Passou uma semana, nesse tempo Fernando começou a se adequar conforme a rotina da casa que o acolheu com tanta carinho. Atílio e Maria o tratavam como um filho. Aurora ainda tentava se mostrar indiferente, não lhe dirigia a palavra a menos que fosse necessário. Isso o incomodava. Aurora não era a santa de sua devoção, mas ele não era indiferente a ela, ao contrário, queria saber mais coisas sobre a misteriosa mulher que nada falava de si. Todo dia levantava na mesma hora que seu Atílio e juntos iam para o mar apanhar alguns peixes. Com a ajuda extra, Atílio estava conseguindo ganhar quase o dobro do que ganhava antes. Fernando ainda sentia dor por Letícia, mas na maior parte do tempo estava ocupado demais para pensar nisso. Trabalhava tanto para cansar o corpo num ponto que sua mente não pudesse pensar muito. Tinha arrumado outra forma de anestesiar-se.

Letícia sofria cada vez mais por Fernando. Ele o amava e sabia disso. Era isso que mais lhe doía, amar ao homem que mais lhe causou mal. Em certas ocasiões até sentia raiva dele. Como ele poderia olhar para Aurora se estava comprometido com Márcia, se uma vez dissera que a amava? Letícia, a cada dia que passava, mais sabia que Fernando não amava ninguém além dele mesmo. Ela se odiava por um dia ter acreditado em seu amor, em seu falso amor. Ela pensou.

Na cidade, Márcia já não tinha mais esperanças de achar Fernando. Foi declarado oficialmentenque ele deveria estar morto. Todos sentiam por isso, principalmente os funcionários da Conceitos que já haviam perdido Lety e agora o Fernando. A Conceitos não seria a mesma sem eles.

De volta ao litoral, Fernando e Atílio estavam no mar e, enquanto faziam seu trabalho, conversavam.

–Fernando, sei que você tentou se matar por uma mulher, mas o que realmente aconteceu? Ela te traiu? -Indagou Atílio.

–Queria que fosse isso... Eu me apaixonei pelo ser mais especial que já conheci e, mesmo assim, a traí. Hoje, por minha culpa, ela não vai mais voltar. Se matou. -Disse o Fernando com lágrimas nos olhos.

Ele realmente se apaixonou por Letícia, pensou seu Atílio.

–A traiu com outra mulher? -indagou Atílio.

–A traí de todas as formas possíveis. No começo era só um jogo. Eu a seduzia e ela maquiava uns documentos para mim. Não esperava realmente de me apaixonar. Não sei quando aconteceu, só sei que aconteceu. No dia que ela descobriu tudo que fiz, eu realmente ia largar tudo e me casar com ela. Não tive tempo de lhe explicar, ela... -Lágrimas brotam sem cessar dos olhos de Fernando. -Tirou a vida antes. Daria, seu Atílio, minha vida para que ela ainda estivesse aqui. Sem ela não sei porque ainda estou vivo.

–Também não me imagino sem a Maria, posso imaginar sua dor.

Se Fernando soubesse que Letícia estava viva e tão próxima a ele. Aquele homem realmente a amava, havia feito muitas coisas ruins, mas caiu em sua própria armadilha. Ele era humano. Atílio pensou isso sentindo grande pena de Fernando.

Enquanto Fernando desabafafa com Atílio no barco, Letícia fazia o mesmo na casa com Maria.

–Já pensou em dar uma segunda chance ao Fernando, Letícia? -Indagou Maria.

–Claro que não, dona Maria. Como posso dar chance a um homem tão egoísta como seu Fernando? -Mentiu Lety que já havia pensado nessa possibilidade inúmeras vezes.

–Pelo que você contou dele, ele me parece bem mudado.

–Ele é o rei da mentira, consegue fazer todos sentirem pena dele.

–Não sei, não posso falar por ele, mas acho que ele está mudando. O motivo dele ter tentado se matar, pelo que disse, foi por uma mulher.

Letícia não sabia disso. Por um momento achou que pudesse ser ela, mas tinha medo de estar se iludindo novamente. Não queria nunca mais sofrer por Fernando Mendiola. Não resistiria a outra decepção. Dessa vez morreria.

Continua.