Ele não queria crescer escrita por Any Queen


Capítulo 2
Wendy engana James Gancho


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, amores! Lembrando que vocês não comentaram sobre qual história que vocês querem para minha próxima fic, então não esqueçam dessa vez.
Espero que gostem e quero seus comentários lindos, agradecendo seus lindos reviews no cap passado.
Boa leitura!!



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"Todas as crianças crescem, menos uma." - J.M.Barrie

***

Peter não mudou sua expressão, mas os Meninos Perdidos começaram a gritar desesperados como se acabassem de ouvir que seu pior pesadelo tinha se tornado realidade. João e Miguel não entendiam o que estava acontecendo, assim como Wendy, eles se assustaram com as expressões dos Meninos, por isso Naná foi até eles e tomou sua postura protetora. Wendy deixou as pizzas e foi até Peter, ignorando o fato de estar com raiva dele.

– Quem é Hook?

– Ele é um pirata. – gritou Caracol, gemendo de medo.

– Vamos todos morrer em seu gancho. – estremeceu Firula.

– Peter. – chamou Wendy, ele olhava para os meninos, porém parecia bem longe, pensando em algo que Wendy nem fazia ideia.

– Ele nos persegue desde que eu fugi do orfanato, querendo encontrar nossa casa, mas ele nunca conseguiu. – o menino suspirou e apoiou a mão na cintura – Hook está cada vez mais perto.

– O que ele quer com vocês?

– Nos matar! – interveio Magrelo.

– Nos levar de volta para o inferno de onde eu fugi. – contou Peter – Ele não pode nos encontrar, Wendy. – implorou o Garoto de Verde.

Wendy entendeu o seu olhar suplicante, olhando para ela como se fosse sua única solução, a menina se sentiu na obrigação de salvar a Terra do Nunca. Foi até os meninos e Naná e lhes falou baixinho:

– Quero que fiquem aqui até eu poder voltar. – acariciou Naná – Cuide bem deles e dos Meninos, tudo bem? – a cachorra latiu e chegou mais perto dos irmãos de Wendy – Agora – falou ela mais alto – Quero que todos vocês vão para o andar de cima e fechem as janelas, não se esqueçam de ficar em silêncio.

Hesitantes, os meninos foram silenciosamente para o andar de cima, sem precisar pedir a permissão de Peter. Wendy olhou para ele, que mantinha seu olhar cabisbaixo e seus ombros caídos, aquilo estava se tornando difícil para ele. Decidida, a menina afagou o ombro de Peter e passou pela porta, não demorou muito até que ele fosse atrás dela.

– O que pensa que está fazendo?

– Provando que você precisa de mim. – ela bateu os pés e voltou a andar em direção a floresta.

– Você não vai fazer nada arriscado.

– E eu não preciso do seu consentimento. – ele agarrou no cotovelo dela e puxou-a para que pudesse encará-lo.

– Wendy... – advertiu.

– Eu posso ajudar, Peter, mas preciso que confie em mim. – ela lhe olhou suplicante, não queria que ele a impedisse, queria que visse como ela pode ajudá-los. – Você confia em mim?

Peter pensou em como ela não o entregou e como estava disposta a ajudar seus Meninos Perdidos, se ela já não tivesse provado que pode ser de confiança, Peter não sabia o que mais ela teria que fazer.

– Confio em você, mas não no Hook.

– Então deixe comigo, eu sei o que estou fazendo. – pediu ela – Por favor, Peter.

– Tudo bem. – ele a soltou e jogou os braços para cima desistindo – Mas eu estarei por perto, na sua retaguarda.

– Obrigada. – ela se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha, tratou de se afastar o mais rápido que pôde para não ficar corada, mas quando se afastou, era Peter que parecia ruborizado e assustado com o que acabara de acontecer – Me desculpe, sei o quanto odeia garotas.

