KARINA

Foi meio rápido, eu queria sair dali o mais rápido possível, mas eu não consegui ir muito longe. Só consegui chegar até a praça e não aguentei mais. Eu comecei a chorar mais ainda. Chorar muito mais. E várias lembranças vieram na minha mente: todas as vezes em que o Pedro tinha prometido que sempre me contaria a verdade, mesmo que eu sofresse. Lembrei do dia em que ele voltou de um casamento em que ele tocou com a banda e disse que queria me contar a verdade. Lembrei do dia em que o Duca terminou com a Bianca e foi correndo na praça falar comigo. Lembrei do dia em que eu e o Pedro estávamos fazendo 4 meses de “namoro” e eu ouvi o João falando alguma coisa sobre eu descobrir um dinheiro. E, de repente, foi só ligar os pontos. Não só o meu namoro como também a minha família eram tudo uma mentira. E foi então que a ficha caiu.

Eu não tinha ninguém. Eu normalmente falaria com a Bianca, ou com o Pedro, ou com o Duca, ou até com o meu pai, quer dizer, o Gael. Mas dessa vez eu não tinha ninguém, nem a mim mesma. Pelo menos era o que eu achava até uma mão tocar o meu ombro. Eu sabia que nenhum deles tinha vindo atrás de mim. Se fosse um deles estaria gritando e correndo até mim e dizendo todas as desculpas que pudesse encontrar, mas eu sabia que era o Cobra e eu, quase que de imediato, o abracei.

DUCA

Foi uma droga. Ninguém esperava isso, muito menos a K. Aquela maluca não só humilhou a Karina na frente de todo mundo, como também expôs toda a família dela. No começo a Karina nem se mexeu, a Bianca tomou a frente e foi abraçar a irmã, aparentemente, só eu tinha visto o Mestre Gael vendo tudo do fundo do auditório. Mas depois piorou. Ela estava conseguindo reagir ao que ela estava vendo, ela estava conseguindo se mexer e olhar nos olhos de cada um. A Bianca e o João baixaram as cabeças e ficaram encarando o chão como se e vida deles dependesse disso (e talvez dependesse mesmo). Depois ela olhou para o Pedro, ele conseguiu sustentar o olhar no dela, mas não por muito tempo. Ela olhou todas as pessoas ao redor que estavam olhando e eu imaginou o quanto ela estava incomodada com aquilo; eu só queria virar os rostos daquelas pessoas para o outro lado e gritar para a Karina fugir enquanto dava tempo, mas, infelizmente, eu não tinha esse poder. Eu quase conseguia ver as imagens e lembranças colidindo na mente dela, e então...então ela olhou pra mim. Até aquele momento eu acho que ela estava perplexa demais para chorar, mas quando ela me viu, não aguentou, eu pude ver as lágrimas surgindo nos olhos dela. Ela estava se sentindo traída, se sentindo sem ninguém. De repente a maluca deu play no vídeo. Sim, ela conseguiu piorar a situação, mas agora sabíamos que o vídeo definitivamente tinha acabado e a nova atração era a Karina.

Ninguém tinha falado nada até então, eu queria chegar perto dela e abraçá-la e pedir desculpas, mas ela estava com um olhar tão assassino que eu achei melhor não. Então ela virou pra trás e viu Gael. Assim que ela bateu o olho nele o seu olhar mudou de assassino para morto. Ela parecia estar confusa, com olhar distante apesar de inquieto e daí ela começou a ficar pálida e todos nós percebemos pois todos começaram a se aproximar dela. Eu não aguentei e perguntei se ela estava bem, mas eu não obtive resposta. Percebi que ele estava ficando mais tensa com a aproximação das pessoas, então eu gesticulei para que todos se afastassem. E, de repente, ela saiu correndo. Desapareceu em poucos segundos. O Pedro tentou ir atrás dela, mas eu disse que era melhor esperar. Então ele se sentou e enterrou a cabeça nos braços enquanto abraçava os joelhos.

A Bianca se desesperou, nem consegui entender direito o que ela estava falando. E aí começou a gritaria. Estava tudo um caos. Muitas pessoas falavam ao mesmo tempo, tentando entender o que estava acontecendo. As pessoas tinham que se acalmar, e o Mestre sabe fazer isso, ou quase isso. Ele gritou para chamar a atenção das pessoas, e conseguiu.

G: Todos vocês, pra casa, agora!

Assim que ele terminou de falar isso todo mundo começou a sair. Eu já estava me virando para a porta, quando o Mestre continuou.

G: Os únicos que ficam são a Bianca, o João, o Pedro, A Dandara e o Duca.

E nós ficamos lá, até que ele pediu para eu ver se a Karina estava em casa. Fui até lá, mas não tinha ninguém. A K não estava em lugar nenhum, então eu resolvi procurar no QG, vai que ela tinha ido lá pedir para o Cobra lutar com ela de novo. Mas O QG estava fechado e parecia não ter ninguém lá. Falei essas coisas para o Gael e ele pareceu ficar muito preocupado.

