Herdeira da Vingança escrita por OtherBoy


Capítulo 4
Silhuetas de Luz e Olhos no Vazio


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora (se é que tem alguém acompanhando =D) Fiquei meio sem tempo esses dias, mas agora estou de volta.



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O brilho dourado diminuiu Adam estava novamente na floresta, esta estava mais densa, mas ainda havia muita luz.

Ele percebeu que estava em um jardim de flores laranja, amarelas e brancas. O cheiro que exalavam dava a ele uma sensação confortável de que nada de ruim poderia acontecer.

Você esta começando a entender os caminhos da sua mente, então finalmente começaremos seu treino de verdade. Mas antes de tudo quero que me diga a verdade.

Adam olhou a sua volta, mas não conseguia ver ninguém, e não conseguira compreender a pergunta que lhe foi feita.

–Que verdade? – perguntou o garoto confuso.

A sua verdade. Quem realmente é você, Adam Velarc? O que realmente o move? Até onde iria e o que faria para conquistar o que tanto deseja?

As flores do jardim ganharam um brilho intenso. E uma silhueta apareceu, começou a ganhar forma, traços e cores.

Um bruxo de Luz, só consegue domar seu poder, quando assumi para si mesmo a sua verdade. Quem ele realmente é e até onde quer chegar.

A frente de Adam a luz tornou-se uma mulher baixa e gorda, tinha a pele achocolatada e os cabelos cacheados curtos da mesma cor da pele. Seus olhos eram dourados, mas não a íris, todo seu olho era dourado brilhante. Foi um susto, quando a mulher chegou até ele, não parecia que ela andava, na verdade ela parecia deslizar. Suas roupas eram brancas como nuvens, deixando um rastro de luz por onde passava, que aos poucos desaparecia.

Ela colocou as mãos no ombro do garoto, e seus olhos ganharam um aspecto normal, olhos castanhos como os dele. Ela sorriu.

Diga-me querido.

Sua voz falhou, parecia ter esquecido como se proferia palavras.

–Eu sou Adam Lamarc, eu desejo me tornar um bruxo forte e conseguir domar meu poder para utiliza-lo da melhor maneira possível.

Ótima resposta para se ganhar um dez. Você pode ate achar que se resume a isso, mas vai ter que descobrir logo, porque em breve seu poder será necessário.

–Para a iniciação. – ele assentiu.

Para algo muito mais poderoso meu querido. Mas por enquanto está bom, você deve aprender logo como controlar suas energias e não desperdiça-las em vão.

A mulher lhe puxou a mão e o arrastou para dentro da floresta e para longe do campo de flores. Ele se deixou levar, sentiu o toque da senhora no seu pulso, era como uma descarga elétrica fraca. Que percorria da mão para o corpo.

***

–Mãe. Cheguei.

–Aqui atrás querida.

A voz vinha do quintal da casa, Kris sabia que sua mãe adorava aquele lugar para relaxar. Nele havia um balanço de pneu em uma árvore, da sua época de criança, tinha algumas plantas que ela usava para fazer chá e um canteiro com íris azuis.

Cassandra estava sentada no chão sobre um pano florido, usava uma saia roxa longa e uma camiseta branca. A idade chegara bem para mulher, seus longos cabelos dourados de muitos anos agora estava acima dos ombros e repicados. Sua pele com resquícios da idade, não aparenta seus mais de cinquenta anos. E seus olhos âmbar ainda tinham o mesmo brilho de poder e acolhimento.

–Pelo visto Meridith avisou sobre o treino individual começar mais cedo.

Kris deixou suas coisas na mesa ao lado da porta e sentou-se a frente de sua mãe, pegou a mão dela e a beijou. Ela adorava segurar a mão da mãe, ainda mais quando estava tão confusa e insegura quanto ao que acontecia em sua mente.

Cassandra conhecia bem a menina que tinha criado, Kristen se entregava fácil, seu corpo todo falava: seus olhos, suas mãos e suas feições. Tudo era um complemento de sua voz.

