequar a companhia. Ela era a única menina da casa dela, seus pais sempre a mimaram, ela não gostava de dividir atenção.

Assim que chegou ao primeiro andar, viu que a louça já havia sido lavada, porém Tigrinha e Peter não estavam mais na cozinha. Wendy andou silenciosamente tentando descobrir onde estavam. Eles estavam sentados na sala, Tigrinha segurava a mão se Peter com cuidado, enquanto o menino tentava não olhar para ela.

– Por que você não aceita nada disso? – perguntou ela.

– Eu não quero a sua caridade, Tigrinha.

– Eu sei. Quantas vezes vai ser necessário te dizer que não é isso que estou fazendo? Eu realmente quero te ajudar, quero que você me deixe entrar na sua vida... Você sabe...

– Toda vez que você volta, espera que eu...

– Eu espero que você sinta a minha falta e veja que eu sou importante pra você.

– Como você aceitaria o fato que eu estaria com você só por aquilo que você faz por mim?

– Não era assim antes – ela respirou fundo – Você sempre aceitava os meus beijos.

– Era uma brincadeira de criança, Tigrinha! – Peter levantou e Wendy se escondeu. – Eu sempre vou cuidar de você e sempre vou olhar por você, mas apenas como uma irmã que cuidou de mim. Nada mais.

– Você se apaixonou pela Wendy? – o coração da menina parou, ela prendeu a respiração e voltou a olhar com cuidado – Quando fazíamos o que fazíamos, você nunca me tratou como irmã ou com esse amor fraternal.

– Não coloque o nome dela aqui.

Tigrinha levantou e Wendy deu um pulo para trás, derrubando um pote de barro que se espatifou. Peter apareceu na porta com uma feição apressada, Wendy tinha caído e cortado a sua mão, o ferimento era profundo, porém nada grave, o menino abaixou perto da morena e tirou os cabelos que caiam em sua face.

– Está tudo bem? – sua voz era baixa e cautelosa, como se ele mesmo estivesse sido machucado.

– Sim – respondeu rapidamente – , desci as escadas com mais pressa do que deveria. Está tudo bem aqui? – Wendy olhou para Tigrinha, que tentava manter sua expressão neutra.

– Por que não estaria? – ela prendeu o cabelo em um coque - Você vai precisar de pontos.

– Não sou fã de médicos. – Wendy olhou para Peter, que mantinha seu olhar alheio da situação, quando viu que a menina o encarava, pegou a mão ferida e examinou com cuidado.

– Eu posso dar os pontos. – a garota olhou desesperada para ele, não gostava da ideia de agulhas, tudo, menos agulhas. – Vai dar tudo certo, ok? Já fiz isso antes. – ele levou a mão até os lábios e depositou um beijo suave. – Vou pegar o quite de primeiros socorros.

– Venha Wendy – chamou a índia – Vou limpar o corte nesse meio tempo.

O garoto ajudou-a a se levantar e Tigrinha foi para a cozinha, molhando um pano e mantendo uma expressão determinada. Wendy sentou em um banco e esperou a índia, ela puxou a mão da menina e começou a limpar.

– Não precisa mentir para mim também. – falou a filha do mafioso – Eu sei que ouviu a nossa conversa.

– Que bom que a nossa relação não precisará de fingimentos.

– Você está minuciosamente estragando o meu plano de anos. Eu ajudo esses meninos pelo simples interesse no dono desse lugar, se esse interesse acabar, a minha ajuda acaba.

– Ou seja – resumiu Wendy, não abaixando sua postura – Se eu continuar aqui, você para de ajudar as crianças.

– Ora, você não é tão burra assim. – ela transmitiu um sorriso falso e depositou o pano na mesa – Eu sou filha do Crocodilo, eu não sou boa ou gentil, mas Peter é minha preocupação pessoal e se você, anjo caído dos céus, se importa com essas crianças, você o deixará comigo. Você é uma doença aqui, traz tudo o que Peter não quer, então não leve isso como um desgosto meu, leve isso com uma bondade sua.

