Os vampiros que se mordam escrita por Gato Cinza


Capítulo 3
A culpa é dos vampiros


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585335/chapter/3

O sol surgia majestoso no horizonte quando Bonnie passava pelo centro de Mystic Falls indo para sua casa, o celular vibrou e ela mais uma vez ignorou. Estava fazendo isso desde a tarde em que saiu da mansão Salvatore – dois dias atrás. Não queria falar com nenhum deles, até mesmo Matt ela havia ignorado por ter a leve impressão que os amigos vampiros tinham pedido para ele ligar para ela. Bonnie estava saindo de Virginia quando percebeu que não podia simplesmente ir embora sem dinheiro, sem bagagem, sem nenhum plano de para onde ir ou do que fazer, aliás, do que exatamente ela estava fugindo?

Mais uma vez o celular vibrou e desta vez ela não conteve o impulso de joga-lo pela janela.

– Droga! – exclamou batendo no volante – Era só desligar o celular.

Ela estava se sentindo exausta. Queria agora mais do que nunca saber aquele feitiço de tempo para voltar até o dia em que descobriu que era bruxa e impedi-la de descobrir, talvez se ela e ninguém soubessem disso sua vida seria mais normal, ou talvez ela estivesse no time das amigas e agora precisasse beber sangue para sobreviver.

– Culpa daqueles vampiros – resmungou entre os dentes.

Se pudesse mudar o passado voltaria até a criação do primeiro vampiro e impediria que ele voltasse do mundo dos mortos, sem vampiros não existiria problemas em sua vida, pelo menos nenhum problema que a obrigasse a recorrer à magia. Bonnie parou o carro encostando a testa no volante. O quão diferente sua vida seria sem magia? Embora adorasse ser uma bruxa ela não conseguia evitar pensamentos de ter uma vida humana normal.

– Pensamentos negativos atraem coisas ruins

Bonnie ergueu o rosto rapidamente, notando a mudança radical de cenário. Não estava mais em seu carro, estava sentada em uma mesa de cimento daquelas que se tem em praças publicas, a névoa fria cobria o chão e as arvores se mexiam ao toque do vento causando aquela sensação de ter pessoas murmurando e se movendo ao mesmo tempo. Que lugar era aquele, afinal?

Uma agitação crescente se espalhou pelo seu corpo deixando-a preocupada. Arriscou, então:

– Quem é você? – perguntou ela á ninguém

– Não sei.

– Não te vejo por quê? Onde você está?

– Estou aqui, na sua frente.

Bonnie automaticamente estendeu a mão abanando de um lado para o outro, se levantou e continuou fazendo aquilo. Não tinha absolutamente nada.

– Engraçadinho, não está na minha frente coisa nenhuma.

– Estou sim, espere – Bonnie não piscou esperando que de repente alguém se materializasse em sua frente – V-você não sentiu...

Ela se levantou assustada ouvindo a voz ao seu lado, muito próximo.

– Não se assuste – o tom dele era mais baixo e um pouco mais triste que antes – Não posso nem te tocar.

– M-me tocar?

– Segurei sua mão e você nem sentiu.

Bonnie olhou sua mão dos dois lados, realmente não sentiu nada. Estendeu a mão para o vazio a sua frente. Mesmo sabendo que aquela voz podia nem ter um corpo-presente.

– Segure de novo.

– Sente?

Ela negou com a cabeça ainda olhando sua mão. De repente não estava mais com medo, estava apenas... triste? Por que não o via? Nem sentia? Aliás, quem era ele?

– Qual é seu nome?

Desta vez levou um tempo para ele responder, a resposta deixou Bonnie surpresa.

– Não me lembro. Não lembro meu nome.

– Como assim não se lembra? Você perdeu a memória?

– Não sei. Perdi?

– Como você é?

– Hã... não sei – então ele riu – Não sei como sou, nem meu nome. Mas sei quem é você.

– Sabe?

