Capítulo 5 – Folhas secas

— Nii-sama!

  O grito doloroso de Rukia ecoou por todo o segundo andar, enquanto Grimmjow amparava o corpo inerte do Kuchiki mais velho em seus braços.

  Tudo acontecera rápido demais, no entanto, para a morena tudo se passara em câmera-lenta diante de seus olhos. Aquela só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto do destino! Não! Aquilo não poderia estar acontecendo uma segunda vez. Primeiro Ichigo e agora Byakuya...

  Ela sabia que não iria aguentar perder alguém assim uma segunda vez. Seu corpo todo tremia e Rukia não conseguia manter a calma. Estava à beira de um colapso e não conseguia raciocinar direito. Sua mente estava nublada pela dor.

  Nada a sua volta parecia fazer sentido, mas eis que mãos fortes a tocam.

— Rukia?! Rukia! — Renji a chacoalhava com a esperança de fazê-la voltar a si, mas de nada adiantava. Ela estava desmoronando e, não conseguia desviar os olhos de Grimmjow, que gritava para que chamassem socorro para o comandante.

  Seus olhos se encontraram por uma fração de segundo e a morena viu ferocidade naqueles olhos azuis e não pode deixar de admira-los. Eram tão belos e só foi se dar conta daquilo naquele momento fatídico! 

  Estava perdida...

— Rukia...? — ouviu Renji a chamar uma terceira vez e seus olhos viajaram para a face corada do ruivo. Pode notar que ele suava de nervosismo e teve a certeza de que deveria estar pior que ele.  Se sentiu um lixo ao fraquejar daquela maneira perante a todos aqueles oficiais de menor posto que o seu.

  Ainda tremendo de leve, tentou reunir o resto de dignidade que tinha e o encarou severamente, desvencilhando-se do agarro do amigo.

— Estou bem, Renji — disse tentando acalma-lo e sem esperar para ver se havia conseguido ou não, ela caminhou até onde Grimmjow ajudava no socorro de seu irmão.

  Seus olhos se encontraram por alguns instantes e Rukia tinha certeza de que o homem entendia seu sofrimento e aquilo a aliviou de uma maneira estranhamente incomum. No entanto, não se permitiu trocar uma palavra se quer com o parceiro e ele parecia aceitar sua atitude, mantendo-se calado o tempo todo.

  Assim, Rukia não pode fazer muita coisa, porém não conseguiu se afastar do moreno e seguiu sozinha com ele na ambulância que o levou para o hospital sem se importar com as palavras de Grimmjow que insistia em seguir com ela.

  Talvez ele pensasse que ela fraquejaria, no entanto, a morena manteve a calma o trajeto todo e não derramou uma lagrima sequer.

  Poderia fazer isso depois, agora se manter forte era o certo e foi o que fez ao segurar a mão fria de Byakuya.

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— Merda! — gritou chutando os entulhos que sobrara do atentado de mais cedo.

  Fora impedido de acompanhar Rukia e agora sentia seu peito apertar ao lembrar do desespero da moça. Não devia se sentir daquela maneira, mas era tarde demais, sabia que sentia simpatia pela capitã e não podia odiá-la, mas, por outro lado, ela era a única coisa em seu caminho para a liberdade e aquilo o frustrava.

  Não podia fraquejar naquele momento e é por se ver sem escolha, odiava Aizen cada vez mais.

  Ele era o culpado por tudo, desde o atentado até as amarras que prendiam o Jaegerjaquez.

— Maldição! — resmungou.

— Jaegerjaquez — ouviu seu nome ser chamado a suas costas e logo reconheceu o melhor amigo de Rukia se aproximar e uma estranha tensão o tomou.

  O ruivo parecia mais mal-humorado que o normal, mas o entendia muito bem naquele momento.

— Sim — respondeu o outro, esperando as ordens.

— Rukia te quer lá no hospital. Se prepare em dez minutos que o levarei até lá.... — ouviu e seu coração acelerou.

  Rukia já confiava nele, podia sentir e sabia que ela só o chamaria se confiasse verdadeiramente. Encarar aquilo fez um frio tomar conta de seu estomago.

  As coisas estavam indo rápido demais e tinha certeza de que aquele atentado a ajudara com isso assim como Aizen devia ter planejado.

— ... certo, oficial? — indagou o Abarai, o encarando com impaciência.

— Sim, senhor — declarou e ao ver Renji lhe dar as costas, seguiu para sala onde guarda todo o armamento que podia pegar e escolheu apenas pistolas de disparo automático, seguindo para onde o ruivo o esperava.

  Sem muita conversa, os dois chegaram ao hospital e ele foi encarregado de checar a área e só terminou quando o céu se tornava alaranjada. A noite estava prestes a cair e ele não sairia dali.

  Caminhou pelos corredores vazios do hospital, encontrando Rukia sozinha na sala de espera. Ela tentava se manter forte, mas seus olhos estavam inchados deixando claro que ela havia chorado mais uma vez e aquilo fez o peito do homem doer mais uma vez.

  Algo totalmente desnecessário para ele no momento. Grimmjow não podia se deixar apegar ainda mais a Kuchiki.

— Como ele está? — perguntou a única coisa que veio à cabeça e parecia certa para o momento.

— Nada bem. Ele está na sala de cirurgia para que a bala seja retirada — declarou com a voz tremula.

— Você devia ir para casa...

— Não. Meu irmão precisa de mim — o cortou séria.

  Vendo a determinação nos olhos violáceos da mulher, ele não rebateu e apenas se sentou em frente a mesma deixando o silêncio reinar mais uma vez.

  Nenhum deles tinha nada a dizer e por isso o silêncio era a melhor opção ainda que impulsos estranhos o atormentassem, puxando-o para mais perto da moça.

  Bufou, aquela seria uma longa noite.

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  A noite avançava lentamente e já era quase de madrugada quando tiveram a notícia de que o Kuchiki já havia passado pela cirurgia e se recuperava bem.

  Um sorriso brilhante que Grimmjow nunca havia visto, iluminou a face de Rukia, mas ainda assim ela não quis ir embora e decidido a não a deixar só, ele apenas permaneceu onde estava desde que chegara ali e a observou adormecer.

  Não podia negar que ela era linda e vê-la dormir lhe deu uma estranha sensação de paz, tanto que não se conteve e se jogou ao lado dela para lhe cobrir com o casaco leve que usava.

  Riu ao se dar conta de que estava perdido....

  Já não conseguia fazer mal a ela e sabia que Aizen descobriria isso mais cedo ou mais tarde, por isso, olhando para as folhas secas do vaso de flor sobre a mesa, ele decidiu que pensaria em uma saída onde nem ele ou Rukia sofreriam nas mãos do Sousuke.

  Mas no fundo, ele sabia que toda escolha teria uma consequência no final, antes mesmo do outono chegar.