– Está tudo bem aqui? – entrou Peter de repente.

– Sim. – sorriu Tigrinha – Wendy foi forte.

– Ela é. – Peter olhou para a menina, mas ela não conseguia encará-lo.

A ideia de Tigrinha a abominara em primeiro plano, porém fazia todo o sentido. Eles viviam bem, estavam todos acostumados com tudo aquilo, Wendy estava fazendo Peter mudar pelo fato de que não iria querer um namorado que não quisesse crescer, casar ou fazer o que pessoas normais faziam. E se um dia eles terminassem? Wendy levaria Peter por um caminho sem volta.

– Bem – disse a índia – Vou deixá-los a sós, meu pai está me esperando.

Assim, a morena deixou a casa e Wendy sabia que ela tinha consciência de que suas palavras tinha tido efeito.

– Eu vou fazer isso bem rápido, você não vai nem sentir. – ela acordou de seus pensamento e assentiu.

Peter realmente fez o trabalho com rapidez e eficiência, a palma de sua mão formigava, porém nada que ela não aguentasse. Ele guardou os aparatos de volta na caixa e olhou feroz para a menina, ela mordeu o lábio e sentiu que seu coração se apertava de um jeito novo e horrível.

– Espero que esteja tão ansiosa quanto eu para terminar o que começamos na floresta.

– O que está esperando?

Peter passou a mão em sua cintura e a puxou para perto, seus lábios se juntaram com a fome que até aquele momento não tinha sido saciada. Wendy passou suas mãos no pescoço do meninos e puxou tão forte quanto podia, se aquele fosse o último momento juntos, que valesse apena. Pan segurou seu cabelo e puxou sua cabeça para trás, deixando seus lábios e devorando seu pescoço com urgência, Wendy envolveu Peter com suas pernas, fazendo-o chegar mais perto.

Ele mordiscou o ombro da menina e Wendy soltou um breve gemido, o menino voltou para os seus lábios e suas línguas trabalharam em perfeita união. Peter a ergueu, segurando a menina com apenas um braço, enquanto o outro ainda segurava seu rosto, a garota não poderia ir tão longe, por mais que quisesse, seria difícil para deixá-lo depois. Ela separou os seus lábio e respirou fundo, enquanto abria os olhos vagarosamente, Peter fez o mesmo, ainda segurando-a.

– Eu preciso ir para casa. – disse com urgência.

– Com certeza.

Peter a soltou com cuidado e lhe entregou um ultimo beijo. Ele sabia que se Wendy ficasse coisas irreversíveis iriam acontecer e ele sabia que ela não estava preparada para tudo aquilo. Mesmo sabendo que todo o seu ser clamava pela menina, ele tinha que levá-la para a casa.

Eles seguiram o caminho em silêncio confortável, a rua estava deserta e a mão de Peter era confiante na de Wendy. Quando chegaram a residência dos Darling, Wendy segurou sentimentalismo e forçou ser a garota forte que acreditava ser, daria adeus ao Menino de Verde, fato que estava fadado a acontecer.

–Adeus, Peter Pan. – disse ela segurando seu queixo definido.

– Por que estou sentido que isso é uma despedida? – ele fechou os olhos e respirou fundo.

– Boa noite, meu Menino de Verde. – Wendy ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo na bochecha. Ele abriu os olhos e puxou-a para um abraço, toda armadura dela caiu com aquele gesto, a menina apertou seu rosto contra o abdômen de Peter e depois correu para casa.

***

Wendy acordou no dia seguinte com olhos inchados.

A noite anterior tinha sido uma despedida e ela estava disposta a esquecer da Terra do Nunca e principalmente o dono dela. Pegou o primeiro papel que estava a sua frente e começou a escrever.

