Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 15
Kristofer - Parte 2




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Riven:

Riven sabia que deveria ter estudado história no seu treinamento anual de guerreira, em Noxus. Não precisava prestar atenção nos acontecimentos antigos. Nada sobre a conquista de Runeterra ou as guerras rúnicas. Se ela, pelo menos, estudasse os eventos do ano anterior, teria entendido a coisa mais simples do universo: Não se segue os planos de Brandon Beck. A menos que você queira morrer. E, infelizmente (ou previsivelmente), ela estava morrendo.

Ela conhecia o gosto do próprio sangue. Já tinha sangrado em outras batalhas, assim como tinha quebrado costelas e deslocado membros. No entanto, era a primeira vez que tudo isso acontecia de uma vez. E doía. Além disso, o fogo daquela garotinha (aquela maldita garotinha) tinha sido o bastante para estragar a sua roupa nova e o que restava do já abalado humor. “Pelo menos o escudo funciona”, pensou resignada.

A derrota não era grande coisa. Desde o fracasso em território ioniano, ela acumulava derrotas como se fosse uma espécie de mau hábito. Esperava que ao menos aquela servisse para algo e Brandon obtivesse êxito. Daquilo ela gostaria muito.

Os três que a enfrentavam eram bons lutadores, aquilo ela tinha que reconhecer. “Ainda assim, não têm a disciplina de um bom exército noxiano”, ela se pegou pensando, antes de repreender a si mesma. Mesmo não gostando, ela sabia, nenhum exército podia derrotar Noxus. Nem Demacia, nem mesmo a Liga. Eles tinham habilidade de sobra, é claro, o corpo dela estava de prova, mas era preciso mais do que habilidade para viver naquele mundo.

Pelo canto do olho, o que não estava bloqueado pelo sangue que escorria de sua testa por um corte feito pela foice do maldito espantalho, ela viu Vayne, também enfrentando três oponentes no telhado vizinho. Ela não estava muito melhor. A parte de trás do seu sobretudo tinha buracos de bolas de canhão e ela estava suja de lama ou terra. Por todo o corpo haviam cortes, e ela notou que cada vez que a aliada eliminava um dos clones do palhaço, esse expelia facas. Vayne desviava o melhor que podia, ela reconhecia, mas não era o suficiente.

– Me matem então. – Ordenou, com um sorriso, derrubando a espada aos seus pés. – Eu já deveria estar morta mesmo.

A garota sorriu ao olhar para o que Riven pensou que fosse ela, até que uma sombra passou por cima dela. Ela não sabia como chamar aquilo. E então, percebeu a primeira coisa que deveria ter aprendido sobre Brandon Beck. Ele era humano. Tinha seus muitos defeitos e limitações, mas nunca deixava de trazer esperança. O gosto da palavra sobrepôs o do sangue quando Jax salvou a sua vida.

Isabel:

Ela via tudo através do monitor de sua casa. Com o advento das projeções de tela, as pessoas tinham esquecido dos monitores. Ela não, e não se importava de ser chamada de antiquada. Quem mais chegaria tão longe?

A mesa era uma bagunça. Além do teclado, algumas anotações (ninguém rastreava anotações), uma barra de chocolate mordida e meio copo de refrigerante. Ela tinha olheiras, mas nem notava. Não era como se ela se olhasse no espelho de cinco em cinco minutos como as meninas de sua idade. Não, Isabel Adhit precisava guiar uma revolução.

A situação era quase temerosa. Provavelmente, Vessaria enviaria reforços. A alta conselheira ainda dispunha de alguns campeões ao seu comando: Nidalee, Teemo, Blitzcrank, Master Yi. Por sorte, ela também dispunha de alguns aliados. Aliados de Brandon.

Por exemplo, ela indicava a Annie como errar as chamas de uma forma que parecesse convincente. Fazia Malphite jogar rochas leves em Vayne. Dizia para Fiddlesticks fazer cortes apenas superficiais. Ninguém morreria enquanto ela estivesse no comando daquilo. E, de alguma forma, ela estava no comando daquilo.

