Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 22
Capítulo 22: Alerta


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo hoje porque vocês merecem e eu estou back a todo vapor.
TREM FUMAÇA, POARR



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Os portões do galpão podiam ser vistos por entre aquele mundo de mato. Cada vez que me embrenhava na floresta eu dava mais razão à maluca da Thea: o mundo tinha realmente se tornado num monte de mato.

Michonne decepa a cabeça de um errante que se coloca em nosso caminho, sua cabeça se divide em duas e rola para o lado, o corpo caindo sobre um amontoado de folhas secas.

"Patéticos", a voz de Thea me vem a mente, me fazendo balançar a cabeça. Era só eu relaxar um pouco que a idiota invadia meus pensamentos sem nenhuma autorização, como num aviso para eu me manter em alerta. Sempre em alerta.

Tomo a dianteira, derrubando um errante que arranhava a porta do galpão com as unhas ensanguentadas, deixando um rastro de sangue podre por onde elas passavam. Ele cai para frente, causando em estrondo ao bater no metal.

Dou três batidas no portão, anunciando nossa presença, enquanto chuto o corpo para o lado, abrindo passagem. Eles não demoram muito para abrir, somente o suficiente para olhar pela janela e ter certeza de que éramos nós.

Rick acena com a cabeça, abrindo o portão com uma expressão preocupada. Franzo o cenho, mas não me atrevo a perguntar. Talvez fosse algo com Michonne, e eu não tinha nada a ver com aquilo.

Dou de ombros, sem conseguir evitar de procurar Thea pelo local. Estreito os olhos quando não a encontro. Olho em volta mais uma vez, meus olhos pousando em Carol e Tara armadas até os dentes, como se fossem sair em uma busca. Sinto um bolo se formar em minha garganta.

– O que foi? - pergunto, arrumando a besta nos ombros.

– Thea saiu atrás de água e não voltou. - Rick diz, carregando um rifle.

– Sozinha? - é uma pergunta retórica, mas cerro o maxilar a espera de resposta.

– Ela sabe se virar, Daryl... Viveu meses sozinha. - Carol diz e, ao contrário do objetivo, suas palavras não me tranquilizam, só parecem apertar a boca de meu estômago.

– Não foi isso que eu perguntei. - digo, sentindo a raiva borbulhando em minha garganta. Eles não me respondem, e já é o suficiente.

Arranco o esquilo do cordão, e arrumo a besta nos braços, pronto para partir atrás de Thea, irritado demais para ouvir qualquer coisa que Rick dizia. Haviam pessoas lá fora, e eu poderia garantir que elas não eram boas.

– Encontramos rastros. Não eram de Abraham, e eram tão recentes quanto. - digo. Não era uma justificativa, e soa mais como um julgamento.

– Estamos indo atrás dela, Daryl. - Rick fala, sem conseguir tirar a expressão preocupada do rosto e isso me deixa cada vez mais furioso.

– Indo atrás dela? Vocês não deviam tê-la deixado sair, para começo de conversa! - explodo, me arrependendo logo em seguida. Não era culpa deles, a maluca tinha lábia, sabia convencer, mas não era tempo para pensar nisso. - Volto até amanhã à tarde. Pela umidade do solo, o rio fica a leste do galpão. - continuo, caminhando em direção ao portão.

– Eu vou com você. - Michonne dá um passo em minha direção, determinada. Balanço com a cabeça em negação.

– Sozinho é mais rápido e chama menos atenção. - digo, olhando para Rick. Ele assente para mim, como se concordasse com o que eu dizia.

– Amanhã à tarde. - repete. - Se não voltar até lá, organizaremos uma busca.

– Abraham precisa de uma busca, não eu. Eu preciso encontrar Thea. - digo, antes de sair portão a fora.

Sigo na direção leste, encontrando as pegadas de Thea seguindo para onde eu apontara. Eu já havia observado seus passos por vezes demais para ter certeza de que aquelas pegadas eram de suas botas.

Cerro os dentes, sentindo toda aquela raiva se tornar preocupação. Eu devia ter imaginado que a idiota não iria ficar sentada nos esperando voltar, como qualquer pessoa normal faria. Ela tinha que fazer alguma coisa estúpida, tinha que se envolver em algum tipo de confusão.

