Eu me arrumei e fui para a boate, chegando lá me deparei com a galerinha do colégio parada na fila. Me aproximei vendo suas caras de tédio de tanto esperarem.
–Oi gente. –Falei com um sorriso chamando a atenção deles e das pessoas que estavam ao redor que sabiam quem eu era.
–Nem venha Anna não vamos dar lugar pra você na fila! –O Sebastian falou levando uma cotovelada da Clary. –Qual é? Estamos a um século nessa fila, não vou deixar que ela entre e fure.
–Eu não quero e nem preciso entrar na fila Morgenstern. –Falei rindo.
–Como assim? –A Izzy perguntou confusa.
–Eu sou a DJ de lá, entro sem precisar de filas. –Falei fazendo uma cara relaxada. –Vamos galera, vou por vocês lá dentro.
Eles saíram da fila e me seguiram, cumprimentei alguns conhecidos meus na fila e fui em direção a porta, dei um beijo e um abraço no Eric e falei que o grupinho estava comigo.
–Não sei se o senhor Lewis vai gostar disso. –Ele falou revezando o olhar de mim para os meus amigos.
–O Simon falou que eu posso trazer quem eu quiser e além do mais eles vão consumir as paradas lá dentro então ele não tem o que reclamar.
–Ok então. –Ele falou, dei um beijo em sua bochecha e entrei, pude ouvir sua risada ao longe. –Chantagem não rola comigo ok?
–Ok então. -Flaei com uma gargalhada. Entramos e eu parei no topo da escadaria esperando pelos seres. -Bem vindos a Pandemônio. Aqui vão umas dicas: Mantenham seus pertences sempre com vocês, se não querem ficar bêbados eu recomendo as bebidas claras porque as escuras são aquelas que apenas com três você pode dar PT! Não arrumem brigas se te apalparem porque isso é básica mas se te forçarem a fazer algo podem chamar por ajudar e tem os botões de socorro ao lado de toda a porta e vasos de flores pra esse caso. Não liguem para as coisas que o barman disser de mim porque eu conheço ele desde a minha infância e se quiserem entrar no camarote é apenas dizer que me conhecem e apontar pra mim. Bom, basicamente é isso, aproveitem e curtam a musica! -Falei saindo e indo em direção ao meu espaço. Coloquei meus fones e peguei o microfone. -Oi galera. -Falei recebendo gritos como resposta. -Prontos pra escutar musicas de verdade?
–SIIM.
–Então que a festa comece.
Coloquei o microfone no lugar e comecei a tocar a batida de Neon Lights versão remixada, eu pulava e cantava junto com eles. Eu realmente amava meu trabalho.

***
A Pandemônio já estava quase vazia, devia ter umas vinte pessoas restantes pelo que eu notei, eu estava prestes a guardar minhas coisas para ir embora quando o Simon me chamou.
–Oi Lewis o que foi? –Falei dando um leve abraço nele.
–Ótima noite, que nem as outras!
–Obrigada. –Falei com um aceno e corando.
–Vai lá beber alguma coisa que eu sei que você esta morrendo de vontade de fazer isso.
–Obrigada. – Falei gargalhando. Cheguei no bar e pedi uma bebida roxa escura sabendo que boa coisa não daria quando eu bebesse dela.
–Você fica até que horas aqui? –Uma voz grave questionou atrás de mim.
–Não te interessa, duvido que você saiba meu nome? –Falei tomando outro gole da bebida.
–Anna Carolina Harlow Titanium! Agora pode me dizer que hora você vai embora? –A voz falou em um tom risonho, me virei me deparando com o Sebastian.
–Quatro da manhã. –Falei com um sorriso de lado.
–E você vai neste estado?
–Sim por quê?
–Não é perigoso, você bêbada indo sozinha pra casa?
–Creio eu que não, mas nunca parei muito pra pensar mesmo.
