POV Karina
"Então fica combinado assim . Eu deixo escrito um bilhete para o Pê quando ele acordar para que ele me procure no escritório ; você que estará lá e aí contará tudo a ele . " - falei com Cobra , apenas repassando o que já havia sido dito .
"Tem certeza disso , K ? Seria tudo mais simples se você contasse . " - ele me questionou e eu apenas acenei em concordância , mesmo receosa .
"Prefiro correr o risco. Quero que ele saiba de tudo e eu sei que eu não conseguirei fazer isso . " - disse e Cobra apenas deu de ombros .
"Só não me Culpe depois se o seu noivado acabar . " - ele falou e eu o olhei incrédula .
"Vira essa boca pra lá , Cobreloa . " - falei e ele riu .
"Tô apenas te alertando sobre o que pode acontecer . Eu , por exemplo , se fosse ele preferiria saber por você . " - meu primo disse e eu afastei aquela frase da minha cabeça.
"Mas você não é ele . Faz o que a gente combinou , ok ? Depois eu me resolvo com ele . " - falei decidida , ignorando essa possibilidade.
"Tudo bem , você que sabe . Você não vai estar em casa né ? " - Cobra me questionou e eu assenti .
"Eu e a Bi vamos procurar uma amiga nossa da época do colégio que descobrimos que organiza as melhores festas da cidade. Tia George deu carta branca , então nós podemos gastar quanto quisermos . " - disse e ele concordou em silêncio. -" Vai ser melhor eu não estar em casa . Sei que ele vai reagir mal. " - disse , cabisbaixa .
"Ele não reagiria se fosse você a contar... " - ele começou e eu o olhei feio . - " Tudo bem . Já sei. Você se resolve com ele. Boa sorte. Enfim , agora vou dormir . Boa noite , priminha . " - Cobra se despediu na porta e eu apenas acenei com a mão .
Saí do escritório logo depois e não encontrei mais ninguém na sala . Não deveríamos ter ficado nem 1 h lá dentro mas foi o suficiente para todos se dispersarem pela casa .
Fui para o andar de cima e vi que a porta do quarto dos meninos estava entreaberta . Sabia que precisava conversar com Pedro pois vi a sua feição quando me viu com Cobra.
"Posso entrar , meninos ? " - falei atrás da porta e , não demorou muito para que Duca a abrisse .
"O Pedro está no banho . " - ele falou , retornando a sua cama .
"Tudo bem , vou entrar lá ." - disse me direcionando ao banheiro e sabendo que meu cunhado surtaria .
"Karina ! Fica aqui e espera . " - ele ordenou e eu ri de seu desespero.
"Ah Duca , você e a Bianca se trancavam a qualquer hora do dia no quarto e dane-se o constrangimento alheio . Você só estará provando de seu próprio veneno . " - falei e ele revirou os olhos. - " Aproveita esse tempo pra se reconciliar com a minha prima e me deixa em paz . " - disse e ele riu seco .
"Bem que eu queria , mas ela tá com o nerdizinho . " - meu cunhado disse e eu o encarei surpresa .
"Com o João ? " - questionei .
"Que eu saiba é o único viciado em jogos . O outro é apenas um aliciador de novinhas . Você bem sabe disso . " - ele falou irônico e eu só consegui cair no riso pela sua expressão .
"Foco , Duca. Mas como sabe que eles estão juntos ? " - perguntei e ele me olhou como se fosse óbvio .
"Ela tá lá com a Jade e ele . Você acha que não vai rolar nada ? " - questionou quase que retoricamente .
"Acho que não . Eles são amigos , acima de tudo . " - falei e ele riu cético .
"Tipo você e o Cobra né ? Meu irmão se amarrou naquela cena lá na sala . " - Duca disse irônico e eu fiquei com medo da reação de meu noivo .
"Por isso que preciso entrar aí . " - falei e ele me olhou feio.
