A Filha de Sherlock Holmes escrita por sayuri1468


Capítulo 4
Tic Tac




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Quanto tempo ela encarava o teto, ninguém saberia dizer. Ninguém estava com ela, ou mesmo procurava por ela, naquele momento. Emma havia ficado com os pais, para sua aula de piano e Sarah pediu para ficar em casa, alegando estar cansada por não ter dormido o suficiente. Emma era a única que, talvez, suspeitasse o motivo que a levou a voltar para casa: o escritório de seu pai.

Lá estava ela, olhando para o teto, depois de revirar o restante do escritório. Esperava que magicamente, o teto lhe desse as respostas que ela não conseguiu por si mesma. Segurava com firmeza o celular de seu pai, e olhava para ele. Talvez tivesse alguma resposta dentro dele, mas como acessá-lo? Ela não sabia qual era a senha, e já havia tentado inúmeras vezes. Tentou “baker street”, “221B”, “holmes”, “Sherlock”, e diversas variações dos mesmos. Vencida, ela apenas segurava o celular, em cima de seus olhos.

– Se eu fosse Sherlock Holmes, como eu acharia a senha? – perguntou a si mesma, em voz alta.

O que ela sabia até o momento, era muito vago e muito fácil de saber, apenas observando. Havia um cara que chantageou seu pai, usando ela e Emma como isca. De alguma forma, e por algum motivo, ele implantou uma bomba na escola delas, e seu pai e John foram salvá-las. Isso rendeu um coma para seu pai e alguns machucados, sem gravidade, para o tio. E, provavelmente, concluiu Sarah, o mesmo homem que implantou a bomba ainda estava rondando a região atrás dela, ou mesmo de seu pai ou Emma.

Sarah suspirou, e admirou mais uma vez a foto do homem de rosto coberto, com um bigode aparente, no mural.

“S.M” – pensou – Quem ele era? E porque raios sua chantagem envolvia uma bomba, em uma escola? Ele poderia ter tentado qualquer outra coisa, algo na própria Baker Street, afinal, ela estava sempre sozinha.

Talvez o objetivo não fosse unicamente ela e Emma, mas sim, a escola inteira. Se fosse esse o caso, o que poderia haver lá que pudesse ser tão concorrido?

Sarah se levantou e foi até a escrivaninha do pai. Agora, ela nem se importava em deixar rastros ou não, apenas queria encontrar alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse lhe ser de serventia. Mexeu novamente nas gavetas, nas caixas, nos papéis em cima da mesa, olhou e revirou o escritório novamente. Nada.

Ela olhou com certa frustração para o celular. Se ao menos ela soubesse a senha, poderia ter mais respostas. Seu pai usava o celular para tudo, lá teria alguma pista, sem dúvida.

Sarah pode ouvir a porta da entrada se abrindo, e sabia que isso significava que Sra. Hudson havia chego. Ela saiu silenciosamente do escritório, dando um último suspiro decepcionado antes de sair. Desceu as escadarias com cuidado, e vagarosamente, sentou-se em sua poltrona habitual no apartamento onde morava.

Sarah fez tudo no tempo exato em que Sra. Hudson subiu e foi em direção a cozinha.

– Comprei umas coisas pra você! – informou animada – Tem que se alimentar direito!

– Acabei de tomar café da manhã, com os Watson’s! – disse Sarah.

– Você só tomou chá! Mary me contou! – rebateu a senhora.

– Não estou com fome! – falou – Mas obrigada!

Sra. Hudson suspirou.

– Ás vezes esqueço o quanto você é parecida com seu pai!

Sarah sorriu, uma parte dela desejou mesmo que ela fosse parecida com o pai, assim poderia resolver esse caso com mais rapidez.

– Algo te preocupa, querida? – perguntou, notando o desanimo da garota.

– A lista é tão grande , que não valeria a pena dizer! – respondeu.

Sra. Hudson aproximou-se da menina e deu-lhe um beijo na testa, seguido pelo afago no ombro.

– Não se preocupe, seu pai vai ficar bem! – consolou- Já o vi em situações muito piores, e ele nunca desistiu!

– Mas não depende só dele agora, não é?!

A resposta que Sarah deu a fez perceber o quanto realmente estava triste com aquela situação. Talvez fosse por isso que ela quisesse desvendar o caso. Talvez, se ela o desvendasse, seu pai acordasse, e as coisas voltariam a ser como antes.

– Deus, como isso aqui está gorduroso! – exclamou repentinamente Sra. Hudson, ao olhar para a porta do micro-ondas. – Cheio de dedos!

Sarah riu.

– Aposto que você fez pipoca, e não lavou os dedos, não é mocinha?! – falou em tom de bronca.

– Provavelmente foi Emma! – disse Sarah, culpando injustamente a amiga.