– Wendy, qualquer garota vale mais do que dez garotos. – Pan sorriu e colocou dois dedos na boca, assobiou e Sininho veio voando, pousando em seu ombro – Encontre Hook. – assim o passarinho verde voou.

– Ela acabou de assentir? – abismou-se Wendy.

– Sininho tem sido minha companheira desde que eu possa me lembrar, ela sempre me respondeu e eu sempre pude entendê-la. Só não sei como.

– Isso é maravilhoso, como...

– Mágica. – completou ele.

– Assim, como mágica. – Wendy sorriu e eles voltaram a caminhar.

Sininho voltou alguns minutos depois, pousou no ombro de Peter e fez o som que os pássaros fazem, o menino assentia de vez em vez. Assim que voou, Wendy achou que tinha acabado, mas Sininho defecou em cima de sua blusa azul.

– Sininho, era minha favorita! – lamentou a menina.

– Ela nunca fez isso antes.

– Está claro que ela me odeia com todo seu ser de pássaro.

– Ou fada. – lembrou o Garoto de Verde – Vamos, sei onde Hook está.

Eles andaram por mais alguns minutos até que Peter decidisse que Wendy teria que ir sozinha dali para frente, mas que ele estaria vigiando-a por cima. A garota respirou fundo e continuou com seu plano, era algo simples, mas que ela tinha certeza que funcionaria.

Alguns segundos depois, escutou passos adiante, suspirou e entrou em seu personagem. Um homem de quase trinta anos estava caminhando na floresta, ele tinha lisos cabelos negros até o ombro, usava roupas escuras e um casado vermelho escuro. Hook possuía uma barba rala e olhos negros com a noite, era alto e mantinha uma postura confiante. Enfim, Wendy percebeu que no lugar onde deveria estar sua mão esquerda, havia nada, apenas um resquício do que deveria estar ali.

Ele logo a avistou, a menina sorriu, ingênua, e foi até o homem.

– Senhor – ela suspirou – Que bom que achei alguém, acabei ficando perdida e está anoitecendo! Fiquei com medo de ter que passar a noite aqui.

– O que está fazendo no bosque sozinha, senhorita? – ele a encarou desconfiado, o que fez Wendy melhorar sua mentira.

– Estou no último ano do colégio, mas sou uma negação com biologia, minha professora disse que me formaria se eu fizesse um trabalho sobre os tipos de vida que há aqui. Achei que o melhor lugar para isso era aqui, no bosque, então eu decidi vir e ver como fazer meu trabalho, mas acabei ficando totalmente perdida.

– Não tem celular?

– Claro. – Wendy pegou seu celular desligado e levantou – Ele acabou a bateria de tanto eu tentar achar um sinal aqui, é impossível.

– Por que não chamou ninguém para vir com você? – aquilo já estava virando um interrogatório e Wendy não estava gostando, suas mentiras estavam se extinguindo.

– Hãm... Meus pais trabalham e meus irmãos são muito novos, os meus amigos estão estudando para a semana final dos testes, eu não queria perturbá-los com meu trabalho extra. Sou terrível em biologia.

– Sim, você já disse. – ele sorriu e indicou o caminho – É por ali.

– Você não pode me levar? Estou achando que ficarei perdida novamente sem a sua ajuda, senhor...

– James – ele olhou para os lados e arqueou a sobrancelha – Vai confiar em um homem que acabou de encontrar na floresta? – Hook sorriu de um jeito diabólico, Wendy estremeceu, mas não deixou que seu medo ultrapassasse a menina inocente que vinha interpretando.

– É isso ou ficar aqui a noite toda e eu tenho certeza que a segunda opção é bem pior. – ela deu de ombros, Hook suspirou irritado e começou andar pelo caminho que apontara.

– Obrigado, Ho... – Wendy tossiu – James.

Eles andaram em silêncio, Wendy sentia os olhos de Pan em cima dela, o que a deu segurança de continuar andando ao lado do misterioso Hook.