Querido Peter,

Esses dias e o nosso encontro de ontem me fizeram reconhecer que nós nunca vamos poder ter uma vida normal. Você tem seus Meninos, que precisam de você mais que tudo nesse mundo e eu tenho toda uma vida pela frente, com você eu estaria condicionada a esse destino. São crianças maravilhosas que eu adoro, porém não devem ser minhas.

Eu sei que a insistência foi minha, eu corri atrás de você e eu voltei no dia seguinte. Entretanto, eu não posso acabar com o que você tem feito e você não pode me privar de tudo o que eu sonhei. Nós fazemos mal um para o outro, não consegue ver isso? E se um dia nós nos separássemos? Tudo o que teríamos feito nos carregariam para sempre, se ficássemos juntos agora, tudo se transformaria em um buraco negro, sugando tudo a nossa volta.

Estou sendo dura com você, eu sei. Porém é o único jeito de você me deixar ir. E, por favor, me deixe ir.

Com amor,

Wendy Darling.

Wendy pegou sua bicicleta e pedalou até os arredores da floresta, Sininho sempre a recebia com seu canto estridente. Então a menina esperou a passarinha aparecer, ela não demorou muito, pousou em um galho e encarou a garota como sempre fazia.

– Pode entregar isso a Peter? Eu sei que não gosta de mim e estou fazendo o que você queria! Estou deixando ele! Só entre isso – gritou ela – E tudo estará terminado.

Wendy deixou o bilhete no chão e saiu rapidamente de perto daquela floresta, correndo para a escola a fim de ajudar no baile de formatura. Ficou no colégio até o sol se por, tentando pensar em tudo menos na reação de Peter. Quando chegou em casa, viu que seus pais e irmãos tinham saído, deixando um bilhete preso no porta chaves.

A menina jogou a mochila no chão e tirou o tênia, tentando se livrar de tudo que pesava. Subiu as escadas cantarolando uma música e tirando a blusa para tomar um banho merecedor, porém, quando chegou ao quarto, viu que tinha alguém em sua cama.

Ela até gritaria se não tivesse reconhecido a sombra, seu coração ficou tão acelerado que ela esqueceu de colocar a blusa de volta, ficando apenas com sutiã. Ele não levantou da cama, somente erguei o bilhete e perguntou:

– Você realmente quis escrever isso?

Seus braços caíram e as lagrimas ameaçam fazer o mesmo, tinha sido fácil escrever e ela sabia que seria difícil enfrentá-lo.

– Sim.

– Você acha divertido fazer isso? Brincar assim comigo e com os Meninos? – ele gritou e levantou, pisando forte até chegar perto da menina.

– Você realmente acha que eu brinquei com você? Essa é a palavra que você usa? Sinceramente, eu achei que depois...

– Depois do que? “De tudo o que passamos”? – Peter usou as palavras como se fosse algo sem significado, e talvez fosse, afinal a quanto tempo eles se conheciam? Duas semanas?

Wendy riu com amargura e sacudiu a cabeça para se recompor, ela tinha que permanecer dura, era o único modo de fazê-lo ir embora.

– Não, porque não passamos por nada.

– Então é isso? – Wendy sentiu um calafrio quando Peter a olhou nos olhos, aquele lindos olhos verdes a fitaram e de repente pareceu sem sentido mentir para ele, mesmo que todas as palavras carregassem as verdades que ela ocultava.

– Sim.

Pan riu secamente e começou a ir em direção a janela.

– Vou entender se ficar com raiva de mim! – falou Wendy um pouco alto demais – Daqui a um ano vai esquecer que eu estive na Terra do Nunca, vai esquecer que me conheceu.

– Eu nunca vou esquecer você. – ele se virou abruptamente – Eu não sei o que vai acontecer agora e ainda não entendo o porquê dessa mudança repentina, mas eu sei que não posso esquecer você, Wennie. Eu senti coisas com você, eu beijei você e eu posso vir a me lembrar de você como uma garota que eu conheci, mas eu não posso esquecer como me senti. Isso é meio impossível. Desculpe pela inconveniência.