– Certo, Regnald. – O ex-conselheiro confiara nela o suficiente para revelar a própria identidade, oculta pelo nome de campeão “Jax”. O jeito dele a assustava. Ele era muito observador, sabia muito mais do que dizia. Ainda assim, ela tinha noção de que eles estavam do mesmo lado. – É a sua deixa. – Ela riu, cuspindo refrigerante pelo nariz. – Eu sempre quis dizer isso.

Então ela viu pelo monitor, que no momento estava sincronizado com aquela câmera em particular, ele derrubando Annie, Fiddlesticks e Amumu com um bom golpe giratório de seu poste. Convenientemente, os três estavam muito surpresos para revidar. “Mesmo que não fosse fingimento”, ela pensou, “eu ficaria muito assustada se alguém me atacasse com um poste”.

– Agora, pega o “Bomphite” - Ela riu do próprio trocadilho, fazendo-o bufar de impaciência pelo microfone:

– Eu sei o que fazer. – Grunhiu o campeão, a voz abafada pelo capuz. – Você não tem outras coisas para se preocupar?

– Sou multitarefa. – Falou, com simplicidade, enquanto mordia um pedaço de chocolate. – Eu consigo invadir uma prisão desde que eu tinha catorze anos.

– Você tem catorze anos. – Ele comentou, em um tom que não revelava muito se ele estava se divertindo com aquilo ou não. Ela apostava que sim.

– Vê? Nada para se preocupar. – Ela abriu um sorriso, trocando o canal de comunicações e a sincronia das câmeras. Agora estava no subsolo da Torre de Doran embaralhando as comunicações dos invocadores que estavam de guarda com o mero apertar de alguns botões. – Isabel para Brandon, câmbio. Eu sempre quis falar “câmbio”.

Pelo canal de comunicações, ela ouvia também Vessaria berrando com quem estivesse no caminho. Era um bom alívio cômico para diminuir o estresse. “Como assim ‘derrotados’? Detenham-no!”. Ela tomava o cuidado de desabilitar as câmeras por onde Brandon passasse. Aquilo era essencial para o plano de Regnald Ashram.

Isabel nunca tinha se interessado pela prisão. Ela sabia os horrores que aquele lugar guardava. O monstro tinha sido reduzido a uma lenda, uma história para assustar crianças. “Durma, durma já, ou Cho'Gath vem te devorar”, a cantiga dizia. Ela não gostava daquilo. Sabia o mal que Cho'Gath tinha causado em Icathia e o que aquilo tinha custado para todos.

Kristofer, na opinião dela, não era menos monstruoso. Cientistas já criavam problemas sem tentar, e quando tentavam… Bem, Kristofer era o exemplo perfeito. O tempo e a realidade tinham sido bagunçados por suas ações. Sem mencionar as pessoas que ele transformou em gosma verde. Ela tinha sido uma delas, até onde se lembrava, e não tinha sido legal.

– Ser uma gosma verde não é legal. – Ela comentou, inconscientemente, com o canal de comunicações aberto.

– Como? – Brandon perguntou, confuso por um segundo. – Más lembranças?

– Pensando sobre o seu amigo. – Replicou, desativando câmeras enquanto ele avançava pelos corredores. Faltavam poucos metros. – Espero que você saiba o que está fazendo.

– Eu também. – Confessou, quando chegou na porta projetada por ele mesmo. Ele nunca esperava que um dia fosse fazer aquilo.

Brandon:

Eu nunca esperava que um dia fosse fazer aquilo, mas eu fiz. Digitei a combinação de segurança e a porta redonda de aço reforçado pela melhor tecnologia Hex abriu. A única coisa que nos separava era uma parede de vidro. Ele levantou as sobrancelhas ao me ver, tão surpreso quanto eu mesmo.

