Aos olhos da guerra escrita por maddiesmt


Capítulo 4
Cap 03- O inesperado


Notas iniciais do capítulo

Não! eu não me contive em esperar até as 20:30 pra postar...hahaha!
Então aproveitem a minha loucura e embarquem nessa cmg!
Espero q gostem!!=)...

p.s: sugiro as musicas photograph- Ed Sheeran e moon river- Audrey Hepburn



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Gina colocava apenas o básico na pequena bolsa de viagem. Enquanto isso Juliana, que andava de um lado para o outro do quarto, tentava encontrar argumentos plausíveis para evitar o impossível.

– Juliana! Ocê pare de andar de um lado pro outro q oce ja ta me deixando tonta de novo!

–Viu!!Mais uma razão para você parar com essa bobagem!

–Foi so um jeito de falar...e aquilo la foi apenas uma besteira...eu não to mais sentindo nada não- mentira...ela sabia que estava mentindo...a tontura havia diminuído mais o enjoo que sentia havia aumentado inexplicavelmente...devia ter sido por isso que não comera nada pela manhã.

–Minha amiga você não pode simplesmente decidir que vai pra guerra...você não sabe o que é estar em um campo de batalha...

–Nem o Ferdinando...e ele foi! Eu é que não vou ficar aqui sentada esperando ele voltar...eu vou atrás dele ara..

A professora sabia que por mais motivos que apresentasse para a amiga...nada seria capaz de vencer a teimosia da moça.

Aquela era Gina...e ela sabia que um casamento não iria transforma-la em uma dona de casa obediente e cheia de futilidades.

–Então eu vou com você!

–Oce ta ficando louca Juliana?!

–Não...se você vai eu também vou...eu quero ficar do lado do Zelão.

–Juliana...eu sei atirar...eu sei me virar...o que você vai ficar fazendo por la? Recitando o abcdário pra tropa?!

–Assim você me ofende Gina...

–Ta bom descurpa...

–Eu posso ser muito útil...é verdade que eu não sei mexer em uma arma...mas muitos daqueles pobres homens também não então presumo que eles receberão um treinamento especial...no mais eu sou muito boa com estratégias e você sabe bem disso.

A ruiva não podia negar...ja cairá em algumas das armadilhas da amiga...como da vez em que ela insinuou gostar do engenheiro.

– Tudo bem oce pode ir...mas ve se não vai me atrapaiar..

A professora fez um gesto solene de promessa e continuou a perguntar sobre os planos da amiga.

–Mas Gina...me diz...como você conseguiu o uniforme do Ferdinando? E como você vai fazer pra descobrir onde ele ta?

–O uniforme foi fácil. Eu dei sorte de encontra-los ja separados no quarto. E como eu tava sozinha eu aproveitei pra esconder um deles ja que ofereceram dois.

O Nando nem desconfiou...também duvido que ele o fizesse. Estava mais ocupado pensando nas surpresas do nosso dia. E quanto a como vou acha-los? Bom eu ainda num sei não...mas acho que vou seguir os rastros do caminhão.

–Mas como você vai fazer quando chegar la?

–Ai Juliana...isso eu penso no caminho...agora...oce vai ou não vai?

–Vou sim!

–Então faz o seguinte..oce me encontra no final da cidade. E ve se não me vai com essa frescurada toda de mulher.

–Aii isso vai ser difícil...especialmente porque vão achar no mínimo incomum um jovem rapaz com cabelos rosados...a não ser que...- a moça colocou um dos dedos no queixo e deixou a ideia assentar.

–A não ser que?- a ruiva estava claramente agoniada.

–Gina...a madame Catarina esta em casa?

–Acho que ainda não voltou não...se tivesse voltado ja teria batido aqui. Na certa ela deve de ta com a Pituca...a menina não para de chorar.