– Isso é tão injusto! – a menina falou tão baixo que o garoto fez uma feição desentendida – Acredite em mim... Não gostar de você não é nem de longe o motivo a qual estou fazendo isso.

– A escolha é sua. – “Não é minha, seu idiota, será que você não percebe que se fosse minha escolha você e eu estaríamos deitados na minha cama?” Wendy queria gritar isso na cara dele, mas sabia que não era sensato – Não vou forçar você a nada. Sabe disso, certo?

– Por um lado, dói, por outro, me alivia saber disso. – a menina caminhou calmamente até o Garoto de Verde, esquecendo-se que ainda estava sem a blusa, Peter tentava olhar para todos os lados para não deixá-la desconfortável, porém era algo extremamente impossível.

– Você não deveria ficar tão perto assim se quer me ver longe. – quando ele olhou para ela, viu que seus rostos estavam apenas alguns centímetros de distância, ele abaixou a testa até encontrar a dela.

– Uma despedida. – sussurrou ela – Sem palavras, de preferência.

– Vai doer tanto em mim quanto em você. – ela fechou os olhos e assentiu, Peter respirou fundo e envolveu o seu rosto, puxando sua boca de encontro a dele.

Em um primeiro instante, o beijo foi calmo e doloroso, como uma despedida deveria ser, porém a urgência vinha dos dois lados. Peter puxou Wendy pela cintura, sentindo sua pele dançar por entre seus dedos calejados, ele não pôde se conter e acariciou suas costas enquanto Wendy desbravava seu cabelo. Ele puxou suas pernas para que pudesse envolver sua cintura com elas, Wendy riu e mordeu o lábio de Peter.

Sem a consciência de ambos, os dois se encontravam na cama, Peter cobria Wendy ainda acariciando-lhe a pele amostra, Wendy puxou um pouco a blusa de Pan também para sentir um pouco do seu calor. Contudo, Peter encerrou o beijo e sentou na cama, a menina se xingou por ter feito isso, estava levando tudo longe de mais.

Peter a olhou por alguns segundos e depois saiu pela janela. Uma despedida silenciosa, exatamente como ela queria. Wendy se levantou e chutou a cama, ganhando nada mais do que um hematoma no calcanhar.

***

No dia seguinte, Wendy estava voltando da escola quando um carro preto parou a alguns metros dela.

Na sua cidade não era normal haver assaltos ou coisas piores, era uma cidade relativamente pacata onde todos se conheciam, então aquela situação era um alarde. A menina apertou o passo e atravessou a rua, enquanto isso, dois homens saíram do carro, usavam roupas todas pretas e algo escondia suas feições.

Wendy não tinha opções para se proteger, a rua estava vazia e escura com o final da tarde. A floresta circundava sua segunda opção, porém, ela não conseguiria chegar até Pan antes de ser pega. Seu coração começou a bater mais forte, o som das batidas atrapalhavam seus pensamentos, os homens andavam mais rápido e chegariam nela logo. A menina pegou o telefone e ligou para o seu pai, jogou no chão enquanto chamava, rezando para que seu pai atendesse a fim de ouvir sua briga.

Ela esperou até que o homem estivesse perto o bastante e lhe deu uma cotovelada no estomago, virando, chutou sua cabeça e lhe deu uma cruzada de direita. O outro homem foi correndo em sua direção, ela esperou e abaixou na hora em que ele iria lhe esbofetear, Wendy usou isso para lhe dar uma rasteira, fazendo o homem bater com a cabeça no chão.

O outro homem já se levantava, Wendy respirou fundo e correu até ele, abaixou-se novamente e quando entregou uma cotovelada nas costas, assim que o homem ficou de joelhos, Wendy pegou o seu braço e o torceu, precisou fazer mais força do que deveria e acabou quebrando-o. Quando o homem caiu no chão gritando de dor, ela chutou o seu rosto para que perdesse a consciência.

