Jack

Chegamos ao Reino Gelado bem mais rápido do que esperei. Tanto que nem sequer tinha percebido que Finn estava conosco, se segurando em uma das patas traseiras de Jake.

– Foi para vossa majestade ficar mais acomodado, com mais espaço - explicou, depois de eu ter dito que ele podia ter ficado nas costas ou em algum lugar mais confortável. Além do mais, ele era o dono do cachorro.

Os dois pareciam meio incomodados andando na neve. Principalmente porque ela ficava mais funda à cada passo em direção ao castelo. Eu mesmo não conseguia andar direito, mas era confortável. Parecia que a neve fazia massagem nos meus pés cada vez que eu os enterrava nela. Deu vontade de tirar as botas e correr por aí como uma criança, mas suspeitariam dos meus poderes, então apenas permaneci fingindo estar com frio.

Haviam pinguins vestidos de guarda por toda parte. As montanhas eram triangulares, e feitas de gelo puro, e eu nunca vi tanta neve em toda a minha vida! O inverno de San Fransokyo não é nada comparado a isso. Parece até que esse lugar foi feito para mim. É o paraíso!

– É aqui. - disse Finn, quando chegamos à uma imensa porta azul e branca.

Tomei coragem, e bati três vezes. Nada. Bati mais duas... nada...

– Deixa comigo - interrompeu Jake - Ô REI GELADOOOOO!!!! ABRE AQUI, COROA!!

Enquanto dizia isso, sua mão ficou gigante e começou a bater na porta, fazendo um tremendo estrondo. Comecei a rir, meio que sem saber exatamente o por quê. Já Finn continuou calado. Ele já deve estar acostumado com o jeito para lá de engraçado de seu cão. Ou talvez eu tenha um senso de humor bobo demais... Ah, foi engraçado...

A porta se abriu lentamente.

Fomos recebidos por uma pinguinzinha de laço rosa na cabeça. Demos bom-dia e a seguimos até a sala de estar, onde o Rei Gelado estava. Para um sequestrador, seus servos são gentis demais.

– É o seguinte, majestade - sussurrou Finn no meio do caminho - Jake e eu vamos distraí-lo enquanto você vai atrás da Elsa, tudo bem?

– Vamos tentar conversar com ele antes.

– Jack, entenda. Isso não vai dar certo!

– Vamos apenas tentar.

Sinceramente, não sei por quê tomei essa decisão. Mas posso sentir... Como se alguma coisa dentro de mim insistisse e me obrigasse a entender que essa era a melhor opção...

Quando chegamos à sala, o dono do castelo estava sentado numa cadeira, obrigando três pinguins a pendurarem enfeites de festa numa parede.

– Ei, Rei Gelado! - chamou Jake.

– Finn! Jake! Meus amigos!! Vieram para meu casamento? Eu ia mandar os convites, mas foi tudo tão rápido... - respondeu, com a maior cara de sonso - E quem é esse aí?

– Ele? Ele é... um amigo nosso de...

– Espera aí...

Então ele se aproximou... Cada vez mais, até que ficássemos há quinze centímetros de distância.

Tentei dar alguns passos para trás, ao mesmo tempo em que se passavam mil coisas pela minha cabeça. O que ele pensa que está fazendo?! Será que ele vai me beijar...? "Aahhhsghh!! Pare de pensar nisso, Jack!" gritei comigo mesmo, enquanto decidia se iria empurrá-lo para longe ou sair correndo. Mas meus malditos membros permaneceram imóveis devido o susto.

A barba branca e o rosto azul enrugado (e pra lá de envelhecido) eram realmente assustadores de perto. Seus olhos brancos continuaram a me fitar, até o mesmo abrir um enorme sorriso.

– Junior!! Não acredito! Me dê um abraço!!

Ein?!

O Rei Gelado me deu um abraço tão forte que quase me esmagou. Meus membros continuaram inúteis e não se mexeram (o que, em parte, foi bom, já que eu definitivamente não queria que meus braços retribuíssem o abraço). Logo depois, o dono do abraço se virou para Finn e Jake, dizendo:

– Vocês trouxeram meu filho de volta no dia do meu casamento! Eu... eu... - lágrimas começaram a jorrar de seus olhos - Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter...

Finn fez um sinal de "Vai! Nocauteia ele enquanto ainda está distraído!" ou algo do tipo. Mas...

Eu sei que ele é mau, que fez e continua a fazer muita gente sofrer, mas...

Não... Não é assim que as coisas devem ser. Espera... Talvez seja isso! O tempo todo, aquele sentimento de que deveria ser melhor conversar do que partir para a violência... Eu estava o tempo todo tentando evitar uma guerra, tentando ser rei. Talvez o Hiro esteja certo, eu posso ser um bom rei.

Sem pensar muito no que eu estava fazendo, coloquei a mão direita sobre o ombro do homem azul e falei, procurando manter a calma:

– Eh… É Rei Gelado, não é? Bem… me desculpe, mas acho que você está me confundindo com outra pessoa.

Olhei de relance para Finn, que fazia outro sinal. Desta vez ele dizia: “O que pensa que está fazendo?! Anda logo!!”.

– Não. Eu sei que é você, Junior! - respondeu Rei Gelado, com os olhos brilhando - Você não sabe o quanto senti sua falta… Estou louco para te apresentar minha noiva!

– Ah… Ah, sim! Sua noiva! Eu gostaria de conhecê-la - sorri. Melhor deixar esse assunto de pai e filho para depois e continuar com o plano.

– Ótimo! GUNTER!! Cadê aquele pinguim estúpido?!

– Quéec! - respondeu ele, adentrando da sala.

