Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 4
Isabel




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587173/chapter/4

– Então eu mandei aqueles noxianos enfiarem suas armas no… Brandon! – Era muito bom poder ouvir aquela voz após bastante tempo. Sivir era uma grande companheira, e ocasionalmente nos fazia rir.

– Ei. – Cumprimentei. Não era apenas ela que estava ali. Longe do salão principal, onde a maioria do Instituto havia comparecido, meus maiores amigos haviam sido especialmente convidados. Annie, Amumu, Fiddle, Kassadin, Ezreal, a própria Sivir e Zilean marcavam presença no salão oval que era apenas nosso.

Annie e Amumu vieram me abraçar imediatamente. Eu praticamente não os via há um ano. Não tínhamos exatamente recordações felizes de nossos últimos momentos juntos, mas aquelas dificuldades formaram um laço muito forte entre todos nós.

– Dr. Beck, não posso ficar por muito tempo. Mas vim agradecê-lo. – Kassadin veio planando até mim. Ele era um caso complicado. Seus poderes proviam de uma dimensão vazia, cuja mera visão o fez agonizar no próprio corpo. A armadura que eu construí para ele resolvia o problema e o permitia controlar a manifestação da própria habilidade.

Ele era grato por aquilo, e até mesmo se tornara o protetor do portal para essa dimensão. Porém, como várias das minhas responsabilidades, eu via aquilo apenas como um remendo. Eu queria devolver o corpo de Kassadin e era mais uma culpa que me corroía.

– Eu é que agradeço por guardar Icathia. – Sorri para ele, antes que ele “caminhasse pela fenda”, ou pelos espaços vazios em nossa dimensão. Uma espécie de teletransporte sofisticado. – Bem, vocês estão meio calados. Isso é uma festa!

– Seria uma festa se você chamasse o resto da Liga. Vocês já viram aquele Malphite? “Duro como pedra.” – Sivir comentou, arrancando risadas de alguns dos membros da Liga que conheciam o campeão.

– Eu ouvi dizer que você recusou ajudar Noxus na incursão. Significa muito para mim, Sivir, obrigado. – Falei. Eu já tinha muitos problemas com aquele assunto sem precisar de meus amigos se envolvendo.

– Não podem me comprar. Pelo menos, não tão barato. – Ela falou, com um sorriso no rosto e colocando um copo de rum em minha mão.

É divertido lembrar quem éramos antes disso tudo. Em suma? Desajustados. Pessoas, ou monstros, procurando um motivo para viver. Algo para se basear. Alguns de nós conseguiram, o que os levou a se afastar. Por exemplo, Marc, meu melhor amigo, foi atrás de um ser assassino de uma raça milenar em extinção.

Zilean, como sempre, tinha o seu rosto velho marcado por preocupação. Ele ainda sofria de cronodisplasia e eu sei como é horrível. Normalmente, vemos uma ou outra coisa do futuro. E ela sempre é ruim. Nunca é algo como seus filhos ou você em um momento feliz, é mais como torres gigantes caindo em meio a uma tempestade roxa que irrompe nos céus.

Fiddle ficava quase isolado em um canto. Era um caso sem solução, mas eu quase me sentia alegre por tê-lo tirado de sua vida anterior. De certa forma, ele era mais feliz conosco, lutando pela Liga. Ezreal era um grande amigo desde que nos encontramos pela primeira vez em Piltover. Um explorador irredimível, um homem verdadeiramente livre. Seu lar era o mundo. Eu gostava disso nele, não tenho certeza de que achei o meu lar verdadeiro.

De qualquer forma, eu tentava compensar do jeito que podia. Momentos como aquele me faziam esquecer das minhas dúvidas e fracassos. Quase:

– Então, aqueles picolés idiotas não vão mostrar a cara mesmo? – Sivir exclamou, enquanto todos nós dançávamos sob o som de músicas remixadas por uma das máquinas que eu construí no meu tempo livre.

A Ilha de Doran, apesar de seu grande território, tinha o castelo no centro como a sua maior atração. Além, é claro, do fato de estar entre as nuvens. O resto da ilha era composto por paisagens naturais, como eu me lembrava delas do futuro. Ela também estava conectada à rede, mas as permissões especiais foram dadas apenas a mim e à Ellie.

– Picolés idiotas? Picolés podem ser idiotas? Eu pensei que eles eram apenas… picolés. – Amumu perguntou, confuso.

– Picolés têm rosto? – Ezreal completou, me fazendo inalar metade de um copo de rum pelo nariz ao rir. Pelo canto do olho, vi Zilean dando umas risadinhas também.

– Eu acho que ela está falando de nossos amigos de Freljord. – Ofelia irrompeu no salão, fazendo Sivir pular de felicidade mais uma vez. – Eles ainda são nossos amigos, certo?