–O que esta acontecendo com minha pequenina?

Kris morria de vergonha deste apelido, mas ao mesmo tempo amava ouvir sua mãe a chamando desta maneira.

–Só estou tensa com esses treinos de iniciação para entrada no Ciclo. Só quero que isso acabe logo.

Cassandra sorriu para filha apertou suas mãos de forma confortável. Kris sentiu uma onda de conforto invadir seu corpo e todo o estres sumindo como se ela nunca tivesse problema algum.

Cassandra era bruxa mais forte de sua geração, deixara o cargo de líder para Meridith por livre e espontânea vontade e sem sombra de duvida era uma das bruxas mais poderosas para manipular a emoção das pessoas.

Kristen segurou para não chorar na frente da mãe, Cassandra sempre a acalmara e a ajudava, mas dessa vez mesmo que Cassandra lhe desse toda energia positiva do mundo ela ainda sim se sentiria aflita com sua própria cabeça.

–Então pequenina vamos começar sua meditação. Esta pronta pra começar?

Kristen assentiu com a cabeça e um pequeno murmúrio de afirmação.

Cassandra sabia que a filha não estava bem, tinha quase certeza do que estava afligindo-a e que estava chegando um momento inevitável que ela tanto temia: o momento de contar a verdade a Kristen.

–Feche os olhos, se concentre na minha voz e sinta a energia dentro de você a guiar.

A voz a tranquilizava, e a habilidade dela sobre as emoções alheias também ajudavam, mas a cima de tudo a mãe sempre lhe transmitiu confiança. Nunca lhe escondeu nada e nunca mentiu sobre nada para a filha. Ao menos era o que ela achava.

A voz da mãe se afastou. O medo inundou seu coração. Não resistiria novamente às vozes, os gritos e a dor.

***

Mas desta vez ela enxergava, estava em cima de uma pedra grande que de longe parecia um cavalo ajoelhado. De cima da Pedra ela via uma vale com algumas poucas árvores. A cima dela o céu repleto de estrelas, sem nuvens e sem lua.

“Siga a energia dentro de você”

O vale a sua frente se mostrava inabitado, mas algo lhe atraia pra ele, então ela deixou que as pernas a guiassem até ele, mas em determinado momento entre um passo e um tropeço ela sentiu o ar ficar mais abafado Um cheiro invadiu suas narinas, e de alguma forma ela sabia, era o cheiro da morte, muito além de sangue e corpos podres em decomposição, ela conseguia sentir a morte real. E esse cheiro lhe causou falta de ar. Kristen tentava respirar, mas seus pulmões pareciam cheios, e ela engasgou com a própria saliva o que lhe rendera um acesso de tosse. Quando ela terminou de tossir o ar voltou aos seus pulmões, e suas mãos estavam cobertas do sangue que haviam lotado seus pulmões.

Kristen se concentrara, sabia que eram apenas coisas em sua mente, não era exatamente real. Ela se concentrou na paisagem ao seu redor, havia casas de pedra destruídas e marca de pegadas que ela tentou seguir, mas que levavam pra todo o lugar, e em todo lugar havia destroços e cinzas.

Essa é a verdade sobre a Luz que eles te escondem minha querida.

A voz soara da própria cabeça, mas ainda sim ela se viu procurando por alguém. Ela fez uma suplica para que a dor e os berros não voltassem, e respondeu.

–Não vejo Luz alguma aqui e muito menos alguma verdade. E quem quer que esteja ai mostre-se agora.

Ela sentiu um arrepio no pescoço, uma mão lhe tocar o ombro e o calor de alguém lhe sussurrando o ouvido.

Não é porque foi criado entre elas que precisa agir como elas. Não seja petulante como essas imundas.

Mas quando se virou não viu nada, além de arvores e destroços. Ela continuou deixar que suas pernas a levassem, ate que encontrou uma arvore seca e morta, seu tronco tinha um rachado que revelava uma árvore oca, dentro havia um livro grosso, com páginas irregulares que tinha uma capa preta com quatro luas desenhadas com prata.