A imagem da cunhadinha chorando lhe revirava o estomago e lhe dava ainda mais certeza de que precisava trazer o marido vivo e são e salvo...nem que tivesse que dar a vida por isso. Poderia ficar repetindo seu objetivo a manha toda se o coração ja não estivesse cheio de certeza.

–Mas Juliana...pra que que oce quer saber da madame Catarina? Oce não ta pensando em contar pra ela...não ta?!

–Não Gina...pare de bobagem...so me diga mais uma coisa...onde que fica o quarto dela?

–É o segundo a esquerda...mas por que tudo isso agora?

–Tenha calma e confie em mim. Nos vemos daqui a pouco certo?

–Ta certo- a duvida era esquecida quando Gina lembrava com quem estava falando. Nunca desconfiaria de Juliana. Era seu braço direito...sua amiga...praticamente sua irmã.

–E Juliana...nenhuma palavra disso pra nenhum arguem..ta entendido?!

–Tudo bem minha amiga...pode confiar...e obrigada...por me deixar ir com você...é só que ...eu não vou conseguir ficar aqui enquanto você, o Ferdinando , o Zelão e tantos outros estão arriscando a vida...eu...eu só quero fazer alguma coisa...e trazer o Zelão de volta.

A ruiva apenas assentiu. Sabia exatamente o que a amiga estava sentindo.

As duas se despediram e começaram a preparação. Teriam trabalho pela frente.

*

O caminhão parou próximo a tantos outros que estacionavam na encruzilhada um pouco depois da saída de Santa Fé. Todos saíram de seus comboios e se reuniram no centro do lugar. Esperavam a ordem do coronel responsável.

–Atenção soldados. Vocês todos estão aqui para lutar em defesa da nossa nação e sintam-se honrados disso. Para que nossa vitória seja garantida nos campos de batalha e para evitarmos uma falha estratégica iremos dividi-los em tropas que serão comandadas por seus respectivos capitães.

Soldados com sobrenomes de A à L acompanharam o capitão Almeida em direção ao leste. Já soldados com sobrenomes entre M e Z seguirão para o Oeste com o capitão Vieira. Identifiquem –se ao seu comandante e sigam seus destinos. Boa sorte a todos e que deus nos proteja.

Ferdinando e Zelão trocaram um olhar confiante. Pelo menos ficariam na mesma esquadra.

–Sobrenome por favor- um dos cabos perguntava o nome e conferia na lista que tinha em mãos.

–Napoleão.

–Seja bem vindo soldado. Pode seguir para o caminhão a sua direita. Próximo!

O engenheiro seguiu e não demorou muito para que fosse acompanhado pelo amigo.

–Nunca pensei que lutaríamos juntos em uma guerra meu amigo.

–Nem eu patrãozinho.

–Zelão...agora somos companheiros de batalha...ja pode para de me chamar de patrão...certo soldado?- O rapaz brincava com os títulos para esconder o nervosismo e o amigo ria tentando não evidenciar medo.

–Certo.

Enquanto seguiam, viam conhecidos se despedindo, traçando seus destinos sem saberem se iriam um dia se reencontrar. E nessa multidão que misturava ansiedade e nervosismo o engenheiro pode identificar, de longe , o violeiro que um dia teve ciúmes.

–Zelão aquele ali não é o Viramundo?

–Onde?

–Ali- o engenheiro apontou mais uma vez. No entanto, o marido de Milita ja havia entrado em um caminhão diferente do deles. Não tinha um sobrenome que os unisse na mesma tropa. Resolveram, então, apenas desejar sorte, mesmo que silenciosamente, ao amigo de destino incerto como eles.

–Atenção pelotão! Eu sou o Capitão Vieira e vou logo avisando que não tolero gracinhas. Estamos em guerra e o fracasso pode levar a sua morte...e não queremos isso...não é verdade? Então tratem de seguir minhas ordens caso queiram sobreviver. Estamos entendidos?!- o comandante tinha a voz altiva e os olhos fundos. A imponência se fazia presente nas medalhas da farda, na forma de andar, na fala e até no olhar gélido. O semblante mostrava que a alma era mais velha do que o corpo e que sorrisos eram visitas passageiras de dias passados.

