não deveria ser assim escrita por Finn the human Ghoul


Capítulo 31
Poderia ser assim


Notas iniciais do capítulo

RESUMO: Durante a festa dos mortos na mansão do cemitério:

— Onde tá a filha do Vlad? - diz o fantasma aleatório.
— sei lá, cara, é dias das bruxas e ela tem aquele estilo gótico dela, deve tá assustando os vivos e roubando doces por aí. - responde o outro fantasma aleatório.
— ... Será?



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Algum tempo depois…

(Darwin POV)

 

O que eu estou fazendo aqui no meu quarto mexendo no Elmore Plus pelo computador? Eu devia estar saindo agora, aproveitando o alívio de saber que tudo já foi resolvido. Falando nisso, quanto tempo faz desde que eu fui no acampamento escolar? quase um mês, talvez? Não sei, mas pelo menos é bom saber que aqueles dois finalmente se entenderam e desfizeram todo aquele mal entendido.

Aquele dia foi agitado. Depois que eu e a Carrie fomos procurar a Penny pela cidade feito trouxas naquele dia, Nicole ligou pro meu celular avisando que os dois já estavam em casa, e quando a gente chegou tivemos que explicar tudo para Penny sobre aquela história de resgate. Demorou para a gente contar tudo o que ela tinha que saber. É difícil convencer uma pessoa de que existem mundos paralelos habitados por cópias nossas, e até mesmo agora imaginando isso ainda me parece algo muito surreal. Mas ela acreditou em nós no final das contas, e essa novela toda acabou com final feliz, eu acho.

Mas ainda tem algo que me deixa inquieto, e não, não é sobre a Masami. Se bem que seria uma boa idéia eu descer agora e contar pro Gumball sobre aquela história do doppelganger (cópia exata) dela e do Tobias, aposto que ele logo armaria um plano como sempre só pra juntar os dois, e eu com certeza ajudaria. Mas enfim, o que está realmente me deixando inquieto e até meio que decepcionado é que o Gumball e a Penny foram mais rápidos do que eu no quesito de relacionamento, e nem faz tanto tempo assim que ela acordou.

Não tenho mais amigos em coma no hospital para dar aquela desculpa de clima ruim, quer dizer, não que eu esteja reclamando disso, se não eu seria um péssimo peixe. Mas a questão é que eu e a Carrie ainda estamos na mesma, enquanto o meu irmão está lá embaixo na sala tomando uma surra no vídeo game da sua nova namorada.

Eu apenas converso com ela pelo Elmore Plus e a vejo na escola durante o intervalo, mas não é como se a gente tivesse dado esse outro passo. Será que eu acabei caindo na famosa friendzone e não me dei conta? Tomara que não!

Escuto de longe o som do narrador do jogo berrando pela televisão da sala:

 

— “K.O, FINISH HIM!”

 

E uma voz feminina ria logo em seguida.

 

Foi como eu disse, Gumball estava tomando uma surra de sua namorada no vídeo game. Enquanto eu me distraía ao ouvir a Penny esmagando o personagem do Gumball no jogo, um PopUp de mensagem surgia na tela do computador, fazendo um som de notificação. Viro rápido para o computador com o alerta e vejo uma mensagem de Carrie puxando uma conversa comigo. Animado, vou rapidamente digitando uma resposta.

 

— Soube que eles estão aí hoje.

— Ss, estão jogando lá embaixo.

— E vc, fazendo oq?

— Nada :v

— Se tá fazendo nada então tá fazendo alguma coisa :p

— Então tô ocupado fazendo nada :v rsrs

— rsrsrs ^^

 

Ela envia outra mensagem logo em seguida.

 

— Ei, lembra que dia é amanhã?

— Não faço ideia, pq?

— Esquecido .-.

— Oq foi?

— Te disse ontem :(

— ???

— Halloween!!

— Nossa, vdd! rsrs

 

Vejo o aviso de “digitando” na tela, mas nada de outra mensagem dela chegar, até que finalmente ela envia algo:

 

—Então, o q vai fazer amanhã?

 

Boa pergunta, Carrie, mas você já sabe que eu ainda tenho um certo pavor desse dia e a essa altura já deve imaginar que eu vou ficar em casa, então onde quer chegar? Enquanto pensava sobre, eu digitava uma resposta.

 

— Não sei se o Gumball vai sair pedindo doces esse ano, ele tá se sentindo velho demais pra isso. E vc?