Quando ela o tocou, sua mente pareceu expandir-se, vozes a tomaram. Eram diferentes das suplicas agonizantes de dor, eram sussurros que lhe davam força, como se de uma vez só varias pessoas lhe sussurrassem o que havia nas paginas grossas do livro que tocara, e era como se conseguisse aprender. As vozes se calaram, e ela sentiu uma mão em seu ombro, e dessa vez quando ela olhou para trás se deparou com olhos pratas como as luas do livro, perdidos na escuridão de um rosto nas sombras e em cabelos tão negros quanto a escuridão vazia.

Você finalmente encontrou sua herança minha querida.

A voz era macia e aconchegante, mas a imagem da mulher a sua frente era arrepiante, pareciam olhos flutuantes no vazio, como uma isca para a morte ou a luz no fim de um abismo.

– Que... Quem é você? – A voz da garota falhou.

Não se preocupe querida. Serei aquela que mostrará a verdade para você, serei aquela que mostrará quantas mentiras te circundam.

A mulher sorriu, e ela pode ver os traços delicados do rosto dela, era uma obra prima esculpida pelo melhor dos artistas, sua pele era pálida ou era apenas branca de mais perto dos seus longos cabelos negros.

Em volta da mulher outras pessoas apareceram, e Kristen percebeu que todos vestiam longas roupas pratas. A mulher bradou para que todos ouvissem.

Deem as mãos meus irmão e irmãos, porque finalmente teremos aquilo que tanto aguardamos, porque agora temos entre nós a Herdeira da Vingança.

Ambos deram as mãos, formando um circulo em volta das duas. Começaram a sussurar coisas que Kris não pode compreender. A ultima coisa que viu foi a mulher colocando as duas mãos em volta da cabeça dela enquanto tinha aquele sorriso doentio no rosto. A dor lhe invadiu de súbito e ela desmaiou com as palavras na mente. “porque finalmente temos a Herdeira da Vingança”

***

O cheiro de lavanda e livro guardado invadira suas narinas quando sua mãe a tocou nos ombros.

–Se concentre Olivia. Adam é com certeza muito mais dedicado do que você, e não preciso nem comentar que Kristen esta séculos a sua frente no sentido de equilíbrio e poder. Então se esforce um pouco mais para não me envergonhar tanto.

As palavras um dia já a incomodaram, mas com o passar do tempo Liv aprendera a ignorar os insultos e humilhações da mãe.

Liv fechou os olhos, lembrou-se do sorriso de Liam quando falou com ela, lembrou-se da covinha que ele tinha apenas no lado esquerdo se o olhasse de frente. E os olhos dele, que pra muitos poderia ser estranho ela achava sexy como se um a consumisse por fora e o outro a hipnotizava e paralisava por dentro.

–Olivia, é pra se concentrar em suas energias, e não em coisas estupidas. Então tire esse sorriso debochado do rosto e faça isso direito, ao menos uma vez na vida faça algo certo.

Ela escondeu o sorriso, e lembrou-se do celular tocando na volta pra casa, ela atendeu ao telefone sem saber quem era, mas no primeiro “Alô?” ela já sabia o tinha reconhecido. Liv e Liam conversaram durante os quinze minutos até sua casa, era como se ele sussurrasse em seu ouvido. Conversaram sobre os livros, series e filmes que eles gostavam. E pouco antes dela desligar ele a chamou para saírem, ela não conseguiu esperar que ele terminasse a frase pra aceitar o convite.

“Tudo bem então, te espero lá hem...”

***

Os olhos dela queimaram e sua cabeça parecia que ia explodir, quando ela finalmente abriu os olhos e se viu presa à forca em uma árvore.

Liv se debateu, não conseguia puxar ar, até que ouviu um estalo e o galho da árvore quebrou e ela caiu sob um canteiro de rosas vermelhas. Espinhos arranharam suas pernas, braços e mãos, ela se levantou com cuidado e cheia de cortes.