– Como o senhor perdeu a mão? – ele a encarou como se ela não tivesse direito de perguntar aquilo.

– Acidente de trabalho.

– No que você trabalha? – insistiu ela.

– Para uma organização que ajuda crianças órfãs e sem lar.

– Que belo trabalho. – a garota estremeceu com a palavra “organização” – Por que estava em uma floresta sozinho?

– Estava atrás de uma criança que fugiu. – James a encarou profundamente, querendo arrancar os segredos de sua alma , Wendy desviou o olhar e se segurou para não gritar pela ajuda de Peter – Conhece alguma criança assim?

– Não. – mentiu – Não conheço muitas crianças, só os meus irmãos.

Graças a Deus eles chegaram ao fim do bosque, Wendy suspirou e viu que tinha um carro preto sozinho estacionado no meio de uma rua razoavelmente vazia.

– Consegue ir para casa? – Wendy assentiu.

– O senhor vai voltar para o bosque?

– Não, já encontrei o que queria. – o coração da menina começou a bater muito rápido, ela lutou para não demonstrar isso, o que ele quis dizer? Ele não havia encontrado Pan.

– Que bom. – disse ela por fim – Muito obrigada, você acabou de me salvar.

– Disponha. – Hook fez uma menção com a cabeça e depois foi para o carro, bateu no vidro, mas ninguém abriu – Smee, abra este carro.

– Sim, Capitão. – gritou uma voz de dentro.

Então Wendy viu o Hook desaparecer.

Assim que o terrível Capitão havia sumido, Peter apareceu, pulando da árvore e sorrindo aliviado. Wendy começou a rir, estava tão nervosa que não se dera conta que estava prendendo a respiração.

– Acho que ele caiu. – respirou a menina com a mão na testa.

– Você foi incrível. Agora vamos voltar, precisamos avisar os meninos.

Assim que eles chegaram à Terra do Nunca, Peter avisou que estava tudo bem e os Meninos Pedidos começaram a atacar as pizzas. Wendy decidiu que era hora de levar seus irmãos embora, estava tarde e seus pais logos começariam a se preocupar. Naná puxou-os para fora depois de muita reclamação, Wendy se despediu dos esfomeados meninos e prometeu que voltaria em breve.

Quando já estava fora da casa, Peter pulou do telhado e segurou o cotovelo de Wendy, que se assustou e deu um grito.

– Obrigada por hoje. Não só pelo Hook, mas pela pizza.

– Por que “Hook”?

– Histórias contam que ele, na verdade, preenche o vazio de sua mão esquerda com um gancho e comanda um grupo de piratas.

– Você acredita nisso?

Peter deu de ombros.

– Dizem que se você acreditar pode virar realidade.

– Você usa muito o sujeito desinencial. – Wendy o encarou, duvidando de suas palavras.

– Talvez – ele disse chegando mais perto dela – Eu ouço as vozes das fadas que viajam nos ventos. – sussurrou.

– E talvez – Wendy usou o mesmo tom de voz – Você seja só maluco.

– É... – Peter tirou o cabelo de Wendy de cima do coco de pássaro – Talvez.

– É melhor eu ir. – Peter se inclinou e ficou a um centímetro dela.

– Sim. Mas antes que eu possa esquecer... Preciso de você. – Wendy perdeu o ar quando ele sussurrou as palavras perto de sua boca – Todos nós precisamos.

– Que bom que percebeu isso. – ela brincou com as palavras, mas seu coração estava acelerado. Peter se afastou e foi até a porta.

– Até mais, Wendy.

– Até mais, Peter Pan. – ela sorriu e foi até os irmãos, mexendo no cabelo onde Peter segurara.

– Wendy, Wendy. – chamou Miguel.

– O que foi? – disse ela pegando-o no colo.

– Você gosta do Peter Pan?

– Não. – falou rápido – Claro que não.

– Literalmente falando Wendy – começou João – Você teria que gostar dele para protegê-lo do maligno Capitão Hook.