–Sim senhor capitão.- o grande coro de vozes soava forte mas a aparência fraca da maioria evidenciava ao capitão que ele teria trabalho.

–Muito bem. Fiquem todos aos seus postos que logo seguiremos viagem.

–Me desculpe senhor...- um soldado muito jovem lhe dirigia a palavra. Era alto o suficiente para caber nas roupas. Ainda tinha algumas espinhas na cara e claramente não sabia andar com as botas fornecidas pelo exercito. Os pelos do corpo indicavam um período pouco depois do inicio da puberdade, ou seja, se faziam visíveis o suficiente para apresentar costeletas mais longas do que se podia controlar.

–Senhor capitão! E só dirija a palavra a mim quando for de extrema importância soldado.

–Mas é que..

–Me diga...o que tem a me dizer é importante?

–Bom...eu acho que
–Se você não tem certeza...então não fale...se não quiser ir amanhã mesmo para o campo de batalha sozinho e sem armas.

–Acredito que isso seja desnecessário senhor capitão..- Ferdinando não se conteve. Odiava essa superioridade toda.

–E quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?

–Apenas alguém que não concorda com os seus meios de lidar com esta tropa.

–Pois saiba que a sua opinião soldado...não me interessa. Agora voltem aos postos e não me amolem mais com suas “opiniões”.

O capitão se retirou deixando o jovem soldado pálido e tremulo.

–Quanta arrogância!- Ferdinando não pode se conter...era incrível como o poder subia a cabeça e tornava as pessoas mais irracionais.

–E melhor a gente não se intrometer doto Nando...afinar...temos que voltar vivos para nossas esposas.

–Oce ta certo Zelão...oce ta certo- precisava se concentrar nesse pensamento. Não aguentava certos atos como aquele...mas a necessidade de se manter vivo no momento era mais valida do que tentar mudar um mundo em guerra.

Viram o soldado quase cair ao se apoiar para sentar e ser amparado por alguns oficiais que apenas riram do pobre garoto.

–Oce ta bem menino?- Zelão o ajudou a sentar e recebeu um sorriso agradecido e sincero.

–Obrigado pelo que fizeram por mim mas...realmente não precisava. Vocês sabem que ele é nosso comandante certo? Ele pode nos enviar para a morte quando bem quiser.

–Não agradeça soldado..

–Oliveira...mas pode me chamar de Peep.

–Peep?

–Longa história...

–Bom que eu saiba...nós temos tempo.- Ferdinando resolveu que precisavam se distrair enquanto o caminhão partia para o oeste do país.

O jovem soldado riu e decidiu que valia a pena contar. Adorava fazer as pessoas rirem e também o ajudaria a esquecer o medo que sentira a pouco.

–Bom...quando eu era menor...eu costumava esperar meu pai voltar do trabalho todos os dias....aquele velho é a minha vida sabe. E agradeço por não estar aqui...por que eu não quero nem pensar na possibilidade de perde-lo. O caso é que, toda vez que ele se aproximava ele buzinava três vezes dividindo o som em longo, curto e longo mais uma vez. Era como se chama meu nome.. Giovane Renzo Oliveira. Para que todos da rua soubessem que eu era filho dele e ele meu querido pai. Eu não sabia falar buzina e muito menos automóvel naquela época. Então quando ele se aproximava eu repetia o nome dele no nosso código...porem aquele velho tem um nome enorme eu ficava me perdendo nos Peeps longos e curtos até ele entrar em casa.

–Oce deve de ta sentindo muita farta dele.

