A Única Inocência escrita por Laís Bohrer


Capítulo 8
Os rancores de um velho homem


Notas iniciais do capítulo

E finalmente acaba aqui o arco da infância. Próximo capítulo é finalmente a adolescência depois de tanta enrolação, sim? Desculpe a demora ^^
Boa leitura :3



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Capítulo oito

Os rancores de um velho homem

Noah estalou as palmas na borda da piscina e ofegou agarrado na escada de saída. Ele ouviu o apito alguns segundos depois. Noah puxou o corpo para cima. Arrancou os óculos de natação e puxou a touca. Fios cor de palha caíram em sua testa. O menino suspirou e foi recebido com animação pelos amigos.

Ryan não parava de falar o quanto ele parecia com um golfinho nadando, Sora sorria parecendo aliviado enquanto isso Ewan sorria de canto. Não parecia alguém feliz ou irritado, no entanto Noah não conseguiu interpretar aquela expressão.

O loiro sentia um alivio imenso, soltou um longo suspiro, mal ouvindo o que Ryan estava dizendo. Olhou para o lado, o Sr. Porter estavam lá, alguns metros dali, encostado na parede, sorrindo para Noah que sorriu de volta.

E como Ryan disse mais tarde ao se gabar, eles ganharam e "não poderia ser diferente", o moreno havia dito. Noah ainda parecia no mundo da lua, ele queria que algum familiar seu tivesse surgido ali para sorri para ele como o Sr. Porter. Seus pais ou até a tia Agnes. Por alguma razão Noah pensou em Jasmine com aquela expressão irritada.

E a garota desconhecida... Ele já tinha se esquecido de seu rosto.

Fazia cinco anos.

Foi quando Ryan o puxou gritando alguma coisa que Noah não pode entender, mas o assustou. Tentou conter o desejo de bater em Ryan. Ele o colocou ao lado de Ewan e Ryan ficou ao seu lado também, com o braço ao redor dele e de Sora.

– Digam xiiiiiiis! – Ryan disse com um enorme sorriso.

Sora sorriu timidamente e Noah olhava para o Sr. Porter com uma câmera apontada para eles.

O quarteto estava com suas medalhas e um troféu do revezamento. Sora tinha ganhado uma medalha prateada por ter ficado no segundo lugar no nado individual borboleta. Noah olhava para o troféu, não sentia um imenso orgulho de si mesmo, não sabia o que sentia.

Então Ewan bateu em suas costas, o jogando para frente.

– Ow!

Ewan sorriu convencido.

– O que foi Andersen? Sorria para a câmera.

Noah fez uma cara emburrada.

– Quem vai me obrigar? Vo-cê? – ele apontou. – Ainda não acertamos as contas e eu...

– Noah! – Ryan exclamou, sorrindo. – Sorria.

Noah corou.

– Eu... Eu não...

– Se preparem! – ouviu o Sr. Porter falar.

Noah apenas viu o flash rápido como um flash deveria ser. Ryan pulou ao seu lado e Sora sorria. Noah ainda estava com o troféu na mão. Ele observou o Sr. Porter ajeitar a câmera, o velho tinha um sorriso triste no rosto, como se tivesse se lembrado de algo.

– O que acha, Noah? – Ryan se pôs a sua frente, tapando sua visão. – Vamos tomar muuuuuito sorvete e depois...

Noah viu o Sr. Porter se afastando e empurrou o troféu para as mãos de Ryan.

– Vejo vocês mais tarde. – murmurou e correu atrás do mais velho com Ryan gritando seu nome.

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Alfred Porter parou de antemão no largo corredor de paredes azuis, as quais ele mesmo havia pintado. O tom não chegava a ser como a época de quando Alfred era jovem, mas isso não impedia as lembranças de virem à tona. Era bom se lembrar dos velhos tempos, mas Alfred se perdia neles, esquecendo-se de que alguns estavam mortos, desaparecidos ou simplesmente não deram notícias a Alfred.