– Ora João, eu só ajudei os Meninos Perdidos.

– Wendy, Wendy – chamou Miguel mais uma vez – Nós somos meninos perdidos?

– Não, Miguel, você tem pai e mãe.

– Peter disse que podíamos ser Meninos Perdidos se quiséssemos – contou João.

– Mas vocês não podem. – disse Wendy terminando o assunto – Vamos para casa.

***

Wendy não voltou na Terra do Nunca no dia seguinte, nem o resto da semana. Ela tentava dizer a si mesma que era culpa de sua semana final de testes e que não havia tempo para ir à Terra do Nunca. Mas algo dentro dela sabia que era culpa de seus sentimentos por Peter Pan, algo no jeito que ele a tocou tinha criado um sentimento estranho em Wendy, e ela sabia o quanto arriscado ficar perto dele. Porque ele era um ladrão que cuidava de mais seis crianças em uma casa abandonada, Wendy queria algo mais e não ficar presa com Peter em sua juventude, para sempre.

Peter não quis admitir a falta que Wendy lhe fez no primeiro dia, esperou-a por horas em cima de uma árvore, porém a menina não apareceu. Ele quis voltar á Terra do Nunca, mas de um jeito estranho tudo naquele lugar lembrava Wendy, então decidiu andar sem rumo pela cidade escura. O lugar já estava deserto e as luzes das casas apagadas, somente Pan caminhava com Sininho em seu ombro direito.

Minutos depois, o menino se encontrou no jardim da casa de Wendy, ele não sabia como havia chegado lá, porém sentia uma enorme necessidade de ver Wendy, mesmo que fosse somente para vê-la dormir. Subiu com facilidade até a sacada do quarto de Wendy, a janela estava janela e as cortinas balançavam com o vento da noite. Ele hesitou por uns instantes, perguntando-se se era o certo a se fazer, Sininho cutucava seu ombro incessantemente, ele sabia o que ela pensava. Talvez devesse ouvi-la e ir embora, deixar Wendy decidir quando voltaria à Terra do Nunca.

Porém, ouviu um barulho estranho e se esgueirou tentando ver o que acontecera, Wendy dormia tranquilamente suspirando algo que a fez sorrir. Peter vasculhou o quarto e percebeu que não havia nada fora do comum, então sentou-se no banquinho que jazia embaixo da janela. O quarto de Wendy era todo adornado com rústicos móveis de madeira velha, haviam quadros com fotos suas e de seus familiares espalhados pelas paredes, perto do dorso de sua cama havia uma prateleira cheias de livros que Pan desconhecia.

Ele não suportou tamanha curiosidade que havia se formado pelo gosto literário de Wendy, levantou-se e começou a andar com calma até seus livros, a menina se mexeu e Peter parou no meio de seu movimento. Quando viu que ela dormia serena, voltou a olhar para prateleira, Peter não era muito fã de leitura ou estudo, mas pegou um livro que o chamara atenção: Robin Hood. Pegou o livro com incerteza e folheou-o, tirou um pedaço da pena de seu chapéu e deixou no lugar onde o livro esteve, para que Wendy soubesse quem o havia pegado. Pan segurou o livro e voltou a sentar no banco, abriu na primeira página e começou a lê-lo, escutando o confortável som da respiração da menina. Contudo, ao amanhecer, ele já tinha partido.

Wendy acordou atordoada no dia seguinte, havia sonhado com Pan. Sonhou que ele a observava, então ela acordava, ia em direção ao Garoto de Verde e lhe deva um beijo desesperador. Levantou-se preguiçosamente e preparou-se para mais um dia aturdido no colégio. Quando aproximou-se de sua estante de livros para pegar seu material, Wendy notou que os livros pendiam para o lado direito indicando-lhe que faltava um em sua coleção. Encarou o local vazio e encontrou um pedaço de pena vermelha, depois de muito pensar e olhar seus livros, Wendy percebeu que a obra que havia sido roubada era de longe sua favorita, Robin Hood.