–E estou...mais prefiro pensar que, pelo menos ele não está aqui. Sabe...minha mãe e meu pai sempre lutaram para ter um filho...e quase desistiram até que nasci. Mas minha pobre mãe não resistiu...também pudera...ela tinha 40 anos quando me teve. E vocês sabem como nosso pais tem um sistema de saúde falho. O caso é que eu nem cheguei a conhece-la e sou criado pelo meu pai desde então.

Aprendi a me virar no âmbito domestico e devo confessar que meu grande sonho é ser um grande chefe de cozinha. Mas parece ...que eu vou ter que adiar um pouco esse sonho.

–É um belo sonho Peep.

–Obrigado...mas olha eu aqui...falando toda a minha vida como se ela importasse para os outros.

–Não diga isso...você tem uma grande história para alguém tão jovem.

–Isso é de vera...quantos anos oce tem garoto?

–18...bom completei 18 um dia antes da guerra.

O sorriso que acompanhou a afirmação não era de orgulho e sim de pesar.

Se tivesse um pouco mais de sorte...teria escapado.

–Mas não vamos só falar de mim...acredito que vocês tenham histórias fantásticas.

Os três riram e começaram a compartilhar felicidade.

*

–Juliana! Oce ta atrasada!

–Ai desculpe minha amiga...mas é que eu não tive a sua brilhante ideia de roubar a farda do meu marido...e tive que me arranjar com as roupas dele.

A professora vestia as calças azuis de Zelão com o cinto no ultimo dos botões. Mesmo assim a dificuldade para andar era aparente mas não impraticável.

A blusa amarela e o colete vermelho pareciam lençóis imensos e eram amarrados para que não parecessem gigantes.

– Tudo bem...agora vamos.

–Perai Gina!

–Mai o que foi? A gente ja perdeu muito tempo sabia?

–A é e você quer ir assim com esse seu cabelo e o meu denunciando a nossa verdadeira identidade?!

–E o que oce sugere?

–Eu tomei a liberdade de pegar algumas coisas emprestadas da sua sogra.

Juliana tirou da bolsa duas perucas cheias de cachos e enfeites.

–E oce quer que eu use isso? Ta maluca Juliana! Ai mermo que vão descobrir a gente!

–Não se nos modificarmos..- Juliana entregou uma das perucas para Gina e continuou a falar de seus planos.

–Nos podemos prender em rabos de cavalo e – foi interrompida quando a ruiva, sem piedade nenhuma, puxou um canivete e cortou os longos cachos da peruca loira que manuseava.- Gina!! Você cortou a peruca da Madame Catarina!!

–Ara...mas oce não trouxe isso pra gente usar? Então vamo usar direito...agora me da essa outra ai pra gente acabar logo com isso.

A professora estava chocada. Teria que inventar uma desculpa muito boa para a madame mais tarde.

Os cortes ficaram longe de ser simétricos mas serviriam a função de transforma-las em 2 soldados que não se importavam muito com a aparência.

–Então você quer ser loira ou morena?

–Ai tanto faz Juliana!

–Então deixa que eu fico com a loira...sempre quis saber como meu cabelo iria ficar com essa cor.

Gina revirou os olhos e ajeitou a peruca de cabelos curtos, lisos e pretos. Enquanto Juliana fazia o mesmo com seus novos cabelos curtos e loiros.

Resolveram seguir viagem...em um silencio que não durou muito.

–Gina...

–Ja vi que oce vai ficar falando a viagem toda.

–É que...eu fiquei pensando agora...o que vão pensar da gente? Tenho certeza que vão ficar preocupados. Você ja parou pra pensar nos seus pais? Nos seus sogros? E se eles derem um jeito de avisar o Ferdinando e o Zelão?

–Sabe qual o seu problema Juliana...oce pensa demais...

–E você não...

–Eu prefiro...esquecer os detalhes e me concentrar nos objetivos.

–Mas acho melhor você tomar cuidado...por que os detalhes também são essenciais na realização de uma missão.