O velho homem encarou o mural de fotos que ele mesmo havia pendurado, junto com outras fotos que ele achara perdidas em meio aos pertences do antigo proprietário do local. A herança que seu próprio pai havia deixado daqueles tempos.

Ele ergueu a mão na direção do mural e seus grossos dedos roçaram em uma foto que havia no centro – a foto do seu grupo de revezamento -, aquela com William, Patrick e Anthony. Ele segurou a câmera que estava pendurada em seu pescoço e então passou pelas fotos que havia tirado naquele dia, até encontrar a última que havia sido batida. Com Noah e os outros. Sorriu.

Noah e William tinham a mesma expressão. Era engraçado para ele.

Aos poucos, ele voltou-se ao presente e prosseguiu até o balcão da recepção, passando por uma porta de vidro turvo, deixando-a entreaberta e suspirando ao encontrar a desordem. Organização nunca havia sido o seu forte.

Alfred desviou de uma poltrona escura do antigo dono, arranhada e que possuía ainda um forte cheiro de mofo – precisava se livrar daquilo imediatamente. Ele se sentou na cadeira giratória atrás da escrivaninha onde estava seu computador amarelado e muito antigo em comparação a moderna impressora que tinha ao seu lado. Ele conectou a câmera no computador e preparou as fotos para a impressão quando ouviu o impacto vindo da porta.

Ele girou a cadeira, com o coração na boca e soltou um demorado suspiro depois de Noah Andersen tropeçar em uma pesada caixa que estava largada no chão, gritar de dor para em seguida escorregar e cair em cima da velha poltrona do velho treinador. Ele espirrou quando uma cortina de poeira se ergueu.

Alfred sacudiu a cabeça em descrença, sem tentar conter o sorriso enquanto Noah, ainda com seu traje de banho, se erguia para olhar para o Porter mais velho. A água escorria de seu corpo, pingando no carpete e deixando marcas, mas Alfred não se importou.

– Trei-... Treinador... – o menino arfou.

Alfred sorriu.

– Pequeno Noah – ele disse fazendo um gesto para o menino se aproximar. – Você é verdadeiramente um prodígio, sabia disso?

O mais velho viu o semblante de dúvida passar pelo rosto embebido de Noah.

Noah abeira em sua direção, cortando a distância entre eles, mergulhando naqueles profundos olhos castanhos cheios de bondade e lamentos. Alfred lembrou-se do Noah de sete anos, sorrindo abertamente e lhe pedindo sempre o sabor de sorvete que acabava primeiro – e que Alfred fazia questão de guardar um pouco para Noah.

Lembrava-se das muitas vezes em que Noah não tinha dinheiro para comprar.

"- Escute então, jovenzinho – ele dizia, com um brilho nos olhos para o filho de William Andersen. – Quando você crescer e ficar rico, você pode me pagar, certo?".

Achava graça das bochechas rosadas do menino na época, hoje ele não havia mudado muito, apenas sorria menos. Muito menos e isso o chateava, fazia se lembrar de quando o pequeno empurrou todas as outras crianças e segurou na aba de sua calça:

Minha tia não quer acordar.

Imediatamente ele sabia do que se tratava.

Agnes Nichols havia falecido naquele dia e nem mesmo Alfred sabia descrever o sentimento. Em sua história, Agnes era uma menina linda e popular e Eleonor Nichols era a solitária menina, baixinha e magrela. Alfred não havia se apaixonado a primeira vista por Agnes, mas não havia a odiado como William com Eleonor. Apenas demorou.

Agnes era querida por todos e o oposto de Eleonor – pelo menos, assim era antes de Eleonor morrer e o coração de Agnes mergulhar na amargura e no ressentimento. Talvez por isso fosse tão antipática com o pequeno Andersen que apesar de parecer com o pai, tinha o forte gênio da mãe. Mas ela o amava, Alfred sabia, porque Noah a amava de volta.