–Vamos eu vou te levar embora. –Ele falou puxando a minha mão.
–Mas as minhas coisas estão ali. –Falei apontando para a minha mesa e fazendo bico.
–Eu pego, vamos embora logo.
Ele pegou minha mochila e entrelaçou sua mão na minha, me puxando para fora da boate. Paramos na frente de um Audi prateado que estava estacionado alguns metros da fachada da Pandemônio.
–O que você esta esperando? Entra logo no carro! –Ele falou me olhando impaciente atrás da porta aberta.
–Quem me garante que você não esta me levando para a minha morte? Que não vai me estuprar ou algo assim?
–Vai se foder Anna, entra logo nessa merda de carro, por favor, e não me irrite!
–Se você fizer algo comigo eu te mato ou o meu irmão te mata!
–Tabom agora cala a boca e entra no carro.
–Quem é você pra falar assim comigo?
–Porra beija flor só entra nesse carro! –Ele falou me empurrando para dentro do carro, comecei a sorrir levemente com esse apelido. Quando ele entrou no carro e me olhou ficou um tempo com uma careta confusa tentando entender o porquê do sorriso gigante. –O que foi agora?
–Beija flor. Esse apelido. Eu gosto desse apelido. Ele é legal, principalmente vindo de você.
–Você esta realmente mal, vamos logo, onde fica a sua casa?
–Depois do parque sul, duas ruas à esquerda, uma casa azul marinho.
–Ok. –Ele deu a partida no carro e seguiu a rua em silencio, quando estávamos nos aproximando do parque me virei para ele e pude notar que ele estava me encarando momentos atrás, pois quando me virei ele recuperou a postura. Soltei um riso que foi acompanhado por uma risada contida dele. Ele encostou o carro na porta da garagem e abriu a porta para mim. –Vai ficar bem? –Ele falou me entregando a mochila.
–Vou sim. –Respondi revirando minha mochila a procura das chaves, foi quando me lembrei de onde elas estavam. No meio das minhas roupas. Dentro do meu quarto. –Merda mesmo. –Praguejei.
–O que houve? –Uma voz questionou do meu lado me fazendo saltar e relembrar que o Sebastian não tinha ido embora ainda.
–Preciso de uma escada... E de uma bebida. –Falei me sentando nas escadas.
–Você não vai ingerir mais uma gota de álcool! E onde a senhorita pensa que vai arrumar uma escada em plenas quatro horas e dezenove minutos da madrugada?
–Não faço a mínima ideia! Mas olha pelo lado bom, é quase quatro e vinte... Podemos dar uma relaxada legal não é? –Falei rindo.
–Você não esta bem mesmo, onde estão as chaves da sua casa?
–No meu quarto.
–Onde estão as reservas?
–No vão entre o telhado e a calha. –Falei apontando para o telhado acima de mim.
–E você não consegue alcançar?
–Se conseguisse não estaria desesperada por uma chave não é amorzinho? –Falei rindo, comecei a ouvir barulhos vindos ao meu lado e não ouvi mais a voz do Sebastian. Me levantei alarmada. –Sebastian?! Sebastian?! Maddox!
–Vamos entrar flor. -Ele falou aparecendo ao meu lado e me ajudando a levantar.
–Como conseguiu pegar a chave?
–Você não soube? Fui aceito no time de basquete hoje, então a minha altura ajudou um pouco nessa tarefa. –Ele falou sorrindo.
–Nossa me senti uma nanica perto de você!
–Nanica é a Clary, você tem uma estatura normal. Agora fale mais baixo senão vai acordar seu pai.
–Meu pai esta do outro lado da cidade comendo a biscate da secretaria dele. –Falei revirando os olhos e esbarrando no sofá.
–Meu Deus você vai acabar se quebrando desse jeito! Venha, pule nas minhas costas. –Ele falou se agachando levemente na minha frente.