Observo passos mais pesados na vegetação, sem conseguir evitar engolir em seco. Eram rastros antigos, talvez de errantes, mas eu não tinha certeza. Aquele local parecia ser bem movimentado, vários passos se confundindo na terra úmida, um sobre o outro, bagunçando a trilha. Aquilo me deixa mais irritado. Várias pessoas tinham acesso àquele local, várias pessoas caminhavam por ali. E nós não podíamos confiar em pessoas.

A imagem de Thea sozinha esbarrando com quem quer que seja faz minha mandíbula travar. Aperto o passo.

"Thea está bem, ela sabe se virar.", penso sem muita certeza. Desde que havia beijado aquela maldita pela primeira vez eu não tinha certeza de mais nada. Nada mais era certo, tudo não passava de porcarias que pareciam extremamente erradas. Qualquer tipo de envolvimento parecia tão errado, tão egoísta, mas, quando Thea era o ponto, tudo se tornava certo demais.

Balanço a cabeça, sem conseguir tirar a imagem dela andando sozinha pela floresta. Thea nunca havia saído sozinha de verdade desde que nos encontrou. Sempre que ia caçar, eu a seguia de longe. Longe o suficiente para ela não me notar, mas perto o suficiente para aparecer caso algo acontecesse.

Ela era desastrada, sempre se enroscando com algum errante e sempre se metendo em merda. Thea era assim, e eu sabia disso.

Eu sabia que ela não ia ficar quieta esperando, sabia que ela iria se arriscar para fazer algo pelo grupo. E, mais do que tudo, eu sabia que ela iria voltar. Sã e salva, com aquela cara de pau costumeira e um sorriso idiota no rosto.

Então, por que eu me preocupava tanto? A maluca tinha sobrevivido sozinha por meses! Dormindo sobre as árvores como se fosse uma espécie de fugitiva, correndo de tudo que pudesse ameaça-la. Ela sabia se virar, sabia fugir. Thea era boa em sobreviver. Mas, o pensamento de vê-la novamente atracada com mordedores, jogada em algum lugar naquele mato, fazia todo esse raciocínio se tornar inútil. Se algo acontecesse com aquela idiota, eu nunca me perdoaria.

Estreito os olhos para o chão, vendo pegadas recentes se confundirem com as de Thea. Eram botas grandes, de homem, iguais a que vimos seguindo Abraham. Uma sensação estranha tritura meu peito. Preocupação. Eu confiava em meu instinto, havia sobrevivido todo esse tempo por conta dele, e ele me dizia que os donos daquelas pegadas não eram boas pessoas.

Fico em alerta, tentando captar qualquer som diferente vindo da mata. Tudo parecia normal, o que indicava a falta de errantes e de pessoas. Thea já havia passado por ali há algum tempo, talvez horas. Apresso o passo, tentando não perder sua pista e manter minhas pegadas sobre as dos homens, para não criar um novo rastro.

Quanto mais eu avançava, mais difícil ficava seguir a trilha. Thea também era uma rastreadora, uma das boas, e sabia melhor do que ninguém disfarçar seu rastro, ainda mais quando pegadas desconhecidas eram vistas a seu lado. Ela era meio maluca, mas não era imprudente. Pelo menos não completamente.

A floresta era conhecida daqueles caras, as pegadas certas e específicas eram a prova disso. Talvez eles tivessem um acampamento na região, e o rio fosse o único lugar com água disponível.

Nós tínhamos que ficar em alerta, aumentar os turnos de vigia e nos preparar para qualquer confronto. Não tínhamos feito nenhuma batida pela região, o que foi extremamente errado, mas não havíamos tido tempo desde que chegamos. Tinha sido tudo sobre arranjar um motivo, sobre deixar pistas para Abraham e encontrar um local para passar o inverno. Tínhamos esquecido como quatro paredes e um teto eram perigosas, como elas davam a falsa impressão de segurança. Nós não tínhamos mais segurança, era tudo sobre correr e fugir. Sempre era, e sempre seria.

Balanço a cabeça, me sentindo impotente. Aquilo era uma merda. Só o que eu conseguia fazer era torcer para que Thea não tivesse sido idiota a ponto de continuar seguindo sozinha em direção ao rio. Se aquelas pessoas a encontrassem, se eu tivesse certo em relação a elas... Eu não conseguia nem pensar no que poderia acontecer. Era como se algo estivesse sendo arrancado da forma mais dolorosa possível.