– Treinador? Ei! – Noah o sacudia para a realidade, o puxando de seus pensamentos. – Treinador Porter!

– Eu fiz de novo – murmurou.

Noah recuou para o olhar perdido do homem.

– O que?

Alfred massageou as têmporas e voltou a sorrir para Noah.

– Nada. – diz ele. – Estou bem e você, Noah? Você foi muito bem hoje, espero que continue assim.

– Estou bem. Obrigado... – hesitou. – Eu queria lhe perguntar uma coisa.

Alfred um gesto com a mão para que Noah prosseguisse.

– Bem, vá em frente.

Noah hesitou, desviando o olhar, pressionando os lábios e brincando com as próprias mãos. A pergunta sendo formulada em sua mente. O menino relaxou os ombros enquanto Alfred Porter aguardava pacientemente, com a última foto que havia sido batida.

– O senhor conheceu os meus pais? – as palavras escorregaram pelos lábios de Noah.

Alfred abaixou a cabeça para a foto no monitor manchado. Ele sabia que não poderia fugir daquela pergunta, não com os olhos escuros de Noah tão afiados para ele, tão puros apesar de tudo.

– Eu conheci – ele diz. As palavras parecendo estranhas em sua voz, mas ele não para de falar e logo está falando consigo mesmo. – Sim, eu os conheci. Eu nadava com o seu pai, naquela mesma piscina, quando éramos crianças até adolescentes, depois que nosso treinador morreu deixando tudo isso para trás, nós nos tornamos adultos e continuamos nadando...

A frase morreu no ar, as palavras se perdendo na mente de Alfred. Noah abriu um sorriso.

– E a minha mãe? – ele perguntou.

– Sua mãe? – Alfred parou, esfregando as mãos e então riu. – Então, eu não a conhecia muito bem... Ela era... Bastante reservada. – ele olhou para Noah. – Em termos de aparência, você se parece muito com o seu pai, Noah, mas... O seu jeito de ser é como o de Eleonor Nichols. As pessoas eram ruins com ela, vou lhe contar a verdade... Mas ela era melhor do que tudo isso.

– Como eles morreram? – perguntou Noah, com o tom baixo. – O senhor sabe de algo?

Alfred estremeceu. Claro que ele sabia, ele não poderia esquecer. Segurava uma caneta em suas mãos, esmagando-a, desejando quebra-la ao meio.

– Sua tia nunca lhe contou nada? – se controlou, respirando fundo.

Noah parou.

– Ela me disse que eles sofreram um acidente... De carro. É verdade? Ela disse que foi logo depois deles saírem do hospital, dois dias depois que eu nasci.

Ela mentiu! Alfred pensou.

– Bem, então não há mais nada para discutir, não é mesmo? – ele desconversou. – Escute, Noah, há muita coisa interessante daquela época. O seu pai, ele praticamente me salvou. Você viu aquela foto no mural, não viu?

Noah assentiu e Alfred continuou.

– Nós éramos quatro – ele contou. – Seu pai queria começar um time de revezamento aqui no clube, eu era novo no clube, mas ele viu o meu fraco brilho. Tinha o Tony que era o melhor amigo do seu pai, Anthony Thompson... Eles eram terríveis, dois pestinhas – Alfred riu. – Sobre Anthony, ele veio aqui um dia desses, mas fingia não me conhecer e nunca mais voltou. Você sabe? O pai do pequeno Ethan...

– Ewan, treinador – Noah lhe corrigiu.

– Ewan! Isso! – ele exclamou rindo. – Sabe que eu tenho essa mania quando não gravo muito bem o nome de alguém, lhe dou outro. Eu já lhe chamei muito de Neil, não é?

Noah parou, se lembrando de quando conheceu Alfred e ele lhe deu três nomes diferentes em uma conversa. Noah se permitiu sorrir e abaixou a cabeça.