Um ano na prisão do Instituto tinha mudado meu velho inimigo. Uma grossa barba cobria boa parte do seu rosto e o cabelo castanho crescia selvagemente em todas as direções. Os olhos, no entanto, não tinham mudado. Cheios de raiva e algo que eu nunca conseguia identificar… Tristeza? Desespero? Solidão?

– Não acho que seja o horário de visitas. – Claro, a ironia continuava afiada como sempre. Imaginei por um segundo ele praticando aquilo durante horas, na cela vazia. Sua voz abaixou quando ele se aproximou do vidro, assumindo um tom confidente como se fôssemos crianças em um acampamento. – O guarda vai nos apanhar. Hihi.

– Preciso de sua ajuda. – Falei, com simplicidade, sabendo que Isabel ouvia cada palavra.

– Fantástico. – Ele bateu palmas, como se não passasse de uma brincadeira. – Suponho que tenha a ver com esses cortes nas suas roupas. Ou com as roupas em si, achei que você vivesse no luxo. Não lhe pagam bem o suficiente?

– Aparelho de controle mental e energia cinética. Telecinese táctil entre outras coisas. Te lembra de alguma coisa?

Ele ergueu uma sobrancelha antes de responder: - Pizza de peixe. Repolho. Ampulheta. Corridas de cavalos. – Deu de ombros, se aproximando tanto do vidro que sua respiração o embaçou. – Força da Trindade.

– O que é Força da Trindade? – Perguntei, enquanto Isabel exclamava alarmada “Eles estão indo aí, não temos muito tempo!”

– Uma arma. – Ele respondeu, com uma expressão de tédio que dizia “óbvio”.

– Para quê? – Me aproximei mais do vidro, ficando a poucos centímetros e uma parede de distância dele.

– Controle mental. Energia cinética. Telecinese táctil entre outras coisas. – Repetiu, sorrindo entre a barba. Não, não seria fácil.

– Como eu a desativo?

– Parece que você precisa muito dessa informação. - “Rápido, Brandon!” – Vamos fazer uma troca.

Não pensei duas vezes. Sabia que chegaria aquilo. Digitei mais um código em uma projeção de tela defronte ao vidro. Antes de apertar “confirmar”, me virei para ele:

– Eu quero a sua palavra.

– Há! – Ele riu, divertindo-se com a situação. – Por que você confiaria na minha palavra?

– Porque você me ensinou o valor de uma. – Pude ouvir Isabel prender a respiração do outro lado do fone. Kristofer se limitou a me encarar, medindo o que eu disse.

– Não somos amigos. – Disse, por fim.

– Não, não somos. – Concordei, embora não entendesse porque aquilo doía ao ser dito em voz alta. Só podia imaginar se ele sentia o mesmo. – Mas eu preciso de você, e você precisa de mim.

– A história das nossas vidas. - “Dez segundos!” – Vamos, abra isso, não vou fugir. Você tem a minha palavra.

Toquei o dedo na tela que não existia e a porta de vidro se abriu. Me voltei para o corredor enquanto ele saía, já era possível abrir os passos. Quase perdi o movimento atrás de mim, me virando bem a tempo de ver o braço dele descendo em minha direção. Segurei o golpe pelo pulso:

– Só testando, juro. – Ele falou, com um sorriso cínico. Não respondi, me limitando a correr na direção oposta enquanto o arrastava pelo pulso:

– Isabel, uma rota de fuga seria ótimo! – Exclamei, a cabeça explodindo com mil ideias e planos. Eu apostava mais nela.

– Fuga? – Kristofer comentou, quase calmo. Mesmo ele não conseguia disfarçar totalmente a surpresa, embora ele parecesse achar a ideia agradável. – Oh, seu menino malvado, o que você andou aprontando?

– Você prestou atenção na parte do “controle mental”? – Exclamei, exasperado.

– Ah, a história de sempre. “Não sou culpado, meu inimigo está controlando vocês mentalmente!”

– Por que você me odeia? – Perguntei, parando de correr. “Você quer fazer isso agora?!”, ouvi Isabel gritando para mim.