–Eu sei que o pai e a mãe vão ficar preocupados...e que a madame Catarina vai ter sérios problemas em explicar isso pro Lepe e pra Pituca...mas...mas isso é uma coisa que eu preciso fazer...eu não posso deixar o Nando Juliana...eu...eu ..não posso.- a moça respirou fundo e mandou para longe as lágrimas que ameaçaram cair.

–Você está certa minha amiga. Eu só espero que essa nossa decisão não afete mais ninguém a não ser nós mesmas.

Enfim o silencio resolveu acompanha-las. Ambas estavam mergulhadas em pensamentos e duvidas. Planos futuros e lembranças do passado. Até que chegaram na encruzilhada que indicava dois rastros diferentes no solo.

–E agora? Leste ou Oeste?

–Eu não sei...os rastros são do mesmo tipo de veiculo....e na verdade não são só de um e sim de muitos.

As duas olharam para os caminhos opostos. Juliana fechou os olhos e juntou as mãos em forma de oração. Gina apenas observou as opções e sentiu o vento.

–Oeste.- as duas falaram ao mesmo tempo. Era apenas uma decisão arriscada baseada apenas nas batidas aceleradas de seus corações. Decidiram continuar na direção proposta mas ouviram uma buzina as interromperem.

Congelaram no lugar em que estavam. Não poderiam ter sido pegas logo no começo.

–Dia amigos.- O rapaz uniformizado parou o carro e cumprimentou os viajantes.

–Dia- Gina forçou a voz que saiu em uma mistura engraçada de rouquidão com desafino.

–Vejo que vocês se atrasaram...estou certo?

–Sim

–E posso saber como se chamam soldados?

–Nap..- Gina sentiu um cutucão no braço e forçou a garganta.

–Resfriado soldado? Nada que possa ser contagioso acredito.

–Não senhô.

–Bom senhor- Juliana resolveu se apresentar antes que Gina complicasse ainda mais a situação delas. Ela era a estrategista e esperava que a ruiva apenas dançasse conforme a sua música.

–Sou o soldado Alves senhor...e esse aqui é meu amigo soldado Falcão.

–Muito bem soldados. Eu sou o Sargento Cunha e acredito que estamos no mesmo batalhão. Então subam que eu lhes dou uma carona.

–Agradecido senhô sargento.

Subiram no carro em silencio e assim prosseguiram. Falando apenas para responder as perguntas que lhes eram solicitadas.

*

–Gina? Gina minha querida...sua mãe está aqui.- Catarina batia na porta pela terceira vez. Era difícil imaginar que a moça estivesse dormindo visto que as batidas haviam sido suficientemente altas.

–Gina?!- Ela bateu com mais força e sentiu a porta abrir...não estava trancada, apenas encostada...como se a pessoa não tivesse a preocupação de fechar a porta ao entrar...ou ao sair.

–Gina minha querida...me desculpe a porta abriu e eu...- a senhora parou de falar quando descobriu o quarto vazio. A nora não havia falado para onde ia e a arrumação perfeita do quarto denunciava zelo demais.

–Não é possível... Manciaaaaa!!!

*

–Mas os nomes desses dois não estão na lista Sargento Cunha.

–Bom então eles se apresentaram de livre e espontânea vontade...e acredito que não estamos na situação de recusar homens...senhor capitão.

–Você está certo. Deixe-os ficar. Mas arrume um uniforme para o perdido. O outro parece que deu um jeito de conseguir um.

–Nem me pergunte como. São bem matutos esses dois. O que veio sem uniforme parece ser mais civilizado mas o outro parece um bicho do mato.

–Isso não interessa para nós contanto que saibam atirar e se fazer util. E só isso sargento?

–Sim senhor capitão. Com sua licença.

*

–Gina! Aquele ali não é o Viramundo?

–É sim!

–Então minha amiga...ou tomamos cuidado para que ele não nos veja...ou torcemos para que ele não nos denuncie.