– E Ryan de Roman, Sora de Samuel... – suspirou o menino.

Ambos riram.

– Isso mesmo – assentiu o mais velho. – Seu pai, William, eu o chamava de Wally, mas apenas para irritá-lo. Ah, me esqueci de Patrick, ele é outra história triste... Provavelmente ele estaria morto também... – começa a murmurar consigo mesmo. – Mas não devemos nos prender ao passado.

Alfred se sentiu um grande mentiroso – havia muito daquela marcante história de sua infância. Ele se lembrava de tantas coisas como a tapa que William havia lhe dado e foi isso que fez com que Alfred acordasse para a vida. Como Alfred estaria se William não tivesse gritado com ele? E Eleonor? Como contar que Alfred era uma das pessoas que tinham o preconceito com Eleonor? E que Alfred não era exatamente o melhor amigo de seu pai no comecinho?

Eram tantos capítulos que Alfred não tinha coragem de por em palavras.

– Uma vez que estejamos lá, não podemos sair – e foi isso o que aconteceu com o velho Alfred, ele estava preso a essas lembranças.

Noah se perdeu nos castanhos e tristes olhos que costumavam ser brilhantes até momentos atrás.

– Treinador... – começou o menino.

– Acho que você tem que ir agora – Alfred disse o cortando. – Seus amigos devem estar esperando por você. Não procure problemas, certo?

Noah riu, era engraçado. Como ele poderia evitar problemas se ele já era um? Pelo menos do ponto de vista alheio... Mas o uso das palavras "seus amigos" parecia tão fantasioso que apenas o fez sorrir mais. Ele assentiu e correu até a porta.

– Obrigado, treinador Porter! – gritou antes de bater a porta atrás de si e deixar um rastro úmido no chão.

Alfred ficou ali, olhando para a porta, ainda com o momento em que Noah gritou. O momento em que seu rosto se iluminou com um sorriso e ele parecia perfeito em uma foto em que seus pais estavam sorrindo.

Sorrindo felizes para ele.

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Noah estava feliz, mas não por seu time de revezamento ter vencido e sim porque pela primeira vez em anos desde que aquela misteriosa garotinha desconhecida havia desaparecido, fazendo sua rotina voltar àquele ciclo infeliz, ele se sentiu otimista e confortável. Estava rodeado de amigos que não o detestavam – mesmo Ewan tinha sorrido daquele modo esnobe, mas isto não abalou a Noah.

O quarteto caminhava pelas ruas clareadas fracamente pela última luz da tarde. Ryan saltitava à frente, com as bochechas rosadas, sem nunca tirar o sorriso do rosto. Sora estava logo atrás, não parava de falar – o que era um avanço e tanto para o menino asiático. Ewan caminhava ao lado de Noah, com as mãos enterradas no bolso do casaco azul de capuz e uma expressão pensativa, os olhos meio vermelhos, ele parecia cansado.

Noah sorria tranquilamente.

– Eu vou querer de Blue Ice! – Ryan jogou as mãos para o alto.

– Pra variar, certo? – Sora riu. –Foi tão divertido... Eu acho que nunca havia me divertido tanto antes.

Ryan olhou para ele.

– Sério? – ele se inclinou para frente, desacelerando o passo. – Bem... Então, podemos fazer isso mais vezes! Quem sabe um dia podemos até vencer as Olimpíadas? Foi só o nosso primeiro revezamento.

– Mas ainda nem temos altura pra isso – disse Sora, sonhador. – Ainda bem que deu tudo certo... Sinceramente, achei que seríamos chutados pra fora do campeonato.

Noah riu,

– Quanto otimismo... – ironizou, divertido.

Ryan olhou para ele, os olhos claros brilhando como os óculos de natação que ele se recusou a tirar da cabeça. Se não fosse por Noah e Ewan, Ryan estaria com o traje de banho ainda.