— vc sabe, me expulsaram daquela festa T-T

— é mesmo, vc disse. Foi culpa nossa né? - digo, me referindo a mim e ao Gumball.

 

Eu lembrei então do primeiro Halloween enquanto digitava aquela mensagem. Naquele dia a Carrie levou eu, a Anaís e Gumball para um festa fantasma que acabou não terminando muito bem. No final ela foi expulsa do lugar e ainda teve que resolver o problema que a poção dela causou. Mas sério, qualquer coisa que só pede uma gota não deve ser boa, até porque não vendem leite em gota, vende em litro!

Mas causando confusão ou não, eu beberia aquela poção de novo sem pensar duas vezes, afinal foi por causa dela que eu tive a chance  de... Opa, espera aí, ela acabou de responder minha mensagem!

 

— de boa, aquela galera é imortal e esquece fácil das coisas, não vão nem notar se eu aparecer por lá qualquer dia ;)

— então pq não vai? - parabéns, Darwin, continue se ajudando.

— duuh! São imortais, não cegos rsrsrs

— E vai fzr oq nesse Halloween?

— Vou estar ocupada fazendo nada, q nem vc :v rsrs

 

Certo, se eu deixasse passar agora esse aviso de “estou sem nada pra fazer e você também”, com certeza eu mereceria estar na friendzone. Vamos lá, Darwin, você consegue marcar algo para vocês fazerem. Espera, mas isso não seria um encontro? Não, imagina sua água viva com pernas, o que mais séria?!

E outra, eu não estava reclamando agora a pouco que eu não saía de casa? Vamos, Darwin, você é capaz de pensar em algo interessante para se fazer num dia especial que é a cara dela. Que tal pedir doces? Não, está fora de questão. Assustar as crianças? Bom, talvez. Deixar ela me possuir pra ela se divertir por aí? Qual é, aí já é forçar de mais. Pense, Darwin, o que seria a cara dela e ao mesmo tempo interessante?

Enquanto eu pensava consigo mesmo, ela floodava nosso chat.

 

— Vc ta digitando faz tempo .-.

— Tá fazendo oq?

— Tá reescrevendo a bíblia ou desmaiou no teclado??

— Se não responder eu vou achar que é o segundo e vou pedir ajuda o/

 

Acabo me dando conta que enquanto eu pensava nas possibilidades, eu às digitava sem perceber. Já estando sem tempo e tentando não parecer que eu estava digitando a mesma mensagem várias vezes (era quase isso), escrevo no teclado a primeira coisa que me vem à mente.

 

— Q tal um sorvete?

 

Ela demora um pouco para digitar a resposta.

 

— Sorvete?

 

Sério, Darwin, esse foi o seu melhor? Qual é, o que uma garota ao estilo gótico como a Carrie, em pleno dias das bruxas teria haver com sorvete? Fiquei me sentindo um idiota enquanto entrava de cabeça naquela proposta totalmente aleatória, e digitava outra mensagem para ela.

 

— Ss, amanhã, q tal?

 

Fiquei esperando ela dizer algo, mas o sinal de “digitando” no canto da tela não desaparecia de jeito nenhum. Sinto uma ansiedade agoniante tomar conta de mim, até que enfim ela envia uma mensagem de resposta.

 

— Tudo bem, onde?



 

No dia seguinte…

(Carrie POV)



E lá estava eu, finalmente dentro de uma lanchonete e numa mesa a sós com ele, enquanto conversávamos, distraídos.

Depois de todo aquele meu alvoroço no meu quarto quando ele enfim me convidou, agora eu estava lá conversando com ele normalmente, que nem a gente sempre faz, agindo como simples amigos que resolveram ir juntos numa lanchonete para passar o tempo em pleno Halloween.

A idéia dele de me trazer para cá era curiosa, mas até que boa, já que eu nunca havia provado sorvete antes pois não tenho corpo para isso, literalmente não tenho. A gente devia ser péssimo nesse tipo de coisa, porque, tipo, até a Penny tinha sido mais rápida nisso do que nós e não fazia nem duas semanas que ela tinha acordado!

