Lá estava eu apoiado no capô de meu carro, tomando um café, esperando meu filho sair da escola como todos os dias normais da semana. Ele demorava mais que o normal, eu já estava para entrar lá e ir procurá-lo, porém quando estava pronto para tomar uma providência eu o avisto de longe , correndo em minha direção aos prantos. Ele me abraçou e como todo pai preocupado eu retribui e perguntei o que havia acontecido. Não consegui mais que um "Nada demais, papai" ou "Estou bem, só quero ir para casa". Assim fiz, segui o caminho sem tocar no assunto e olhando pelo retrovisor pude notar que ele continuava a chorar enquanto olhava para a tela do seu celular.
E assim se repetiu, dia pós dia era sempre a mesma coisa. Ele se recusava a falar o motivo daquilo e eu já não sabia mais o que fazer, eu não queria obrigá-lo a falar algo que o deixa desconfortável.
Sou um pai solteiro, minha mulher morreu alguns dias depois do nascimento de Naruto. Tive que começar a trabalhar em casa e recebi ajuda financeira dos meus pais. Por isso e outros motivos eu não gosto de ver meu filho assim. Ele é minha vida, tudo que me sobrou foi ele. Eu entendo que pré-adolescentes como ele não costumam falar sobre coisas pessoais com os pais, mas eu ao menos gostaria de ajudá-lo, pois vê-lo todos os dias dessa forma está acabando comigo.
Percebi que seus amigos não tem mais vindo visitá-lo como de costume e isso está quase me fazendo perguntar se eles brigaram ou se posso ajudar em algo, Naruto sempre brigava com eles e dizia que "nunca mais ia falar com eles", mas é claro que isso não acontecia. Sei que não é mais como quando ele tinha seis anos, que eu só precisava conversar com os pais dos amiguinhos dele e no dia seguinte já estariam brincando de esconde-esconde. Agora com quatorze anos ele deve estar passando por coisas mais difíceis relacionadas à escola, amigos ou quem sabe com alguma paixão? Será que é isso? Não entendo muito disso, pois na idade dele eu trabalhava muito e pensava pouco, mas bem que ele poderia conversar comigo sobre isso...Não é?

–Droga, meu computador...- Passei tempo demais preocupado com muita coisa que esqueci de cuidar da casa. Meu computador estava com algum problema no gabinete e um pai careta como eu por acaso tem cara de que concerta esse tipo de coisa da nova geração? Não né, haha! - Naruto, pode vir aqui um instante?- Chamei dando três batidas na porta do seu quarto, que diferente de antes, agora vivia trancada.

–Anh? Pra quê?- Ele falou alto.

–O computador...Pode vir ajeitar o computador?O gabinete está emitindo um som estranho. - Ouvi-o bufar e abrir a porta com os olhos vermelhos e o nariz vermelho também.
"Chorando de novo..." Pensei chateado. Mas preferi não tocar no assunto, apenas dei passagem para ele ir à sala.
Então ele começou a mexer no gabinete. Demorou muito tempo, até eu perder a paciência (O que eu já não tenho. )
–Escuta...Posso ir usar o seu? Só quero enviar um e-mail para sua tia. - Falei. Ele fez uma cara pensativa e fez um sinal para que eu fosse, e assim fiz. Adentrei seu quarto e a primeira coisa que fiz foi abrir as cortinas e a janela, não faz bem um adolescente da idade dele ficar num lugar escuro como esse. Peguei as embalagens de biscoitos e salgadinhos do chão e as joguei no lixo, arrumei sua cama e só depois fui para o computador. Tudo normal, a foto de seu desktop era de uma raposa, até porque ele ama raposas. Abri o navegador e fui para meu e-mail, escrevi para minha irmã e depois com de costume apaguei o histórico. Mas antes que eu fechasse o navegador, eu vi na sua barra de favoritos alguns links que me chamaram a atenção.

–"Como contar..."- O resto estava cortado, então apertei no link e fui diretor a um fórum de perguntas. A pergunta era de um anônimo, mas o que me deixou surpreso no momento foi a pergunta. "Como contar aos meus pais que sou gay". Era isso que estava lá. Devo admitir que fiquei chocado com a minha descoberta, mas não pelo fato de talvez meu filho ser gay, mas por ele ainda não ter me contado. Eu sei que pode ser difícil para ele, mas eu nunca tive preconceito algum com homossexuais. E mais, antes de me casar com Kushina eu tinha chegado a ficar com um aluno meu (Calma, ele não era tão novo! ) então não vejo problema algum com isso. Não importa a opção sexual dele, eu o amor de qualquer jeito, ele é meu filho, sangue do meu sangue e isso que importa para mim.
Fechei rapidamente o navegador e saí de seu quarto dando de cara com ele. Dei um sorriso sem graça para ele e o mesmo me retribuiu com um pequeno sorriso.

–O computador agora está bom. - Ele me rodeou e entrou no quarto.- Aaah, pai! Eu não gosto do meu quarto assim. - Ele reclamou o que acabou me fazendo soltar uma gargalhada.

–Desculpa filhão, meu instinto de limpeza fala mais alto. - Baguncei seu cabelo. - Então, vai querer jantar o quê hoje?

–Eu queria ficar jogando vídeo-game...comendo umas batatas, sei lá.

–Não senhor! Precisa se alimentar bem e além do mais, ficar só jogando e comendo porcarias vai te deixar sedentário. - Falei autoritário e ele apenas rolou os olhos. - Vai ter bastante feijão, só isso que posso dizer. - E antes que ele pudesse reclamar, fechei sua porta e fui para a cozinha preparar o jantar.
Será que o motivo de ele estar tão "diferente" esses dias é por causa dele ser gay? Mas... e se realmente ele for? Eu não quero que ele fique guardando isso para si mesmo, preciso pensar em como fazê-lo falar para mim, como se eu ainda não soubesse. Eu tenho medo do que as pessoas vão pensar dele, não que eu ligue para o que os outros digam, mas e se elas fizerem algum mal para ele? E se o machucarem? O mundo é tão cruel com pessoa como ele. Eu acho que vou procurar ajuda, não com um psiquiatra ou coisa do tipo, apenas alguém que eu confie para conversar sobre o assunto. E não pode ser alguém da família, se ele tem medo de contar para mim imagina para outro membro da família? Droga, essa preocupação toda vai me deixar de cabelos brancos.

Só quero que meu filhinho seja feliz...