– Olha quem fala! – exclamou. – Noah estava tremendo da cabeça aos pés pensando em arrebentar Ewan se não chegasse a tempo.

Ewan arregalou os olhos e depois se virou para Noah com uma expressão irritada, por fim, forçou um sorriso que normalmente deixaria Noah com raiva.

– Há! Quem diria que o cachorrinho Andersen dependeria de mim um dia.

– Não dependo de você, Thompson! – Noah retrucou. – Eu apenas odeio quando quebram promessas. Vamos lembrar que você perdeu a aposta.

Mas se Ewan estava escutando, não demonstrou.

Noah estava prestes a tirar satisfação quando Sora o interrompeu:

– Mas tanto Noah-san quanto Ewan-san foram ótimos – disse ele. – Rápidos, como golfinhos!

– Não me compare com ele. – Ewan resmungou.

Noah o olhava pelo canto dos olhos. A face de Ewan assumia uma expressão de desaponto, alguma coisa estava errada e Noah percebeu. Ewan poderia ter dito aquilo mais alto para garantir que Noah estava ouvindo, poderia tê-lo chamado de "lixo" em vez de "ele".

Sora e Ryan continuavam conversando animadamente, esquecendo-se dos outros dois que permaneceram em silêncio, ambos pensativos, tentando ler a mente um do outro.

Foi quando Ewan diminuía o passo e parou enquanto os outros três continuaram a andar. Noah parou, percebendo a ausência de Ewan, virou-se para trás – o menino havia parado há alguns metros dele. Sora e Ryan pararam quando Noah disse:

– Ei, qual é o seu problema?

Ewan não olhou para ele. Era possível perceber seus punhos se fechando dentro de seu bolso. Ryan deu um curto passo, preocupado.

– Ewan?

– Eu... – Ewan começou, ainda sem encará-los. O menino tirou as mãos dos bolsos e pôs o capuz por cima de sua cabeça, pronto para virar-se na direção contrária. – Eu tenho que ir para casa.

Sua voz saindo quase que em um sussurro. Antes que Ewan desse mais um passo, Noah, em alerta, pulou para frente na mesma velocidade com a qual nadava. Segurou no pulso do moreno.

Ewan olhou para ele, pronto para soca-lo, mas Noah o bloqueou, segurando em seu outro punho com a mão livre.

– Tsc... – reclamou Ewan e Noah viu seus olhos vermelhos e inchados como quem esteve chorando. – Me solte Andersen.

Noah apenas o encarava os olhos de Ewan, escuros e mergulhados no ódio. Olhos que Noah conhecia o suficiente para dizer que aquele ódio não era para ele. Noah segurou Ewan com mais força. Sentiu um puxão no estômago – Noah tinha aqueles olhos para o mundo, cheios de ódio.

– Qual é o seu problema?! – Noah gritou.

– Noah! – Ryan chamou.

Mas Noah ignorou.

– Por que estava chorando, Ewan? – perguntou.

Ewan parou, forçando os dentes para ele.

– Não diga bobagens! – gritou o moreno, arregalando os olhos, mas sua voz travava. – Você não sabe de nada... Pare de falar como se soubesse de tudo, Noah!

Atrás deles, Sora começou.

– Ewan-san... Por que... – começou gentilmente.

– Calem a boca! – Ewan gritou. – Me deixem em paz!

Noah recuou, soltando Ewan quando este tentou acertar-lhe uma joelhada. Ewan deu um passo para trás enquanto Noah caia no chão e Ryan corria para ajuda-lo, com Sora logo atrás. Os dois se ajoelharam ao lado do loiro.

Ewan ofegava, o capuz fazendo uma sombra em seu rosto, as mãos trêmulas fechadas em punhos.

Ewan respirou fundo.

– O que está pensando, Noah? – riu ele, sem humor.

Noah não desviou de seu olhar.

