Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 7
Tormenta




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Eu abri os olhos, mais desorientado do que jamais estive, apenas para descobrir que eu não tinha feito tanto progresso: estava em uma cela de novo. Só que, diferente das do meu castelo essas eram malcheirosas e molhadas, com as barras de ferro enferrujadas, assim como as correntes que me prendiam pelos pulsos.


Virei a cabeça, mesmo percebendo que o meu pescoço doía, para a parede de madeira atrás de mim. Alguns tinham escrito mensagens com sangue, que já desbotava, por sinal, outros tinham cravado seus dizeres com algo mais afiado. O teor das mensagens era quase sempre o mesmo, prisioneiros querendo morrer. Um deles tinha feito um pequeno calendário que durou uma semana e meia, me deixando apenas imaginar o que aconteceu após aquilo.


– Bem-vindo ao Presságio da Morte. A propósito, sim, eu salvei a sua vida. De nada. – Ouvi Riven dizer, da cela ao lado. Eu não sabia como a minha aparência estava, mas se a dela fosse um indicativo, era temeroso.


Os seus cabelos se desfaziam como palha e estavam sujos de sangue, assim como o seu rosto. As roupas, que um dia foram brancas, estavam uma ruína. Entretanto, o que mais me preocupava era o olhar que ela possuía. Um olhar vazio e sem objetivo, que não tinha nada a ver com o fato de estarmos em um lugar chamado “Presságio da Morte”.


– O que é Presságio da Morte? – Perguntei para ela, afugentando com o pé um rato que passava próximo de mim.


– Yo ho! É o navio pirrata maix famoxo de Bilgewater. – Um homem nos interrompeu, cuspindo palavras com o seu sotaque. Sua barba e bigodes eram bem definidos e alinhados. Por cima da camisa branca relativamente limpa (tudo parecia limpo perto daquela cela), um sobretudo vermelho cortado nas mangas. No cinto, uma arma antiquada. Era a primeira vez que eu via o capitão de um navio pirata. – Trragam-no.


Seus homens me retiraram da cela, me carregando para fora, ainda com as pesadas correntes. O pior eram as escadarias quase que completamente escuras. Tropecei nos meus próprios pés e nos degraus mais vezes do que pude contar.


Ao sair daquele porão, notei, da pior forma, que já havia amanhecido. Instintivamente, fechei os olhos para me proteger da luz, não enxergando por onde me conduziam, só reabrindo-os dentro de outro cômodo, ao enfim sentir que era seguro novamente.


– Larranja? Limão? – O capitão ofereceu, espetando uma faca com ambas as frutas na mesa a minha frente de onde estava sentado. Balancei negativamente a cabeça, embora estivesse faminto. – Eu me xamo Gangplank.


– Estou sob custódia? – Perguntei, olhando para os olhos dele. Eram vermelhos.


– Yo hohohohoho. Eu até dirria, max não faxo ideia do que “cuxtódia” xeja. – Então, ele aproximou o próprio rosto de mim, exalando o hálito de fruta cítrica, com um sorriso triunfante sob a barba. – Eu xei quem você é.


– Então, sabe que provavelmente te dariam uma recompensa por mim. – Falei. – Vivo. Muito ouro e garrafas de rum, certo?


Ele riu. Uma risada gutural e nada divertida. Por baixo da barba, era possível ver seus dentes enquanto ria. Alguns de prata ou ouro, e outros tão amarelos que eu poderia considerar dourados também.


– Ya arrrr! Não, Brandon Beck. Voxê vai construir algo que me permita dextruir, de uma vex por todax, a maldita da Sarah Fortune! – Ele exclamou, soando como um cachorro sem bons modos enquanto socava a mesa com força, derrubando a laranja e o limão.


– E, depois disso, você vai deixar eu e minha amiga irmos embora? – Arrisquei, olhando de relance para ele, ainda em seu acesso de fúria.


– Não. – Ele sorriu para a minha ideia infantil, como se eu dissesse “E depois disso, eu vou voar, certo?”. – Depoix dixo, voxê vai xer enforcado. No maxtro.


Antes que eu pudesse argumentar contra aquela ideia, sem dúvidas, encantadora e, acima de tudo, tentadora, ouvi um estrondo do lado de fora. Bem, eu também o senti, sendo jogado para o lado junto com o navio. Ainda no chão, ouvi um “Ya arrrr” que ficava cada vez mais distante, o que significava que Gangplank tinha partido para resolver o problema.


Mesmo com o peso das correntes e o balanço incessante, além das explosões do lado de fora tirando a minha concentração, me coloquei de pé, tomando a parede mais próxima como apoio. Então, saí pela porta entreaberta, terminando de abri-la com meu ombro.


O convés estava uma confusão. Um navio estava lado a lado com o Presságio da Morte com homens deste pulando naquele e vice-versa. Gangplank trocava tiros com uma pirata ruiva enquanto gritava “Xua maldita!!”. Homens com espadas, pistolas ou machados. Homens fortes e fracos, altos e baixos, com ou sem pernas de pau. Todos ocupados demais para me notar enquanto eu corria cambaleante de volta para onde estavam os prisioneiros.