Passaram o dia montando acampamento e ouvindo instruções sobre o dia seguinte. Evitavam ao máximo as pessoas que conheciam e descobriram de forma aleatória que estavam no acampamento errado. Estavam no oposto extremo do que deveriam estar. Afinal...o acampamento dos maridos tinha ficado a oeste...malditos sobrenomes.

*

A noite caiu calma e silenciosa. Parecia que a natureza não sabia que estavam em guerra. Talvez fosse melhor assim.

O comandante anunciou treinamentos logo pela manhã e a maioria dos soldados ja estava repousando silenciosamente em suas tendas armadas.

Ferdinando passeava os olhos e traçava o rosto da esposa nas estrelas mais brilhantes. Pegou a foto do bolso e acarinhou levemente o papel. Quando casou prometeu nunca abandona-la. Prometeu nunca passar uma noite que não fosse ao lado dela. E sentia-se um fracassado pela promessa não ter durado mais de 1 mês.

–Ainda acordado soldado.

Ele riu e permitiu que o mais jovem da tropa lhe acompanhasse nos pensamentos.

–É difícil dormir no inferno quando você se acostuma a dormir no céu.

–Belas palavras meu caro...e há apenas uma razão para tanto romantismo...me diga...qual o nome dela?

–Gina...minha esposa.- o engenheiro passou a foto para que o colega pudesse conferir a verdade em sua admiração.- Essa uma me faz perder a cabeça soldado...por todos os motivos do mundo.

–Com o perdão da palavra amigo...peço licença para lhe dizer que o senhor é realmente um felizardo.

O engenheiro apenas riu do comentário.

–Eu a amo de uma forma que nenhum livro no mundo poderia descrever. Nem os romances de Emily Brönte...nem as tragédias de William Shakespeare. Nenhum deles seria capaz de entender a intensidade do meu sentimento por ela. Eu sou capaz de tudo...apenas para ve-la assim...sorridente.

–Eu acho muito nobre esse sentimento.

–E eu espero Peeps...que um dia você possa senti-lo. E que guerra nenhuma lhe afaste da pessoa que você mais ama no mundo. Não de novo.

–É...eu também espero.

Os dois permaneceram em silencio avaliando o brilho que cada estrela deixava transparecer.

Zelão se aproximou juntamente com Izidoro e Rodape. Todos nervosos demais para dormir. E logo a roda que se formara em frente a fogueira era grande o suficiente para faze-los rir. Lembravam-se, mostravam fotos daqueles que deixaram. Ostentavam vitórias, lamentavam perdas recentes e falavam das qualidades das esposas, noivas e namoradas como se todas fossem perfeitas o bastante para não cometerem pecado algum. É o que o amor e a saudade fazem. Te deixam enxergar o que é bonito ja que a realidade é realmente dolorosa.

Ferdinando e Zelão eram sinceros em todas as declarações. Eram felizes e agradecidos por isso ao contrário de muitos homens ali que exibiam mais do que seus olhos deixavam implícito. Coloriam uma vida de reis enquanto os tiques nervosos de mentira exibiam a verdade sobre casamentos desgastados, famílias desunidas e falência econômica.

Deixaram que as histórias verídicas se misturassem com as fantasias e viveram uma realidade paralela aquela que pertenciam.

*

O reflexo da lua na água lhe parecia imutável...até que a tranquilidade em que se encontrava foi atrapalhada por passos fortes.

–Oce não pensava que iria viver se escondendo por ai ou que eu não descobriria desse seu plano louco com a Juliana...ou será que pensava?- o rapaz carregava a viola debaixo do braço como sempre fazia e sentou –se em uma pedra vizinha a da amiga.

–Eu quis acreditar que sim

–Ara Gina...nos somos amigos...e eu te conheço o suficiente para esperar um ato desse vindo d’ocê...o que me surpreendeu mesmo foi a Juliana ter vindo.