A gente continuou conversando, e afinal,  ainda era bom falar com ele, como sempre foi durante os intervalos da escola e nas mensagens de texto. A gente estava acostumado a encerrar as conversas assim que acabassem os assuntos, pois sempre sobrava uma desculpa como o sinal do intervalo ou a bateria fraca do celular, mas por algum motivo quando a gente terminou de falar tudo o que tinha para dizer, ficou algo diferente no ar. Nós não dissemos mais nada, apenas ficamos nos olhando, animados, esperando que o outro dissesse outra coisa sobre o seu dia, quando na verdade não existia mais nada a ser dito. Ficamos daquele jeito por algum tempo, até que um de nós, ou melhor, o peixe com pernas, se dá conta do que estava fazendo ali e acaba ficando vermelho, enquanto desviava o olhar e ria sem jeito. Eu acabo espelhando sua reação.

 

— Acho que já é uma boa hora pra pedir aquele sorvete, né? - diz Darwin, com um sorriso acanhado.

 

ele se levanta e sai da mesa para então pedir o sorvete que ele havia prometido. Aquilo era apenas uma desculpa para ele poder dar uma fuga daquele típico clima de encontro que finalmente surgia entre a gente. Ele tentava parecer confiante, mas o fato de ser realmente um encontro nos incentivava a agir como dois adolescentes bobos naquele momento. Ver ele distante me lembrou que agora eu tinha um tempo sozinha para enfim aproveitar o pouco da minha privacidade. Não era como se eu estivesse sufocada com ele por perto ou algo do tipo, mas sim porque eu precisava falar uma coisa com uma certa pessoa em particular, que não fosse ele, é claro. Aproveitando aquela pausa, resolvi puxar a minha querida e odiada lembrança, dos tempos de viagem dimensional que antes eu fizera com meus amigos. Saquei da minha bolsa, ou vulgo espaço em que abro um portal e jogos os meus trecos, um dos Artefatos que eu havia pegado da minha sósia ciumenta e possessiva que fez a Masami sequestrar a Penny.

Eu me viro um pouco e me encolho na cadeira a fim de fugir do campo de visão do Darwin, e encaro a relíquia como quem encara uma pessoa quando você está prestes a comprimentá-la:

 

— Está aí? -sussurro ao objeto.

O artefato dourado se abre e revela um espelho, onde uma outra Carrie me observava.

— Não precisa me ligar toda hora, eu já prometi que não vou sair sequestrando mais ninguém! - diz a carrie do espelho, quase gritando.

 

Darwin até virou o rosto em minha direção naquele momento, e eu fiz um sorriso para ele esperando que aquilo fosse o suficiente para ele não voltar para mesa, e por sorte acabou funcionando.

 

— fala baixo, senão ele vai voltar pra saber porquê “EU” estou gritando! - digo, voltando a encarar o artefato e fazendo aspas com umas das mãos para o espelho.

— Peraí, isso é uma lanchonete? - indaga a fantasma no vidro ao identificar o local. - você tá num encontro?! - diz ela, tentando segurar outro grito.

— Não será mais se você continuar falando alto. - é no mínimo estranho eu ficar desconcertada ao contar algo para mim mesma.

— Bom, pelos menos você teve sorte no seu mundo. - brinca ela, num tom um tanto quanto invejoso.

— Falando nisso, você não me disse por que ficou louca daquele jeito, foi por causa de um fora? - digo irônica, causando uma reação na Carrie do espelho.

— Um fora? - diz séria, mas também com um teor irônico. - Foram pelo menos dois foras por universo!

— Peraí, explica isso melhor, Carrie possessiva. - digo, interessada.

— Não bastava os dois me deixarem de lado no meu mundo, não, eles tinham que fazer o mesmo em quase todo bendito universo. - continua ela, sem explicar direito e com os dentes cerrados, provavelmente afetada pelo “Carrie possessiva”.

— Os dois? Está falando do Gumball e do Darwin? - digo confusa.

— Sim, e seria ridiculamente engraçado se eu não fosse a vítima.

— Meu pai, como eu sou dramática. - digo, tirando onda dela.

— Dramática?! - dizia rindo, com um certo e pequeno desespero. - Não foi você que viu os dois ficarem juntos em todo inferno de mundo! - grita ela, sem se segurar.

— Tá, mas… espera, É O QUÊ?! - grito também ao ser pega de surpresa, sem conseguir me controlar.

 

Olho para os lados após aquela cena e vejo Darwin e todos da lanchonete me encarando, assustados, incluindo a garçonete que atendia ele.

 

— Tá tudo bem? Diz ele.

— T-tá sim, foi só um meme que eu vi aqui no celular, hilário. - dou um riso nervoso, após dar a pior desculpa de todas.