E era dessa dor que eu tinha medo. A dor de perder. E eu tentei de tudo para evita-la, mas Thea não pareceu se importar muito. Entrou sem a porra da permissão e agora quem sofria as consequências era eu.

"Não vai acontecer de novo. Nunca mais. Não se eu puder impedir, Thea.", a promessa ecoa em minha mente, e o medo de não conseguir cumpri-la me causa aversão.

Por que aquela idiota não tinha ficado com todos dentro da porra do galpão? Por que bem ela tinha que ser a maluca que gostava de se arriscar por aí?

Passo a mão pelos cabelos, sentindo meu peito se apertar. Eu tinha que encontrá-la.

Um barulho baixo nas folhagens me faz voltar os pensamentos para a floresta. Seguro com mais firmeza a besta, apontando-a para o som.

Meu coração bate mais rápido, e ouço suas batidas em meu ouvido. A preocupação me atingindo com a mesma força que um soco na boca do estômago.

Mais um barulho nas folhagens faz com que eu me mantenha atento. Olho para a copa das árvores, vendo-as balançar.

– Mas que diabos... - sussurro, vendo algo cair em minha direção.

Cerro a mandíbula e não penso duas vezes antes de disparar a besta na direção do objeto. Um estouro ecoa pela mata quando a flecha acerta o alvo, e este caí a minha frente com um estalo.

Um galão de plástico.

Estreito os olhos para o objeto, movendo o olhar atentamente para a copa das árvores, tentando entender de onde aquele galão havia saído. Algo se movimenta lá em cima, e rapidamente coloco a besta em riste novamente.

– Você tem cinco segundos, ou eu atiro. - digo, vendo uma sombra sobre as árvores. Não há resposta. Coloco o dedo sobre o gatilho, mirando na direção do movimento.

Uma inquietação na folhagem me põem em alerta, e vejo algo voar de um lado a outro, acertando o tronco de outra árvore. Viro rapidamente, franzindo o cenho para uma faca de arremesso fincada na madeira. As facas de Thea vem de relance em minha mente, seu nome em minha língua, mas, antes que eu pudesse sequer pensar em chamá-la, uma dor em meu ombro me cala.

Me viro rápido, com o dedo no gatilho, pronto para atirar, mas uma voz conhecida me faz recuar.

– Caralho, Daryl! Eu só queria te dar um susto, não precisava quebrar meu cotovelo de novo!

Suspiro aliviado, vendo Thea jogada no chão com a roupa toda suja e uma cara de dor.

– Você é retardada? - sibilo, sem conseguir conter a indignação. - Eu poderia ter atirado em você, Thea!

– Mas não atirou. - ela dá de ombros, arrumando os cabelos com aquela cara lavada de sempre. Olha para cima, franzindo o cenho para a árvore em que estava. - Acho que essa foi a mais alta que eu já subi. - sorri orgulhosa, como se isso fosse algo digno de palmas.

– Você podia ter morrido! - digo, com raiva por sua indiferença.

– São tantos "podia"... Eu não morri, estou vivinha e agora vou ter outra queda homérica para me gabar. Meu dia até que está sendo bem produtivo, Daryl. - ela fala, dando e ombros e jogando o cabelo para o lado. - Apesar de você ter quebrado meu cotovelo mais uma vez, claro... Não vou deixar isso passar, aliás. Rick vai ter que anotar isso no bloquinho dele e tomar algumas providências, mas eu garanto que não vai ser nada muito sério... Quem sabe você pode reduzir sua pena à algum tipo de serviço comunitário? Temos várias opções!

– Só cala a porra da boca e levanta daí. - digo, sorrindo de lado para suas idiotices, sem conseguir me irritar completamente com as merdas que ela falava.

Estendo a mão para Thea, que aceita o apoio para se levantar. A maluca limpa a roupa, estalando o pescoço logo em seguida. Levanto uma sobrancelha, como se perguntasse se ela havia se machucado.

– Tudo ok, tudo no lugar. - sorri e sinto a preocupação se dissipar.

– Por que você estava em cima da porra de uma árvore, sua esclerosada? - me obrigo a perguntar, sem querer saber realmente a resposta.

– Tem gente nessa floresta, Daryl. - ela diz, mordendo o lábio inferior. - Eles passaram aqui há pouco tempo, e eu não tinha para onde ir, então subi e fiquei esperando.