"Eu vou deixar , K . Mas só porque o cara tá bolado e ele fica um saco quando briga com você. Você sabe o que fazer para deixá-lo feliz e contente . " - falou malicioso , saindo do quarto .
Entrei no banheiro e vi que Pedro ainda tomava banho e não reparou a minha presença. Tranquei a porta para que ninguém entrasse e retirei o vestido que usava , ficando apenas de sutiã e calcinha .
Adentrei o box e só então Pê percebeu que eu estava lá , se assustando um pouco , ainda mais por meus trajes .
"Ér ... Eu não quero falar com você . " - ele falou , gaguejando após dar uma boa secada em meu corpo .
"E quem disse que a gente vai conversar ? " - o questionei , me aproximando e entrelaçando meus braços em seu pescoço . Ele engoliu em seco .
"Sai , K . Eu tô chateado com você e nem adianta tentar me convencer do contrário." - ele falou , incerto , tirando os braços em volta de seu pescoço .
"Eu não quero te convencer . " - disse , me aproximando novamente e ele me olhou confuso . - " Eu quero te fazer esquecer. " - sussurrei no seu ouvido e ele arfou baixo .
Sorri vitoriosa , percebendo que ele estava cedendo e comecei a beijar seu pescoço . - "Sabe , Pê . Eu tenho fetiche com água. " - disse , passando minha mão por suas costas e ele me apertou contra si .
"Não provoca , Karina . A gente tá na casa dos seus pais . " - ele falou medroso como sempre .
"Não tô provocando . Só estou revelando um desejo meu e ficaria muito feliz se um certo noivo frouxo e gostoso satisfizesse esse minha vontade . " - disse provocativa e aproximou mais ainda os nossos corpos .
"Quem é frouxo hein , Karina ? " - ele me provocou , fazendo com que eu entrelaçasse minhas pernas em volta de sua cintura.
"Então me mostra que não é . " - sussurrei e foi o bastante para que ele me beijasse com desejo , enquanto passava suas mãos pelo meu corpo .
Depois disso eu tinha dias certezas : uma , que nós nos amaríamos naquele box , o que de fato era uma loucura total. Dois: eu estava , de fato , perdoada.

POV Pedro

Eram 9 h quando eu acordei . Karina não tinha dormido no quarto para não criar confusão com seu pai , mas bem , podia-se dizer que ela tinha me surpreendido positivamente ontem a noite . Eu , de fato , estava chateada com ela , mas era meio difícil resistir a K quando ela resolvia tirar o dia para me provocar .
Vi que tinha um bilhete na cabeceira e o pego , vendo que era da minha noiva , pedindo que eu fosse ao seu encontro no escritório assim que acordasse . Achei estranho pois sabia que ela iria sair com Bianca , mas de qualquer jeito iria até lá .
Fiz minhas higienes matinais e tomei um rápido café na cozinha , encontrando apenas meu irmão que , desde que chegou aqui só sabia reclamar .
"Mano , a gente não pode ir embora mais cedo ? Parece que eu sou o único que não estou me divertindo aqui . Você e a Karina ontem lá naquele banheiro sabe-se lá o que não aconteceu . A Bianca quando não está com a prima gostosa , tá com aquele nerd ridículo ou com aquele aliciador de novinhas . " - ele disse se referindo a Cobra e eu ri . - "Parece que tá se divertindo como nunca e eu aqui sozinho , abandonado até pelo próprio irmão . " - Duca falou e eu apenas continuei rindo pelo drama .
"Ai , mano , sem ofensa mais você tá parecendo uma velha. Daquelas que não transam há séculos e só sabem falar mal da vida dos outros . " - disse e ele me olhou feio.
"É assim que eu me sinto . Tô há mais de uma semana sem sexo . Isso é um século pra mim. " - meu irmão falou e eu neguei com a cabeça , como se reprovasse seu mimimi e fui saindo da cozinha .
"Ei, onde vai ? " - me perguntou .
"Vou encontrar com a K no escritório . Bebezinho não pode ficar sozinho ?" - brinquei e ele riu irônico .