– Sei, não me lembro quem é você. Mas quando te vejo sinto que te conheço, vejo seu rosto. Por que me lembro de você, mas não sei quem você é?

Bonnie sentou-se novamente, aquela era sem duvida a coisa mais bizarra que já tinha acontecido com ela. Estava conversando com um cara invisível, sem nome, sem memória, que achava que a conhecia e nem mesmo tinha certeza que estava realmente acontecendo, provavelmente um sonho estranho induzido pelas noites em claro e as preocupações.

– Meu nome é Bonnie – falou

– Bonnie Bennett – a voz sussurrou em reconhecimento – Se chama Bonnie Bennett

– É, esse é meu nome – disse animada, lembrando em seguida que se aquilo fosse um sonho era lógico que ele soubesse – O que mais sabe sobre mim?

Levou um tempo para que ele respondesse, quando o fez, disse em um fio de voz cheio de surpresa e admiração.

– Você não gosta de mim.

Aquilo foi inesperado, esperava que ele dissesse que sabia que ela era uma bruxa, ou que ela morava em Mystic Falls, ou algum detalhe da vida dela. Mas que ela não gostava dele? Bonnie não gostava de muitas pessoas.

– O que mais você se lembra?

A voz não respondeu. Passaram-se longos minutos e ela refez sua pergunta, e de novo e de novo, até concluir que ele não estava mais perto dela ou que apenas não ia mais dizer nada. Quem ela conhecia que tinha aquela voz e que ela não gostava? Fechou os olhos tentando associar a voz á um rosto... só pensava em uma pessoa. Melhor em um monstro.

– Klaus?

Olhou em volta, estava mais uma vez em seu carro. O céu estava claro e poucas pessoas estavam na rua, talvez já fosse oito ou nove horas da manhã, ela adormeceu mais uma vez – aquilo parecia prestes a virar um habito ruim. Esticou os braços se espreguiçando, talvez devesse sair o carro e se alongar um pouco ou apenas dirigir até sua casa e dormir por dias. Assim que girou a chave do carro, notou a presença de um alaranjado-fogo pelo retrovisor. Deu a ré e parou ao lado da ruiva que estava sentada na calçada finalizando sua leitura.

– Por que está sentada na calçada? – perguntou

– Por que foi o único lugar que achei abaixo do sol. E você por que estava dormindo sentada ao volante? – a ruiva falou rapidamente sem tirar a atenção das ultimas linhas do livro.

– Nem percebi que tinha dormido – respondeu a bruxa, sincera – Não seria mais confortável se sentar debaixo de uma sombra?

– Não seria para mim, gosto do sol. O dia é mais agradável que a noite, você não acha?

– Nã... Sim, os dias são mais agradáveis que as noites

Era estranho chegar aquela conclusão, mas os dias de Bonnie realmente tinham se tornado melhores que suas noites, pelo menos era assim desde que começaram a usar como bruxa de estimação.

– De onde os humanos tiram essas ideias? Isso nem fez sentido – resmungou a ruiva

A garota fechou o livro que em seguida se incendiou, então ela pegou outro livro na sua mochila que Bonnie percebeu ser o terceiro livro de uma saga. Sem notar o que estava fazendo ela saiu do carro e sentou ao lado da ruiva.

– Você não é humana, é?

– Só na aparência física – respondeu a outra já imersa em sua nova leitura

– O que é você então?

– Não sei se você entenderia o que sou. Pertenço á uma raça antiga, mais antiga que os humanos, e mais jovem que a magia.

Realmente Bonnie não entendeu. Encostou a mão no queixo e descansou sua cabeça ali olhando para o reflexo das duas no carro, fazendo uma nota mental de lavar o carro que estava bastante sujo.

– Veja quem reapareceu – nem a voz irônica de Damon fez a ruiva desviar a atenção do livro – Sabia que te procuramos na cidade inteira? Elena e Caroline acharam que alguém tinha de raptado.