Gael: Nós devíamos procurar ela.

Dandara: Não, uma hora ou outra ela vai voltar para a casa e já está anoitecendo, não vai dar para procurar direito de qualquer forma.

O Mestre queria protestar, mas ele acabou aceitando ir para casa. Eu falei para ele que eu ía para a minha casa, mas que eu queria saber notícias da K. Ele disse que me mandaria uma mensagem assim que soubesse de alguma coisa. E eu fui.

COBRA

Foi tudo muito estranho. Eu vi a Karina chorando na praça e só de olhar para ela eu pude ver que tinha sido coisa séria. Eu pensei em ir falar com ela, mas estava com medo de me aproximar e levar uma surra, pois ela parecia com raiva, com muita raiva. Mesmo assim eu fui. Fui me aproximando com calma e quando cheguei perto eu encostei a mão no seu ombro. Acho que ela sabia que era eu e não a pessoa (quem quer que fosse) que ela queria esquartejar, pois ela, quase que imediatamente, me abraçou.

No começo eu fiquei um pouco sem ação, eu esperava qualquer coisa dela, menos isso, mas parecia que ela estava precisando de apoio, então eu retribui o abraço. Tentei falar com ela ali mesmo, mas ela estava muito nervosa, então eu a levei para o QG. Chegando lá eu tranquei a porta, apaguei as luzes e virei a plaquinha de “Aberto/Fechado” de forma que o “Fechado” ficou visível para as pessoas de fora, então levei a Karina para os fundos do QG e dei a ela uma garrafa de água da. Uns 10 minutos depois ela se acalmou e me contou tudo, tudo o que tinha acontecido. Eu fiquei com muita raiva, como fazem isso com alguém? Mas eu não sairia dali, eu tinha que ficar com ela. Quando ela terminou de me contar tudo já tinha anoitecido.

Cobra: Vem K, eu vou te levar para a sua casa.

Karina: Não, eu não quero ver a cara de ninguém, muito menos da Bianca. Deixa eu ficar mais um pouco?

Me perguntei se era realmente uma boa ideia, mas acabei deixando, pois eu sabia como era se sentir assim. Então eu sentei do lado dela e ela, me surpreendendo ainda mais, deitou no meu colo. Estava fazendo carinho no cabelo dela quando ela voltou a falar.

K: Que droga. Essas coisas sempre acontecem comigo. Eu estou com vontade de ir para a praia, entrar na água e ir embora nadando até onde der.

C: Não fala assim K, vai dar tudo certo.

K: Espero que sim. Obrigada.

C: O que eu fiz?

K: Exato, você não fez nada além de me apoiar e é provavelmente a única pessoa com que realmente posso contar nesse momento.

C: Eu vou estar aqui sempre que você precisar.

K: Vou lembrar disso.

E então a conversa acabou aí, não só pelo fato de que o assunto tinha acabado, mas também por quê nós dois acabamos dormindo ali mesmo. Eu acordei e vi o horário. Eram quase 1:00. O Gael ía fazer pedacinho de mim. Eu olhei para a Karina e vi que ela ainda estava dormindo e que esse parecia ser o primeiro momento de tranquilidade dela, desde que eu a encontrara naquele dia, então eu peguei ela no colo e a levei a até a sua casa.

Foi o Gael que atendeu. Assim que ele viu a Karina deu para concluir que eles estiveram preocupados e estavam esperando ela até aquele horário. Ele me perguntou se eu podia colocá-la na cama. Eu a levei até o quarto dela com a Bianca me acompanhando, fiquei tentado a falar com ela sobre aquele plano ridículo que ela teve, mas não era hora. Cheguei até o quarto das meninas. Coloquei, com a maior delicadeza possível, a K na cama. Depois tirei os sapatos dela e a cobri com a coberta que estava em cima da cama. Antes de ir embora dei um beijo na sua testa e, quando eu virei, a Bianca estava me olhando com uma cara de “quem é você e o que fez com o Cobra?”, mas eu a ignorei e voltei até a sala. O Gael estava me esperando.

Gael: Agora você pode me explicar o que a minha filha estava fazendo no QG?

Dandara: Calma Gael, lembra que agora ela está segura, e ele que trouxe ela de volta, não foi?

Gael: Eu tô calmo Dandara, mas eu ainda quero uma explicação.

Cobra: Bom, eu vi ela chorando muito no meio da praça e daí eu fui falar com ela. Como ela estava muito nervosa eu a levei pro QG e dei uma água pra ela, daí ela me contou tudo o que aconteceu. Eu queria ter trazido ela antes, mas ela não queria voltar. Daí depois de um tempo ela dormiu e eu achei melhor trazer ela de volta.

Eu achei que ele fosse me atacar com uma poltrona ou algo assim, mas, na verdade, ele pareceu feliz que eu me preocupasse com ela desse jeito. Ele agradeceu e eu fui embora para o QG. A minha ideia era dormir, mas eu não consegui, pois eu não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido com a Karina.