O segundo sequestrador a pegou pelo pescoço, ela teve que subir e enroscar sua perna no pescoço do homem, puxando para o chão e apertando o sua via respiratória até que ele perdesse a consciência. Assim que levantou para respirar, sentiu algo acertando sua nuca em cheio, a menina caiu no chão e começou a perder a consciência, vendo apenas um par de saltos antes de desmaiar.

***

Wendy acordou com água queimando sua garganta, ela tossiu e tentou ver onde estava, porém uma venda cobria-lhe os olhos. Suas mãos e pés estavam amarradas com braçadeiras e ela estava sentada em um cadeira, ela tentou se mover, porém era uma tarefa impossível. Uma dor terrível assolava a sua nuca, então ela lembrou o que havia acontecido e não estava entendendo porquê alguém a sequestraria.

– É realmente impressionante com uma menina de dezoito anos pode deixar inconsciente dois dos homens que deveriam ser os mais assustadores. – a voz feminina puxou a venda com força e deu uma cruzada de esquerda em Wendy.

Tigrinha.

Wendy respirou e engoliu a sua dor.

– Não foi tão difícil assim.

– Você não está em posição de ser atrevida aqui.

– Por que fez isso? – Tigrinha começou a andar de um lado para outro, a menina viu que estava presa em um galpão velho, porém cheio de caixas novas, os homens que estava com ela estavam machucados e um com uma atadura no braço. Wendy sorriu internamente com isso.

– Ora, eu lhe dei um aviso e, incrivelmente, vi Peter sair de sua casa ontem.

– Ele estava lá para nos despedirmos! Fiz o que mandou, não precisava ter feito tanto teatro.

– Tudo isso serviu para que você visse o quanto eu falo sério, alem de conhecer o nosso ilustre James Gancho.

Isso não!

– Você não faz ideia de como Peter odeia ele e não faz ideia como contar onde é o esconderijo...

– Você é louca? Como pretender ficar com ele se Hook o matar?

– O Hook só vai encontrá-lo se você me desobedecer. – Tigrinha andou novamente até Wendy e segurou o rosto da menina sem gentileza – Faça como uma boa cachorrinha e nunca mais veja o Peter na sua vida.

Wendy virou o rosto para livrá-lo da filha do mafioso.

– Eu já fiz o que mandou. Posso ir para casa agora?

– Por que ainda sinto que você não está me levando a sério? – a índia pegou uma faca no cinto e botou no pescoço de Wendy, ela engoliu a seco e tentou não demonstrar medo.

– Não precisa usar uma faca para tentar colocar medo em mim. – Tigrinha não mudou sua postura – Eu nunca mais vou ver Peter novamente, estou ciente do que pode acontecer.

– Ora – disse ela rindo – Já que estamos nessa onde de ameaças, pode incluir sua família nelas. Tenho certeza de que seus pais não lutam tão bem quanto você.

Se Wendy não estivesse presa, provavelmente Tigrinha não estaria com esse sorriso idiota no rosto.

– Ele é um prêmio pra você? – cuspiu Wendy.

– Prêmio? Oh não, prêmio nós temos que merecer... E vamos concordar que eu não sou um anjo como você. Porém, Peter vai me achar um anjo quando eu o consolar depois de sua partida.

– Posso ir para casa?

– Está me cansando ver você com essa feição de coitada. Desamarrem-na - gritou para os capachos – E sejam decentes em não subestimar ela de novo, senão já sabem a consequência.

***

– Wendy! – gritou sua mãe quando a menina abriu a porta de casa, ela abraçou a menina e começou a chorar – Seu pai ouviu a briga pelo telefone, não sabíamos o que fazer! Só podíamos ir até a polícia depois de vinte e quatro horas.

– Eu estou bem, mãe.

O Sr. Darling também abraçou a filha e acariciou-lhe o rosto.

– Machucaram você, querida?

– Não, pai. Sequestram-me por engano e me deixam ir sem me acontecer nada.

– Temos que fazer uma denuncia! Isso é inadmissível...