– Desculpe tê-los feito gastar o tempo de vocês me procurando. Afinal vocês vampiros não podem perder o tempo procurando sua escrava mágica.

A ruiva disfarçou uma risada tossindo. Atraindo a atenção de Damon.

– É por isso que anda tão mal humorada? Está andando na companhia de psicopatas de baixo nível.

– Você está tão pálido – disse a ruiva olhando o vampiro com indiferença – Retire esse anel e vá pegar um bronze.

Ela mal fechou a boca e Damon retirou seu anel, entrando em combustão. Bonnie se levantou assustada.

– Damon o que está fazendo? – ela se virou para a ruiva – Pare com isso, o faça colocar o anel.

– Por que eu faria isso? – perguntou a outra sem interesse algum

– Ele vai morrer, por favor!

A ruiva deu de ombros olhando para o livro, e Damon relocou o anel caindo em seguida na sombra do carro de Bonnie, ele ofegava com os olhos arregalados na direção da ruiva. Rapidamente ele se regenerou.

– Isso não aconteceu. Vá perturbar outras pessoas com sua presença.

Damon se colocou em pé e fez o que ela sugeriu. Bonnie mal conseguiu vê-lo, pois usou sua velocidade de vampiro. Ela olhou para a garota que sequer desviava os olhos das palavras que lia. Um pouco assustada e muito curiosa, perguntou.

– Ia mata-lo?

Nu, ele já está morto - Bonnie bufou, a garota a olhou – Ele ia se autodestruir, mas foi ele quem começou, ele que veio perturbar.

– Outro dia você quebrou a mão de minha amiga e o deixou inconsciente. Alguns meses atrás você torturou um amigo meu, o garçom do Grill.

Desta vez ela percebeu uma alteração no ar indiferente da ruiva, surpresa.

– Como pode? – perguntou fechando o livro – Todos que viram deviam ter se esquecido daquilo, como pode se lembrar de algo que teoricamente não aconteceu?

– Teoricamente? O que quer dizer com isso?

– Se você se lembra, você sabe.

– Você voltou no tempo e mudou o que fez – Bonnie voltou a se sentar – Como pode voltar no tempo?

– Do mesmo modo que seu amigo vampiro fez o que eu digo, é parte de minha natureza mística. Assim como faz parte da sua natureza não ter sido induzida pelo tempo á esquecer o que viu eu fazer com seu amigo garçom.

Nada do que ela disse fez sentido para Bonnie, mas era de um jeito confuso muito lógico. Entretanto a bruxa se lembrou de Silas, era da natureza mística dele ser cruel e perigoso.

– Por que não fez o mesmo com o Damon e a Elena? Por que não mudou o que tinha acontecido?

– Não á razão para ter feito isso. Evito ferir os humanos. Mas os vampiros não são legalmente humanos, eles são parasitas. E por que se importa? A raiva que você sentiu diante do vampiro seria o bastante para incinerar todos os vampiros do mundo.

Não era bem de Damon que Bonnie sentira raiva, e sim do modo com que ele a fez se sentir uma inútil ao fugir e voltar. Se tivesse um grau superior de autoestima provavelmente teria seguido em frente, arranjado um emprego ruim, juntado grana e vivido sua vida de cidade em cidade até se ajustar. Seria independente, assim como Damon e Stefan foram em seus muitos anos de vida, seria livre. E sem maldição.

Mas em vez disso ela voltou para casa, onde bem sabia que seria tratada como fonte de amuletos mágicos que tinha que arriscar sua vida para salvá-los todo mês de um perigo idiota que envolvia sobrenaturais. E ela achando que era capaz de ter uma vida normal, como ia fazer isso se nem era capaz de virar a costa para vampiros que achariam outra bruxa assim como acham sangue para consumir.

– Vou dormir – se decidiu entrando no carro e deixando a ruiva cujo nome nem perguntou sentada ao sol com seu livro que em algumas horas viraria cinzas se ela não gostasse do conteúdo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os vampiros que se mordam" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.