– Enquanto não se livrar do seu medo, continuará sendo fraca, continuará sendo a vergonha que sua mãe tanto lhe diz.

Liv sentia todo seu corpo arder, estava assustada e sangrando e ainda tinha uma voz lhe julgando.

–Quem raios esta aí?

–Tenha mais respeito comigo sua garota medrosa prepotente. E se parasse de se esconder e de se lamentar você conseguiria me escutar e perceber que eu estou em cima de você.

Ela olhou pra cima, sentado no galho que supostamente havia quebrado, e pelo visto não, tinham um garotinho de uns onze anos, ele usava uma roupa branca cintilante que se confundia com ele todo, que era branco e sem cabelo, e o mais assustador eram seus olhos sem íris completamente dourados.

–Você é só uma criança. – Acusou a garota, mas para si do que para ele.

Eu posso ser muitas coisas garota, dependo do que esta dentro de você. Viu-me em forma de fogo por um motivo, e agora me vê como criança por outro. A questão não é minha forma, e sim o porque você me vê desta forma.

Liv ficou confusa com as falas do menino. O garoto pulou da árvore com leveza e aterrissou sem sofrer nenhum arranhão.

–Como já lhe disse, você tem muito poder dentro de si, e uma hora terá de usa-lo, a o problema é se estará forte o suficiente para suporta-lo.

O garoto pegou uma das mãos dela com as duas dele, fechando os olhos. Os machucados pararam de sangrar, a dor se fora até que desapareceram.

–O que eu tenho que fazer para me tornar forte?

–Você terá de enfrentar seus medos, mas isto não poderei te ensinar, mas posso lhe ensinar a enxergar a verdade por trás do medo.

Ela assentiu com a cabeça. Liv sentia vontade de abraçar o menino a sua frente, mesmo sabendo que aquela pelo visto não seria sua verdadeira forma.

–Então me ajude a ver a verdade. Por favor.

O menino sorriu, seus olhos dourados revelaram uma íris verde como as dela. Ela sentiu uma energia subir das suas mãos ate sua cabeça quando ele colocou suas mãos sobre as dela. E ela se viu desde criança ate o dia presente. E era pior do que se ela tivesse sido jogada em um canteiro de espinhos, pior do que se seu coração tivesse sido perfurado por cada um deles.

Ela se viu sendo o que ela era, aquilo que sua mãe sempre lhe acusara e que ela negava ser. Chorosa. Fraca. Indefesa. Frágil. Viu-se como uma boneca quebrada, inútil sem função e nem razão de existência. Tudo que sua mãe lhe falara era verdade, ela realmente era uma vergonha.

***

Adam acordou as mãos esfoladas e com sangue escorrendo do nariz, na verdade era como se seu nariz resolvesse mata-lo de hemorragia de uma só vez.

Olivia acordou aos prantos, enfiando as unhas nos próprios braços buscando por algo para lhe ajudar a sair dos tormentos de sua mente.

E Cassandra observava Kristen em transe que até o memento estava sentada. Assustou-se ao ver a menina cair deitada para trás aos berros, mas ainda inconsciente. Seus olhos estavam abertos, e como nó dia que fora encontrada eles estavam prata absorvendo a luz do ao redor. Kristen se debatia, e da sua boca saiam palavras que não estavam sendo deferidas com a sua voz. Eram palavras que Cassandra reconhecera “Sangue”, “Morte”, “Vingança” e muitas outras que ignorou.

Cassandra de certa forma esperava que aquilo acontecesse e já havia se preparado para enfrentar o que quer que fosse pela sua filha.

–Pequenina escute apenas a minha voz. – enquanto dizia isso Cassandra colocou as mãos em volta da cabeça da menina com os dois polegares no centro da testa.

Cassandra sussurrou palavras que até os bruxos mais velhos teriam dificuldade de entender, ela faria de tudo para salvar sua pequenina.


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Notas finais do capítulo

Um personagem esta prestes a se despedir...



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