O casal vinha em nossa direção ainda com os olhos arregalados. Olhei de soslaio para Kiev, não sabia o que ele estava pensando, mas fico feliz em saber que poderia contar com ele para “esconder” Bruce. Eu preciso inventar alguma coisa para esse casal, talvez bater na cabeça deles? Isso seria suicídio!

Esse tritão iria ver, iria tirar todas as escamas dele quando chegássemos em casa!

— Que surpresa é essa! — Pisquei me lembrando de onde conhecia aquele cara. — Não se lembra de mim? Que crueldade!

Ah, claro. Lembro-me perfeitamente.

O homem a minha frente era o “professor” de Kiev quando ele começou a trabalhar aqui. Esse homem a minha frente era irritante, extremamente! Além de dar em cima de mim e logo depois apoiar meu relacionamento com Kiev.

Era um pegador de quinta categoria. Não tinha nenhum charme, mesmo em seu mundinho achando que tinha. Seus olhos castanhos continuam o mesmo, sempre analisando até de mais uma mulher.

— Pensei que estava de volta, Thiago. — foi a vez de Kiev falar. Ele também não suportava Thiago.

— Eu estou! — disse. — Mas a Ajay não. — falou e logo beijou a mulher morena de traços indianos.

O que me importa se ele esta ou não de folga? Só quero tirar aquele tritão idiota da água e seca-lo! Como eles sobrevivem num mundo só deles? Eu juro que vou arrancar aquelas escamas dele!

— Não imagina que vocês estivessem juntos ainda.

A resposta é: não estamos juntos! Mas é claro que eu não iria falar, já bastava àqueles olhos e o sorriso cheio de malicia para adivinhar seus pensamentos e próximos passos.

É serio! Kiev não pode dispensa-lo? Mandar cair fora?

Adoraria afoga-lo nessa imensa piscina, mas tem um tritão nadando livremente como se aquilo fosse normal!

— Bom agora precisamos ir, Thiago. Se não se importar em deixarmos nos despedir... — Thiago deu de ombros, não era isso que esperava ouvir e sim.

Não estamos juntos.

Desviei o olhar para a piscina vendo uma ondulação na água. O que aquele maldito Tritão esta fazendo! Ele que não me apronte mais!

— Deixarei vocês a sós, mas não vão cair na piscina.

Diz isso para o metade peixe que esta nadando bem feliz ali.

Eu queria dizer.

Agradeci quando Thaigo se virou e partiu com aquela garota, mas meu objetivo agora era tirar Bruce daquela piscina.

— O que vai fazer com ele? — perguntou Kiev vendo Bruce nadar tranquilamente. O mesmo coçou a cabeça arqueando uma sobrancelha. — Ele não se preocupa com nada?

— Acho que o cérebro é de peixe. — Eu disse batendo na água para chamar a atenção de Bruce. O mesmo olhou vindo em minha direção submergindo.

— Você foi até lá em baixo! Esta louco! — Kiev o xingava enquanto Bruce dava de ombros.

Acho que ele tinha mesmo cérebro de peixe.

— O que tem lá em baixo?

— Vidros! Vidros onde as pessoas passam pelo tuneis vendo. — disse. — Alguém te viu?

Bruce não queria responde-lo.

O puxei para fora da piscina rapidamente, e como ele era pesado.

— Preciso de uma toalha. — Kiev assentiu indo até o deposito e trazendo uma toalha azul.

Joguei na cabeça de Bruce mandando-o se secar.

— Por que esta pedindo ajuda para ele? Não gosto dele! E não gosto que ele fique perto de você. — Resmungou. Em outras ocasiões acharia muito fofo isso, mas nessa eu queria era mata-lo!

— Vamos, antes que mais alguém o veja. — suspirei cansada.

Ele ainda não escapa de mim.

Fechei a porta de meu apartamento fortemente jogando a chave em cima da mesinha de centro da sala. Bruce me olhava enquanto piscava com aqueles olhinhos pidões. Parei em sua frente com os braços cruzados.

— O que você pensa que estava fazendo? Um vidro! Uma pessoa o viu!

— Uma criança. Quando crescem além de se esquecer vão pensar que era uma farsa. — Disse sorrindo para mim.

Mas não sorri de volta.

— Você estava se expondo muito! Eles podem prendê-lo e querer fazer experiência ou sei lá o que mais!

Bruce apenas sorriu para mim me puxando para peito de seu peito. Às vezes queria mata-lo por ser tão calmo e despreocupado, mas adorava seu jeito. O jeitinho que ele tinha de me acalmar. Apenas ele conseguia isso... E adorava.

— Não se preocupe, ninguém ira me tirar de você. — sussurrou ele em meu ouvido.

— Seu tritão idiota. — sussurrei rindo enquanto recebia um beijo no topo de minha cabeça.

Ama o jeito dele como também me preocupava. Tinha medo de que alguém descobrisse e fizesse algo com ele... Não podia perdê-lo, não a pessoa que me acalmava, me cuidava e me fazia feliz.

Não ele... Não podia perdê-lo nunca.

— Venha. — O mesmo me puxou, levando-me para meu quarto. — Você precisa de um longo sono.

— Mas ainda é cedo, nem escureceu. — resmunguei não querendo ir para cama.

— Vá dormir, irei pegar algo em casa e voltarei para fazer um belo jantar. — sorriu ele. — Um pedido de desculpas. Por pensar como peixe. — riu ele.

Balancei a cabeça.

Esse era meu tritão.

Assentindo concordando sorri. Sabia que mesmo aquele cérebro de peixe estar tão relaxado ele se preocupava. Sentei na cama enquanto o via fechar as cortinhas brancas de meu quarto. Por um breve vislumbre o vi hesitar fechando brevemente os olhos.

Talvez uma tontura?

O olhei quando se virou para me obrigar a me deitar. Mas acho que quem precisava se deitar era ele.

— Por que não fica aqui comigo? — disse. Estava preocupada com ele.

Bruce apenas balançou a cabeça em negativa e fechou novamente os olhos brevemente. Não sabia o que estava acontecendo com ele...

— Descanse. — Ordenou ele saindo do quarto e fechando a porta logo atrás.

Suspirei não gostando disse, o que estava acontecendo com ele? Seria reação de ter entrado numa piscina? Mas aquelas eram feitas para abrigar peixes, então não haveria cloro, certo?

O que estava acontecendo com Bruce?

Olhei para o teto suspirando, será que ele já tinha saído?

Levantei-me e fui até a porta, verificaria se ele estava ainda ali e o que estava acontecendo.

O apartamento estava vazio.

Suspirei.

Ótimo, agora tenho um tritão passando mal pela rua, e a praia fica a duas quadras daqui. Corri de volta para meu quarto para pegar um casaco, se eu fosse caminhar enquanto escurecia, ficaria frio. Parei abruptamente quando ouvi um barulho vindo do banheiro. Empurrei a porta devagar vendo Bruce olhando seu reflexo no espelho, ele estava ficando cada vez mais pálido...

O que estava acontecendo com ele?

— Bruce... Você esta bem... — me aproximei, mas ele apenas assentiu baixando a manga da camisa como se escondesse algo.

— Você deveria estar na cama.

— Olha quem fala. — Coloquei as mãos na cintura. — Venha comigo.

— Preciso voltar para casa.

Foi à única palavra que ele disse antes, de passar por mim e sair do apartamento. Não sabia o que estava acontecendo com Bruce, mas eu estava preocupada.

— O que esta havendo com você. — sussurrei.