– Ah, aí está você! Lembra do Júnior? Ele cresceu, não?

– Quéec.

– Ta, ta, ok. Agora leve-o até Elsa. Enquanto isso vou me arrumar para a cerimônia. Finn e Jake, vocês podem me ajudar a passar hidratante nas minhas pernas?

Os mesmos se entreolharam com cara de nojo, mas acabaram indo.

– Ta, a sua ideia deu certo. Vamos distraí-lo enquanto você foge com ela. Boa Sorte! - sussurrou Finn, antes de sair.

Senti uma mãozinha (uma patinha, na verdade) me chamar.

– Ah, você deve ser o Gunter - sorri, esticando a mão para fazer um cafuné na sua cabecinha. Mas ele deu um tapa nela antes que pudesse tocá-lo - Ok, ok! Me desculpe!

Andamos pelo castelo, até chegarmos à uma sala com uma porta entreaberta. Gunter fez um sinal para que eu entrasse, e assenti. Passei por um corredor escuro e, no final dele, tinha uma luz vinda de uma sala à direita. Dois pinguins saíram de lá (uma deles era aquela de laço rosa, que nos recebeu quando chegamos) e se afastaram, para que eu pudesse passar.

– Elsa? - chamei, um tanto ansioso e assustado. Chegou a hora! Eu finalmente ia vê-la! - Você está aqu… Aai!!!

– Saia daqui!! Eu já disse que não vou me casar com você!! - respondeu ela, me tacando pedrinhas através de uma grade - Vai embora seu… seu… Nojento! Imbecil! Titica de galinha!!

“Titica de galinha?”

– Ai! Aaai!! Pára! - exclamei, tentando me desviar das pedradas - Tá machucando!!

Ela parou assim que viu meu rosto nitidamente. E então, pude olhar para o dela também. Pela primeira vez, nossos olhos se encontraram. Aqueles olhos… Eu não imaginava que fosse tão linda… O cabelo platinado, a pele pálida… Como o Rei de Arendelle disse, ela é igual à mim. Ela… É perfeita!

– Você não é o Rei Gelado. Quem é você? - perguntou.

– Eu… Sou Jack Frost. - respondi, com dificuldade até para lembrar meu nome.

– Frost....?

Ela colocou as mãos na grade, com os olhos brilhando, fitando os meus.

– Sim… - respondi, me aproximando.

– V-você veio me salvar? Você veio mesmo?

– Sim…

Quando menos percebi, já estava próximo o suficiente para beijá-la...

...E foi o que eu fiz.

Nossos lábios se tocaram, frios, mas ao mesmo tempo quentes. Tomei consciência do que estava fazendo segundo depois, quando Elsa me empurrou e me deu um tapa na cara.

– O que pensa que está fazendo?! Acha que pode vir aqui e me beijar do nada?? Eu nem te conheço!

Até com raiva ela é linda! Mas o tapa doeu…

– Perdão, alteza. Confesso que fiquei encantado com tamanha beleza, e…

– Não, tudo bem. Está desculpado. Além do mais, você veio aqui me resgatar e tudo mais... Obrigada.

Quando achei que não podia ficar mais linda, ela sorri. Agora só tenho que arrumar um jeito de quebrar essa grade e…

– Own, como vocês não fofos juntos! - disse uma voz atrás de mim.

– R-Rei Gelado?! - me virei correndo.

– Jack, ali! - Elsa apontou para cima.

Quando olhei para onde ela apontava, vi uma mulher flutuando há alguns metros acima de mim.

– AAAAHH!!

– Eita, que gritinho de menina… - comentou ela. É, meu grito foi meio agudo. Que droga! Justo na frente da minha noiva?!

– Quem é você?! - perguntei, tocando no cabo da minha espada que, até então, não lembrava que ainda estava comigo.

– Calma, Jack. Meu nome é Marceline, Rainha dos Vampiros, e vim em paz.

V-vampiros?! Serio, existe mais alguma coisa em Ooo que eu ainda não vi?

– Acho que você não se lembra de mim, não é? - continuou - Eu estava na igreja no dia do seu casamento, mas não deve ter me visto, eu estava sentada bem lá atrás.

– Ta, e pode me soltar? - perguntou Elsa.

– Até poderia, mas eu estou sem meu baixo aqui, então não dá.

– Pra que você precisa de um baixo? Só quero destruir essa grade.

– Bem, é que, na verdade, esse meu baixo era um machado do meu pai. Mas ainda é forte o suficiente. Não se preocupem, o Rei Gelado provavelmente ainda vai passar umas quatro horas se arrumando. Vocês têm muito tempo ainda.

– Ta, mas se você não veio aqui ajudar, então por que está aqui? - perguntei.

– Nada não, só vim observar a história de vocês.

– Ah…

Tentamos de tudo para quebrar aquela p*rra daquela grade, mas nada funcionou. Eram forte demais. Até tentei usar meus poderes uma vez em que Elsa se distraiu por alguns segundos.

Depois de uma hora, percebi que Marceline já tinha ido embora. Espero que tenha ido buscar o tal baixo... Ela estava certa, o Rei Gelado ainda deveria estar se arrumando, pois nem sequer mandou alguém vir ver se estava tudo bem.

Elsa se sentou no chão e encostou a cabeça na grade, exausta e triste. Eu me sentei ao seu lado e segurei sua mão, que estava quente, e com uma textura estranha, como se estivesse com luvas. Parece que o Rei Gelado usou uma espécie de campo de força para ela não usar seus poderes.

– Não se preocupe, alteza. Vamos sair daqui juntos. Eu prometo.

Ela me olhou, e sorriu de novo.