Esquecendo dos degraus, e auxiliado pelo peso das correntes e pelo balanço do navio pirata, caí rolando por toda a escadaria, parando quase na frente da cela de Riven, com o rosto virado para a palha fétida que cobria o chão.


– Não vou realmente conseguir me livrar de você, vou? Me diz que você não é o culpado por essa confusão lá em cima. – Ela me perguntou, revirando os olhos, embora, pela primeira vez, eu visse um brilho divertido neles. Ao nosso redor, eu podia ouvir os prisioneiros gritando para que eu os libertasse também.


– Eu não, cof, sou o culpado por essa, cof, confusão lá em cima, mas temos que aproveitá-la para, cof, fugir. – Respondi, enquanto cuspia mais palha do que imaginava ser possível engolir. Nem toda a escovação de dentes do mundo tiraria aquele gosto horrível. E pensar que eu estava recusando laranjas e limões minutos atrás. – Como eu te tiro daí?


– Estamos em um navio, um que provavelmente vai afundar, mesmo que estejamos livres, como você pretende fugir daqui? – Rebateu, de volta ao tom rabugento.


Mas elas vieram. As explosões. Uma. Duas. Três. O suficiente para substituir o gosto de palha apodrecida por água salgada. Mesmo que em algum ponto da minha vida eu tivesse pensado “Hey, natação pode ser um conhecimento útil caso eu comece a afundar nas águas de Bilgewater!”, isso teria sido inútil com o peso das minhas correntes.


A falta de oxigênio era desesperadora. Eu via as luzes na superfície inalcançável. Sim, é a velha ironia. O homem que vivia nos céus pagando caro pela arrogância e afundando até onde fosse possível. Longe de mim contrariar o destino, a culpa foi da mão que me segurou, trazendo-me de volta para a superfície.


– De nada. – Riven me falou, ofegante e molhada. A espada negra quebrada ao seu lado enquanto boiávamos sobre tábuas de destroços do Presságio da Morte. Por um segundo, eu queria fingir que não tinha uma batalha entre piratas acontecendo ao meu redor. Ficar ali, boiando, observando o mar sem realmente pensar em nada.


– Ela parece estar se afogando, e eu não sei nadar. – Apontei, com as mãos livres, quando Riven usou a sua espada para finalmente cortar as minhas correntes. Uma moça se debatia no mar.


– Você quer que eu a salve? Uma pessoa que você nem conhece? – Ela franziu uma sobrancelha para mim, incrédula.


– Você é perspicaz. – Observei, arrancando um suspiro dela antes de vê-la pular na água para trazer a moça até onde nós estávamos. Seus longos cabelos negros caíam por todos os lugares, respingando água. Por várias partes, ela mostrava marcas de tortura. – Você está bem?


Foi uma pergunta desnecessária. Ela não esperou mais do que meio segundo para me segurar pelo pescoço e chutar Riven na barriga, fazendo-a cair na água. Levantei as mãos, em rendição, encarando-a nos olhos cor de mel:


– Se quiser manter essa atitude violenta, vai precisar de alguma arma. – Falei, na medida do possível, enquanto ela segurava meu pescoço.


– Se eu precisar de uma arma, vou conseguir uma. – Ela respondeu, meneando um sorriso convencido. Eu estava me acostumando com pessoas agindo cheias de si comigo.


– “Salve a moça”, “salve a moça”! – Riven irrompeu, carregando a sua espada e lançando uma rajada de vento contra a mulher que me segurava. – Olha o que eu ganho por te escutar!


Antes que eu pudesse intervir entre a batalha que as duas provavelmente travariam em cima de tábuas flutuando sobre a água, algo mais sinistro do que duas mulheres se enfrentando aconteceu.


Sem aviso, a água se enegreceu, fazendo todos os piratas pararem a batalha no navio que ainda estava de pé e nas ruínas do Presságio da Morte. O Sol fez coro aos mares, perdendo o seu brilho e deixando para trás apenas a escuridão.


– O Tormento! – A mulher ruiva que enfrentava Gangplank gritou, aparentemente confirmando o desespero de seus homens e dos piratas de Gangplank.


– O Tormento. – A mulher de cabelos negros repetiu, mordendo o lábio de nervosismo. Não, não era nervosismo, era ansiedade.


– O que é Tormento? – Riven perguntou, abaixando a espada. Não era realmente necessária a pergunta. Espectros com olhos de fogo-fátuo investiam contra qualquer forma de vida que encontrassem, envolvendo-as em… energia de fantasma? Odeio magia.


O mar revolto parecia estar servindo-os, guiando o outro navio e a nós. Riven tentava a todo custo repelir os fantasmas ao nosso redor, mas nada parecia funcionar para arrancar deles mais do que um lamento.


– São muitos! – Ela gritou, girando cada vez mais a lâmina de sua espada quebrada na esperança de detê-los. Senti um deles segurando o meu braço com o seu toque frio. E então, cada vez mais, até que não restasse nada exceto mãos fantasmagóricas. E o Tormento.


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