– Eu não te odeio. – Se desvencilhou, fingindo indignação.

– Você tentou me matar.

– Talvez um pouco. – Admitiu, pensativo. – Coisas acontecem, ok? Não foi pessoal.

– Ah, me sinto melhor, obrigado. – Respondi ironicamente, antes de receber as instruções de Isabel. – Vamos, vamos sair daqui.

Vayne:

Vayne já tinha visto muitas coisas na vida que ela levava. Demônios, vampiros, monstros, todo o tipo de criatura asquerosa e amante das trevas. Depois de tudo aquilo, ela percebeu que a coisa mais surpreendente que poderia se encontrar naquele mundo eram as pessoas. Elas não eram previsíveis. Normalmente, não queriam enfiar as presas ou garras em vocês. Nunca era possível saber se iam chorar ou sorrir, ou determinar com exatidão se estavam brincando ou não.

Quando aquele homem encapuzado derrotou os seus inimigos usando apenas um poste, bom, ela percebeu que nunca ia entender aquele tipo de relação. “Amigo de Brandon”, o homem chamado Jax (ou seria Regnald? Ela não tinha prestado muita atenção na história toda), tinha definido. Ela não tinha certeza se era uma estratégia pré-definida de Brandon ou não. Se fosse, ela o odiava por ter escondido aquilo.

Ela o odiaria de qualquer jeito. Pelo que ela entendia quando estava prestando atenção, aquilo era tudo culpa dele. Infelizmente, os problemas que ele causou não seriam consertados com um dardo na testa dele. Aquilo seria tão mais simples, “Mas são humanos”, ela lamentava, “nada é simples”.

Com isso, não restava nada além de esperar enquanto tratava os ferimentos da última batalha. Esperaram em um esconderijo até Brandon aparecer com o seu amigo definitivamente mal e barbudo. Riven o abraçou. “Sentimental demais para uma noxiana”, avaliou a atiradora.

– Regnald. – Brandon falou solenemente, deixando para Riven a tarefa de vigiar Kristofer. Vayne tentou prestar atenção na conversa, o que era difícil quando a voz de Brandon dava tanto sono. – Você é o Jax, quer dizer, uau.

– Precisava de um disfarce. – Ele deu de ombros, sem o capuz e a máscara. – Fiquei grande demais, conhecido demais, perigoso demais. Se não sumisse, provavelmente iam fazer comigo o mesmo que fizeram com o Du Couteau.

– O pai da Katarina? O que fizeram com ele? – O cientista perguntou, surpreso. Tinha estado por fora das notícias, Vayne reprimiu um bocejo diante daquela conversa chata enquanto Kristofer ouvia com atenção, bastante interessado.

Regnald passou o dedo pelo pescoço, indicando a resposta: - Tive sorte. Quando soube que você estava vindo, percebi que tinha que ajudá-lo. Sua amiguinha Isabel e a Sivir ficaram muito felizes em ajudar.

– Mas e você? Eles têm um disfarce, mas você atacou publicamente os membros da Liga.

– Não. – Regnald sorriu. Uma cicatriz da sua boca se deformou quando o ex-conselheiro fez aquilo. – Você atacou publicamente os membros da Liga.

Ele se abaixou e retirou de uma mala as réplicas exatas de suas vestes como Jax: - Você vai se vestir de mim e ir embora. Daqui a uns cinco minutos, vão me encontrar desacordado em um beco qualquer. E você – Ele apontou para Kristofer – vai valer a confusão que causou.

– Eu não tenho como agradecer. – Brandon falou, quase emocionado com a atitude dos amigos.

– Salve o mundo. Ouvi dizer que você é bom nisso. – Ele piscou enquanto Vayne dormia murmurando “me acordem quando for para atirar em alguém”.

Tinham um novo horizonte e, mesmo que falhassem, tinham amigos para ajudá-los. Vayne nunca admitiria, mas Riven não tinha sido a única a experimentar o gosto da esperança. E eles queriam mais.


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