— Ok, se você diz. Diz, confuso, retornando a esperar no balcão.

 

Volto a encarar o espelho e vejo minha contraparte com um misto de expressão: raiva, vergonha e ciúme, tudo no mesmo rosto.

 

— Eu disse, parece piada, mas não é. De todos os universos que passei, na maioria os dois viraram um casal. Deveria ser fofo isso, mas pensa, eu ia ficar com quem, com o João Banana por acaso?!

— Nossa, com certeza não!

— Tinha universo que a coisa tava tão feia que “EU” peguei até a Penny! - diz ela, fazendo aspas para mim com uma das mãos.

 

Foi uma tortura estar ouvindo aquilo e não poder rir descontroladamente, o ambiente e a situação não permitia isso. Voltei a olhar para o espelho, mas desta vez um POUCO mais equilibrada.

 

— Agora está mais que explicado aquela loucura sua. - murmuro em risos para ela.

— Mas mesmo assim, diz pra Penny que eu peço desculpas pelo que eu fiz. - diz ela, ressentida.

— Que fofenho, então já desencanou do Darwin e do Gumball e já tá partindo pra outra? - digo com ar malicioso e fazendo aquela cara.

— Cala a boca, Carrie sortuda.

Darwin enfim recebe o que estava esperando da garçonete e resolve voltar para a mesa.

 

— Boa sorte, Carrie possessiva. Ele tá vindo agora, tchau. - enquanto fecho a esfera dourada consigo ver a “minha” imagem se desfazer do espelho antes de trancar o artefato.

 

Por baixo da mesa eu abro a bolsa, ou vulgo Portal, e me desfaço da relíquia. Ele volta para a mesa com um milkshake em mãos que era totalmente diferente do sorvete que ele havia prometido, e senta logo à minha frente.

 

— Ué, cadê o sorvete?

— Acho que você vai gostar mais desse.

— E como eu vou saber? Nunca provei.

— Exatamente, eu já provei e tenho certeza de que você vai gostar mais desse.

— Sorte sua que no refeitório da escola não tinha isso, se não eu faria questão de escolher. - digo, colocando uma mão sob o queixo e apoiando o cotovelo na mesa, enquanto observava a rua do lado de fora. Relembrava das possessões momentâneas que fazia nos outros anos de escola só para poder comer aqueles lanches.

 

Eu não estava procurando algo mais interessante na rua ou apenas buscando memórias do colegial, aquilo era só uma desculpa enquanto eu aguardava um sinal dele de que eu poderia agir. Ele fica impaciente ao me ver olhando para fora, até que finalmente ele entende a situação.

 

— Ah, tinha esquecido. - ele estende a mão sobre a minha que estava repousada sobre a mesa, e revive de novo aquela sensação inédita de toque que eu ainda não havia me acostumado. - vá em frente, só lembre de deixar um pouco pra mim no final.

— N-não precisava fazer isso. - digo sem jeito e com o rosto vermelho, mas sem tirar a mão da mesa.

— Lógico que precisava, e também eu gosto de ver a sua expressão toda vez que eu faço isso. - diz ele, provocando.

 

Eu senti uma raiva naquele momento, porque eu sabia que ele tinha conhecimento de que aquilo me afetava. Mas a raiva era tão confusa, era uma raiva que vinha junto com uma admiração. Aquela reação era culpa daquele sorriso dele. Droga, isso era quase como uma trapaça! Um caminho fácil e perfeito para dar a ele a deixa certa de recuperar a minha total atenção, e restaurar todo o clima meloso de que um encontro tem direito. Quando foi que ele aprendeu tanto sobre mim e quando foi que a aquela conversa de amigos virou algo romântico?

 

— Certo, mas não me culpe se eu perder o controle, ok? - digo sem jeito enquanto o olhava nos olhos, ainda com a mão sob a dele.

— Não me importo, apenas quero que se divirta. - diz ele, deixando a outra mão na mesa enquanto fechava os olhos em repouso, se preparando para o que eu iria fazer.

— Certo… - respiro fundo. - ... é agora então. - fecho os olhos para me concentrar.