–Essa uma é uma maluquinha.

–Oce intende que isso aqui não é brincadeira não é mermo?

–Não. Eu sei muito bem o que estou fazendo. E você não vai contar pra ninguém vai?

–Não. Como ja lhe disse...nos somos amigos...e não cabe a mim perdoa-la ou condena-la.

–Obrigada Vira.

–So me prometa que vai tomar cuidado.

–Eu vou.

–Então ja que estamos acertados e que todos ja foram dormir...por que não aproveitamos para cantarmos umas modas...daquelas em tempo de lida na fazenda do Seu Pedro.

–Agora oce falou uma coisa certa.

O rapaz deixou os dedos bailarem sobre as cordas do instrumento e logo foi acompanhado nas letras da música triste. Tentaram se prender nas palavras verdadeiras que remetiam esperança mas que eram assombradas por uma melodia muito calma. A moça tentava se concentrar nas notas aprendidas para que não deixasse cair as lágrimas e o rapaz não evitou que as memórias da esposa não o fizessem chorar.

Seguiriam até o fim na cumplicidade que apenas uma amizade verdadeira saberia impor. Ele na busca interminável pelos olhos verdes que tanto amava e ela na direção da intensidade dos olhos azuis que a resgatavam dela mesma.

No dia seguinte, ficaram sabendo pelo comandante que todas as tropas teriam de passar por um treinamento de 1 mês antes de qualquer possível batalha. Isso daria a Gina e Juliana o tempo suficiente para pensar em alguma estratégia. Algo que as tirasse dali e as levasse para o acampamento certo.

–Oce ta me dizendo que eu vou ter que ficar aqui?

–Não é pra sempre minha amiga...é só até eles adquirirem confiança na gente. Você sabe muito bem que não podemos sair e até sermos as vigias noturnas não teremos alguma outra oportunidade. Temos que fazer com que eles acreditem que somos confiáveis ..para então nos dar a posição que desejamos.

–Ara...então até la a gente vai ter que ficar treinando com toda essa gente.

–E rezar para que ninguém nos descubra.

As horas torturantes de duvida e cuidado passaram a ser dias e os dias estavam quase completando o prazo de 1 mês quando o mau estar de Gina tornou-se cada vez mais frequente.

–Psiu! Gina!- a professora sussurrava para que não fosse escutada.

A ruiva estava apoiada na espingarda que possuía. Sentia o mundo rodar sob seus pés e não tinha poder para para-lo.

–Gina! O que você tem? Esta pálida!- Juliana saiu do seu posto e assim que chegou do lado da amiga a viu desmoronar .

–Pelo amor de Deus! Ajuda! Ajuda!- a voz sai esganiçada e ela nem ligou para a mudança.

–Mas o que está acontecendo aqui?

–Er...sargento...er..

–Com sua licença senho...penso que o soldado Falcão deve ter se desidratado. Peço permissão para leva-lo juntamente com o soldado Alves, até o acampamento médico.

–Sim...eu permito. Mas não digam uma palavra ao capitão Vieira. Eu entendo que devemos verificar se isso é apenas uma desidratação ou algo contagioso...mas temo que o capitão não terá a mesma opinião. Vá e leve o soldado Alves aqui para ajuda-lo.

–Agradecido senho sargento.

–Agora vão antes que ele contamine a todos aqui.

Poderia se dizer muitas coisa sobre o sargento Cunha. Que seus pés eram maiores que o normal e que seu bigode longo não favorecia em nada seu rosto oval. Era certo que era um maníaco por limpeza e um hipocondríaco incurável. Mas apesar de tudo, era o melhor e mais sensato comandante que havia.

O sargento se retirou e ambos os amigos tentavam acordar a ruiva.

–Gina...Gina..acorda...!Ai meu deus! E se for algo grave? Eu sabia que não deveríamos ter feito essa tolice. E agora Vira? O que será de nós se nos descobrirem?