–Você tem certeza? –Falei rindo
–Claro, agora suba. –Saltei e comecei a gargalhar enquanto subíamos as escadas. Quando chegamos ao topo ele me largou e colocou a mão na maçaneta da porta que estava a nossa direita.
–NÃO! –Falei em um salto. –Esse não é o meu quarto, aquele de lá é. –Falei empurrando ele até a única porta “dourada” do corredor.
–Bom esta finalmente segura flor.
–Eu não posso te deixar dirigir de noite Sebastian. Não estou tão bêbada pra chegar a esse ponto. Durma no quarto do meu irmão, mas não vá de noite.
–Só me deixe trancar o carro então. –Ele falou depositando um beijo na minha testa e descendo correndo. Quando ele saiu pela porta da frente fui até o próximo quarto, aquele que ele ia abrir a porta, e tranquei. Voltei correndo para o meu quarto quando ouvi o barulho da porta de casa sendo trancada, coloquei meu pijama e me deitei.
–Beija flor? –Ele falou entrando no meu quarto.
–Sim? –Perguntei me virando para ele.
–Onde eu irei dormir? –Ele perguntou envergonhado.
–O quarto do meu irmão é esse aqui do lado da porta prata pode dormir lá.
–Ok, boa noite então flor. –Ele falou saindo.
–Boa noite Maddox.
–--------------------------------------
*P.O.V. Sebastian*
Acordei com o sol batendo no meu rosto e uma cabeça subindo e descendo conforme a minha respiração, olhei o cabelo roxo da Anna se espalhando e me lembrei de como eu vim parar aqui: “Fui para o quarto do Logan, porém, notei que o quarto estava trancado então voltei para o quarto dela para perguntar onde eu poderia ir dormir mas ela já estava dormindo e eu não quis acorda-la. Ela não parecia a garota que atacou a Bellcourt mais cedo, nem tinha bebido horas atrás, ela parecia uma garota normal, que estava finalmente em paz. Eu ia me deitar no sofá mas ouvi sua voz então me virei e me deparei com seus olhos cinzentos cerrados me encarando.
–O que houve? –Ela perguntou num misto de embriaguez de sono e de bebidas.
–To sem lugar pra dormir. –Falei rindo.
–É só isso? Deita aqui do meu lado, relaxa que eu não mordo. –Ela falou rindo e se virando, então eu me deitei e apenas dormimos.”.
Sorri com a lembrança e tomei todo cuidado do mundo ao meu levantar, não querendo acordar ela. Quando saí do seu abraço, abri a porta devagar indo em direção a cozinha para beber alguma coisa quando me deparei com o Logan tomando café sentado no sofá.
–O que faz aqui Sebastian? –Ele falou se virando para mim com um sorriso malicioso.
–Sua irmã bebeu pra caramba ontem de noite, não quis deixar que ela viesse sozinha, só que a tapada esqueceu a chave no quarto então eu tive que pegar a chave da calha e trazer ela pra cá, daí ela começou a fazer manha porque não queria que eu saísse de madrugada com o carro, daí eu tive que dormir aqui.
–Fez alguma coisa com a minha irmã? –Ele perguntou num tom divertido, mas ameaçador.
–Não e nunca faria, não com ela naquele estado. Ela parecia em paz Logan, não se parecia nada com aquela menina que tirou sangue da Camille. –Falei relembrando dela deitada dormindo.
–São bem raras as vezes que ela tem uma noite de sono tranquila. –Ele falou tomando o resto do café. De repente o som de um chuveiro ligado tomou conta do recinto mostrando que ela já havia acordado. –Você esta com a roupa toda amassada, vamos lá, eu te empresto uma.
–Obrigado. –Falei enquanto subíamos as escadas, acabei pegando uma roupa básica dele e descendo quando uma melodia e uma voz acabaram tomando conta da casa. Olhei para o Logan esperando que ele me explicasse o que estava acontecendo.
