A Filha de Sherlock Holmes escrita por sayuri1468


Capítulo 3
S.m.




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Apesar das inúmeras vezes em que ela vira a placa de “Não Entre” escrito na porta, Sarah nunca obedeceu. Não fazia o seu estilo, além do mais, que mal faria entrar? Ela sabia quem seu pai era, por isso, sempre tivera toda a cautela que podia ao entrar, e sair. Ele nunca havia falado nada, nem pessoalmente e nem através do Watson’s, assim, Sarah sabia que sua meticulosidade tivera efeito, e ele nunca descobrira que ela era uma visita constante ao seu escritório.

Desde que Sarah nascera, Sherlock abandonou o apartamento onde morava e alugou o quarto de cima, que antigamente pertencia a John. Essa era uma das razões de Sarah quase não vê-lo. Sherlock nunca saia de seu escritório, chegava a dormir lá, e só saia quando tinha uma investigação para fazer. Era nessas ocasiões que Sarah, movida pela curiosidade, subia e checava em qual caso seu pai estava trabalhando. De alguma forma, toda vez que Sarah conseguia subir e ficar ao menos, uma hora dentro daquele escritório, ela se sentia mais próxima de Sherlock. Ela lia cuidadosamente as anotações, verificava as fotos das evidências e, quando mais nova, gostava de brincar de solucionar os casos, e conferir se estavam corretos, quando a resolução saia no jornal. Sarah vibrava toda vez que acertava.

Já fazia muito tempo, que Sarah não subia para o escritório de seu pai. Quando era criança, ela esperava ansiosamente ele sair para tal, mas desde que ela fizera treze anos, as visitas proibidas ao escritório se tornaram menos frequentes, até desaparecem. Se ela parasse para pensar a respeito, ela talvez descobrisse o motivo disso, mas como nunca havia o feito, ela só sabia que, simplesmente, havia perdido o interesse pelo misterioso escritório de seu pai.

Mas aquela não era uma ocasião, em que uma pequena garotinha tentava se sentir mais próxima de seu pai. Era uma situação séria, e Sarah sabia que não só ela, como Emma, e mesmo seu pai e seu tio John, corriam risco. Não que ela tivesse a prepotência de achar que conseguiria resolver o caso, mas ela queria, ao menos, entender o que estava acontecendo. Foi por isso, que mesmo sob os protestos de Emma, Sarah abriu a porta do pequeno quarto onde Sherlock se hospedara.

– Fique de olho na Sra. Hudson! – pediu Sarah, enquanto olhava cautelosamente em volta.

– Claro que vou! – respondeu Emma, se antecipando e entrando no escritório na frente de Sarah.

Sarah bufou e seguiu a amiga, fechando a porta com cuidado logo em seguida. O escritório permanecia o mesmo, desde que Sarah se lembrava. A visão daquele lugar, em que Sarah passou a maior parte de suas tardes, quando criança, veio em forma de nostalgia. Ela olhou a pilha de papéis na mesa, alguns experimentos em cima de uma bancada, no banheiro, algumas fotos penduradas em um mural, do lado da cama, e essa, totalmente bagunçada.

– O que estamos procurando, exatamente? – perguntou Emma.

A pergunta da amiga, trouxe Sarah de volta a realidade.

– Qualquer coisa que você ache suspeita! – respondeu, enquanto se dirigia para a mesa principal. – Só mexa nas coisas com cuidado, para ele não perceber que estivéssemos aqui!

E foi só após falar essa frase, que Sarah se lembrou de que seu pai não voltaria. Estava em coma, e ninguém sabia dizer se iria acordar ou não. Ela lembrou-se de como tio John estava calmo, perante essa informação, no hospital. Mesmo a tia Mary e o tio Mycroft aparentavam certa serenidade e conformação. Será que estavam se portando assim por causa dela? Para não alertá-la perante o estado de seu pai? Até onde ela sabia, coma era um estado em que seu pai poderia ficar para sempre, e isso, era sim preocupante. Pensar nisso, despertou em Sarah um aperto no peito, e algo quente começou a se formar em seus olhos. Ela respirou fundo, e tratou de se concentrar no que tinha que fazer. Não podia pensar nisso agora, e a verdade, é que também não queria.

Emma não comentou sobre a colocação de Sarah, atitude que a garota agradeceu. Muito pelo contrário, havia adotado o conselho da amiga, e mexia nas coisas com uma leveza e cuidado, que Sarah, concluiu, jamais conseguiria fazer igual.

Sarah olhou perdida para sua própria pilha de papéis. A maioria, eram papéis com anotações de acompanhamentos dos experimentos, que ele fazia. Ela empurrou com cuidado a pilha, procurando algo que nem ela sabia dizer, e olhou a pilha embaixo.

Fichas criminais. Sarah já havia visto algumas na pasta do tio Lestrade. Ela olhou com cuidado, algumas eram de criminosos que ela já sabia estarem presos, pois vira no noticiário. Mas uma ficha, uma única ficha, chamou a atenção da garota. Talvez pela palavra “bigode”, escrita com a letra de seu pai, no local onde deveria haver uma foto. Sarah procurou pelo nome, mas tinha apenas uma sigla: SM. Intrigada, Sarah dobrou a ficha e guardou no bolso de sua calça.