– Você está chateado, Ewan – disse, se levantando e limpando a poeira de suas roupas. – E nós estamos aqui. Somos do mesmo time e um time é feito de pessoas que se ajudam. Isso é o trabalho em equipe.

Ewan se apoiou em seus joelhos, se dobrando de rir. Cada risada era forçada, como se doesse.

– Não pensem que sou um de vocês – ele falou voltando a uma posição ereta. – Não somos amigos, Noah! Você não é meu amigo! Eu não preciso de amigos! Eles só atrapalham...

Noah deu um passo para frente, se sentiu mal por não poder dizer nada – em partes, ele concordava com Ewan, mas... Não é porque amigos atrapalhavam, mas porque as pessoas não eram confiáveis. Nem mesmo a tia Agnes, nem seus pais, nem a garota desconhecida... As pessoas sempre iam embora quando Noah se apegava a elas, mas ele não pensou que elas não tivessem culpa. Ele simplesmente as culpou por não estarem ali com ele.

Cego, ele as culpou.

– Ewan – murmurou Noah. – Do que você tem tanto medo?

Ewan recuou e riu.

– Você não sabe nada sobre mim – disse ele. – Eu perdi uma aposta, isso é tudo. Você é incrível nadando, Noah, mas é um tolo. Eu não sou como você, eu não me apego às pessoas só porque nadamos juntos e não espere que isso se repita.

Noah deu uma curta corrida até Ewan quando este lhe dava as costas.

– O que quer dizer? – gritou quando Ewan parou.

Noah viu sua silhueta que parecia uma sombra na luz fraca do por do sol. Ewan olhou para ele fixamente.

– Nós não nadaremos juntos novamente – ele prometeu. – Nunca mais.

Então ele se virou e entrou na rua seguinte e o garoto desconhecido ficou observando-o ir embora. Sentiu um frio dentro de si, como quando as pessoas o abandonavam. Era sempre o mesmo frio, mas havia algo diferente naquela deixa. Noah, inconscientemente, acomodou-se a quarta presença no time e agora ele percebera que era apenas uma ilusão.

Ewan tinha razão, eles não eram amigos. Ewan era o tipo de pessoa que irritava Noah somente pela presença... Mas então, porque ele sentia tamanho frio? Era por isso que ele não podia confiar em ninguém e mesmo assim, abrira uma exceção para Ryan naquela tarde em que o convencera a participar de tudo aqui.

Sora, ao seu lado, se pronunciou.

– Ewan-san... Estava chorando? – disse ele.

Noah não havia prestado atenção imediatamente, mas sim, antes de Ewan virar o rosto, Noah viu seus olhos molhados, olhando para ele.

– Vamos embora – disse, virando-se para o lado oposto ao qual Ewan havia seguido.

– Mas... – Ryan começou.

– Vamos – Noah disse mais alto. – Vocês não querem que cheguemos lá e a sorveteria esteja fechada, não é?

Ele olhou para os amigos, os únicos que tinha, sorriu.

Sora relutante retribuiu e seguiu Noah. Ryan hesitou, olhando para o caminho que Ewan havia seguido.

– Certo – disse Ryan, sem saber mais o que dizer.

Noah sabia de algo sobre Ewan sim. Sabia que o entendia perfeitamente, apesar de Ewan ter dito o contrário. Alguma coisa havia acontecido com Ewan naquela manhã.

Em poucos minutos, Ewan habitava fracamente a mente dos três, mas não havia nada a ser feito. Ewan fez uma escolha e eles seguiram em frente.


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Notas finais do capítulo

Eu não lembro se eu cheguei a comentar que um dia espero fazer uma fanfic sobre os pais do Noah, a época em que eles viveram. Creio que se chamaria "A Única Semelhança"contada em primeira pessoa por William Andersen, pai de Noah.
Eu adoro a história dele com Eleonor (mãe de Noah).
E Agnes era irmã de Eleonor, eu esqueci de comentar?

Espero que tenham gostado ^^
Beijos Azuis