– Vou pegar um pano! – falou, enquanto saia apressada do apartamento.

Sarah adorava a forma como Sra. Hudson cuidava dela. Na verdade, Sarah adorava o fato de ter sempre a Sra. Hudson no andar debaixo. Isso trazia um certo conforto, de que, por mais que ela estivesse sozinha, ela sabia que não estava realmente sozinha. Foi então, que, enquanto Sra. Hudson voltava com o pano, uma epifania atingiu Sarah.

– Gordura de dedos! – gritou tão repentinamente, que fez Sra. Hudson saltar de susto. – Sra. Hudson, é isso! Gordura de dedos!

Sarah correu até a Sra. Hudson e deu-lhe um abraço, seguido por um beijo. Depois, sem dizer mais nada, Sarah saiu correndo para seu quarto.

– Igualzinha! – Sarah pode ouvir Sra. Hudson dizer, antes que ela fechasse a porta.

Sarah fechou todas as janelas, deixando o quarto em um breu completo. Depositou o celular em cima de sua mesa, e, pegando uma lâmpada debaixo da mesa, iluminou todo o ambiente com ela. Era uma lâmpada-escura, e de repente, todo o quarto possuía uma tonalidade azul. Sarah dirigiu a luz para o celular, e pode ver impressões digitais, se sobressaindo em uma tonalidade esverdeada. As dela eram fáceis de reconhecer, não só pelo tamanho, mas também por que a menina reconhecia suas impressões. O que ela procurava, foi fácil de encontrar. Dedos maiores, com impressões diferentes, só podiam ser do seu pai. Ninguém mais mexia naquele celular, nem mesmo tio John.

Sarah seguiu o caminho que os dedos de seu pai faziam, e conseguiu digitar a senha. Para sua surpresa, as letras formavam o nome “Sarah”, e assim que ela conseguiu acessar, notou que o fundo da tela era uma imagem dela, e do lado, uma foto da mãe. Sarah nunca viu muitas fotos de sua mãe, mas pode comprovar, naquele momento, que as duas eram realmente parecidas.

Foi enquanto Sarah ainda admirava a foto de sua mãe, que o celular apitou, alertando sobre uma nova mensagem.

“Tic tac, tic tac! SM”

O coração de Sarah gelou. Era o homem da fotos. “Tic tac” era uma onomatopeia de relógio, logo, ela sabia que ele estava insinuando que havia pouco tempo, mas pouco tempo para que?

Sarah decidiu olhar as mensagens antigas, e ficou surpresa ao ver a caixa lotada de sms’s de S.M.

“ 5 min, e então BUM! SM”

Essa mensagem havia sido entregue ontem pela manhã.

“Ainda não descobriu? Tic, tac! SM”

Essa mensagem havia sido deixada, enquanto seu pai estava sendo atendido no hospital. Se agora ele estava mandando outra mensagem, era porque alguma outra coisa iria explodir. Sarah se desesperou. O que iria explodir? Quem era a vítima agora? Esse tal de SM não sabia que seu pai estava no hospital? Claro que não sabia! Ninguém fora do círculo familiar sabia, seu tio Mycroft proibira qualquer vinculação para a mídia.

Seja lá o que fosse, Sarah precisava impedir. Ela abriu silenciosamente a porta de seu quarto, para verificar que Sra. Hudson não se encontrava mais na cozinha. Andou pé ante pé, e, notando que não havia mais ninguém no apartamento, Sarah correu para o escritório de seu pai, e foi direto para o mural de fotos.

– Tem que estar aqui! Se a foto da escola estava, talvez o outro local também esteja! – murmurou para si mesma, enquanto seus olhos percorriam o mural.

Novamente, um novo apito no celular. Sarah abriu a mensagem, mas não era de SM dessa vez, mas sim de uma tal de “Homeless2”. Era uma outra foto do homem de rosto coberto, só que dessa vez, sem bigode.

– Um prédio! – exclamou sarah, notando o pano de fundo – Um prédio de tijolos! Grande coisa, isso pode ser em qualquer lugar de Londres! – falou frustrada.

Foi quando algo lhe chamou a atenção, uma placa quase imperceptível, onde uma cruz e a perna, do que ela sabia ser um “S” apareciam. Novamente a epifania tomara conta dela, e, tão certa quanto a Lua muda de fases, Sarah sabia qual era o lugar onde a foto havia sido tirada.

– St. Bart’s!

Sarah pegou seu celular e mandou uma mensagem para Emma: “Vá para o St. Bart’s agora! Avise tio John! Tem uma bomba lá!”.

Sarah fechou a porta e saiu correndo em direção ao hospital. Ela precisava correr o mais rápido que podia, antes que a bomba explodisse, e seu pai morresse dessa vez.


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