–Eu sinceramente não sei professora.

Juliana resolveu que não esperaria a amiga acordar.

–Vamos Vira. Me ajude a carrega-la. Precisamos leva-la logo.

–Pode deixar que eu faço isso professora. O acampamento médico não é longe daqui.

–Então vamos.

Seguiram alguns metros até saírem do acampamento. Percorreram uma distancia razoável até encontrarem as barracas com o sinal da cruz vermelha.

Entraram na primeira grande barraca e Juliana foi logo perguntando a um rapaz de branco que estava de costas.

–Com licença. Eu gostaria de falar com o médico responsável.

–Sou eu...o que posso...- O rapaz logo se virou e se surpreendeu ao encontrar o par de olhos azuis ,que um dia amara, bem na sua frente. - Mas o que você...

A moça correu na direção dele. Sabia que ele a reconheceria de imediato, mesmo com a peruca loira. O que não desconfiava era que ele seria o medico responsável do acampamento em que estava. O destino realmente não sabe brincar.

–Por favor! Renato...por favor...

Ele conseguia enxergar o pedido silencioso nos olhos dela. E resolveu que cuidaria disso mais tarde.

–O que fazem aqui?- Isso não significava que não poderia ser duro.

–É a Gina- ela sussurrou.- Ela desmaiou a algum tempo e ainda não recobrou a consciência. Por favor Renato, eu lhe peço, nos ajude...e não nos delete.

–Me acompanhem. Terei que examina-lo.

Renato pediu para que todos o deixassem sozinho com a paciente e logo fechou as cortinas que separavam as macas e davam uma certa privacidade que remetia a quartos sem o ser.

Após os procedimentos de praxe o doutor chegou a conclusão inevitável. Estava acabando de guardar seus materiais quando a observou acordar.

–Mas o que aconteceu?

–Gina..acalme-se...você está bem...está segura.

–Doto Renato...mas como é que..

–Se acalme minha cara...teremos tempo para nos explicarmos...mas enquanto isso eu quero lhe pedir que permaneça tranquila.

–Mas me diga logo onde estou e o que estou fazendo aqui?!

–Tudo bem...Gina..você desmaiou...e a Juliana e o Viramundo a tiveram que trazer aqui...no acampamento médico. E não se preocupe se você fizer o que lhe peço...não precisará se preocupar comigo...que eu não a entregarei.

–Mas se o doto pensa que vai me fazer voltar o doto ta muito enganado.

–Gina por favor...me escute...você é a esposa do meu melhor amigo...eu preciso cuidar de você..ainda mais agora.

–Oce pode ficar tranquilo douto que eu não preciso de nenhum arguem pra tomar conta d’eu.

–Eu temo que não minha cara...não em suas condições.

–Mas eu ja lhe disse que estou bem.- Ela se levantou rapidamente da cama mas teve que se apoiar em uma das cortinas para que não caísse.

–Não minha amiga...eu não vou deixar que cometa nenhuma loucura.

–E quem é oce pra me dizer o que eu devo e não devo fazer.

–Eu sou o seu médico.

–Mas eu não preciso de médico nenhum..- ela ja estava pronta para sair quando recebeu uma noticia inesperada.

–Mas o seu bebe precisa.

Gina congelou no lugar que estava. Os olhos arregalaram, a respiração acelerou. So poderia ter ouvido errado. Não poderia estar certo. A moça se virou para encontrar o olhar sério do médico.

–Gina...você está grávida


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Notas finais do capítulo

Meus amados e minhas amadas!!Me desculpem o atraso...tive uma semana e tanto...mas espero sinceramente q tenham gostado do cap. Espero não atrasar mais! Qlqr opnião,critica e elogio serão mtu bem vindos!!
p.s: Gostaria de super indicar uma fic q li e axei super cute cute...a da minha amiga Marcella. Tudo novo de novo. #ficadica povo!



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