Saí correndo pelos corredores do colégio, a mochila pesando nas costas e as mãos dentro do bolso do casaco.

Eu praticamente não havia dormido esta noite. O término com Bobby. A prisão. A serenata fracassada de Scott. Eu precisava de um doce. Urgentemente.

A única coisa que eu queria era deitar em posição fetal e chorar por tudo, mas não queria preocupar ninguém, muito menos poderia fazer isso.

Botei o dinheiro na máquina de lanches e esperei alguns segundos até que um pacotinho de doces saísse pela aberturBobbyeguei o pacotinho e saí andando pelos corredores do colégio, comendo os doces enquanto caminhava.

Cheguei ao jardim e me sentei em baixo de uma árvore, sobre a grande sombra de seus galhos e observei o céu por algum tempo.

Senti algumas lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas.

Merda.

Por que tudo me fazia lembrar dele?

Até mesmo observar as nuvens, algo que fazia desde pequena, agora me fazia lembrar dele e (consequentemente) me fazer chorar.

Enxugei as lágrimas com as pontas das mangas do casaco e fixei meu olhar em algo mais distante. Infelizmente, isso era a única coisa que eu menos precisava.

Bobby estava parado a alguns metros de mim, em suas mãos um buquê de margaridas, as mais belas que eu já vi. O rosto dele estava triste e preocupado, seus lábios sérios e tensionados, o que deixava mais evidente o olho roxo e o pequeno arranhado que tinha na bochecha.

Me levantei e puxei a mochila para junto de mim, seguindo na direção oposta a de Bobby, que correu até mim antes que eu pudesse se quer atravessar a grama.

– Sums, precisamos conversar. - Bobby pediu.

Eu o ignorei e tentei passar por ele, mas sua mão agarrou meu punho com força e me fez parar.

– Sums, por favor. - ele suplicou, seus olhos verdes tristes.

– Agora é Sums? - perguntei, estava irritada comigo mesma por continuar ali. - não sabia que você ainda me chamava assim, achei que era só mais um prostituta que traí o namorado.

– Summer, não diga isso. - ele resmungou com a voz suplicante. - eu vim aqui, para pedir desculpas.

– E por que eu deveria aceitá-las? - perguntei seca.

Ele passou as mãos pelos cabelos laranjas e me olhou confuso.

– Você não confiou em mim, achou que eu havia feito aquilo porque quis, brigou com Scott e me xingou. Acha mesmo que eu deveria te perdoar?

– Summer, eu sei que errei, sei que fui um idiota, sei que te machuquei, mas por favor, me perdoa...

– Você não entendeu. - falei. - eu confiei em você, eu te dei meu coração, achando que você não o iria machucar, mas... Mas você na primeira oportunidade fez isso. Na primeira.

– Summer, eu não queria, eu preferiria fazer qualquer coisa, menos isso.

– Não pareceu. - falei tentando me largar, sem conseguir. - você parecia perfeitamente bem no momento em que fez isso.

– Foi a raiva falando, eu achei que você tinha me traído voluntariamente!

– Então você não me conhece! - gritei para ele, as lágrimas recomeçando a cair. - você acha mesmo que eu trairia alguém que amo, sem ser forçada?

Ele ficou em silêncio.

– Eu te amo. - falei enquanto limpava as lágrimas. - eu te amo, seu bastardo. Acha mesmo que eu te trairia?

– Summer, foi a raiva falando. - ele falou. - eu te amo.

– Um amor não acaba tão rápido. - resmunguei.

– Ele não acabou! - Bobby falou. - eu te amo! Eu não estaria aqui se não te amasse!

Ele me puxou para perto do seu corpo.

– Eu te amo, Sums. - Bobby resmungou.

Ele me beijou ferozmente, do início ao fim. Suas mãos voando para minha cintura e meu rosto, aprofundando o beijo cada vez mais. Eu estava gostando, mas assim que percebi o que estava fazendo o empurrei com toda força que tinha, o fazendo cambalear levemente.

– Nunca mais faça isso! - gritei em meio a lágrimas. - nunca!

– Sums, não chore. - ele pediu. - por favor, não...