– Jorge... – chamou a Sra. Darling – Ela está bem, talvez não precise...

– Ela vai precisar de um psicólogo para conseguir sobreviver a esse trauma... Vamos ter que contratar...

– Querido, eu não acho que seja tão necessário.

Enquanto seus pais discutiam, Wendy abraçou os irmãos e correu para o quarto. Quando chegou em sua cama, apertou os lençóis contra o rosto e começou a chorar, com isso acabou pegando no sono.

***

Quando a menina acordou, viu que uma sombra estava a chamando, sentada na beirada de sua cama. Por um momento achou que fosse Peter, porém mesmo antes de ver seu rosto sabia que não era ele, a sombra tinha um porte mais atlético e cabelos mais curtos do que de Pan.

– Ash? – a menina sentou e sentiu que sua bochecha doía com o soco de Tigrinha – O que está fazendo aqui?

– Sua mãe me deixou entrar, estávamos preocupados com você.

Ash era loiro e possuía lindos e modelados olhos azuis, tinha um sorriso perfeito e era capitão do time da escola. Ele e Wendy eram amigos de infância e ela sempre soube da paixonite de Ash por ela, porém o menino era um bom amigo e realmente parecia preocupado com ela.

– Quase fizemos um cartaz de “procura-se”.

Wendy sorriu e Ash pegou a sua mão.

– Está tudo bem? – a menina ficou sem saber o que fazer, ele estava sendo um pouco intrusivo demais.

– Sim... Está. – ela puxou a mão no intuito e arrumar uma mecha, tentando não demonstrar que estava desconfortável.

– E então... Já tem par para o baile? – a menina logo se lembrou de quando pensou em chamar Peter para ir com ela.

– Não... Estava pensando em ir so...

– Você pode ir comigo – cortou ele – Vamos lá! Somos velhos amigos, podemos ir como amigos.

Wendy estava odiando tudo aquilo, só queria dormir e esquecer o dia que tinha passado e não ter que aturar Ash.

– Tudo bem, Ash.

– Ótimo, te pego amanhã às sete.

– Maravilha. – Wendy fingiu sorrir.

***

Ash realmente apareceu em sua casa às sete. Em ponto.

Ela estava vestida com um vestido longo de saia azul esverdeado, a parte de cima era feita de renda com mangas compridas e costas abertas, prendeu o cabelo em um coque ornamentado e fez uma maquiagem mais elaborada do que o normal. Ash também estava bonito, usando um smoking, Wendy entrou em sua BMW e eles foram para o baile.

Tudo estava perfeito, como um baile de formatura deveria ser: adolescentes dançando, um ponche batizado e uma banda relativamente boa. Porém Wendy estava sentada tentando não pensar em nada até Ash a empurrar para pista de dança e lhe entregar um ponche rosa. Ela sabia como ficaria depois de beber, mas também sabia que estava na hora dela se divertir um pouco, era uma adolescente em seu baile de formatura. Virou o copo e pediu para que Ash pegasse mais, começou a dançar com o loiro, sua cabeça girava e seus movimentos não eram mais controlados por ela.

Entretanto, uma de suas amigas sussurrou no seu ouvido:

– Olha o gato que acabou de chegar. – depois começou a gritar – Ele não para de olhar para você! Sortuda!

Quando Wendy olhou, viu Peter usando um terno preto do outro lado do salão, as meninas o rodeavam e ele encarava Wendy com uma fúria que a deixou amedrontada. Ela tirou as mãos do pescoço de Ash e andou – tentando não cambalear – até o Garoto de Verde.

Ele a alcançou e a puxou para um canto, Wendy riu e depois se calou, a bebida não estava lhe fazendo bem.

– O que você está fazendo aqui?

– Não perderia seu baile, Wennie. – Peter sorriu maliciosamente, porém seus olhos ainda demonstravam uma fúria que Wendy nunca tinha visto.


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Notas finais do capítulo

Se não deu para perceber, eu nunca gostei da Tigrinha.