–É a Annacantando, ela sempre canta, todas as manhãs. Nós que convivemos com ela aprendemos que é uma maneira de ela espantar os medos que nem a mamãe fazia quando éramos pequenos, ela cantava uma musica para tornar nosso dia melhor ou algo assim. Você deve prestar muita atenção no que ela esta cantando. Eu não conheço essa musica, é nova.
–Eu conheço, a Clary estava ouvindo ela esses dias. Se chama Lionheart da Demi Devoto?
–Lovato. –Ele me corrigiu. De repente paramos para escutar a letra da musica, dependendo de quem ouvisse poderia achar que era uma linda declaração para alguém, mas também poderia ser uma pessoa que sentia falta de alguém que havia partido e foi nessa hora que o Logan correu para o quarto da irmã. –Que dia é hoje Sebastian?
–Vinte de julho por quê?
–Merda eu devia ter lembrado, eu sabia, que descuido. Sebastian é melhor você ir embora, a coisa vai ficar feia quando eu abrir essa porta.
–Não entendi, mas se for alguma coisa com a beija flor eu vou ficar.
–Beija flor? Sério? –Ele falou sorrindo divertido depois fechou a cara e olhou para a porta. –Lá vamos nós.
A Anna estava encolhida no canto mais supremo da cama, seu queixo estava repousando nos seus joelhos e um vestido preto estava esticado na cama. Ela não se parecia nada com a garota que eu esbarrei no colégio e que havia me enfrentado, a garota que arrumou briga quando xingaram sua mãe. Seus olhos estavam perdidos e avermelhados, como se tivesse chorado por décadas. Foi quando notei o que estava acontecendo, essa foi a data da morte da mãe deles, foi quando a mãe da Anna saiu pra comprar janta pela ultima vez.
–Anninha, olha pra mim pequena. – O Logan tentava chamar atenção dela mas de nada adiantava, ela ainda fitava o vestido como se tivesse milhões de lembranças presas nele e talvez tivesse. –Eu sei que esse dia é um inferno, mas vai acabar calma.
–A Beija flor vai ficar bem Logan? –Questionei ganhando a atenção de um par de olhos cinzentos que pareciam tristes.
–O que você ainda esta fazendo aqui Sebastian? –Ela perguntou com hostilidade, mas pude notar que sua voz transbordava dor.
–Eu só quero saber se esta tudo bem com você flor, apenas isso.
–Olhe como estou bem, estou ótima, agora vá embora, por favor. –Ela falou tentando ser o mais dura possível.
–Se é assim que você deseja. Mas olhe pra você perdida aí, depois não quer que te tratem com pena. –Falei saindo batendo a porta com força, depois de um tempo pude notar que outra pessoa havia saído, me virei e me deparei com o irmão dela me encarando. –O que foi?
–Não precisava falar desse jeito com ela cara.
–Até quando sua irmã vai ficar aí sentindo pena de si mesma nesse dia quando até você esqueceu? Ela vai ficar trancada naquele quarto o dia todo encarando aquele vestido? Vai deixar os trabalhos e o colégio pra ficar parecendo uma garotinha fraca que tem medo do mundo? Eu não conheço aquela garota que ta trancada naquele quarto, aquela não é a Beija flor que eu conheço, aquela garota lá é uma fraca e me perdoe por isso mas eu não ando com fracos.
–Ela faz esse ritual desde que a mamãe se foi, aquele vestido é o que ela usou no funeral e todo fim de tarde, exatamente no horário em que a mamãe morreu ela coloca uma rosa no tumulo dela e saí andando por aí desnorteada, teve uma vez que eu encontrei ela em coma alcoólico na borda do lado que tem ali perto do parque.
–Então é melhor você dar um jeito na sua irmã pois aquilo de lá não é ela. –Falei olhando para a porta dela uma ultima vez e me deparando com seus olhos arregalados, ela fechou a porta com um baque e eu saí indo em direção ao colégio porque já estava atrasado.