Então tudo lhe encaixou perfeitamente, Peter havia roubado graciosamente seu livro e deixado-lhe uma pena indicando que estivera ali noite passada e que o sonho de Wendy não havia sido de total imaginação. No começo a menina se assustara com o fato de alguém lhe observar, mas depois sorriu ao ver que Pan sentiu sua falta. Wendy não soube dizer, em um primeiro momento, se aquilo era bom, pois estava tentando esquecer Peter e não encontra-lo para que as coisas não fugissem do seu controle. Então decidiu que mesmo se Pan fosse ao seu quarto todas as noites, ela não iria indicar que soubesse de sua presença.

***

Uma semana se passou e Peter continuava a visitar o quarto de Wendy, roubando-lhe seus livros e devolvendo-os na noite seguinte. Wendy fingiu dormir todas as vezes pensando no que aconteceria se um dia acordasse e eles finalmente conversassem sobre o que estava acontecendo. Por isso, na noite seguinte, Wendy esperou pacientemente Pan entrar em seu quarto, ele adentrou o quarto com cautela e serenidade como todas as outras vezes. Ela esperou que ele colocasse o livro de volta a estante e encarasse os outros a procura de algo novo.

– Eu sugiro “As Crônicas de Nárnia”. – disse a menina. Ao assustar-se, Peter deu um pulo e Wendy começou a rir, sentou-se e esperou o menino acalmar-se.

– Você sabia que eu estaria aqui? – Pan andou hesitantemente até a cama de Wendy e sentou-se.

– Desde que você pegou o “Robin Hood”, eu sei que você vem me vigiar. – Peter passou a mão no cabelo nervoso e lançou-lhe um olhar de desculpas.

– Vigiar é uma palavra muito forte, meu interesse é somente nos livros.

– Então por que você não me pediu? – Wendy cruzou os braços na frente do peito e encarou seriamente Peter.

– Hãm... Eu... – Peter gaguejou porque não sabia se dizia o que verdadeiramente o levava, todas as noites, até o quarto de Wendy – Achei que você veria isso como perseguição, como não foi à Terra do Nunca desde que nos ajudou com Hook.

– Estava estudando para as provas finais, não tive tempo para visitar vocês, mas diga aos Meninos Perdidos que os visitarei em breve.

– E eu, não ganho nenhuma desculpa? – Wendy abaixou o olhar, ruborizando. Pan sorriu maliciosamente e esperou alguma reação da menina.

Foi a vez de Wendy gaguejar:

– Hãm... Eu... É... – Envergonhada, a menina colocou uma mecha de seu cabelo que caia em seus olhos para trás da orelha – Sinto muito, eu realmente estive ocupada. – Wendy quis desesperadamente mudar de assunto, porém Pan estava se divertindo com seu constrangimento – E os livros? Gostou deles?

– Sim, o meu preferido foi o Robin Hood. – Peter sussurrou as palavras enquanto chegava mais perto de Wendy, a menina tentou se afastar, mas acabou esbarrando na cabeceira da cama, não tendo para onde fugir. Pan, sentou-se mais perto dela e pôs a mão em seu rosto. – Quando me chamou assim, foi algum tipo de elogio, Wennie?

– Não... Hãm... Quer dizer... Sim... Não, talvez. Eu não sei dizer, Pan.

– Eu já te disse como meu nome fica lindo em seus lábios? – Wendy corou e olhou para a mão que a acariciava cuidadosa e carinhosamente, o que a deixou ainda mais envergonhada.

Assentiu, depois de segundos decidindo o que fazer.

– Wendy, Wendy – sussurrou Peter perto de seus lábios, fazendo-a estremecer – Por que você anda me evitando?

