JADE

Minha cabeça estava quase explodindo.

Aconteceu tanta coisa difícil de digerir essa noite, que acho que nunca fiquei tão confusa em toda a minha vida. Estava tão confusa, que até chamei Megan, a prima que eu mais odiava (talvez odiar seja uma palavra muito forte, era a prima que eu menos gostava) para me acompanhar até em casa e acabei contando o que havia acontecido para ela.

– O que? O seu pai? Mas como assim? – ela exclamava enquanto subíamos as escadas em direção ao meu quarto. – Jade, você devia ter avisado sua mãe! A Tia Elle devia ser a primeira a saber disso e...

– Megan, por favor, minha mãe não pode nem sonhar que meu pai esteve na minha festa, está ouvindo? – disse seguindo direto para o banheiro e lavando toda a maquiagem do meu rosto que estava vermelho e inchado por causa do choro. – pela primeira vez desde que ele a abandonou, ela está feliz e se envolvendo com outro cara, alguém que parece realmente gostar dela.

Megan ficou calada por um momento, pensando.

– É, talvez nisso você tenha razão...

– É claro que eu tenho! Por mais que nós não tenhamos a melhor relação mãe e filha do mundo, eu amo minha mãe e tudo o que eu quero é vê-la feliz. Eu não sei se ela já superou a traição do meu pai, por isso não sei qual seria a reação dela ao vê-lo de novo. – lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos outra vez.

– Eu te entendo, Jade... – Megan sentou na minha cama e eu deitei ao lado dela. Ela deu umas batidinhas de leve na minha cabeça para me consolar – Tem mais alguma coisa que você queira desabafar?

“Eu tenho um meio-irmão” pensei em dizer, mas achei melhor não comentar nada sobre isso ainda. Por mais que estivesse começando a gostar de conversar com Megan, queria que isso ainda ficasse em segredo por mais algum tempo. Já havia contado coisas demais e ainda não estava preparada para abrir o jogo completamente. Pelo menos não agora.

– Não. – respondi.

– Tudo bem, então. – ela se levantou da cama.– Vou lá embaixo fazer um lanchinho pra gente, afinal, não deu para comer muita coisa, já que você e a sua amiga destruíram toda a comida...

– Alice não é minha amiga. É só uma patricinha metida que anda dando em cima do meu namorado...

– Ah claro... – ela riu – Garotas assim a gente encontra aos montes por ai... eu mesma tenho que me livrar de várias dessas para poder namorar em paz...

– Espera aí, desde quando você namora? – perguntei surpresa.

– Ah, eu não te contei? Eu namoro já faz algum tempo... é um garoto que me enchia muito o saco na escola... até que um dia eu disse que ia formar uma banda e chamei ele pra tocar guitarra e a gente foi se conhecendo melhor e ai... bom, acho que você me entendeu bem.

– Sim, parece bastante comigo e com o Gaah... - falei meio nostálgica, lembrando de como havia conhecido Gaah, de como ele era irritante no início e de como me apaixonei por ele depois. - Porque não me falou nada sobre isso antes?

– O que você esperava? Nós mal conversamos direito... – ela parou, pensativa. - Jade, já que nós estamos sozinhas agora, será que eu posso fazer uma pergunta?

– O que? – Eu a encarei curiosa.

– Por que que de alguns anos para cá nós nos distanciamos tanto?

– Do que está falando? - perguntei sem entender.

– Lembra de quando éramos pequenas e adorávamos brincar juntas? Você ia todo o final de semana para a minha casa, levava suas bonecas, seus joguinhos de tabuleiro e nós passávamos o dia brincando e conversando sobre várias coisas juntas.

– Sim, mais o que isso tem a ver?

– Nós éramos tão unidas, sabe... – ela abaixou os olhos tristemente para o chão. – Éramos como diários uma pra outra, compartilhávamos vários segredos e coisas assim... Mas depois que seu pai foi embora, você mudou e ficou muito mais fechada. Não voltou mais pra minha casa e não falou mais comigo... – suspirou. - E mesmo depois de tantos anos, percebo que a minha companhia ainda não te agrada.

Aquilo me acertou em cheio.

Fiquei chocada com tudo aquilo que ela disse. É claro que eu lembro do tempo em que eu ia brincar na casa dela e ela ia brincar na minha, mas não percebi naquela época eu estava me distanciando. Muito menos percebi que ela estava se importando com isso e que sentia minha falta.

– Eu... não percebi que havia mudado... e eu não sabia que você se importava tanto com isso...

– É claro que eu me importo! Você é a minha única prima e além de você, eu não tinha mais ninguém com quem brincar. Acabei me aproximando mais do Andrew, mesmo ele sendo menino, descobrimos que tínhamos várias coisas em comum, como por exemplo a música e por isso nós formamos uma banda junto com alguns amigos.

– Sempre achei que você só tinha formado essa banda por que queria aparecer....

– Mas é claro que não! Eu formei uma banda por que eu adoro cantar e também porque eu estava precisando de dinheiro. Minha mãe cortou minha mesada porque estava gastando demais.

Por um momento, me arrependi de tudo o que havia dito e pensado sobre a Megan antes. Sempre achei que ela tivesse virado uma patricinha metida a besta e por isso não nos falávamos mais. Não fazia ideia de que tudo isso era culpa minha e que ela queria que voltássemos a ser unidas como antes.

– Ah, Megan, me desculpe... – senti meu rosto corar. – Acho que eu te julguei mal todo esse tempo... Eu sinto muito, muito mesmo por isso.

– Tudo bem... – ela me deu um abraço. – O importante é que agora nós estamos bem, não é mesmo? Não se esqueça de que sempre pode contar comigo!

– É... Acho que de agora em diante posso me acostumar com isso.

Rimos.

– Nossa, só você pra me fazer rir depois de tudo o que aconteceu...Pelo menos a noite não foi de toda ruim. – sorri.

– Pois é... pelo menos o vídeo da sua briga com a Alice está ganhando bastante views no You Tube...

– VÍDEO?? QUE VÍDEO??

– Aquele vídeo da briga que eu gravei com o meu celular e postei no You Tube, olha aqui... Viu prima? Agora você está famosa e nem precisa me agradecer...

– MEGAN VOCÊ FICOU LOUCA!!! EU VOU MATAR VOCÊ!!!!

– Opa... acabei de lembrar que não fui fazer o lanche... bye bye...– ela saiu do quarto rindo e eu corri atrás dela.

Ok, talvez eu não vá me acostumar com isso tão cedo...