– Eles? Você os viu? - pergunto, sentindo a raiva voltar. Por que ela não tinha simplesmente ficado na porra do galpão?

– Dois homens. Dois porcos escrotos. - ela parece preocupada. - Um tinha um bastão de beisebol e o outro uma coisa parecida com uma zarabatana, mas não sei ao certo... Não entendo muito desses negócios de índio.

– Porcos? - pergunto, tentando não imaginar coisas que me tirariam o controle.

– Sim. - ela engole em seco. - Eles não podem sequer sonhar que estamos por perto.

– O que você ouviu?

Thea fica em silêncio e desvia o olhar, me deixando cada vez mais nervoso. Penso em insistir, mas suas mãos sobre a barriga, onde estavam suas cicatrizes, me dão a resposta. É uma resposta dura e fria, como uma facada. Aquele gesto inconsciente era a confirmação de todos meus temores. E aquele não era uma notícia nada boa.

– O cara da zarabatana estava falando algo para o do bastão, que parece ser o líder. Eles sabem sobre Rosita e Abe.

– Encontrei três pegadas seguindo o rastro de Abraham. - digo, simplesmente, tentando pensar em algo. Thea assente, também pensativa.

– Eles devem ter um acampamento aqui por perto, talvez com mais homens. Não é uma boa ideia ficarmos por aqui, Daryl. Temos que encontrar Abraham e dar o fora.

– Abraham saiu do perímetro da estrada, adentrou a mata e não sabemos para onde foi. Não vai ser fácil achá-lo.

– Bem, isso não ajuda muito. - ela responde, como se não prestasse muita atenção.

– Sério? - ironizo, vendo seus olhos se fecharem. - Thea? - chamo, dando um passo em sua direção, preocupado.

Ela coloca o dedo na boca, como se me mandasse ficar quieto e logo seus olhos se arregalam, dando lugar a uma expressão assustada. Thea engole em seco, pegando minha flecha, o galão e sua faca na árvore e apagando algumas pegadas com o pé.

– O que você ouviu? - pergunto, jogando folhas sobre o rastro que levaria até o galpão. Estava bem disfarçado, mas não podíamos arriscar.

– Vozes. - ela sussurra, com o cenho franzido. - Não consigo entender nada, mas temos que ir.

– Não podemos voltar para o acampamento, não podemos arriscar o grupo. - sibilo, vendo-a assentir.

– Nem ficar por aqui. Eles sabem que tem alguém pelas redondezas, vão procurar em tudo.

Assinto, tentando um plano. Armo a besta e ajeito o colete, vendo Thea conferir o pente da pistola.

– Não podemos voltar, nem ficar em cima de uma árvore igual dois idiotas... - ela começa, como falando para si mesma, com aquela expressão de quem montava um plano mirabolante.

Penso em impedi-la de falar alguma merda, sem tempo para suas gracinhas, mas me controlo. Talvez algo útil saísse daquela boca pelo menos uma vez.

– Precisamos de um rastro falso, Daryl. - ela conclui, sorrindo orgulhosa. Estreito os olhos, descrente. - Qual o prazo que Rick deu para voltarmos?

– Amanhã à tarde.

– Dá tempo?

– Se você falar logo que tipo de merda está planejando, sim, dá tempo. - ela revira os olhos, sem conseguir disfarçar a cara de fresca.

– Caminhamos até um ponto sem cobrir nossa trilha, depois sumimos com ela e nos escondemos na mata. Eles vão ficar nos procurando longe do perímetro do acampamento. Meu cérebro é mesmo sublime! É um plano bom para cara...

– É, Thea. Agora cala boca e vamos dar o fora. - digo entredentes, ouvindo o barulho da floresta. Quieta demais. Eles estavam perto.


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Notas finais do capítulo

BEIJOS DE LUZ
MIM PERDOEM

que fome da poarrrrrr meo deos do ceu
gente
que
fome
não há comida que mate essa
LOMBRIGA

aliás, uma notinha na notinha: quem lê as hqs entende muito bem de índio que eu sei! talvez não de índio, pq nunca vi zarabatana na hq, mas de bastão vampiro vocês entendem.
spoiler? será? ou talvez só uma referenciazinha?

beijos de luzzzzz


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