– O quê? – Falou ela alto demais – Eu não ando te evitando, eu realmente tinha que estudar. Não é como se eu estivesse nervosa o bastante para ficar perto de você sem ter sentimentos que eu não quero, porque eu não gosto de você, não assim. – Wendy estava desesperada e falava tão rápido que as palavras saiam emboladas de sua boca – Eu gosto de você, mas como amigo, um bom amigo, realmente bom am...

Peter colocou o dedo em sua boca, fazendo-a ficar calada, ele ria com as expressões que Wendy fazia e algo novo crescera dentro dele, algo que ele nunca havia sentido antes. Desejo.

– Se você disse mais uma vez a palavra “amigo”, eu juro que nunca mais te deixarei em paz. – ele não conseguia desviar seu olhar dos lindos lábios da menina, ela sorria constrangida, o que só aumentava sua vontade de beijá-la, Wendy era linda e ele estava encantado com o jeito que ela agia.

– Tudo bem então, como quer que eu te chame? – Perguntou nervosa, temendo a resposta de Pan.

– Talvez amanhã, às sete, na Terra do Nunca.

– Isso é um encontro, Peter?

– Não – disse Peter descartando a ideia – Só vamos dizer que eu estarei lá e você também, e talvez caminharemos juntos... Mas vai depender do meu humor.

– Você deixa seu humor lhe controlar muito?

– Só quando ele tem razão – O menino leva a sua mão novamente ao rosto da menina retirando sua mecha que caíra mais uma vez.

–E o que ele diz agora? – disse ela quase inaudível. Peter estava a um centímetro do rosto de Wendy, ela sentia sua respiração descompassada sobre seus lábios, entreabriu-os tentando não deixar seu nervosismo transpassar.

– Ele me diz para beijar você. – Pan roça seus lábios nos dela, a menina fechou os olhos esperando o beijo que tentara tanto não deixar acontecer.

– Você vai ouvi-lo? – Perguntou de olhos fechados tentando imaginar aquele momento.

Wendy esperou e esperou, porém não sentiu o gosto da boca de Peter ou como seria segurar em sua orelha, pois quando abriu os olhos, viu que estava novamente sozinha no quarto, porém havia algo onde, segundos atrás, estava Pan: uma blusa. Uma blusa azul.

***

Wendy passou o dia seguinte pensando se deveria ou não ir até o “encontro” com Peter, não se concentrou na sua prova de biologia, porém isso não era muito importante, ela era ótima nessa matéria. Pensou se deveria aceitar o presente dele, mas não era algo que ela pudesse ficar, Peter e os Meninos Perdidos já não tinham dinheiro o suficiente, ele não tinha que gastar o seu dinheiro com ela. Então Wendy decidiu que iria até à Terra do Nunca às sete apenas para lhe entregar a blusa.

Já Peter não conseguiu deixar de pensar no por que foi embora antes de beijá-la. Ele estava caçando com os Meninos Perdidos, fazendo algo que realmente gastava o seu tempo e concentração, mas não conseguia deixar de pensar nisso. Beijar era coisa de adulto e ele não iria crescer. Peter Pan não iria crescer.

– Peter! – gritou Magrelo – Você errou.

– Eu não errei. – mesmo que estivesse errado, o Garoto de Verde não iria admitir isso, os Meninos sabiam que havia algo de errado com Pan, eles sabiam que a causa era Wendy – Vocês me desconcentraram.

– E agora? – perguntou Caracol – Estou com fome.

– Podemos caçar outra coisa. – tentou Firula.

– O que? – questionou Bico.

– Peixe. – disse os gêmeos ao mesmo tempo.

– Isso – disse Peter – Vão pescar alguns peixes.

Os Meninos Perdidos correram animados para o lago, deixando o líder sozinho. Ele olhou para céu e percebeu que já anoiteceria, correu até à Terra do Nunca e decidiu tomar um banho antes que Wendy chegasse. Enquanto banhava-se no rio Peter pensava no que deveria dizer à Wendy, ele não sabia se contava a verdade de que tinha medo de crescer ou escondia sua insegurança no seu jeito brincalhão.