 

Até nisso ele havia pensado, e eu achando que ele não era tão inteligente assim. Quando se é um fantasma, você possui uma pessoa ao atravessar e ficar no corpo dela, e daí o resto vem quase que instantâneamente. Mas eu me perguntava: e quando eu não posso entrar? Afinal, com ele era tudo diferente, o corpo dele era como uma barreira, e isso tudo era novidade para mim. E quanto a possessão, ele já tinha pensado nisso com antecedência ao tocar na minha mão, até porquê eu não ia ficar tateando o corpo dele até conseguir possuí-lo, só a mão já bastava, não é?

Estava nervosa, pois nada acontecia, e a impaciência estava me atrapalhando. Abri um dos olhos para poder espiá-lo, e fiquei surpresa eu vê-lo quieto e paciente, com os olhos fechados e aguardando eu finalizar o serviço. Aquilo me acalmou um pouco, e toda a minha preocupação foi embora, sabe lá para onde. Eu fechei os olhos novamente e dessa vez sentir um formigamento vindo do meu pulso, e pareceu que ele também tinha sentido o mesmo.

 

— Faz cócegas. - ele brinca.

— Shh, não atrapalha.

 

Passamos mais uns segundos, e o silêncio ficou incômodo outra vez.

 

— Não queria ser chato, mas isso tá ficando esquisito. - diz ele.

— ...concordo, acho que não vai..! - abro os olhos em desistência, mas a minha habilidade me prega uma peça, pois agora eu já estava no corpo dele.

 

Aquela possessão não era normal, eu nem senti que já o havia possuído! Eu mexia as mãos e podia ver os braços do Darwin dançar na minha frente como se fossem minhas, mas não pareciam ser. É algo que só quem é fantasma entenderia, mas em resumo, o certo era eu sentir aquele corpo como se fosse meu, mas o que eu sentia naquela hora era que estava controlando uma marionete que a qualquer momento iria se mexer sozinha, consegue Imaginar? E para piorar, outra coisa a seguir me deixa mais confusa.

 

— Era pra isso acontecer? - diz a voz familiar na minha cabeça.

 

Ele estava lá comigo, ocupando o mesmo corpo, e isso definitivamente nunca havia acontecido antes comigo.

Eu queria tentar descobrir mais sobre isso, mas a voz trêmula e assustada da nova garçonete ao nosso lado acabou me obrigando a deixar para depois.

 

— N-não vão tomar o Milkshake? - diz ela, tentando disfarçar o nervosismo. - a l-lanchonete fecha daqui a pouco.

— … A senhora viu alguma coisa estranha acontecer? - Eu não havia tido aquilo, minha marionete tinha falado por si só, e foi sorte dessa marionete não ter dito 'moça’.

— Cheguei agora em Elmore e me contaram que coisas estranhas acontecem aqui, e o que vocês fizeram define perfeitamente o que eu ouvi. - ela dá uma risada nervosa, mas sincera.

— E o que houve, exatamente? - Digo, agora falando por mim, mas no corpo de Darwin.

— Acho que algo bem… bizarro, mas meio que romântico. Exceto na parte da meia hora de mãos dadas que mais parecia uma pessoa consolando a outra. - sinceridade demais no final, mas relevei já que ela era nova em Elmore.

— Obri… - calma, eu termino com um “obrigado” ou “obrigada”? - V-valeu, senhora! - dizemos enfim.

 

Ela então vai embora e nos deixa na mesa, mais ou menos sozinhos já que agora éramos um só. Compartilhamos a vergonha ao lembrar que ela viu toda aquela cerimônia de dar às mãos, até que a mágica acontecesse. Mas ao pensar nisso, acabou que achamos que foi realmente algo muito romântico. O casal se unir no final em um só corpo, o quão irônico isso era?

Ficamos encarando o milkshake derreter enquanto tínhamos aquela crise de existencialidade, até que o Darwin resolveu interromper:

 

— Que tal a gente deixar essa coisa de fusão pra depois e aproveitar logo para a tomarmos juntos esse milkshake? - diz ele, pela minha mente.

— Boa idéia! - respondo enfim, falando através do corpo dele.

 

Horas depois, a caminho da casa dos Krueger…



Continuamos daquela forma até então, no caminho de casa. Fusionados, foi como nós começamos a chamar. Ficamos dentro da lanchonete até ela fechar, conversando da forma mais incomum possível, só pela mente, e desta vez com um assunto novo para usar. Era engraçado ver os clientes passando e estranhando um peixe sentado sozinho na cadeira da lanchonete, de olhos fechados e acomodado como se estivesse dormindo. E toda vez que alguém passava e fazia um comentário, a gente fazia a marionete laranja dar um sorriso irônico que deixava essas mesmas pessoas confusas, e era muito divertido ver a reação deles. Agora estávamos a caminho de casa, mas não ainda prontos para a despedida.