– Sarah, olhe isso! – chamou Emma.

Sarah foi imediatamente ao mural de fotos, onde Emma estava. Haviam várias fotos dela e de Emma na escola, mas o que intrigava a menina, era que ela e a amiga não estavam no primeiro plano. Quem ocupava esse lugar, era um homem, que estava claramente as observando. Haviam várias fotos com ângulos diferentes, e ainda assim, seu rosto não era reconhecível. A gola alta, o chapéu, o óculos, tudo isso dificultava ver a verdadeira fisionomia do homem. A única coisa que sobressaltava era um bigode.

– SM...- falou Sarah, enquanto olhava todas as fotos do mural.

Antes que Emma pudesse perguntar, a garota pegou a ficha que havia colocado no bolso, e entregou para amiga.

Sarah deslizava os olhos pelo quadro de fotos, procurando qualquer pista a mais. Como um homem como aquele rondou a escola dela, e ninguém percebeu? De repente, a concentração das duas se desfaz, pelo barulho da campainha na porta da 221B.

As duas se olharam assustadas, e puderam ouvir a voz da Sra. Hudson dar boas vindas aos pais de Emma. Sarah e a amiga, rapidamente, fecharam a porta e desceram correndo as escadarias, indo em direção ao apartamento onde elas deveriam estar. Foi só quando entraram, que viram pela janela da sala, que já era de manhã. Quando foi que havia amanhecido? – perguntou-se Sarah. Elas haviam mesmo passado a noite em claro, e nem sentido?

O tempo foi exato, assim que Sarah e Emma entraram na sala, Mary e John chegaram ao apartamento.

– Bom dia meninas! – falou Mary com animação – Não acredito que já estão acordadas, e vestidas!

– Por que levantaram tão cedo? – perguntou John – A escola está fechada!

Sarah e Emma se entreolharam, como que pedindo ajuda uma para outra. Sarah foi a primeira a ter a ideia.

– Viu Emma, eu disse! Eu disse que eles iriam fechar a escola! – exclamou Sarah. – Dá pra acreditar que ela me sacudiu a manhã inteira?!

Emma, entre pânico e compreensão do que a amiga estava fazendo, adotou a ideia.

– Eu não imaginei que eles fossem realmente fechar a escola! – justificou.

Isso estava mal. Tanto ela quanto Emma não estavam sendo nem um pouco convincentes. Ela olhou para John e Mary, que trocaram olhares confusos.

– Bem, ao menos levantaram cedo! – disse John, trazendo certo alívio para as meninas.

– Viemos levar vocês para tomar café da manhã! – informou Mary – Viemos mais cedo, por que queríamos acordá-las, mas ainda bem que estão prontas!

Antes que Emma pudesse dizer alguma coisa, Sarah a cortou.

– Claro, claro! Só vou pegar uma coisa no quarto! Vamos, Emma?!

Emma concordou, e assim que as duas chegaram no quarto de Sarah, ela encostou a porta e falou sussurrando para amiga.

– Nenhuma palavra disso pros tios!

Emma protestou.

– Mas Sarah, meu pai estava junto, ele pode saber quem é!

– Não Emma, o tio John só vai querer fazer com que a gente pare!

– E você não acha que deveríamos?! – falou Emma, agora com um tom de seriedade.

Sarah bufou, por que, afinal de contas, Emma tinha que ser tão certinha?

– Emma, se você não quer, não precisa, mas eu quero! E não quero que ninguém diga que não posso!

Emma respirou fundo e hesitou.

– Está bem, eu não falo mais nada! Mas eu, sinceramente, não sei o que você pretende descobrir!

As duas em acordo voltaram à sala, onde foram tomar café da manhã com John e Mary. Não que Sarah não gostasse da companhia dos tios, mas, naquele momento, ela queria ter podido permanecer mais tempo no escritório de seu pai. Quem era “SM”, e por que ele estava atrás dela e de Emma? E se tio John sabia mesmo do que se tratava, por que não dizia nada? Afinal, se estavam atrás dela e da filha dele, ele ao menos, poderia alertá-las de algo. Ao contrário, ele agia como se fosse um dia claro de primavera.

– Sarah, a proposito, tem algo que quero dar à você! – falou John.

Ele abriu o porta-luvas, pegou um saco plástico e o entregou a Sarah. Um celular, uma carteira e um molho de chaves. Sarah nem precisou perguntar a quem pertencia esses objetos.

– Eles me entregaram no hospital, mas como você é filha dele, acho que você tem todos os direitos do mundo de ficar com isso! – explicou – Além do mais, também já tem idade suficiente!

John piscou para Sarah, e a garota só pode retribuir com um sorriso forçado. Por mais que estivesse agradecida com o gesto do tio, aquilo só serviu para lembra-la do quão ruim as coisas estavam, e de como todos agiam como se não fosse nada demais. Sarah guardou a sacola em sua bolsa, e, colocou-a de lado. Por um tempo, ela não queria ficar triste.


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