"Só que não , mas a tua mulher não tá em casa. Ela saiu com a Bianca mais cedo . " - ele disse e eu estranhei . Por que ela me pediria para encontrá-la se não estivesse em casa ?
"Vou lá ver isso . Ela deixou um bilhete para que eu a encontrasse lá . " - falei , saindo da cozinha, deixando meu irmão continuar com seu drama sozinho .
Chegando ao escritório a pessoa que eu encontrei era bem diferente da minha esquentadinha . Aliás , era um dos motivos dos pesadelos dela .
"O que faz por aqui , Cobra ? A K marcou de se encontrar comigo aqui . " - perguntei e ele apenas concordou . O olhei confuso .
"Eu sei , Pedro . " - ele disse e eu fiquei ainda mais sem entender nada .
"Como assim você sabe ? " - perguntei e ele expirou pesadamente com um ar cansado .
"Cara , eu odeio enrolações então eu vou direto ao ponto . A Karina me procurou ontem naquele momento para me pedir que eu te contasse tudo sobre o passado . " - Cobra disse e eu o fitei surpreso . Não esperava por aquilo .
"Por que ela mesmo não conta ? " - indaguei o óbvio e ele parecia já esperar por isso .
"Porque ela acha que não conseguiria contar tudo que você quer saber . A Karina tem certeza que você a julgaria e , assim , ela não seria capaz de te contar tudo . " - ele disse e eu apenas neguei com a cabeça . Mais uma vez K não estava confiando no que nós tínhamos . Era óbvio que eu não a criticaria .
"Mas eu garanti a ela que eu não faria isso. Eu só queria saber de tudo para poder ajudá-la . " - falei , indignado .
"Eu creio que sim , Pedro . Mas a Karina se sente ins... " - Cobra começou e eu não o deixei terminar .
"Eu sei como ela se sente . Só não consigo acreditar que depois de tudo que conversamos e vivemos ela ainda acha que eu a criticaria e até a largaria por qualquer coisa do passado . " - o interrompi e ele concordou em silêncio .
"Eu também fui contra isso , mas como ela estava irredutível , achei que era o mínimo que eu poderia fazer por ela depois de tudo . " - ele disse e eu ri cético . Agora ele queria pagar de bom moço ?
"Então ela vai deixar de ser teimosa porque eu só aceito escutar isso dela . " - falei , com raiva , e Cobra passou as mãos pelo cabelo revelando cansaço mais uma vez.
"Olha , Pedro. Eu sei que não vai com a minha cara e eu também não iria se fosse você , mas faz isso pela K . " - ele pediu e eu ri seco mais uma vez.
"E eu tô fazendo por ela. Vai ser melhor para nós dois que ela me conte . " - falei , saindo do escritório , deixando claro que o assunto tinha terminado.
"Eu e a K tivemos uma filha , Pedro . "– Cobra revelou , me pondo em choque. Por mais que não quisesse virei para ele a fim de que pudesse prestar mais atenção .
"Não era nossa filha de sangue , era , vamos dizer , adotada . " - o primo de Karina disse e eu continuei atônito, não só pela questão da existência da criança mas também por nunca ter escutado falar nela.
"E onde elá está agora ? " - perguntei , temeroso pela resposta.
"Ela morreu , Pedro . "– ele falou mais baixo e eu vi o quanto aquilo também o machucava. Choque era pouco para revelar o que eu estava sentindo . Karina , nem nas conversas mais profundas , deu a entender tamanha tristeza na sua vida como uma dessa. Só depois que a presença do assunto Cobra se tornou presente que ela começou a revelar essa parte obscura. Eu realmente sentia pena por todos os três e podia imaginar o quanto aquilo era triste . Só que eu também gostaria de ter escutado isso de Karina e , por isso , me aproveitando do silêncio de Cobra, saí do escritório . Eu queria e só poderia saber o resto da história por Karina para que de fato pudesse entender toda a sua dor .