Contudo, a imagem de Wendy de olhos fechados e lábios entreabertos não sai de sua mente, ele tinha uma necessidade enlouquecedora de tomar seu rosto em mãos e cobrir sua linda boca com sua. Queria ouvir Wendy suspirar seu nome e ouvir como ele ficava lindo soando em seus lábios... Peter gritou e sacudiu a cabeça tentando jogar fora qualquer pensamento que envolvesse beijar Wendy.

Ele estava sentado no telhado da Terra do Nunca, estava usando uma calça jeans skinning, uma blusa verde claro por baixo de uma jaqueta de couro verde escuro. Apertava a flor que colhera perto do rio, era uma tulipa azul que logo lhe lembrara Wendy.

Assim que escutou algo na varanda do segundo andar, Peter pulou do telhado e esperou que Wendy descesse da corda. Ela desceu desajeitada pulando quando chegou mais perto do chão, tirou o cabelo do rosto e tentou sorrir para Peter.

– Descalço no nosso primeiro encontro. – Peter a encarou contrariado.

– Eu achei que tinha dito que isso não era um encontro – Ele arqueou uma sobrancelha.

– E não é. Eu só vim para te entregar isso – A menina tirou a blusa da mochila marrom e esticou para que Peter pegasse, mas o garoto só se afastou sacudindo a cabeça.

– É sua, já que Sininho acabou estragando a outra.

– Mas eu não posso aceitar. Você já não tem dinheiro suficiente para os meninos, você não pode gastar comigo. E, afinal, você roubou isso?

– Não! – disse ele indignado – Eu comprei.

– Mas achei que você não trabalhasse. – Wendy olhou para baixo envergonhada, por mais que Peter fosse um ladrão, ela não tinha direito de jogar isso na sua cara.

– Faço trabalhos pequenos, de um dia. A blusa é sua.

– Não. Eu não quero. – ela sacudiu a blusa para que ele a pegasse, mas Peter somente cruzou os braços.

– Sim, você quer.

– Não.

– Sim, Wendy. – Ele foi até ela e segurou a mão com que estava com a blusa – Se você não ficar com ela os Meninos Perdidos vão acabar usando-a para brincar, e isso sim seria um desperdício de dinheiro. Por favor, aceite – Ele encarou-a silenciosamente por alguns segundos, até que Wendy suspirou e guardou a blusa de volta na mochila.

– E... Como está seu humor hoje? – Pan sorriu e lhe ofereceu o braço.

– Ele quer dar uma caminhada – Wendy entrelaçou seu braço direito no dele.

Peter levou Wendy para o que ele chamava de Lago das Sereias, quando ela lhe pediu uma explicação ele se limitou a sorrir e disse que ela veria quando chegassem. O Lago das Sereias era um lugar lindo, o luar refletia sobre as águas de um jeito único, havia uma pedra no meio dele que Peter disse que se chamava Pedra do Abandono. Pan contou que aquele era o melhor lugar do mundo, então os dois foram até ele, Wendy demorou um pouco para chegar, já que não era como Peter, que parecia voar sobre as pedras.

– Tem certeza que você não é sobrenatural? – Peter sorriu e ajudou Wendy a chegar à Pedra do Abandono. – Muito bem, agora me conte, por que Lago das Sereias?

– Se você fechar seus olhos e ficar em silêncio, pode ouvir as sereias cantando. Quer tentar? – o Garoto de Verde sentou na parte mais alta da pedra, enquanto ela sentou no lugar mais seguro que encontrou.

– Quero. – a menina fechou os olhos e esperou, mas nada aconteceu.

– Você tem que acreditar. – ela fechou os olhos mais uma vez e se concentrou, ao longe podia ouvir uma voz cantando melodicamente uma canção triste, algo sobre um amor perdido.

– É incrível. – suspirou ela.