Ele levantou uma de suas mãos a para secar as minhas lágrimas, mas a minha mão foi mais rápida.

Dei um tapa com força em seu rosto, deixando a marca dos meus cinco dedos em sua bochecha direita.

Bobby levou a mão até a bochecha, os olhos verdes deprimidos.

– Summer... - ele resmungou.

Engoli em seco seu pedido baixinho e corri o mais rápido que pude, deixando para trás Bobby e o jardim.

Lágrimas correram em meu rosto antes mesmo que eu pudesse chegar nas escadas.

* * *

Encaixei minha cabeça entre os joelhos e deixei as lágrimas correrem por si mesmas.

Já havia se passado quase uma hora desde que falara com Bobby, minhas bochechas e queixo estavam encharcadas.

Passei minhas mãos pelo rosto para limpá-lo, mas mais lágrimas caíram em seguida.

– Merda. - resmunguei baixinho. - merda.

Solucei alto.

Eu não sabia o que fazer nesse momento. Bobby havia pedido perdão, mas... Mas eu sinto medo.

Passei a mão pelo cabelo e deixei que as mechas castanhas claras caíssem para todos os lados.

– Me perdoa. - ouvi alguém dizer ao meu lado.

Levantei a cabeça, mesmo sabendo quem havia me chamado.

Bobby me olhava de cima, um caderno vermelho em uma das suas mãos e a outra dentro do bolso dos jeans.

– Não sabia que tinha te machucado tanto. - ele falou baixinho. - Summer, eu não queria isso.

– Eu sei que não. - falei.

Ele se sentou perto de mim, o que me fez afastar-me alguns centímetros.

– Eu sou repugnante. - ele falou. - eu na primeira oportunidade falei coisas para você que nenhuma garota, ou mulher, deveriam ouvir. E o pior, é que eu não te deixei falar o seu lado. Confiei no que vi e agora... - ele fez uma pausa. - Eu deveria ter ouvido o que você tinha a dizer, deveria ter aceitado suas desculpas.

Eu não falei nada, apenas continuei olhando para seus belos olhos verdes, tentando ao máximo me controlar e não despejar mais uma única lágrima.

– Me desculpe por não ter ligado quando te vi chorar no estacionamento. - ele desviou os olhos dos meus e começou a olhar para o céu. - eu deveria ter te abraçado como quero fazer agora.

Esfreguei meus olhos com a manga do casaco, mesmo sabendo que ia apenas piorar meu rosto.

– Eu nunca deveria ter acabado com você, Sums. - ele me olhou para mim, os olhos marejados. - eu fui precipitado, não liguei para seus sentimentos, nem se quer imaginei que você fosse sofrer mais que eu. Achei que eu era o único que tinha os sentimentos feridos, não sabia e muito menos liguei se os seus estavam mais feridos, por isso disse o que disse... Eu nunca iria querer falar aquilo para você.

Ele pegou minha mão e entrelaçou seus dedos aos meus.

– Me perdoa, Sums, por favor. - ele pediu.

– Eu gostaria, mas não quero voltar a namorar com você.

Ele pareceu perder o rumo. Seus olhos ficaram mais desanimados e seus lábios formaram uma linha.

– Por quê? - ele parecia magoado.

– Um relacionamento só funciona se tiver confiança e, infelizmente, você perdeu a minha.

Ele baixou a cabeça e olhou para o chão. Seus dedos apertaram os meus mais forte.

– Summer...

– Eu sinto muito.

Ele resmungou algo baixinho.

– O que você disse? - perguntei.

– Eu disse: que não vou desistir. - ele levantou o rosto, algumas lágrimas caindo pelas bochechas. - eu vou recuperar a sua confiança, nem que essa seja a única ultima coisa que eu faça. Eu vou recuperá-la e nunca mais vou machucá-la, muito menos perdê-la. Você é a minha Bela e eu sou seu Bobo... E eu nunca vou perder esse posto para nenhum. Eu te amo.

Ele me roubou um beijo e se levantou, parando apenas a alguns metros.

– Eu vou lutar! - ele gritou, desaparecendo pela porta da salinha da escada.

Apertei a pulseira que ele havia me dado e fechei os olhos por alguns segundos.