– Eu espero que sim. – Comentei, sem saber se eu mesmo estava sendo irônico.

– Ellie está te procurando. Ela diz que é uma emergência. – Ela falou, sem tirar os olhos de mim até que eu assentisse com a cabeça, deixando o meu copo vazio em uma bandeja invisível.

Ao passar por Ofelia, as portas se abriram automaticamente, me permitindo sair do salão oval. Passei por alguns corredores e até mesmo pelo salão principal, onde um grande banquete estava sendo servido para uma população que compareceu em peso. O desvio era intencional, passar por toda essa gente me atrasaria, o que faria Ellie se enfurecer um pouco. O meu segundo passatempo favorito.

Ela me abordou em mais um corredor, um pouco depois de eu finalmente me desvencilhar de todos do salão principal. Provavelmente estava indo me buscar, já cansada de aguardar. Sem palavras, ela segurou o meu braço com força e me arrastou na direção oposta:

– Você vai querer ver isso. – Estranhamente, o seu tom de voz não era o de alguém bravo. Ela parecia mais… impressionada. Quando sua mão soltou o meu braço, depositou algo em minha mão. Um aparelho cúbico bem pequeno, sem luzes ou visor. Apenas um botão. Não o meu tipo de invenção, mas bem familiar.

– O que exatamente isso é…? – Eu perguntei, poucos segundos antes dela enviar uma projeção de tela bem diante dos meus olhos. Era um perfil não muito completo. E nem poderia estar, a dona desse perfil não tinha mais do que catorze anos. Eu conhecia os seus pais, que estavam em anexo no rodapé, eles trabalhavam para mim, embora não diretamente. – Ok, e quem é… Isabel, Adhit?

– Ela criou isso. É uma espécie de dispositivo de camuflagem. Estava tentando entrar escondida no salão oval. O sensor térmico a captou no último instante. – Ellie me explicou.

– Uma fã da Liga? – Perguntei. Muitas pessoas faziam loucuras para encontrar com os seus campeões favoritos da Liga, mesmo que alguns estivessem em lugares inacessíveis, como Icathia e Freljord. Ou, até mesmo, a prisão do Instituto, como era o caso de Cho'Gath, cuja mera lembrança me dava calafrios.

– Uma fã sua. – Ela respondeu, com um meio sorriso, o que significava bastante vindo dela. A porta para o local onde Isabel estava se abriu e Ellie me deixou entrar enquanto dizia algo sobre ir conversar com os pais dela.

A garota era exatamente como na foto de seu perfil, o que significava que as câmeras do Instituto estavam funcionando bem. Ponto para mim. Seus cabelos negros formavam uma franja, mais ou menos como a que eu usava e eram presos atrás. Quem a visse somente de frente, poderia pensar que se tratava de um garoto.

– É um aparelho interessante. Quase driblou todos os meus sistemas de segurança. E isso significa alguma coisa. – Falei, encarando um pouco mais o pequeno cubo. Eu conhecia bem esse tipo de construção. Não era o meu estilo que ela estava imitando, pelo menos. Era o de Doran. – Você é algum tipo de cientista mirim?

– Eu não sou cientista. Cientistas descobrem problemas, eu os resolvo. – Ela respondeu, olhando diretamente para mim. Ainda bem que eu havia sido avisado que ela me admirava, senão eu pensaria que ela me odiava intensamente apenas pelo seu tom de voz.

– Uau. E as pessoas dizem que eu sou arrogante. – Comentei, me sentando em uma cadeira ao lado dela.

– Isso é uma coisa ruim? – Ela me perguntou, curiosa. Assim como Doran, ela não fazia perguntas pela descoberta, mas para conhecer novas opiniões. Não existiam descobertas para quem já sabia tudo, apenas pontos de vista.

– Não quando você é boa o suficiente para poder. – Entreguei o cubo na mão dela. – É simples, sem estética. Quase rude. Mas é funcional. Nunca se esqueça de que as coisas só precisam funcionar para serem boas.

– Eu quero que você fique com isso. – Ela falou, me entregando o cubo enquanto eu me levantava. – Eu sabia dos sensores térmicos, mas precisava chamar a sua atenção, de algum jeito.

– A última criança que construiu coisas para mim não acabou muito bem. – Ainda assim, peguei o cubo e o guardei no bolso. – Me procure em alguns anos, tenho certeza de que será ótimo ter alguém como você no Instituto.

Passei a mão na cabeça da garotinha. O sorriso que ela me deu era a maior recompensa que eu podia receber. Ela era uma delas. Uma das pessoas que eu queria desesperadamente proteger. Meu povo. Provavelmente, naquele momento, Aung Suu Warlock sentia a mesma coisa pelos seus compatriotas, enquanto marchava em minha direção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Before - League of Legends II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.