Peter a encarava enquanto estava de olhos fechados e sorrindo sob o canto das sereias, ela estava linda, mas que linda... Wendy estava perfeita. Seu cabelo castanho estava preso, usava uma blusa azul por de baixo de uma jaqueta jeans, uma calça preta e all star surrado. Seus olhos brilhavam quando ela os abriu, Peter sentiu a vida neles, a magia que eles acabaram de presenciar.

Ela sorriu para ele, o que fez Pan sair do seu transe.

– Vamos – disse ele pulando da pedra e esticando sua mão para que ela pudesse pegar – Tem um lugar que eu quero que você veja.

Ele começou a correr e puxou-a junto dele, Wendy riu e correu com ele. Peter parou quando chegaram a uma grande árvore em cima de um colina, ele começou a subi-la, mas a menina não sabia como fazer isso. Pan olhou para baixo e riu, desceu alguns galhos e ajudou-a a subir. Ele não parou até que estivessem na parte mais alta, olhando a cidade que brilhava por debaixo deles, Peter a olhava com certo silêncio, como se só pudesse encará-la e não fazer parte dela.

– Você tem certeza que os Meninos ficarão bem? – ele sentou em um galho a cima dela – E se Hook voltar?

– Sininho está cuidando deles, se ele voltar, ela vai nos avisar.

– Sim... – um silêncio constrangedor pairou sobre eles, os dois tinham coisas mal resolvidas da noite passada, mas era Peter que tinha que se desculpar.

– Eu olho para essa cidade e vejo as pessoas com sua vida corrida, os adultos trabalhando, presos a tudo. Eu não quero isso, não quero essa vida. Eu não quero crescer, Wendy. – admitiu ele sem olhar para ela – Beijar você seria aceitar isso.

Ela não soube o que falar por alguns segundos, mas decidiu que Peter merecia um pouco da verdade.

– Eu parei de vir à Terra do Nunca porque não queria ter sentimentos por você... Não queria me apaixonar por você, eu sabia que me ignoraria. Sei que não quer crescer e eu não vou pressioná-lo, mas Peter... Você tem dezoito, isso significa crescer, mas não significa ficar preso.

– Eu não quero trabalhar – disse ele com uma careta – Não quero ter que fazer uma mesma coisa para o resto da vida.

– E você não precisa... Sabe disso. Confie em mim.

– Eu confio. – disse sem hesitar – É mais fácil quando se é criança.

– Eu sei. – ela compreendeu ele desde o primeiro momento que se conversaram, ele não precisava se explicar. – É melhor eu ir, está tarde.

– Corrida até lá embaixo.

Peter começou a descer em uma velocidade incrível, claro que Wendy perdeu, mas ela não deixou de tentar. Pan já estava em terra quando ela tentava descer os últimos galhos, porém ela escorregou e se viu caindo para o nada, mas como antes, ela não sentiu o chão, apenas os braços de Peter apertando-a contra seu corpo.

– Pare de tentar ganhar de mim. – ela estava com as mãos no seu pescoço, o corpo dele era quente contra o dela e seus rostos estavam pertos o suficiente para que ela se imaginasse provando seus lábios.

– Eu já disse, Robin Hood, eu não vou parar.

Ele a olhou por um momento antes de beijá-la. Wendy queria rir de alegria, queria poder contar ao mundo inteiro que estava beijando-o. Peter não a colocou no chão, mas apertou-a mais e explorou a boca de Wendy, ela pôs a mão em seu rosto, puxando o mais para perto. E, então, fez o que queria fazer desde o momento que o vira, segurou em sua linda orelha pontuda, Peter sorriu em seus lábios, mas não a soltou.

O que fez os dois amantes se soltarem foi um canto de passarinho ao longe. Peter se afastou abruptamente e a colocou no chão.

– O que foi Sininho? - Pan ainda segurava Wendy perto de si – Tem algo errado.


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Notas finais do capítulo

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