 

— Você imaginava que ia acabar assim? - ele disse.

— Tipo, planejado?

— Isso.

— Nunca, foi a primeira vez que vi isso, acho que nem meu pai sabia dessa.

— Então a gente é privilegiado.

— Talvez… - falei corando o rosto, que lógico, era o rosto dele.

 

O mais engraçado era saber que o corpo dele estava tendo que reagir a nós dois. Pelo menos ninguém estava ouvindo o peixe falar sozinho. Mas eu aposto que a gente estava parecendo um drogado no meio da rua viajando no efeito de um entorpecente, que andava de olhos cerrados, sem rumo, e esboçando caras e bocas simplesmente do nada. Mas a essa altura a gente nem ligava mais, estávamos tão íntimos que o mundo ao redor parecia ter desaparecido, e a mente dele era o único lugar que existia. Um lugar onde só havia nós dois. Era a sincronia perfeita.

Mas tudo de bom no mundo sempre acaba em algum instante, assim como o efeito de uma droga, mas a diferença é que gente não ia ficar doente e dependente por causa daquele momento. Quer dizer, viciado, talvez?

Assim que reconheci o piso da calçada e percebi que já estava de frente para a varanda da minha casa, sentimos juntos uma sensação dolorosa no peito, como se aquele ‘até mais’ tivesse a mesma força de um término. Exagero, mas fazer o quê, agora cedo eu havia admitido para a minha contraparte que eu era muito dramática, não é?

Nos viramos de frente para a casa velha da minha avó e ficamos imaginando como deveríamos nos despedir, até que uma idéia me vem à cabeça e faz o rosto do peixe passar do laranja ao vermelho, sendo que aquela última reação do corpo não era minha.

Agora seria a minha vingança por aquele momento em que ele havia tocado em mim, trapaceando para conseguir chamar a minha atenção. Saio do corpo dele como uma sombra branca ao seu lado, enquanto o mesmo apagava subitamente e depois acordava, desnorteado. Toco nos ombros dele para chamar sua atenção, e enquanto ele se virava e retornava à normalidade, aproximo meu rosto do dele e lhe dou um beijo intenso, que rapidamente o acorda. A intenção era apenas assustá-lo com aquilo, mas a carência daquela sincronia de agora a pouco nos manteve ali por mais um tempo, até que o fôlego do peixe se rendeu ao da fantasma morta viva que não precisava respirar para viver.

Mesmo não dividindo o mesmo corpo como antes, eu pude me sentir unida novamente depois daquele beijo. E enquanto a gente sentia outra vez aquela sensação indescritível, continuamos trocando olhares, a fim de decidir qual dos dois seria o responsável pela despedida.

 

— Até. - digo sem me mover, o fitando fixamente.

— ... até. - diz ele, ofegante e com um brilho no olhar.










EXTRA

 

“ o que aconteceria se isso ou aquilo não acontecesse e existisse outra realidade após isso? E se o felino azul nunca tivesse participado daquela peça com a sua amiga amendoim e a mesma nunca tivesse revelado a sua real forma? O que poderia acontecer depois, já imaginou? E quem sabe o motivo do felino não entrar na peça seria também o motivo pelo qual ele perderia amizades.

Alguém que visse esse mundo do jeito que estava, pensaria: “Não deveria ser assim, eles não estão felizes”. Mas e se ele visse o que aconteceria depois, com cada uma daquelas pessoas?

aí talvez ele mudaria de ideia e diria: “Bom, na verdade, poderia ser assim.”

 

 

 

 

 

 

 

 

A menos que ele veja o episódio Matchmaker, é claro, aí nesse caso esse texto final de despedida será inútil já que ele ficará com a série original ao invés da Fanfic.

 

 

E por falar em série original, o shipp é real!

 

 

FIM


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Notas finais do capítulo

Gostaram da capa? Desenhei especialmente pra Fanfic, achei que seria a melhor maneira de encerrar a história. Era para eles serem iguais na série, mas o traço de anime é bem melhor pra cenas de shipping que nem essa kkk

Obrigado a quem chegou até aqui, e espero que a história num todo ou pelo menos seu desfecho tenha agradado a maioria ^^



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